sábado, 24 de outubro de 2015

Pedro Vitor: seja bem vindo!!!

Mais um bebê fofo chegou a esse mundo: é o Pedro Vitor, filho dos queridos Marco Aurélio e Daniela. Que notícia maravilhosa, nossos parabéns de todo mundo aqui de casa para cada um de vocês!

Hoje, num dia que passei aqui no blog para escrever outros textos em defesa pela infância, segue um poema de Ruth Rocha. Se bem que no caso de Pedro Vitor tenho certeza de que com os pais que escolheu ele certamente será muito respeitado, valorizado, amado, e feliz! Sortudo esse garoto!


O Direito das Crianças

Toda criança no mundo
Deve ser bem protegida
Contra os rigores do tempo
Contra os rigores da vida.

Criança tem que ter nome
Criança tem que ter lar
Ter saúde e não ter fome
Ter segurança e estudar.

Não é questão de querer
Nem questão de concordar
Os diretos das crianças
Todos tem de respeitar.

Tem direito à atenção
Direito de não ter medos
Direito a livros e a pão
Direito de ter brinquedos.

Mas criança também tem
O direito de sorrir.
Correr na beira do mar,
Ter lápis de colorir...

Ver uma estrela cadente,
Filme que tenha robô,
Ganhar um lindo presente,
Ouvir histórias do avô.

Descer do escorregador,
Fazer bolha de sabão,
Sorvete, se faz calor,
Brincar de adivinhação.

Morango com chantilly,
Ver mágico de cartola,
O canto do bem-te-vi,
Bola, bola,bola, bola!

Lamber fundo da panela
Ser tratada com afeição
Ser alegre e tagarela
Poder também dizer não!

Carrinho, jogos, bonecas,
Montar um jogo de armar,
Amarelinha, petecas,
E uma corda de pular.


Ruth Rocha

Sobre a cultura do estupro

Começou mais uma temporada de um reality show de culinária num canal brasileiro, dessa vez com crianças, o que não aprovo. Não acho que lugar de crianças seja nesse tipo de programa competitivo e expositivo, mas aqui quero tratar de outros mais sérios que ocorreram a seguir...

Muitos comentários de homens demonstrando desejo sexual para com uma menina de 12 anos revelaram o quanto a cultura do estupro está viva em nossa sociedade. O termo "novinha" é o mais digitado para acessar pornografia no Brasil...

Revoltante.

"Vamos deixar algo claro desde o começo: qualquer tipo de relação de natureza sexual com uma criança é estupro. Uma criança nunca pode ter uma relação sexual consensual porque ela é criança e não pode tomar esse tipo de decisão. Por lei. Vamos dar o nome certo às coisas. Aqui não estamos falando de pedofilia, que é uma doença que pode ser tratada antes que a pessoa cometa qualquer crime — seja ele consumir pornografia infantil ou o estupro. Nenhum desses homens que comentou sobre a MasterChef é doente, eles apenas acham que têm o direito de falar absurdos como esse porque olham para ela e não enxergam uma criança, mas uma mulher."  
(Carol Patrocinio. Texto maravilhoso na íntegra: https://medium.com/@carolpatrocinio/quando-uma-menina-de-12-anos-no-masterchef-jr-desperta-o-desejo-de-homens-adultos-precisamos-falar-503567b2778d#.wgbkelch7)

Mais uma vez coloco-me em defesa da infância.

Uma criança precisa ser olhada de um jeito respeitoso e ético, sendo assegurada em seu direito de se desenvolver no seu ritmo, expressando todas seus pensamentos e sentimentos acerca do mundo até vivê-lo autonomamente.

Vamos parar de tratar esses comentários como "pouca coisa", porque não o são. Eles revelam muito o modelo de sociedade que ainda vivemos: machista, anti ético e retrógrado.

