quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Samuel: seja bem vindo!!!

"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade."
Carlos Drummond de Andrade


Mais um bebê fofo nasceu: o Samuel, filho do meu primo Bruno e da Luciana, parabéns!

Tenho certeza de que essa parte de minha família (Bruno, Pacelli, Pollette, tio Benedito e Cia. - é muita gente querida!), ao receberem esse presente divino nesse momento de suas trajetórias, deve estar agora em festa... alegres como são, em todas as situações da vida, sendo um grande exemplo!

Desejo que a vida de Samuel junto a todas essas pessoas continue sendo assim... uma eterna festa!


"Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata."
Carlos Drummond de Andrade

Pior que dor de parto!

"Pior que dor de parto". Foi com essa expressão que meu dentista me preparou para o tratamento de canal que eu deveria fazer após meu dente ter se quebrado (dureza ficar velha, viu?!). Num primeiro momento fiquei aliviada, pois a dor do parto para mim não foi algo terrível de sentir, pelo contrário: foi intenso, bonito. Tem gente que diz que a natureza é sábia e passado o nascimento do filho a mãe esquece tudo para poder desejar engravidar de novo, pode ser... Porque eu viveria tudo de novo.

Diferentemente de meu tratamento de canal - que socorro! - passar por isso novamente: ficar ali parada, sem poder fazer nada, ter seu corpo mexido e remexido, e mesmo sem sentir dor (estava anestesiada... viva o avanço das ciências nessas ocasiões necessárias), ouvia aquele barulho de dentista e sentia uma dor psicológica, muito, mas muito angustiante! E para quê? Para meu dente ficar morto! Uma experiência bem desgastante, e olha que me acho bem resistente para a dor! Contudo, como disse meu dentista ainda é melhor do que perder o dente - nessa vida sempre tem o que é pior para nos lembrar de agradecer o que temos, e assim seguimos em frente...

De todo modo fiquei intrigada com a comparação entre as duas dores, afinal, uma traz a vida de um ser ao mundo, a outra a morte de um dente, diferença maior não há! Coloquei-me então a pensar que por um lado é bom que as pessoas, principalmente os homens reconhecerem que a dor do parto pode ser uma dor bastante desconfortável, e por isso mesmo as mulheres precisam ser acolhidas e asseguradas em seus direitos de parir em boas condições. Por outro lado, essa crença de que a dor do parto é tenebrosa tem sido também uma das razões de mulheres fugirem do parto normal: medo de senti-la e de não conseguirem superá-la, e por isso a importância de desmistificá-la.

Para mim, deixar de parir por medo da dor nunca foi uma opção.

Na primeira vez, como nem sabia o que era uma contração, demorei para perceber que estava tendo. Fiquei acordada sozinha, esperando a dor vir forte como nos filmes e nada. Após um tempo, como não cessava, fomos à maternidade e apenas no caminho a dor veio com contrações intensas, dificuldade de respirar e um certo medo, mas como foi rápido acabou não sendo para mim uma experiência extenuante. Assim que cheguei, Mateus nasceu (meu médico nem chegou a tempo)! Foi quando descobri que eu era uma mulher bem mais poderosa do que imaginava. Superar desafios, dar à luz, trazer uma vida à vida fez eu me sentir ainda mais viva, na verdade, duplamente viva: com um coração a mais pulando agora fora de mim!

Sei que a rapidez de meu trabalho de parto foi uma exceção, pois em geral, demora horas como de minha amiga Mimi que ficou mais de 20, e como com todas as mulheres de antigamente desde que o mundo é mundo. Recentemente, por exemplo, fiquei sabendo que minha vó Dé pariu meu pai... sozinha! Minha vó também foi uma exceção, pois hoje sabemos de muita coisa ruim que poderia ter acontecido naquela ocasião, e por isso hoje temos que agradecer o avanço das ciências para nos amparar quando necessário, possibilitando que as mulheres tenham um bom trabalho de parto, fazendo o seu trabalho. Foi quando descobri que todas as mulheres são poderosas, por poderem gerar e parir, e serem as responsáveis pela travessia desses seres pequeninos a esse mundo grande. Quanta responsabilidade, honra, gratidão e amor! Ah... o amor!

