quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Theo Pereira: seja bem vindo!!!

Tem sido um privilégio enorme dar boas vindas para bebês queridos neste blog, especialmente àqueles que chegam no finalzinho do ano e nos enchem de esperança de que tempos melhores virão. Afinal, quer milagre maior do que o nascimento de um bebê fofo e desejado???

Por isso, dessa vez, é com muita animação que dou a notícia por aqui de que Theo chegou!!! Que sua vida seja repleta de amor e alegria junto aos seus pais Adriana e Tiago e seu irmão Tiaguinho. Do mesmo modo desejo que a humanidade possa se inundar de afetos genuínos como o que construímos com seres tão pequeninos para superarmos nossos desafios e vivermos uma vida mais solidária e bela.

Feliz 2016 a todos e todas! 
Seja feliz Theo!


RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Chico Buarque: vai passar...

Vocês viram o vídeo que está rolando de uns caras abordando de maneira ofensiva Chico Buarque quando ele saía de um restaurante? Eu achei pavoroso. E você?

No vídeo as ofensas eram destinadas ao PT. E para você, isso interfere em sua opinião?  

Se sim, você quer dizer que um cidadão não pode mais jantar com seus amigos e sair andando tranquilamente pela rua simplesmente porque a opinião dele é diferente da sua, e que por isso ele vira um "merda" para você que se acha dono da verdade?

Se sim, preciso te dizer que você está muito equivocado - e aqui assumindo o risco de virar um merda pra você também. E está equivocado não em concordar com o que aqueles caras falaram sobre o PT. Isso você tem o direito. Todos temos. Assim como temos o dever de respeitar o diferente, de nos expressarmos mas de maneira respeitosa ainda mais quando o "grave" que essa pessoa fez foi colocar sua opinião.

Quando alguém se acha no direito de abordar de maneira agressiva alguém na rua simplesmente porque pensa diferente está minando a democracia. Em tempos que pessoas defendem a volta da ditadura - sem terem a dimensão do quanto de problemas e de corrupção, os quais temos até hoje desde essa época isso sem falar na violência toda que envolve esse tipo de governo - banalizar situações como essa é ainda mais perigoso.  Agora, se você achou aquela uma discussão normal então você precisa ampliar seu repertório, estar entre gente mais cuidadosa, porque aquilo em nada teve de embate de ideias respeitoso e saudável.

O fato de ser o Chico torna apenas a questão mais emblemática, porque se até ele - acho que dispensa falar de seu currículo, de sua postura ética na vida e de sua luta para que possamos nos expressar -  vem sofrendo esse tipo de agressão imagina uma outra pessoa? O que estamos fazendo quando banalizamos situações como essa de "tudo bem", "se não está devendo nada não tem o que esconder" ou "se ele lutou tanto pela liberdade de expressão agora aguenta"? Liberdade de expressão não tem a ver com soltar merda por aí mas de podemos nos colocar e sermos respeitados por isso desde que nossas colocações sejam pautadas na ética do coletivo e da integridade humana. E não foi o que ocorreu naquela cena.

Quando a mídia vende essa cena como "Chico bateu boca defendendo o PT" ela também revela o quanto está fomentando um cenário de polarização em que temos que nos armar uns contra os outros que pensam diferente. Chico foi abordado e tentou colocar seu ponto de vista, mas não conseguiu, foi logo insultado. Se nem no cenário do futebol uma cena dessas é aceitável quanto mais na política que não deveria funcionar assim. É verdade que muitos petistas também já abordaram gente do mesmo modo. E aqui reforço, também estão equivocados ao não preservarem o direito do outro se colocar.

Agora, se você respondeu SIM e ainda está me lendo, é porque isso faz algum sentido, não? Então continue a leitura que tem mais gente querendo falar a respeito. E vale a pena! Um outro mundo é possível desde que nos respeitemos e possamos juntos, cada um do seu lugar, contribuir para a construção de uma outra nação mais solidária. Eu também quero.