Nossa sociedade vai criando, dia após dia, uma maneira de aumentar a vulnerabilidade feminina. E o sexo é a mais rápida delas. Meninas são incentivadas a ter relacionamentos com homens mais velhos porque elas são muito maduras para a idade. Mulheres engravidam, então socialmente diz-se que a responsabilidade pelo bebê é apenas delas. O aborto é proibido — mesmo acontecendo em números alarmantes em todas as classes sociais e regiões. Homens mais velhos sabem como guiar meninas a fazer o que eles querem. Mães adolescentes largam a escola, não fazem faculdade e contentam-se com subempregos porque precisam sustentar seus filhos. Além de tudo essas mulheres, que foram meninas vítimas da cultura do estupro, são tidas como vagabundas.
(Carol Patrocinio. Texto maravilhoso na íntegra: https://medium.com/@carolpatrocinio/quando-uma-menina-de-12-anos-no-masterchef-jr-desperta-o-desejo-de-homens-adultos-precisamos-falar-503567b2778d#.wgbkelch7)

Parece papo de feminista exagerada? Queria eu que fosse, mas não é.

Ainda nesta semana, outro acontecimento grave, o deputado Eduardo Cunha (sim, ele de novo!) conseguiu aprovar mais uma medida que nos faz caminhar para trás...

"Hoje, 21, foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 5069/2013, de autoria do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que torna crime anunciar, induzir ao uso, ou fornecer meios ou substâncias abortivas a uma gestante, mesmo em caso de estupro. Além disso, o projeto torna obrigatório que mulheres que afirmem terem sido estupradas façam um boletim de ocorrência e exame de corpo de delito para que "comprovem" que estão falando a verdade. Por último, a proposta ainda altera o item que possibilita que a mulher receba pílulas do dia seguinte para evitar uma gravidez em caso de estupro – a chamada profilaxia da gravidez." 
(http://www.justificando.com/2015/10/21/aprovado-na-ccj-projeto-de-cunha-que-dificulta-mulheres-estupradas-realizem-aborto-/)

Já escrevi sobre o que acho do aborto na postagem (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2015/02/a-favor-da-vida-favor-do-aborto.html).  De todo modo, o que vale aqui é dar o direito a uma mulher decidir sobre seu próprio corpo, principalmente quando o mesmo foi violentado. Essa é mais uma prova da cultura do estupro como se ele não causasse danos, fosse algo justificável, aceitável ao invés de repudiado.

O desejo é responsabilidade de quem o sente e não de quem o desperta. Quando um adulto sente desejo por uma criança é ele o culpado por ir contra uma norma social que protege a infância, a integridade e o corpo de uma incapaz (de acordo com a lei). Porém é muito simples inverter esse raciocínio ao dizer que a menina já tem em si a sexualidade de uma mulher, que ela usa roupas provocativas e que pede atenção masculina. Com essa ideia o homem torna-se a vítima de uma “destruidora de lares” que ainda brinca de boneca, apesar de ter sim sexualidade, ainda que muito diferente da de uma mulher adulta. (...) 
É importante falar sobre a cultura do estupro. Ela anda nas entrelinhas de muitos discursos. Ela caminha ao lado da ideia de que homens não conseguem conter seus instintos. Ela está totalmente ligada ao falso consenso que poderia dar uma criança. Ela é reforçada pela infantilização de mulheres adultas. A impunidade é sua melhor amiga e a culpabilização da vítima sua principal arma.
(Carol Patrocinio. Texto maravilhoso na íntegra: https://medium.com/@carolpatrocinio/quando-uma-menina-de-12-anos-no-masterchef-jr-desperta-o-desejo-de-homens-adultos-precisamos-falar-503567b2778d#.wgbkelch7)

Mulheres corajosas, a seguir, publicaram em um só dia relatos de seus primeiros assédios sexuais, a maioria vindo de familiares que continuaram a ser obrigadas a se relacionar.

30 mil relatos,num só dia! Num só país. Inspirados num único episódio. Você ainda acha que estamos falando de "pouca coisa"? Ou de papo de novela?

Triste.

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/22/politica/1445529917_555272.html?id_externo_rsoc=FB_CM

Com meu otimismo, por um tempo fiquei achando que esse acontecimento poderia ter servido para tratarmos de uma questão séria, urgente e delicada, e assim avançarmos na tomada de consciência de nossas condutas em nossas interações. Na história da humanidade são às vezes por esses caminhos tortuosos que identificamos nossos problemas e recuperamos nossa sanidade e construímos outros novos, mais justos.