Na chegada de minhas meninas, minha bolsa estourou, corri para a maternidade, e sem anestesia nem a presença de meu médico e do Luiz, que estava colocando a roupa, eu disse categoricamente aos médicos presentes: "Não aguento mais, eu vou fazer força". Senti uma dor orgânica, vital, essencial, porque eu estava fazendo, junto de minhas meninas, a força necessária para elas chegarem a esse mundo. Eu precisava fazer força para ver as carinhas de minhas meninas, e eu amei fazer isso, por elas, por mim, por nós. Coisa mais linda essa... parir!!! Primeiro veio Carolina, e depois de 32 minutos, vendo Luiz carregar nossa menina em seus braços Isabel chegou para completar nossa família. O amor multiplicado por três, o amor de ser mãe de três coisas lindas! Foi quando descobri que certas dores da vida fazem parte e valem à pena, são gratificantes! Nessa sociedade que vivemos tão consumista e imediatista o conceito de dar à luz foge totalmente dos parâmetros. Por isso a importância de se compartilhar experiências, para que possamos nos ajudar a resgatarmos nossas ancestralidades que fizeram nossa espécie sobreviver até hoje e projetarmos nossa potência em um futuro mais humano.



Praia do crescimento

Mais uma temporada de férias na praia... Uma delícia só!

Interessante voltar um ano depois ao mesmo espaço e constatar o que já era sabido, mas ainda assim surpreendente: como meus filhos cresceram!




 


Minhas meninas perderam o ar de bebê e ganharam ares de meninas, sem fraldas, pedindo para ir ao banheiro e a cada dia ganhando maior intimidade com a rotina diferenciada, sorvetes em abundância, sonos na rede, com a água do mar, as ondas, querendo ir no fundo ou brincar juntas ou sozinhas na areia, fazendo buraco, achando bichinho, regando tudo e todos, e fazendo novas amizades. brincando de imitar as mulheres com as cangas amarradas no pescoço, e também até o pescoço, se enterrarem na areia.

Já Mateus assim que viu o mar já se lançou a ele e de lá só saiu para tomar sorvete e ir para casa dormir. Meu filho virou um peixe, um lindo peixe preto, desses que não só vivem na água, mas se deliciam dela, a usufruem, e vivem a nadar de vento em poupa e sorriso no rosto.

Num determinado momento, não resisti e quis participar dessa sua experiência, e quando a onda veio, me agarrei à sua boia para também "pegar um jacaré" quando ele reclamou. Me justifiquei dizendo que queria ir junto e Mateus respondeu: "Mas você estava me segurando". Naquele momento me dei conta do quanto temos que aprender que em algumas situações IR JUNTO do filho é o mesmo que segurá-lo, não lhe dando a chance dele viver ao seu jeito, o seu tempo e as suas vivências, com seus pensamentos e sentimentos e assim superando cada desafio e desfrutando das próprias conquistas.

Em seguida me lembrei de minhas vivências quando eu reclamava com minha mãe, meu pai, outros adultos, o mundo, por me segurarem, ainda que desejassem fazer o mesmo que eu: curtir junto, dar apoio, estar ao lado. Difícil e lindo esse ciclo da vida. A questão é que por trás dessas ações se esconde nosso real desejo de segurar o tempo. Algo sabiamente inevitável.

Meu menino, com seus recém 4 anos de idade, já sabe disso, e ao final me pediu (com muita delicadeza, o que me deixou ainda mais desconcertada): "Mãe, deixa que eu vou comigo mesmo".

Pois é, coube a mim fazer a digestão dessa situação, porque se tem uma coisa pela qual eu lutei por meio de minhas reclamações e que também pretendo preservar na vida de meus filhos é que sejamos sujeitos livres.

Em meio àquele mundão de água, uma lágrima discreta escorreu em minha face junto de um sorriso que brotou ao vê-lo terminar seu 'jacaré', todo feliz da vida! Quando ele acenou para mim, a lágrima já havia se misturado às águas da vida e só meu sorriso continuava escancarado - porque esse ninguém me tira!!!


"Muita coisa que ontem parecia importante ou significativa amanhã virará pó no filtro da memória. Mas o sorriso (...) ah, esse resistirá a todas as ciladas do tempo."
Caio Fernando de Abreu

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Tatiana e Gabriela: sejam bem vindas!!!

Hoje fiquei sabendo do nascimento de duas lindezas, a Tatiana e a Gabriela, irmãs da Isa e do Rafa... Viva, agora a família está completa! Desejo tudo de maravilhoso a essas pequenas, aos irmãos, ao pai e à mãe.