Outros relatos: Pablo Villaça

Em um momento de lazer, Chico Buarque de Hollanda foi cercado no meio da rua por um grupo de jovens ligados ao PSDB e insultado por "defender o PT". Aparentemente, estes projetos de fascistas não compreendem que TODOS temos o direito de expressar nossas opiniões políticas, agradem estas ou não. Chico, que nem político é, foi agredido por se manifestar como cidadão - algo que os veículos da mídia manchetearam como (acreditem) "Chico bate boca defendendo o PT no meio da rua: cantor retrucou grupo que atacou o partido".
Não, jornalixo brasileiro, o grupo não "atacou o partido"; atacou CHICO num momento de lazer e no meio da rua. E ele não "bateu boca pelo PT"; foi cercado e insultado por estranhos e defendeu sua posição ideológica.
O cara é um patrimônio cultural do país, um senhor de mais de 70 anos de idade, é cercado e insultado por um bando de moleques fascistas e a mídia trata isto não só com normalidade, mas ainda tentando atribuir a ELE a falta de civilidade da situação à qual foi submetido.
Os veículos de comunicação brasileiros estão esperando alguém morrer graças ao clima de ódio que ajudam a criar. Aí, então, começarão a publicar matérias sobre "tolerância" pra se isentarem de culpa. (Não à toa, um colunista demitido de Veja publicou foto malhando e dizendo que se preparava para a "única forma de dialogar com petista", num estímulo irresponsável à violência e à agressão como forma de "debate".)
A verdade é que esses caras têm alma fascista. Não suportam mais a distância do poder e usam "corrupção" como um chavão que disfarça seu propósito real: o não à inclusão social. Se a questão fosse mesmo "corrupção", não abraçariam Cunha como aliado. Protestariam também contra a privataria tucana, o aecioporto e a roubalheira no metrô de São Paulo.
Mas não, o panelaço é seletivo: Alckmin pode fechar 100 escolas; Haddad não pode abrir a Paulista. São milhões de Cunha; já Chico é um "merda".
Aplaudem Macri na Argentina, que indica ministro de Supremo por decreto, mas atacam o STF brasileiro por defender a Constituição numa interpretação que ganhou apoio de praticamente todos os juristas de relevo ao barrar os abusos do presidente da Câmara.
Acham absurdo o bolsa-família que ajuda o povo mais pobre a COMER, mas aplaudem que os ricos paguem impostos ridículos, significativamente menores do que o restante da população.
Querem uma desregulamentação completa do mercado e depois vêm colocar avatarzinho triste por Mariana.
Dizem que vivemos numa "ditadura petista" enquanto cercam um músico de 71 anos na rua para insultá-lo por se expressar como cidadão.
Saem pedindo impeachment no aniversário do AI-5 e se espantam quando são chamados de golpistas.
Acusam a esquerda de "burrice", mas usam "pão com mortadela" e "chola mais" como argumento.
Abraçam a bandeira brasileira e colocam "PATRIOTA!!!" na bio, mas são os primeiros a diminuir o país num viralatismo constante diante do mundo, além de adorarem falar mal do Cinema brasileiro - que conhecem só de ouvir falar.
Amam quando um comediante chama negro de "macaco", gays de "vitimistas" e mulheres de "vadias", mas dizem que os homens brancos cis heterossexuais sofrem preconceito.
Dizem que a esquerda prega "luta de classes", mas chamam esquerdistas de "pão com mortadela" e "esquerda caviar".
Adoram se dizer éticos, mas acham natural que o líder do MBL peça doações em sua conta pessoal.
Acham certo a PM espancar manifestantes (mesmo adolescentes), que chamam de "vagabundos", mas só conhecem a PM que tira selfie na Paulista.
Por isso tenho orgulho de ser de esquerda. De fazer críticas ao governo que se afastou dos movimentos sociais, mas de defendê-lo contra o golpe - pois, mesmo com todas as suas graves falhas, AINDA enxergo nele uma preocupação com os excluídos sociais que JAMAIS serão abraçados por esta oposição.
Uma oposição que prega que quem manda é o "deus mercado". Não, me desculpem, mas prefiro bem mais quem enxerga no desenvolvimentismo a opção mais humana.
Para encerrar - e com a maquiagem borrada pelas lágrimas - digo: "LEAVE CHICO ALONE!". Emoticon wink
E viva o debate saudável.


Outros relatos: Irajá Menezes

ESTORVO NAS RAÍZES DO BRASIL
Ontem à noite, pros lados do Leblon, Chico Buarque avistou-se com o brasileiro cordial.
Chico manteve a calma, não perdeu a elegância. Na verdade, não houve surpresa. É que Chico conhece como ninguém o brasileiro cordial.
Não apenas porque foi seu pai quem explicou que bicho é esse. Isso, por certo, ajudou.
O fato é que o poeta de olhos cor de ardósia não é de contar vantagem, mas todo mundo sabe que percebe de longe a cordialidade. Afinal foi ele quem descreveu com mais detalhes o brasileiro cordial.
O brasileiro cordial é aquele que fotografa com a câmera cujo foco toda lírica solapa.
Aquele que amassou as rosas, queimou as fotos e beijou Lily Brown no altar.
O brasileiro cordial é a voz do dono. É o dono do bosque onde todo balão caía, toda maçã nascia (e o dono do bosque nem via). Aquele que deve a Deus seu éden tropical, mas pode vender. Quanto você dá?
Foi o brasileiro cordial que inventou de inventar toda a escuridão. Que inventou o pecado.
Foi ele que obrigou Angélica arrumar o quarto do filho que já morreu.
E esqueceu-se de inventar o perdão.
O brasileiro cordial é um dos pagantes, bêbados e febris, exigindo bis quando Beatriz despenca do céu. É um dos homens tristes, à frente de uma mulher feliz, enrustido, com cara de marido. O bruto da brasa na coxa de Ana de Amsterdam. O japonês trás de mim. É ele quem bate, cospe, joga bosta na Geni.
Ele é o noivo correto, o empregado discreto, o macho irrequieto, o funcionário completo, fala de cianureto, tem um caso secreto, um velho projeto, às vezes cede um afeto, quase que fez fortuna. Até que a morte os una, os brasileiros cordiais armaram tocaia lá na curva do rio. Puseram no tronco, talharam o corpo, furaram os olhos do escravo que no engenho enfeitiçou Sinhá.
Para ele vivem as mulheres de Atenas. É ele que faz mil perguntas que em vidas que andam juntas ninguém faz. Que conta as horas nas demoras por aí.
Tatuagem no braço e dourado no dente, assim como veio partiu não se sabe pra onde. É o aborígene do lodo, o homem que vem aí. O malandro regular, profissional, com aparato de malandro oficial, candidato a malandro federal, com retrato na coluna social, com contrato, com gravata e capital.
O brasileiro cordial.
O brasileiro cordial reclama se alguém agoniza no meio do passeio público, porque atrapalha o tráfego. Serve a bebida amarga do cálice de vinho tinto de sangue.
É a ele que agradecemos: "Deus lhe pague" por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir, a certidão pra nascer e a concessão pra sorrir, por me deixar respirar, por me deixar existir. Deus lhe pague, brasileiro cordial.
Obriga o jumento a levar o pão, a farinha, feijão, carne seca, limão, mexerica, mamão, melancia, areia, cimento, tijolo, a pedreira até quando a carcaça ameaça rachar.
É o da pesada, responsável pela omissão um tanto forçada. Largou o guri no mato, rindo, lindo de papo pro ar. Estampou na manchete, retrato com venda nos olhos, legenda e as iniciais.
Fez alvoroço demais, o brasileiro cordial.
Fez o faz-de-conta terminar numa noite que não tem mais fim.
Subtraiu a pátria em tenebrosas transações.
Acendeu a fogueira que queimou o samba, a viola, a roseira. O brasileiro cordial é a roda-viva que carrega o destino pra lá.
O brasileiro cordial não gosta do Chico. Mas a filha gosta.
Mesmo que não se alimente o seu gênio ruim, encontra motivo pra injuriar.
É um eterno devedor. Deve favores ao compadrio. Deve honras ao padrinho. Por isso sai na rua, sedento para saldar as dívidas.
Chico escreveu um livro sobre ele. E mostrou que o brasileiro cordial está no asilo, nos últimos dias de vida. Sua memória já se embaralhou. Perdeu a conta.
O brasileiro cordial chora o leite derramado. Tem medo que aquele trem de candango, formando um bando de orangotango, não seja apenas parte de um sonho medonho e queira mesmo lhe pegar.
Será que é por isso que ataca?
Se há alguém que sabe quem é o brasileiro cordial, esse alguém é Chico Buarque de Holanda.
Os playboys fascistas que o aborreceram, ao contrário, não fazem a menor ideia de quem seja Chico Buarque de Holanda. Se soubessem não pagariam mico em rede nacional.
O brasileiro cordial cansa. É tanta mutreta pra levar a situação, que a gente vai levando de teimoso e de pirraça.
Mas... vai passar.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