Contudo, no mesmo dia as piadas continuaram a acontecer...


Desânimo.

Mas depois me dei conta que exatamente por essa questão estar emaranhada em nossa cultura um único episódio não bastaria para transformá-lo completamente. Fui ingênua demais. Para tanto será necessário muito barulho ainda. E estou nessa toada porque não compactuo com pessoas que violentam outras, principalmente de crianças. Pelo contrário, como educadora inspiro e respiro o tempo todo para ajudá-las a significarem suas relações de maneiras mais respeitosas assim como mãe e cidadã.


Novo ânimo quando li as palavras desse pai...

É muito difícil manter a alegria no coração, vendo os relatos de abusos e assédios sofridos por tantas mulheres, desde as suas infâncias.
E por mais que eu tenha empatia, eu nunca saberei como é viver uma vida inteira com esse medo. Eu mesmo, quando criança, nunca tive que me preocupar com isso, e isso é apenas um dos privilégios que eu tenho, pelo simples fato de ter nascido homem.

Conhecer essas histórias, inclusive as histórias de amigas tão queridas minhas faz eu sentir uma mistura de indignação e vergonha. Vergonha por ser homem como esses homens, e saber que tantos, mas tantos outros homens fazem isso diariamente. É contra esse machismo que corrói a nossa sociedade que devemos lutar, todos os dias, para sempre.

E aí eu olho meus dois meninos, que nasceram meninos e, dentro dessa sociedade patriarcal, já possuem um número imenso de privilégios. Meninos que se tornarão homens e precisarão continuar a luta contra o machismo, não fazendo parte dele. Renegar esse histórico podre de abusos e poder.
É uma baita responsabilidade, mas se tem uma coisa que eu tenho certeza é que todos os meus esforços estão na criação de meninos que não abusem de meninas. De maneira nenhuma.
(Paizinho, vírgula. https://www.facebook.com/paizinhovirgula/posts/748400018639830?fref=nf) 

Outra coisa que me animou hoje... A questão de gênero foi tema do ENEM!!! Sim, o tema da redação foi: "a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". Pensar que milhões de jovens pensaram a esse respeito, com seriedade, sem poder profanar bobagens e podendo reconhecer o sinal dado de que essa questão é de suma importância para o tipo de gente queremos formar, finalidade maior que deve ser desse tipo de exame nacional. Orgulho, orgulho, porque afinal, neste exame, os atrasados em todos os sentido, se deram mal... E risos e mais risos das pessoas que identificam essa questão com sendo de esquerda... Ai, ai... Mas vamos seguir caminhando e sonhando com outro mundo.

Por fim na postagem anterior compartilhei a experiência de meus filhos no "Dia das Crianças na roça" simplesmente como uma resposta a esses acontecimentos. Considero essa experiência simples e intensa e pode ser mais uma referência nesse cenário. Nossas crianças merecem ser olhadas, com toda sua potência, e como seus cuidadores devemos nos responsabilizar para que possam explorar ao máximo suas interações com esse mundão, que pode e precisa ficar muito melhor!

Eu acredito. E você?

Dia das crianças na roça


Um encontro.
Bebel e o Louva a Deus.
Um humano e um bicho.
Um ser e outro ser.
Olho no olho.
O mundo em suspenso e ao mesmo tempo fervilhando.
Vida, muita vida.

Nesse encontro diversas reações de ambos os lados...

Bebel se surpreende, chega perto, o bicho pula, tenta escapar, ela vem em minha direção com receio. Me aproximo do bicho e converso com ele e aos poucos os dois se tranquilizam. Quando ele aceita meu convite para subir na folha rapidamente Bebel quer segurá-lo. Ela toma cuidado e também lhe dirige palavras, de maneira cada vez mais espontânea, as quais seu novo amigo ouve com atenção.