Bia querida, é verdade que a vida vira uma correria enorme quando se tem muitos filhos, mas as alegrias também multiplicam-se!!! Guerreira como é, mãe de 4, tenho certeza de que saberá aproveitar os bons momentos junto a todos e a cada um (ainda que nesse início o cansaço seja grande e importante de ser expressado, viu? rs).

Aqui em casa, em meio às nossas férias, meus filhos andam brincando muito juntos, e inevitavelmente brigando também. Em todas essas situações, tenho ficado bastante fascinada com a dimensão dessa relação de irmandade que se forma paulatinamente - muito influenciada por nossas ações, e de maneira espontânea também - entre eles, com eles, para eles e com o jeitinho, único, de cada um. Tenho andado até mesmo saudosa de minha infância com meus irmãos, coisas que só a criançada consegue nos proporcionar: retomar nossas vidas, ver vida para além, estar viva, viver!

Um milagre conseguir gerar um filho! Quatro então nem se fala!!! Milagre maior, vê-los crescer construindo vínculos e raízes sólidas entre eles mantendo viva o ciclo da vida!!!


Árvore

Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só serve pra poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,
envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore
porque fez amizade com muitas borboletas.
 
Manoel de Barros

Reencontro de amigos

Guga: "Que time você torce?"
Eu: "Para o Corinthians, mas tenho muitos amigos palmeirenses, como o seu pai".
Guga: "E como eu..."


Simplesmente sensacional ouvir isso do filho de um amigo seu... Ele te enxergar como uma amiga! essa é uma das maravilhas dessa vida que dá voltas e mais voltas - e olha que neste caso Guga nem tem contato comigo. Foi durante um reencontro improvisado de nossa 'galera do prédio' de antigamente com nossos respectivos filhotes que ouvi essa pérola que tanto me emocionou.

Um reencontro emocionante por todas nossas histórias, e dos muitos que não estavam presentes. Histórias e mais histórias que rolaram escada abaixo daquele prédio. Um reencontro intenso com 3 gerações presentes, desde as amizades de nossas mães até as nossas e quem sabe de nossos filhos também... Desse gostoso encontro saí animada com essa possibilidade, e principalmente, feliz por ter criado vínculos tão verdadeiros com pessoas especiais.

Por outro lado, ver o parquinho e a quadra abandonados - quase um crime às nossas memórias daquele espaço tão cheio de vida com nossas vidas transbordando em nossas infâncias e juventudes foi um paradoxo.  Mesmo assim,  a animação também se fez presente nesse momento, quando nos colocamos a imaginar como o espaço ficará após a reforma planejada, ainda mais se mantivermos nosso compromisso de nos encontrarmos mais vezes com nossas crianças.

Cheiro de farra boa no ar, cheiro de vida viva, ciclo que transforma, renasce e nos revigora. E por meio de sua fala, Guga demonstrou ter conseguido sentir o cheiro de amizade no ar... Foi contagiante!




"Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já me não dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia."

Fernando Pessoa

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Para não acostumar

Eu sei, mas não devia (Marina Colasanti)

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Começo de ano, balanço da vida. Leio esse texto e um monte de coisa me vem à cabeça, e principalmente me vale de lembrete para continuar me empenhando a não me acostumar...

A não ser que seja para nos acostumarmos de que a vida, mesmo cheia de desafios, vale à pena ser mantida viva!!!





"Que eu não esqueça que a subida mais escarpada e à mercê dos ventos, é sorrir de alegria."
Clarice Lispector


domingo, 11 de janeiro de 2015

Lembranças que servem de lição: "Mostra, filha!"

Talvez não quando eu era bem pequena, já que minha mãe vive contando que fui bem moleca, mas a partir do momento que guardo lembranças minhas mesmo, e não a dos outros sobre mim, lembro de ser tímida. Uma timidez de ambiente novo, pois em lugares e com pessoas conhecidas me sentia muito à vontade, que não me paralisava, pois devagarinho ia me assegurando, me soltando, e assim fui criando muitos recursos para lidar com meu jeito. Hoje, por exemplo, vejo que em momentos da adolescência conseguia mascarar minha timidez falando e rindo alto com as amigas.

