quinta-feira, 26 de maio de 2016

Uma viagem na viagem em Reggio Emilia

Sabe quando metade de você quer uma coisa e a outra não? Sabe quando depois a metade que queria fica receosa e a outra que não queria passa a querer isso mais do que tudo? Sabe quando está prestes a realizar um sonho antigo que dá medo justamente porque sabe que a partir de então as coisas vão mudar? No momento me sinto assim... Com minha humanidade aflorada em todos meus sentidos rumo a novas experiências! Nesta viagem, levo e deixo o melhor de mim.



A viagem começou... Conexão em Londres. Me animei em comprar uma lembrancinha bem singela, do tamanho de minha passagem por essa cidade. Dentre muitas opções esteriotipadas me encantei por uma caneta. Na hora de pagar me atrapalhei na máquina, e me sentindo uma tola fui pagar do modo tradicional. Foi quando me senti ainda mais tola ao me ver com um monte de libras que não usaria. Ao desfazer a confusão vi que acabei perdendo dinheiro (justo ele que nunca para na carteira). Mas ainda bem a vida não se baseia só na economia! Foi o que pensei quando me acalmei, porque "na cotação da vida eu ganhei". Afinal, eu queria uma lembrança desse momento e nunca esta vem pelo objeto por si só, mas pelas histórias que eles carregam. São as narrativas que construímos que dão sentido às nossas vidas. E para minha alegria, a caneta coube certinho no caderninho que ganhei da Andrea. É certo: ao final voltarei com o caderno cheio e a alma leve.
PS: esse acontecimento me lembrou do filme "o contador de histórias", recomendo!




E cheguei à Itália! Ainda não acredito que não se trata de um sonho... Confesso que na hora de pisar o chão pela primeira vez deu até vontade de beijá-lo tal como faz o papa - esse fofo que acolhe a todos, sendo ou não católicos. Ao invés disso, chorei de emoção e aos poucos percebi que meu frio na barriga passou, deixando minha barriga vazia. E talvez justamente por conta dessa ausência do medo logo senti uma fome... Uma fome imensa de mundo! Como boa taurina, em geral, funciono assim diante de mudanças para depois conseguir desfrutar delas. Quase um ritual de passagem: respeitando meu ritmo e contando com apoio procuro me esvaziar (um tanto) para fazer caber as novas experiências e ter fôlego de digerir os novos assombros gerados a cada novo encontro. Hoje, vivi um dia intenso nos museus (onde reencontrei obras que ajudaram a me formar) e parques (onde vi muitos italianos usufruindo de sua cidade com maior engajamento e outros passando necessidades - as coisas estão difíceis pra maioria dos países). No fim, participei de uma manifestação, pelo tanto que me senti envolvida, afinal somos todos a favor da ideia de família diversa tendo em comum o amor.




E ontem ainda teve tango! Pensa na cena: você está numa praça, já começando a pensar em ir embora porque está com frio e cansada e de repente uns senhores e umas senhoras, todos super em forma, começam a dançar tango com umas máscaras de lobo e isso vai chamando a atenção de todos que se juntam. Logo, velhos e jovens, homens e mulheres, arrumados e desencantados estão dançando com o maior deleite! Surtei. Só não dancei junto porque era tango... Rs Depois de um tempo ainda contaram que a máscara é uma forma de protesto a uma lei que está para ser aprovada e que pode colocar os lobos em risco de extinção. Sensacional! Dormi nos céus! E como dormi!!!! Perdi o café da manhã até... Rs e também me perdi do mundo, pois passei o dia desconectada... Computador não cabia na tomada, arrebentei fio do celular, no trem sem Wi-Fi livre e no hotel em Reggio (sim, cheguei!!!) a internet com problemas. Achei fofo algumas pessoas me cobrando mais histórias...Rs. Acho que foi um sinal para eu me desligar e me concentrar no que estou vivendo, em como essa experiência é única e não vale a pena perder nada! Amanhã começa o curso em Reggio e conforme for possível dou notícias, certamente outras muito sensacionais!




Um brinde de Spritz ao afastamento de Cunha! Que caiam outros! Tim tim.




É hoje a estreia do maravilhoso filme "o começo da vida", que por meio de imagens e histórias emocionantes aflora nossa humanidade. Luiz e minhas meninas participaram desse projeto. Foi uma participação pontual, uma tarde no parque que resultou em três tomadas rápidas, mas suficiente para nos deixar orgulhosos por ser parte de um filme que valoriza a infância. Neste momento, tão longe de meus filhotes e meus alunos e alunas a saudade fica ainda maior. Um oceano nos separa. Por outro lado, estar numa cidade que valoriza a infância me faz sentir totalmente mergulhada... Na infância, no humano, no belo, no ético, na vida, na poesia, na história... Sobre Reggio Emília e o porquê de eu ter sonhado tanto estar aqui: Fim de guerra. Pessoas precisando se recompor, almas precisando ser curadas, cidade precisando ser reconstruída. Nesse processo, escolhas precisam ser feitas e estas sempre revelam... Neste caso, o que há de melhor nos seres humanos envolvidos. Pensa... Numa assembleia da população sobre como usar o dinheiro arrecado com a venda de um tanque de guerra, homens queriam a construção de um cinema e vou mulheres, de escolas. Quem ganhou??? Naquele momento, as escolas. Mas hoje vemos que todos ganharam! É mesmo muito inspirador ver o tanto que essa população construiu a partir da opção pela infância e tudo mais que vem junto... Esperançosa que sou, acredito que podemos aprender com experiências como as do filme e as de Reggio, e assim navegar juntos por novos mares!
PS: fiz esse barquinho amarelo no REMIDA...





A placa diz tudo: uma escola da infância em Reggio Emília em homenagem a Paulo Freire! E o meu sorriso diz um pouco de minha infinita emoção! Num lugar que respira e inspira uma vida poética bom saber que também aprendeu um pouquinho com a gente! "Num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário." Assim, num clima de "Reggio Freire" volto animada para continuar nossas construções de escolas transformadoras - tal como os nossos jovens estão fazendo!




Contar sobre o que entendo por educação, representando uma equipe toda já é em si uma experiência inesquecível! Mas como tudo na minha vida, uma história emenda na outra... Pois antes de minha apresentação o pen drive não funcionou e quando eu já ia desistir minhas colegas não deixaram e me animaram a ir até o hotel buscar meu computador... Nisso, a pedagogista italiana (fofa!) me ofereceu sua bicicleta... E lá vai eu, em meu último dia de Reggio Emília pedalar pela cidade... Foi sensacional! Por esse apoio de todos, por vencer uma dificuldade e principalmente por pedalar pela cidade. No caminho, vi e senti coisas que ainda não tinha experimentado andando à pé, e isso ajudou a me tranquilizar e a me despedir desse lugar que deixa marcas tão fortes em mim.


3 comentários:

  1. Ju,
    Imagino o que veio na bagagem. Essas pequenas iluminuras já enchem meus olhos!
    😘

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  2. Ju,
    Imagino o que veio na bagagem. Essas pequenas iluminuras já enchem meus olhos!
    😘

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  3. Foi realmente incrível! Torço para que esta experiência ressoe para sem em mim e naqueles que foram tocados por ela como vc... beijos!

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