Essa relação intensa chama a atenção dos irmãos que logo começam uma disputa para segurarem o bicho. Novamente o Louva a Deus tenta escapar daquela briga que não é dele, mas não consegue devido a destreza de Mateus.

Novamente faço uma intervenção pedindo para colocar o bicho na pedra até ele se acalmar enquanto peço para Bebel contar sobre o que já havia descoberto: "Ele tem que ter cuidado, ele também tem medo". Assim, com olhos investigativos meus pequenos observam o "Louca a Deus" como Carol o chama. Risos meus e de Mateus. Ela não entende nossa reação, e continua sua pesquisa: "Ele tem medo?", e Isabel continua: "Tem, ele pula assim ó, voando". Mateus pede precisão: "Ele pula ou voa?". "Ele pula", Bebel responde, sem muita convicção. "Eu quero que ele pule", fala Carolina e começa a fazer movimentos bruscos para ele se movimentar, dando gargalhadas enquanto Mateus se enfurece porque ela está espantando seu foco de observação: "Para de fazer isso que eu estou vendo ele, olha, ele tem olhos e boca". Carol continua a querer colocá-lo em ação, Bebel cai no choro pelo amigo em risco, o que ela não sabia ainda é que ele não é bobo e logo foi-se embora desse trio agito.

Busca ao bicho. Quando o achei fiquei em dúvida se mostrava ou deixava o bicho seguir seu caminho, mas eles estavam tão preocupados que resolvi mostrar, pedindo cuidado e aproveitando para conversar sobre camuflagem, pois o bichinho estava numa folha tão verde quanto ele. Mateus fez muitas perguntas a respeito, mas logo outra coisa chamou sua atenção, e lá se foi ele em suas explorações na roça. Já minhas meninas continuavam por ali inconformadas com o bicho preferir ficar na folha da árvore à folha seca que elas estavam lhe oferecendo como lar. Por fim, mais uma vez, ele demonstrou inteligência ao perceber que era melhor aceitar logo o convite para depois seguir sua vida em paz. Assim, elas puderam terminar a conversar com o amigo, mostrando para com ele bastante curiosidade e cuidado, e recebendo de volta o mesmo.

Sem dúvida, um encontro.



Um tempo depois Mateus encontrou um bicho morto, uma pequena mariposa, já seca e anunciou a todos. Carolina se mostrou indignada: "Isso não é bicho", uma vez que ela havia acabado de conhecer um, com toda sua vitalidade! Mateus lhe contou que este já havia morrido e ela continuou a negar, a dizer que tratava-se de folhas. "Quer ver?", ela perguntou e logo começou a despedaçar "geral" o pobre bicho morto.


Diante da cena forte, Mateus demorou para se reorganizar mas logo voltou a afirmar: "Era um bicho morto sim. Mas agora é um bicho em folhas".



Na cascata, esse lugar de tantas memórias minhas de infância, uma verdadeira nascente de pesquisas e interações, Carol e Bebel começaram uma brincadeira que Mateus já havia inventado da outra vez, a qual ele chamara de "vômito" - mas elas não a chamaram assim. A brincadeira consistia em colocar folhas no cano para entupi-lo por um tempo até o tal vômito acontecer, seguido de risos, comemorações e um "de novo?".

A brincadeira durou um tempo e teria durado mais, se não fosse interrompida pelo Mateus e seu brinquedo de jogar água... nelas!!! Elas até tentaram também jogar nele, mas foi uma disputa desleal como são tantas entre os irmãos...


As duas ficaram irritadas e resolveram caminhar. Sábia decisão.

Fiquei um tempão contemplando suas andanças, encantada com suas explorações. Cada animal que conheciam ou reconheciam ou elemento que encontravam desde paus, folhas, pedras, areias, estercos eram motivos para interagirem tocando, cheirando, disputando, compartilhando... E principalmente a maravilhosa oportunidade em terem um espaço e tempo à disposição, para ser experimentado de forma diferenciadas única!

Um mundo que cabe na palma da mão.
Um mundo que é maior do que o meu coração.
Um tempo que passa num segundo mais duradouro de todos.
Um tempo que dura uma eternidade mágica.
Uma brecha no tempo e espaço.
Uma brecha para vivermos nossos mundos e nossos tempos, de um outro jeito. 