5 anos de Mateus! 5 anos sendo mãe!














Como pode esse serzinho ser o mesmo nas duas imagens? Ou não é?

Em boa parte do tempo, ainda vejo Mateus como meu pequenino. Sinto necessidade de cheirá-lo, carregá-lo; meu instinto animal de lamber a cria. Contudo, é justamente quando o seguro em meus braços que consigo me dar conta do quanto cresceu! Nessas situações busco compreender as mudanças (às vezes gigantes, às vezes sutis) entre meu pequeno e meu grande menino, e aos poucos vou acessando um novo ser que ao mesmo tempo conheço e desconheço.

"Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata." (Carlos Drummond de Andrade)

Os 5 primeiros anos são uma eternidade de descobertas, aprendizagens e transformações na vida de uma criança como dos adultos ao seu redor. Somos todos 'outros' a partir dessas intensas experiências. Por isso, muitas vezes o vejo como um moleque enorme quando cobro dele atitudes que correspondam ao seu tamanho, me encho de orgulho ao presenciar suas conquistas e aproveito muito a sua companhia para programas e atividades que antes não eram possíveis. Ao mesmo tempo (vai entender...), esses primeiros 5 anos passam num piscar de olhos - tanto para as crianças que não mais se reconhecem como para os adultos que precisam fazer movimento para acompanhá-las.

"A celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festa de aniversário. Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte." (Rubem Alves)

Quando há ausência de movimento dos adultos ao seu redor, as crianças ficam sem referências de quem foram e de como vêm se constituindo em seus percursos, morrem suas histórias sem poderem renascer de outro jeito, em outro contexto. Suas narrativas não ganham sentido. Por ora, somos uma importante fonte de suas memórias. E que missão maravilhosa e importante recebemos!

Para mim, tem sido emocionante poder contar ao Mateus e às minhas meninas como foram desejados, gestados, paridos, amados. Como brincaram com as pessoas, com os animais, o mundo e como se lançaram aos desafios, pediram ajuda e fizeram conquistas! As marcas que foram deixando em tudo e em todos como as marcas que foram ganhando em seus corpos e escolhas. Contar também sobre nossa família que se constituiu em nosso jeito único de funcionar. A criança nasceu como nasceu junto também a mãe, o pai, o vô, a avó e ogo o próprio bebê vira o irmão mais velho.

Nesse processo vamos nos dando conta de que a maioria de nossas memórias mais significativas são formadas por momentos singelos, perceptíveis apenas aos olhos de quem está disponível. Por outro lado, tanta coisa a gente acaba esquecendo. Fotografar, filmar (sem grandes paranoias a ponto de deixar de estar presente), escrever (tenho este espaço precioso, mas gostaria de registrar ainda mais), dentre outros, são recursos importantes para nos lembrarmos do valor da experiência.

"Muita coisa que ontem parecia importante ou significativa amanhã virará pó no filtro da memória. Mas o sorriso (...) ah, esse resistirá a todas as ciladas do tempo." (Caio Fernando Abreu)

Igualmente emocionante vê-los contar a própria história, ao seu modo, mostrando-se apropriados de suas vivências. Mateus, outro dia, folheava seu álbum de fotografias como se fosse um de seus livros memorizados "Eu nasci muito rapidinho, porque eu queria ver logo o mundo. Mamãe disse que eu tinha a pele mais macia do mundo. Eu de Corinthians com o papai, porque eu já nasci corinthiano". Com isso, nosso desejo de fazer parte de suas histórias continua enorme bem como nossa responsabilidade em ajudá-los a ressignificar suas vivências e escolhas, ainda mais porque certamente em suas trajetórias, vez ou outra, eles precisarão ser lembrados por nós de suas essências para não se perderem de si mesmos - ainda que a graça da vida seja exatamente virarmos outros de nós mesmos.

"Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira." (Cecília Meireles)

A pergunta que Mateus me fez há um tempo atrás ainda ressoa em mim. Quando lhe contei que a partir de sua chegada eu havia me tornado mãe ele me indagou: "E antes, você era o quê?".  Pergunta simples e complexa como todas as que as crianças fazem. Puxa vida, antes eu era tanta coisa! Algumas que ainda preservo, outras que já não reconheço mais, mas definitivamente ser mãe foi um marco em meu percurso.

Para me nascer mãe tive que morrer um tanto, foi difícil, ainda é. No entanto, me reconectar com outras mulheres numa rede de apoio e com minhas ancestrais foi essencial para conseguir não só renascer como fazer viver em mim muitas mulheres diferentes. Hoje, sou muitas e todas convivem em mim numa harmonia e desarmonia constante me dando a certeza da vida que escolhi. E esta nova vida eu devo a ele como sua vida ele deve a mim: este é o nosso laço! Impensável nos imaginarmos um sem o outro. Mãe e filho, filho e mãe. Laço eterno que precisa ser alargado para fazer caber outros tantos em nós, entre nós e ao nosso lado e quando necessário, também rompido. Como outro dia um aluno me disse: "Se ninguém cortasse o nosso cordão umbilical a gente continuaria para sempre lá na barriga da mãe". Lugar que melhor representa aconchego. Mas como outro aluno disse: "mas se a gente não sai a gente não toma sorvete, não joga futebol e fica sozinho". Essas crianças entrando em contato com a complexidade da vida, do que está e do que não está em nosso controle, do que não vale à pena controlar e sim aproveitar e das escolhas que fazemos diante de tudo.

