terça-feira, 14 de abril de 2015

Para viver sem medo... Homenagem a Eduardo Galeano

Mais uma perda humana irreparável: a morte de Eduardo Galeano. Siga em paz...

Céu em festa e nós por aqui continuando a enfrentar nossos medos em busca de nossas utopias. Ainda bem que suas palavras podem continuar a nos confortar, provocar e inspirar!

Numa brincadeira - como fiz em minhas homenagens aos também saudosos Manoel de Barros e Rubem Alves - seguem trechos das reflexões de Galeano junto a imagens de meus pequenos:


"O medo ameaça: se você ama, terá Aids; se fuma, terá câncer; se respira, terá poluição; se bebe, sofrerá acidentes; se come, terá colesterol; se fala, terá desemprego; se caminha, terá violência; se pensa, terá angustia; se duvida, terá loucura; se sente, terá solidão.




Para ter fôlego, é preciso ter desalento. Para levantar tem que saber cair. Para ganhar tem que saber perder. Temos que saber que assim é a vida e que você cai e levanta muitas vezes. (...)




Acho que o exercício da solidariedade, quando se pratica de verdade, no dia-a-dia, é também um exercício de humildade, que ensina a se reconhecer nos outros a grandeza escondida nas coisas pequenininhas. O que implica denunciar a falsa grandeza nas coisas grandinhas, em um mundo que confunde grandeza com grandinho.





(...) Ser capaz de olhar o que não se olha, mas que merece ser olhado: as pequenas, as minúsculas coisas de gente anônima, de gente que os intelectuais costumam desprezar. Esse micro-mundo onde eu acredito que se alimenta de verdade a grandeza do universo. Ao mesmo tempo que sejamos capazes de contemplar o universo, através do buraco da fechadura — ou seja, a partir das pequenas coisas é possível olhar os grandes mistérios da vida. O mistério da dor humana, mas também o mistério da persistência humana, às vezes inexplicável, de lutar por um mundo que seja a casa de todos e não a casa de poucos – e o inferno da maioria.





A capacidade de beleza, a capacidade de formosura das pessoas mais simples, às vezes mais singelas, tem uma insólita capacidade de formosura, que às vezes se manifesta em uma canção, em um grafite, numa conversa qualquer — esta que praticam as crianças. Acontece que depois nós, os adultos, nos ocupamos em transformá-las em nós mesmos, e aí destruímos a vida delas. Mas, temos que ver o que é uma criança, não? São todos pagãs.





Faz pouco tempo, sofri uma tragédia, morreu meu companheiro Morgan, meu cachorro companheiro de passeio, que me acompanhava também escrevendo, porque quando eu perdia a mão e já levava 18 horas escrevendo, sua pata me dizia: “vamos, a vida não termina aqui, nos livros, vem, vamos passear juntos”. Aí íamos os dois. Porém, ele morreu. Com isso eu andava com uma música muito ruim na alma. Falando em perdas, realmente, a perda do Morgan foi muito forte para mim. Me arrancou um pedaço do peito. Bem, estava assim, muito triste e saí a caminhar pelo bairro. Era cedo, manhãzinha, não consegui dormir, me vesti e fui caminhar. Cruzei com uma menina muito nova, devia ter uns dois anos, que vinha brincando no sentido contrário. Ela vinha cumprimentando a grama, as plantinhas, “boa dia graminha”, dizia ela. Ou seja, nessa idade, somos todos pagãos, e nessa idade somos todos poetas. Depois o mundo se ocupa de apequenar nossa alma.





Fazíamos a pergunta todos os dias: “para que servia a utopia? Se é que a utopia servia para alguma coisa…” Então disse: “veja bem, a utopia está no horizonte e se está no horizonte, nunca vamos alcançá-la. Porque se caminho dez passos, a utopia vai se distanciar dez passos e se caminho vinte passos, a utopia vai se colocar vinte passos mais além. Ou seja, sei que jamais vou alcançá-la. Então para que serve? Para isso, para caminhar. (...)






Na minha infância, eu estava convencido de que tudo o que na Terra se perdia, ia parar na Lua. Sonhos perigosos, promessas traídas, esperanças estilhaçadas, Se não estão na Lua, onde estão? Será que na Terra não se perderam? Será que na Terra se esconderam e estão esperando por nós?




Dizem que o mundo é feito de átomos. Está bem. “O mundo não é feito de átomos, o mundo é feito de histórias”, disse uma amiga. Eu acredito que sim, o mundo deve ser feito de histórias, porque são as histórias que a gente conta e escuta, recria e multiplica. São as histórias que permitem transformar o passado em presente, e também permitem transformar o distante em próximo. O que está distante em algo próximo, possível e visível.



 


O mundo é isso, revelou: um monte de gente, um mar de foguinhos. Não existem dois fogos iguais. Cada pessoa brilha com luz própria, entre todas as outras. Existem fogos grandes e fogos pequenos, fogos de todas as cores. Existem pessoas de fogo sereno, que nem ficam sabendo do vento, e há pessoas de fogo louco, que enche e arde faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam. Mas outros… outros ardem a vida com tanta vontade, que não pode olhá-los sem pestanejar. Quem se aproxima, se incendeia."




(EDUARDO GALEANO, segue vídeo na íntegra abaixo...)





Seguindo essa linha de brincadeira de relacionar suas palavras com imagens, sugiro um link que expôs a mesma proposta: as reflexões de Eduardo Galeano com as obras do artista Marc Chagall. Vale à pena! http://www.contioutra.com/alem-convencional-textos-de-eduardo-galeano-e-obras-de-marc-chagall/ Por Josie Conti no site 'Conti outra'.

Por fim, também sugiro a leitura de um texto de Maria Helena Masquetti "Fim da publicidade infantil, começo de um mundo melhor", republicado no site do Instituto Alana, em homenagem a Galeano: http://criancaeconsumo.org.br/noticias/fim-da-publicidade-infantil-comeco-de-um-mundo-melhor/

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