Mateus foi atrás delas e o que poderia ser um problema, virou a solução, porque agora os três estavam juntos para molharem a mim e ao Luiz!

Que lindeza ver meus pequenos desenvolverem esse sentimento de irmandade. Brincar e brigar são os eixos fundamentais que regem essas relações e fazem essa construção ganhar um sentido especial, de companheiros que se formam para toda a vida.



Depois de um tempo, Mateus resolveu jogar bola (que novidade!) e as duas foram em busca dos cachorros, mas ao encontrá-los ficaram insatisfeitas: "Cadê os pequenininhos?", e levei um tempo para entender o que estavam dizendo - as crianças guardam sempre um sentido em tudo que fazem, pensam e sentem, mas nem sempre conseguimos nos sintonizar com elas. Ganhamos todos quando o fazemos! - até que me lembrei que na última vez que estivemos ali os dois eram bem filhotinhos, principalmente o Chocolate, o preferido delas.


Nesse momento me dei conta de que fazia um tempão que não viajávamos para lá "por que demoramos tanto?" me perguntei. Percebo então que isso acontece com tantas coisas em minha vida: com o tempo, deixar de fazer o que gosto... Sorte ter a oportunidade dessa conversa para tomar dimensão dos caminhos que venho trilhando, poder rever algumas de minhas escolhas.

Precisei explicar muitas vezes para Carol e Bebel que tratavam-se dos mesmos cachorros, mas que eles haviam crescido tal como elas. Demorou muito tempo para que aceitassem essa ideia e se entregassem novamente a essas relações, especialmente com Chocolate que desperta nelas afeto e medo por suas mordidas de brincadeiras.



A alegria de meus filhos ao chegar à roça foi enorme, de emocionar. Mas dessa vez estranharam muito: "Mas cadê as outras pessoas?". Bonito de ver como associam o lugar a quem faze parte dele. 

Para mim, a vivência nesta casa foi uma de minhas primeiras oportunidades de experimentar uma experiência comunitária para um pouco além da família, pois apesar de ser do âmbito familiar ela incluía outros parentes e gente diferente que circulava por ali. Esse exercício importante (e desafiante!) continua até hoje quando temos que conviver nesse espaço, compartilhar impressões e tomar decisões.

Numa horinha de descuido, minhas meninas foram até o telefone e ligaram para todos, um por um para convidá-los a participar de uma festa na roça. E realmente elas têm razão: esse espaço cheira festa! Acho que por causa do contato íntimo com a Mãe natureza a gente se sente o tempo todo inspirado a celebrar a vida.



"Enquanto as outras pessoas não chegam que tal uma passadinha no balanço?", logo elas aceitaram meu convite.  "Mais alto", "Segura na barriga e solta", "Quero ir sozinha", "Me empurra", "Olha o que eu tô fazendo!", "Quer que eu te rode? Eu rodo você fraquinho...", "Eu já cresci, já consigo ir lá no alto", "Eu tô virada", "Isso é muito divertido!", "Eu vou pegar o céu", hahahahaha.


Cresci nesse balanço. Quantas vezes quando menina falei as mesmas coisas que elas, principalmente que ia segurar o céu, nesse ir e vir do meu corpo brincando com o vento?

O tempo me intriga, pois me provoca muitos tipos de pensamentos, sentimentos e reações. Essa cena, por exemplo, representa esse misto de emoções. Nela, tive a grata surpresa de perceber como minhas meninas cresceram, ao ver as coisas que já está conseguindo fazer sozinhas e suas animações por perceberem suas conquistas, medo enorme por perceber como passou tudo rápido, felicidade por ter feito parte disso tudo, de suas histórias assim como elas da minha, e nao deixei de sentir, incoerentemente, uma pontinha de desejo de que o tempo passe rápido porque fico curiosa para ver as mulheres que se tornarão.