Outro dia, Mateus também me disse quando quis empurrá-lo na boia para pegar um "jacaré" na onda do mar: "Mãe, deixa que eu vou comigo mesmo". E do mesmo modo que eu dou limites a ele de suas ações, para se situar melhor em cada contexto, ele também vai me colocando limites para que eu o deixe seguir seu caminho... Livre, como tem de ser. Liberdade que requer coragem.

Hoje meu menino - às vezes pequeno, às vezes grande - completa 5 anos! "Vou encher a mão" como ele disse, e neste percurso sinto que ele preencheu muito mais, pois preencheu a própria vida!

"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, 
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

(Guimarães Rosa)


Mateus, meu filho querido,

Você é um moleque doce e sapeca que tem na vida seu maior presente e isso me alegra demais. É muito gratificante tê-lo ao meu lado e vê-lo crescer com tanta potência, generosidade e alegria. Só tenho a agradecer por ter me escolhido para ser sua mãe. Este foi meu maior presente depois completado com a chegada de suas irmãs. Vocês três são meus tesouros, dos quais não abro mão em minha vida. Amo vocês de um jeito que não cabe no peito nem nos apertos, por isso que os agarro tanto... É um amor que precisa extrapolar, sair pelos meus poros até chegar a vocês.

Te amei nos meus sonhos, na minha barriga, no meu colo, em seus primeiros passos e vou continuar te amando por suas andanças mundo afora.

Neste seu aniversário de 5 anos quero continuar desejando que sua vida continue iluminada pelo bem para que possa continuar me ensinando a todos ao seu redor com suas perguntas, ideias, carinhos e brincadeiras. Aliás, continue brincando muito e muito, é a melhor coisa que pode aprender por ora. E cresce, meu filho, cresce que você me enche de orgulho (suas conquistas também são um pouquinho minhas), mas cresce devagar, sem pressa, as coisas têm o seu tempo certo, meu apressadinho.

5 anos de Mateus! 5 anos sendo sua mãe! Por isso, hoje é seu aniversário, mas eu comemoro junto. Obrigada por tudo, meu filho, por dividir esse momento comigo, por fazer minha vida mais viva. E obrigada, principalmente, por ser esse menino tão especial que vem trilhando um caminho muito lindo, todo seu e das pessoas e acontecimentos que lhe importam e você tão bem sabe valorizar.


Com amor,
Da sua mãe.




segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Jovens estudantes de luta

Esses jovens estudantes que ocuparam (e não invadiram) suas escolas para defendê-las me encheram de orgulho e me deram mais ânimo para continuar acreditando que mudanças boas virão!

Neste caso, o problema não se trata da "reorganização" que o governo estadual de São Paulo insiste em dizer, mas da arbitrariedade em fazê-la. Esse tipo de medida precisa ser dialogada com todos os envolvidos e consideradas as especificidades de cada escola para encaminhamentos ajustados e não massificados a toque de redução de custos e camuflagem de outras intenções como a terceirização do ensino público.

A notícia em si não é exatamente uma surpresa para quem acompanha o desmonte que vem sendo feito na rede púbica de ensino estadual, contudo, ainda assim saber que o governo tucano no Paraná começou o ano batendo em professores que reivindicavam pacificamente seus direitos e termina o ano em São Paulo batendo em estudantes que não querem que suas escolas sejam fechadas é um absurdo. Tão absurdo é a população não se solidarizar com tais lutas que por mais que tenham alguns movimentos envolvidos manipuladores a maior parte refere-se a gente idônea que defende a melhoria do ensino público e não merece apanhar por isso. "Uma sociedade que bate em seus jovens que pedem por mais escolas só pode estar seriamente doente" como circulou no facebook. E pensar que muitos não os apoiaram justamente porque continuam polarizados PT ou anti PT, como se fazer política fosse igual torcer para time de futebol. Não é. Do mesmo modo que vejo problemas nos programas do PSDB vejo  no programa federal Pátria educadora, e todos merecem ser seriamente discutidos por todos, para que tenhamos um programa de qualidade.

Os estudantes deram um show de organização em seus protestos pela melhoria da educação - em todos os âmbitos. Organizaram-se nas respectivas escolas arrecadando alimentos com a comunidade, com a benfeitoria dos espaços e com atividades culturais. Frente à tentativa do governo de fechar cerca de 100 escolas, 200 foram ocupadas em solidariedade. Vitória deles quando conseguiram movimentar medidas judiciais que adiaram essa reorganização colocando essa questão na pauta das urgências e dando tempo para a busca por soluções mais efetivas. Vitória da educação, do empoderamento desses jovens.

Na torcida para que cheguem logo ao poder. Meu voto é deles.

Esses jovens aprenderam muito nesse tempo de luta em defesa da melhoria da educação ao exigirem um diálogo com o governo. Nesse período cuidaram de suas escolas - limparam jardins, banheiros, pintaram paredes e isso certamente vai fazer diferença na relação deles com esse espaço. Do mesmo modo aprenderam muito como conversar e refletir e isso certamente vai fazer deles estudantes mais críticos das aulas. Os professores que se preparem porque a molecada está mais exigente - no melhor dos sentidos!


domingo, 8 de novembro de 2015

Parece que foi ontem...

Ontem, o facebook me lembrou dessa imagem...



Parece que foi ontem de tão rápido que passou... 3 anos! Por outro lado, parece que faz mais tempo, porque nem lembro direito como era essa nossa vida... Como sobrevivemos?

Guardo muita saudade de meus bebês, mas nenhuma de mim mesma nessa época... Contudo, foi graças a essa outra de mim que construí tudo que tenho hoje. E tenho muito! Temos muito. 

Uma família grande para, juntos, rirmos e chorarmos nessa vida. Amo.