Voltando às memórias de infância, minha mãe, ao contrário, não é nada tímida e gostava de compartilhar as gracinhas dos filhos para todo mundo e assim, em público, constantemente ouvia: "Mostra, filha! Mostra aquilo que você fez!". Dessas coisas que mães, com a melhor das intenções fazem, e reverberam de jeitos distintos e incontroláveis nos filhos. Tenho a impressão que para meu irmão caçula Gabriel aquela situação nem de longe era desafiante, e com satisfação, fazia todos rirem de suas gracinhas. Já para mim, na maioria das vezes aqueles momentos eram muito difíceis, principalmente quando descontextualizados ("fazer algo por fazer só para mostrar que sei"). Com o tempo fui encontrando maneiras conscientes e inconscientes de lidar com esses momentos como, por exemplo, esconder alguma de minhas descobertas para dividi-las quando eu desejasse. A partir de então era comum minha mãe ficar espantada comigo dizendo para todos num misto de orgulho e ressentimento por não ser a primeira a ver: "Nossa, eu não sabia que a Juliana conseguia fazer isso!".

Por isso e mais um monte de outras razões, frequentemente me pego preocupada com a exposição que esse blog traz à minha vida e principalmente na de meus filhos. Incoerência tamanha, mais uma para minha coleção!

Lembro-me da razão dele surgir: após uma consulta à pediatra do Mateus, na época com 2 meses, em que só falei sobre mim, aos prantos, me dei conta que precisava de um espaço meu para digerir todas as mudanças provocadas pelo seu nascimento e não mais invadir seu espaço. Como estava em licença maternidade e não fui uma mãe que carregava o bebê para cima e para baixo com naturalidade nem que recebia visitas frequentes de amigas com receio de atrapalhar, umas com bebês também, outras nem querendo chegar perto de um, outras longe, na correria de trabalho, enfim, o blog foi uma maneira que encontrei de compartilhar com pessoas queridas as minhas questões como mãe.

E quantas questões! A gente nem faz ideia antes de ser mãe, e quando acha que estamos preparadas, a vida se encarrega de nos mostrar que não estamos prontas,  porque nunca estamos. Faz parte da graça dessa vida, sermos seres inacabados, sempre à mercê de novos desafios, novas surpresas! Nesse sentido, também cheguei a pedir para Mateus mostrar algumas gracinhas... coisa de mãe coruja que só quando a gente vira, entende nossa própria mãe, e morre de remorso e orgulho por ela nos ter como motivo de exibição!

De todo modo, tenho procurado compartilhar apenas as gracinhas de meus filhos que expõem a minha perspectiva de cada contexto e nunca (pelo menos conscientemente) de maneira gratuita, forçada, tendo-os como troféus ou projeções do que não fui. Muitas vezes cheguei a escrever, e depois não vi sentido em publicar, guardando-o em nossa intimidade, para quando eles crescerem lê-los. Importante tentar diferenciar o que cabe ou não compartilhar, o que tem sentido virar público.

Com todas essas, e mais outras, preocupações em mente o blog tornou-se um espaço para eu digerir meu processo como mãe. A escrita para mim tem um poder organizativo por conseguir entrar num nível mais profundo de reflexão sendo também um jeito de eu vencer minha timidez, não me esconder de um percurso tão bonito como ser humanA.


“A beleza é aquilo que você não dá conta de ver sozinho. Ao ver algo bonito demais você logo quer dividir com o outro. A beleza é o que não cabe só em você, é aquela coisa que quando você sente, precisa dar pro outro. Você vê um pôr do sol bonito da janela, vê um quadro no museu, lê um livro e pensa: fulano precisava estar aqui, ou, eu tenho que ler isso pro meu filho. É extremamente triste estar sozinho quando se encontra a beleza.”
                                                           Bartolomeu Campos de Queirós, conferência durante o Simpósio do Livro Infantil e Juvenil, Colômbia-Brasil, Bogotá, 7-9/10/2007


Em meu percurso, ao descobrir as belezas e desafios de ser mãe também ganhei mais prazer em compartilhar com os outros, recebendo de volta todas as também delícias e desafios que todas relações carregam e ganhando consciência de minha, nossa humanidade.