Me veio agora a imagem da última cena do livro "O menino maluquinho" quando defendendo o gol, ele segura a bola pra cá, pra lá, de todos os jeitos possíveis e impossíveis, e a única coisa que no fim ele não consegue mesmo segurar foi o tempo. Tal como eu não segurei na minha meninice e nem vou consegui-lo fazê-lo pelos meus filhos.



E então vovô chegou! Ele que inspira e respira essas terras, que construiu história nesse lugar, que deixou suas marcas aqui assim como possibilitou que esse lugar deixassem marcas profundas em nós, em nossos modos de enxergar o mundo e vislumbrar outros. 


Quem lembra como era esse lugar antes e hoje o vê tão cheio de árvores, flores, animais, cantinhos, tão mais vivo, tão mais bonito só pode acreditar na força de nossos pensamentos, sentimentos e ações para criar outras realidades melhores! Meu pai me ensinou essa coisa mais importante na vida e que ninguém me tira: acreditar em tempos melhores.

Nesta imagem, lá está ele fazendo novas criações: escadas para suas princesas caminharem...


E assim (ainda bem) seu Parreirinha continua animando as novas gerações a apropriarem-se de tudo que esse espaço oferece com fartura, seus frutos! Pitangas, amoras, coquinhos, jabuticabas...


E João Pedro também chegou junto com mais um monte de gente querida! A aventura das crianças estava garantida com um monte de coisas a desbravar.


As aventuras entre os primos estavam apenas começando... Rolou até uma caminhada à Serra, outro lugar fundante de minhas memórias, com direito a uma parada no bambuzal, a casa do Saci para investigações e um lanche. 

Mateus conheceu Saci intimamente por meio das histórias contadas na escola. Sua professora jura que já o viu e desde então ele é um personagem que faz parte de suas reflexões sobre o mundo. Nas férias, teve a chance de ir ao Sítio do Pica pau amarelo e depois de muita dose de coragem abraçar uma estátua, o que desde então lhe conferiu maior ainda proximidade com o ser mistico. Para ele, descobrir que na roça tem bambuzais foi mais uma vez uma maravilhosa oportunidade para relacionar-se com um monte de coisas que envolvem essa questão toda. Na hora, naturalmente sentiu um misto de curiosidade e receio disse, não muito convincente: "Pena que ele não estava lá",...



Agora sim, festa completa! Todos os bisnetos e bisnetas da Bisa Regina juntos!

O encontro em si já pediria uma comemoração, mas foi ainda mais especial porque era Dia das Crianças! Detalhe: com Rebeca e Julio super fofos com a criançada!!! E pensar que parece que foi ontem que eles tinham o tamanho dos meus (quanta coisa aprendi sendo 'tia deles', principalmente que uma família fica mais animada quando tem crianças por perto)... E pensar também que quando eu tinha a idade deles eu vivi a única fase em que não gostava tanto de ir à roça (só se meus amigos viessem também para fazer festa)... Ou ainda que tenho inúmeras fotos com meus primos nessa mesma pose!!!

É mesmo muita história, muita emoção numa foto só!!! 



Para mim e para Luiz a viagem em si já foi o melhor presente que poderíamos oferecer aos nossos filhos. Lá, acabaram ganhando outros dos familiares, e mais uma vez vi o quanto minhas meninas adoram brincar de se arrumar para ficarem como a Bisavó Regina, querida e linda.


Uma paradinha da Bebel para mergulhar em outro presente especial...



E o dia vai findando e chega a hora de comer a pipoca sem igual do vovô! Logo as meninas se rendem ao sono. Mateus e João Pedro ainda tinham um restinho de energia para fazerem um bolo de banana com tio Carlinhos e Sueli...



E para procurarem por sapos e aranhas com suas lanternas. Mas tão logo pararam, ouviram uma história, os dois dormiram e sonharam - como as meninas - que o mundo é mágico.

Só pode ser!


"Sonhos
escritos em versos…
São como bolhas de sabão!
Que levam consigo perfume.
E vão gotejando…
Pingo a pingo,
por onde passa!
Deixando
suavidade ao coração
de quem o lê e o vê!"

Dayse Sene