E hoje, essa mesma rede social, me relembra de outro momento gostoso, há 2 anos atrás... Num dia em que choveu muito aqui em casa... chuva de bolinha!



Nesta época já me encontrava mais conectada ao mundo (rs), mais segura por ser mãe de 3. Também já havia voltado ao trabalho - e dessa vez das meninas, me fez super bem, tínhamos uma rotina construída, que tinha seus momentos de correria, mas muitos momentos como esse em que a brincadeira nas relações dava o tom como vivemos até hoje, meus 3 já estavam interagindo muito, brincando e brigando como imagino que continuarão fazendo por toda a vida, as muitas gracinhas de criança pequenina aconteciam de modo abundante e encantador, o que me mobilizava a rezar para o tempo passar... Porque dá orgulho em ver os filhos crescerem, assim como a gente! Mas que ele passe bem devagar - para que eu consiga aproveitar o máximo possível de momentos assim... simples, divertidos e intensos!  


sábado, 24 de outubro de 2015

Pedro Vitor: seja bem vindo!!!

Mais um bebê fofo chegou a esse mundo: é o Pedro Vitor, filho dos queridos Marco Aurélio e Daniela. Que notícia maravilhosa, nossos parabéns de todo mundo aqui de casa para cada um de vocês!

Hoje, num dia que passei aqui no blog para escrever outros textos em defesa pela infância, segue um poema de Ruth Rocha. Se bem que no caso de Pedro Vitor tenho certeza de que com os pais que escolheu ele certamente será muito respeitado, valorizado, amado, e feliz! Sortudo esse garoto!


O Direito das Crianças

Toda criança no mundo
Deve ser bem protegida
Contra os rigores do tempo
Contra os rigores da vida.

Criança tem que ter nome
Criança tem que ter lar
Ter saúde e não ter fome
Ter segurança e estudar.

Não é questão de querer
Nem questão de concordar
Os diretos das crianças
Todos tem de respeitar.

Tem direito à atenção
Direito de não ter medos
Direito a livros e a pão
Direito de ter brinquedos.

Mas criança também tem
O direito de sorrir.
Correr na beira do mar,
Ter lápis de colorir...

Ver uma estrela cadente,
Filme que tenha robô,
Ganhar um lindo presente,
Ouvir histórias do avô.

Descer do escorregador,
Fazer bolha de sabão,
Sorvete, se faz calor,
Brincar de adivinhação.

Morango com chantilly,
Ver mágico de cartola,
O canto do bem-te-vi,
Bola, bola,bola, bola!

Lamber fundo da panela
Ser tratada com afeição
Ser alegre e tagarela
Poder também dizer não!

Carrinho, jogos, bonecas,
Montar um jogo de armar,
Amarelinha, petecas,
E uma corda de pular.


Ruth Rocha

Sobre a cultura do estupro

Começou mais uma temporada de um reality show de culinária num canal brasileiro, dessa vez com crianças, o que não aprovo. Não acho que lugar de crianças seja nesse tipo de programa competitivo e expositivo, mas aqui quero tratar de outros mais sérios que ocorreram a seguir...

Muitos comentários de homens demonstrando desejo sexual para com uma menina de 12 anos revelaram o quanto a cultura do estupro está viva em nossa sociedade. O termo "novinha" é o mais digitado para acessar pornografia no Brasil...

Revoltante.

"Vamos deixar algo claro desde o começo: qualquer tipo de relação de natureza sexual com uma criança é estupro. Uma criança nunca pode ter uma relação sexual consensual porque ela é criança e não pode tomar esse tipo de decisão. Por lei. Vamos dar o nome certo às coisas. Aqui não estamos falando de pedofilia, que é uma doença que pode ser tratada antes que a pessoa cometa qualquer crime — seja ele consumir pornografia infantil ou o estupro. Nenhum desses homens que comentou sobre a MasterChef é doente, eles apenas acham que têm o direito de falar absurdos como esse porque olham para ela e não enxergam uma criança, mas uma mulher."  
(Carol Patrocinio. Texto maravilhoso na íntegra: https://medium.com/@carolpatrocinio/quando-uma-menina-de-12-anos-no-masterchef-jr-desperta-o-desejo-de-homens-adultos-precisamos-falar-503567b2778d#.wgbkelch7)

Mais uma vez coloco-me em defesa da infância.

Uma criança precisa ser olhada de um jeito respeitoso e ético, sendo assegurada em seu direito de se desenvolver no seu ritmo, expressando todas seus pensamentos e sentimentos acerca do mundo até vivê-lo autonomamente.

Vamos parar de tratar esses comentários como "pouca coisa", porque não o são. Eles revelam muito o modelo de sociedade que ainda vivemos: machista, anti ético e retrógrado.

Nossa sociedade vai criando, dia após dia, uma maneira de aumentar a vulnerabilidade feminina. E o sexo é a mais rápida delas. Meninas são incentivadas a ter relacionamentos com homens mais velhos porque elas são muito maduras para a idade. Mulheres engravidam, então socialmente diz-se que a responsabilidade pelo bebê é apenas delas. O aborto é proibido — mesmo acontecendo em números alarmantes em todas as classes sociais e regiões. Homens mais velhos sabem como guiar meninas a fazer o que eles querem. Mães adolescentes largam a escola, não fazem faculdade e contentam-se com subempregos porque precisam sustentar seus filhos. Além de tudo essas mulheres, que foram meninas vítimas da cultura do estupro, são tidas como vagabundas.
(Carol Patrocinio. Texto maravilhoso na íntegra: https://medium.com/@carolpatrocinio/quando-uma-menina-de-12-anos-no-masterchef-jr-desperta-o-desejo-de-homens-adultos-precisamos-falar-503567b2778d#.wgbkelch7)

Parece papo de feminista exagerada? Queria eu que fosse, mas não é.

Ainda nesta semana, outro acontecimento grave, o deputado Eduardo Cunha (sim, ele de novo!) conseguiu aprovar mais uma medida que nos faz caminhar para trás...