Como escritora de blog foi muito importante tomar clareza de que todas mães, de diferentes contextos, passam por situações semelhantes, de alegrias e angústias, e poder falar disso no blog para desmistificar, denunciar, proclamar, idealizar, resistir e transgredir. Também me foi importante perceber que, ainda assim, agimos de maneiras distintas, pois somos únicas, e precisamos nos respeitar em nossas igualdades e diferenças. Do mesmo modo, trocar emoções com quem não é mãe, porque a questão é maior, não trata-se de um clube fechado, mas de falarmos sobre a vida, o que entendemos dela e como a vivemos, sentimos, sonhamos. Falar sobre minhas memórias, sobre o que me constitui, o que me permite enxergar a vida dessa maneira, e a consciência cada vez mais maior de ter sido amada, cuidada, respeitada, estimulada quando criança, e assim convidar outros a também mergulharem em seus trajetos. Falar sobre ser filha, menina, mulher. Para me conectar, de outro jeito,  com minha mãe, com a mãe de minha mãe, a mãe de meu pai, a mãe da minha amiga, da minha vizinha... com todas as mulheres do mundo, independentemente do tempo e do espaço, com minhas antepassadas, me sentindo parte de uma rede. Uma poderosa rede, transcendental, cheia de símbolos, saberes e mistérios. Igualmente importante foi me conectar com os homens, vê-los mais diretamente por meio dos gestos de meu marido, meu pai, meu filho, e tendo-os como modelos, buscar entender que todos eles precisam também entrar em contato com suas emoções para conseguirmos construir outro modelo de sociedade. Continuar minhas reflexões sobre nosso modo de vida, com suas delícias e desafios, como mulher, cidadã, educadora e agora como mãe. Que sociedade almejo para meus filhos e que filhos deixo para minha sociedade?

Por tudo isso e muito mais, o blog ainda faz muito sentido à minha construção, e por isso está vivo, muito vivo dentro de mim. Ontem, ao me deparar com dois comentários de amigas queridas, Tais e Edna, na postagem "Para quem não acredita... Feliz 2015", pude perceber o quanto também está vivo na vida de outras pessoas. Nesses tempos atuais, esse instrumento é mesmo poderoso, de fazer reflexões e emoções circularem por tempos e espaços que não conseguimos em nossa vida cotidiana.

Em seguida resolvi dar uma olhada se tinha mais algum comentário que passou despercebido e descubro um monte deles! Sinto de tudo... Alegria por me sentir parte de uma rede de pessoas que acreditam na humanidade e na importância de tudo que vivemos ao ver meus sentimentos ecoando em outros, com sentido, e também vergonha por não ter visto antes, não ter dado a atenção devida, ter quebrado a corrente.

Mil desculpas. Já mudei a configuração para receber notificação por email quando esses surgirem. Até mesmo me lembrei de uma postagem que escrevi no comecinho para aquelas pessoas que andavam com dificuldade em postar comentários...rs http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2011/03/para-escrever-comentarios.html

Ao ler esses comentários antigos fui retomando minha história. As primeiras postagens revelam minhas primeiras questões, se Mateus dormia ou não (e consequentemente se eu dormia ou não), se fazia cocô (!), se amamentava e engordava (aliás a postagem "super peitos... ativar!" continua campeã, se bem que desconfio por outros motivos...rs), a chuva de palpites em minhas ações que me deixavam inseguras, incomodadas e gratas (vai entender...), os maravilhamentos com o amor aos filhos que se fortalece a cada dia, as angústias que surgem a cada desafio e a escolha que tem de ser feita para que as crianças sejam respeitadas pelo direito a uma infância plena.

Nessa leitura, também pude retomar as histórias de outras pessoas, principalmente por meio da coluna "seja bem vindo". Emocionante fazer parte disso tudo. Ter o que contar. Ter para quem contar. E agora, ter o que ouvir, ler. Uma troca de experiências que tem me engrandecido muito. Gratidão.

Um dia vou contar a Mateus, Carolina e Isabel sobre esse blog e todas as histórias nele registradas, e espero que eles apreciem e entendam que até esse momento, para eles terem uma mãe sadia na maior parte do tempo, esse espaço foi muito necessário... e gratificante! Se não gostarem, desejo que consigam criar maneiras de lidar com essa questão, assim como eu.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Valentina: seja bem vinda!!!

Melhor jeito não há de começar um novo ciclo anunciando a chegada de uma vida a esse mundo...

Com a palavra, Thais, mamãe da Valentina e minha saudosa amiga do C.A que já iniciou 2015 com melhor presente do mundo em seus braços...

Primeiro Ano Novo... Obrigada filha por nos escolher como Pais e fazer tudo ficar perfeito!!!!
Meu coração está transbordando de gratidão, amor e felicidade!!!
Feliz 2015!!!!


Muitas felicidades a essa pequena, seja bem vinda, e aos seus pais Thais e Fernando. Aproveitem!!!