"Hoje, 21, foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 5069/2013, de autoria do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que torna crime anunciar, induzir ao uso, ou fornecer meios ou substâncias abortivas a uma gestante, mesmo em caso de estupro. Além disso, o projeto torna obrigatório que mulheres que afirmem terem sido estupradas façam um boletim de ocorrência e exame de corpo de delito para que "comprovem" que estão falando a verdade. Por último, a proposta ainda altera o item que possibilita que a mulher receba pílulas do dia seguinte para evitar uma gravidez em caso de estupro – a chamada profilaxia da gravidez." 
(http://www.justificando.com/2015/10/21/aprovado-na-ccj-projeto-de-cunha-que-dificulta-mulheres-estupradas-realizem-aborto-/)

Já escrevi sobre o que acho do aborto na postagem (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2015/02/a-favor-da-vida-favor-do-aborto.html).  De todo modo, o que vale aqui é dar o direito a uma mulher decidir sobre seu próprio corpo, principalmente quando o mesmo foi violentado. Essa é mais uma prova da cultura do estupro como se ele não causasse danos, fosse algo justificável, aceitável ao invés de repudiado.

O desejo é responsabilidade de quem o sente e não de quem o desperta. Quando um adulto sente desejo por uma criança é ele o culpado por ir contra uma norma social que protege a infância, a integridade e o corpo de uma incapaz (de acordo com a lei). Porém é muito simples inverter esse raciocínio ao dizer que a menina já tem em si a sexualidade de uma mulher, que ela usa roupas provocativas e que pede atenção masculina. Com essa ideia o homem torna-se a vítima de uma “destruidora de lares” que ainda brinca de boneca, apesar de ter sim sexualidade, ainda que muito diferente da de uma mulher adulta. (...) 
É importante falar sobre a cultura do estupro. Ela anda nas entrelinhas de muitos discursos. Ela caminha ao lado da ideia de que homens não conseguem conter seus instintos. Ela está totalmente ligada ao falso consenso que poderia dar uma criança. Ela é reforçada pela infantilização de mulheres adultas. A impunidade é sua melhor amiga e a culpabilização da vítima sua principal arma.
(Carol Patrocinio. Texto maravilhoso na íntegra: https://medium.com/@carolpatrocinio/quando-uma-menina-de-12-anos-no-masterchef-jr-desperta-o-desejo-de-homens-adultos-precisamos-falar-503567b2778d#.wgbkelch7)

Mulheres corajosas, a seguir, publicaram em um só dia relatos de seus primeiros assédios sexuais, a maioria vindo de familiares que continuaram a ser obrigadas a se relacionar.

30 mil relatos,num só dia! Num só país. Inspirados num único episódio. Você ainda acha que estamos falando de "pouca coisa"? Ou de papo de novela?

Triste.

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/22/politica/1445529917_555272.html?id_externo_rsoc=FB_CM

Com meu otimismo, por um tempo fiquei achando que esse acontecimento poderia ter servido para tratarmos de uma questão séria, urgente e delicada, e assim avançarmos na tomada de consciência de nossas condutas em nossas interações. Na história da humanidade são às vezes por esses caminhos tortuosos que identificamos nossos problemas e recuperamos nossa sanidade e construímos outros novos, mais justos.

Contudo, no mesmo dia as piadas continuaram a acontecer...


Desânimo.

Mas depois me dei conta que exatamente por essa questão estar emaranhada em nossa cultura um único episódio não bastaria para transformá-lo completamente. Fui ingênua demais. Para tanto será necessário muito barulho ainda. E estou nessa toada porque não compactuo com pessoas que violentam outras, principalmente de crianças. Pelo contrário, como educadora inspiro e respiro o tempo todo para ajudá-las a significarem suas relações de maneiras mais respeitosas assim como mãe e cidadã.


Novo ânimo quando li as palavras desse pai...

É muito difícil manter a alegria no coração, vendo os relatos de abusos e assédios sofridos por tantas mulheres, desde as suas infâncias.
E por mais que eu tenha empatia, eu nunca saberei como é viver uma vida inteira com esse medo. Eu mesmo, quando criança, nunca tive que me preocupar com isso, e isso é apenas um dos privilégios que eu tenho, pelo simples fato de ter nascido homem.

Conhecer essas histórias, inclusive as histórias de amigas tão queridas minhas faz eu sentir uma mistura de indignação e vergonha. Vergonha por ser homem como esses homens, e saber que tantos, mas tantos outros homens fazem isso diariamente. É contra esse machismo que corrói a nossa sociedade que devemos lutar, todos os dias, para sempre.

E aí eu olho meus dois meninos, que nasceram meninos e, dentro dessa sociedade patriarcal, já possuem um número imenso de privilégios. Meninos que se tornarão homens e precisarão continuar a luta contra o machismo, não fazendo parte dele. Renegar esse histórico podre de abusos e poder.
É uma baita responsabilidade, mas se tem uma coisa que eu tenho certeza é que todos os meus esforços estão na criação de meninos que não abusem de meninas. De maneira nenhuma.
(Paizinho, vírgula. https://www.facebook.com/paizinhovirgula/posts/748400018639830?fref=nf) 

Outra coisa que me animou hoje... A questão de gênero foi tema do ENEM!!! Sim, o tema da redação foi: "a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". Pensar que milhões de jovens pensaram a esse respeito, com seriedade, sem poder profanar bobagens e podendo reconhecer o sinal dado de que essa questão é de suma importância para o tipo de gente queremos formar, finalidade maior que deve ser desse tipo de exame nacional. Orgulho, orgulho, porque afinal, neste exame, os atrasados em todos os sentido, se deram mal... E risos e mais risos das pessoas que identificam essa questão com sendo de esquerda... Ai, ai... Mas vamos seguir caminhando e sonhando com outro mundo.

Por fim na postagem anterior compartilhei a experiência de meus filhos no "Dia das Crianças na roça" simplesmente como uma resposta a esses acontecimentos. Considero essa experiência simples e intensa e pode ser mais uma referência nesse cenário. Nossas crianças merecem ser olhadas, com toda sua potência, e como seus cuidadores devemos nos responsabilizar para que possam explorar ao máximo suas interações com esse mundão, que pode e precisa ficar muito melhor!

Eu acredito. E você?

Dia das crianças na roça


Um encontro.
Bebel e o Louva a Deus.
Um humano e um bicho.
Um ser e outro ser.
Olho no olho.
O mundo em suspenso e ao mesmo tempo fervilhando.
Vida, muita vida.

Nesse encontro diversas reações de ambos os lados...

Bebel se surpreende, chega perto, o bicho pula, tenta escapar, ela vem em minha direção com receio. Me aproximo do bicho e converso com ele e aos poucos os dois se tranquilizam. Quando ele aceita meu convite para subir na folha rapidamente Bebel quer segurá-lo. Ela toma cuidado e também lhe dirige palavras, de maneira cada vez mais espontânea, as quais seu novo amigo ouve com atenção.


Essa relação intensa chama a atenção dos irmãos que logo começam uma disputa para segurarem o bicho. Novamente o Louva a Deus tenta escapar daquela briga que não é dele, mas não consegue devido a destreza de Mateus.

Novamente faço uma intervenção pedindo para colocar o bicho na pedra até ele se acalmar enquanto peço para Bebel contar sobre o que já havia descoberto: "Ele tem que ter cuidado, ele também tem medo". Assim, com olhos investigativos meus pequenos observam o "Louca a Deus" como Carol o chama. Risos meus e de Mateus. Ela não entende nossa reação, e continua sua pesquisa: "Ele tem medo?", e Isabel continua: "Tem, ele pula assim ó, voando". Mateus pede precisão: "Ele pula ou voa?". "Ele pula", Bebel responde, sem muita convicção. "Eu quero que ele pule", fala Carolina e começa a fazer movimentos bruscos para ele se movimentar, dando gargalhadas enquanto Mateus se enfurece porque ela está espantando seu foco de observação: "Para de fazer isso que eu estou vendo ele, olha, ele tem olhos e boca". Carol continua a querer colocá-lo em ação, Bebel cai no choro pelo amigo em risco, o que ela não sabia ainda é que ele não é bobo e logo foi-se embora desse trio agito.

Busca ao bicho. Quando o achei fiquei em dúvida se mostrava ou deixava o bicho seguir seu caminho, mas eles estavam tão preocupados que resolvi mostrar, pedindo cuidado e aproveitando para conversar sobre camuflagem, pois o bichinho estava numa folha tão verde quanto ele. Mateus fez muitas perguntas a respeito, mas logo outra coisa chamou sua atenção, e lá se foi ele em suas explorações na roça. Já minhas meninas continuavam por ali inconformadas com o bicho preferir ficar na folha da árvore à folha seca que elas estavam lhe oferecendo como lar. Por fim, mais uma vez, ele demonstrou inteligência ao perceber que era melhor aceitar logo o convite para depois seguir sua vida em paz. Assim, elas puderam terminar a conversar com o amigo, mostrando para com ele bastante curiosidade e cuidado, e recebendo de volta o mesmo.

Sem dúvida, um encontro.



Um tempo depois Mateus encontrou um bicho morto, uma pequena mariposa, já seca e anunciou a todos. Carolina se mostrou indignada: "Isso não é bicho", uma vez que ela havia acabado de conhecer um, com toda sua vitalidade! Mateus lhe contou que este já havia morrido e ela continuou a negar, a dizer que tratava-se de folhas. "Quer ver?", ela perguntou e logo começou a despedaçar "geral" o pobre bicho morto.


Diante da cena forte, Mateus demorou para se reorganizar mas logo voltou a afirmar: "Era um bicho morto sim. Mas agora é um bicho em folhas".



Na cascata, esse lugar de tantas memórias minhas de infância, uma verdadeira nascente de pesquisas e interações, Carol e Bebel começaram uma brincadeira que Mateus já havia inventado da outra vez, a qual ele chamara de "vômito" - mas elas não a chamaram assim. A brincadeira consistia em colocar folhas no cano para entupi-lo por um tempo até o tal vômito acontecer, seguido de risos, comemorações e um "de novo?".

A brincadeira durou um tempo e teria durado mais, se não fosse interrompida pelo Mateus e seu brinquedo de jogar água... nelas!!! Elas até tentaram também jogar nele, mas foi uma disputa desleal como são tantas entre os irmãos...


As duas ficaram irritadas e resolveram caminhar. Sábia decisão.

Fiquei um tempão contemplando suas andanças, encantada com suas explorações. Cada animal que conheciam ou reconheciam ou elemento que encontravam desde paus, folhas, pedras, areias, estercos eram motivos para interagirem tocando, cheirando, disputando, compartilhando... E principalmente a maravilhosa oportunidade em terem um espaço e tempo à disposição, para ser experimentado de forma diferenciadas única!

Um mundo que cabe na palma da mão.
Um mundo que é maior do que o meu coração.
Um tempo que passa num segundo mais duradouro de todos.
Um tempo que dura uma eternidade mágica.
Uma brecha no tempo e espaço.
Uma brecha para vivermos nossos mundos e nossos tempos, de um outro jeito. 


Mateus foi atrás delas e o que poderia ser um problema, virou a solução, porque agora os três estavam juntos para molharem a mim e ao Luiz!

Que lindeza ver meus pequenos desenvolverem esse sentimento de irmandade. Brincar e brigar são os eixos fundamentais que regem essas relações e fazem essa construção ganhar um sentido especial, de companheiros que se formam para toda a vida.



Depois de um tempo, Mateus resolveu jogar bola (que novidade!) e as duas foram em busca dos cachorros, mas ao encontrá-los ficaram insatisfeitas: "Cadê os pequenininhos?", e levei um tempo para entender o que estavam dizendo - as crianças guardam sempre um sentido em tudo que fazem, pensam e sentem, mas nem sempre conseguimos nos sintonizar com elas. Ganhamos todos quando o fazemos! - até que me lembrei que na última vez que estivemos ali os dois eram bem filhotinhos, principalmente o Chocolate, o preferido delas.


Nesse momento me dei conta de que fazia um tempão que não viajávamos para lá "por que demoramos tanto?" me perguntei. Percebo então que isso acontece com tantas coisas em minha vida: com o tempo, deixar de fazer o que gosto... Sorte ter a oportunidade dessa conversa para tomar dimensão dos caminhos que venho trilhando, poder rever algumas de minhas escolhas.

Precisei explicar muitas vezes para Carol e Bebel que tratavam-se dos mesmos cachorros, mas que eles haviam crescido tal como elas. Demorou muito tempo para que aceitassem essa ideia e se entregassem novamente a essas relações, especialmente com Chocolate que desperta nelas afeto e medo por suas mordidas de brincadeiras.



A alegria de meus filhos ao chegar à roça foi enorme, de emocionar. Mas dessa vez estranharam muito: "Mas cadê as outras pessoas?". Bonito de ver como associam o lugar a quem faze parte dele. 

Para mim, a vivência nesta casa foi uma de minhas primeiras oportunidades de experimentar uma experiência comunitária para um pouco além da família, pois apesar de ser do âmbito familiar ela incluía outros parentes e gente diferente que circulava por ali. Esse exercício importante (e desafiante!) continua até hoje quando temos que conviver nesse espaço, compartilhar impressões e tomar decisões.

Numa horinha de descuido, minhas meninas foram até o telefone e ligaram para todos, um por um para convidá-los a participar de uma festa na roça. E realmente elas têm razão: esse espaço cheira festa! Acho que por causa do contato íntimo com a Mãe natureza a gente se sente o tempo todo inspirado a celebrar a vida.



"Enquanto as outras pessoas não chegam que tal uma passadinha no balanço?", logo elas aceitaram meu convite.  "Mais alto", "Segura na barriga e solta", "Quero ir sozinha", "Me empurra", "Olha o que eu tô fazendo!", "Quer que eu te rode? Eu rodo você fraquinho...", "Eu já cresci, já consigo ir lá no alto", "Eu tô virada", "Isso é muito divertido!", "Eu vou pegar o céu", hahahahaha.


Cresci nesse balanço. Quantas vezes quando menina falei as mesmas coisas que elas, principalmente que ia segurar o céu, nesse ir e vir do meu corpo brincando com o vento?

O tempo me intriga, pois me provoca muitos tipos de pensamentos, sentimentos e reações. Essa cena, por exemplo, representa esse misto de emoções. Nela, tive a grata surpresa de perceber como minhas meninas cresceram, ao ver as coisas que já está conseguindo fazer sozinhas e suas animações por perceberem suas conquistas, medo enorme por perceber como passou tudo rápido, felicidade por ter feito parte disso tudo, de suas histórias assim como elas da minha, e nao deixei de sentir, incoerentemente, uma pontinha de desejo de que o tempo passe rápido porque fico curiosa para ver as mulheres que se tornarão.

Me veio agora a imagem da última cena do livro "O menino maluquinho" quando defendendo o gol, ele segura a bola pra cá, pra lá, de todos os jeitos possíveis e impossíveis, e a única coisa que no fim ele não consegue mesmo segurar foi o tempo. Tal como eu não segurei na minha meninice e nem vou consegui-lo fazê-lo pelos meus filhos.



E então vovô chegou! Ele que inspira e respira essas terras, que construiu história nesse lugar, que deixou suas marcas aqui assim como possibilitou que esse lugar deixassem marcas profundas em nós, em nossos modos de enxergar o mundo e vislumbrar outros. 


Quem lembra como era esse lugar antes e hoje o vê tão cheio de árvores, flores, animais, cantinhos, tão mais vivo, tão mais bonito só pode acreditar na força de nossos pensamentos, sentimentos e ações para criar outras realidades melhores! Meu pai me ensinou essa coisa mais importante na vida e que ninguém me tira: acreditar em tempos melhores.

Nesta imagem, lá está ele fazendo novas criações: escadas para suas princesas caminharem...


E assim (ainda bem) seu Parreirinha continua animando as novas gerações a apropriarem-se de tudo que esse espaço oferece com fartura, seus frutos! Pitangas, amoras, coquinhos, jabuticabas...


E João Pedro também chegou junto com mais um monte de gente querida! A aventura das crianças estava garantida com um monte de coisas a desbravar.


As aventuras entre os primos estavam apenas começando... Rolou até uma caminhada à Serra, outro lugar fundante de minhas memórias, com direito a uma parada no bambuzal, a casa do Saci para investigações e um lanche. 

Mateus conheceu Saci intimamente por meio das histórias contadas na escola. Sua professora jura que já o viu e desde então ele é um personagem que faz parte de suas reflexões sobre o mundo. Nas férias, teve a chance de ir ao Sítio do Pica pau amarelo e depois de muita dose de coragem abraçar uma estátua, o que desde então lhe conferiu maior ainda proximidade com o ser mistico. Para ele, descobrir que na roça tem bambuzais foi mais uma vez uma maravilhosa oportunidade para relacionar-se com um monte de coisas que envolvem essa questão toda. Na hora, naturalmente sentiu um misto de curiosidade e receio disse, não muito convincente: "Pena que ele não estava lá",...



Agora sim, festa completa! Todos os bisnetos e bisnetas da Bisa Regina juntos!

O encontro em si já pediria uma comemoração, mas foi ainda mais especial porque era Dia das Crianças! Detalhe: com Rebeca e Julio super fofos com a criançada!!! E pensar que parece que foi ontem que eles tinham o tamanho dos meus (quanta coisa aprendi sendo 'tia deles', principalmente que uma família fica mais animada quando tem crianças por perto)... E pensar também que quando eu tinha a idade deles eu vivi a única fase em que não gostava tanto de ir à roça (só se meus amigos viessem também para fazer festa)... Ou ainda que tenho inúmeras fotos com meus primos nessa mesma pose!!!

É mesmo muita história, muita emoção numa foto só!!! 



Para mim e para Luiz a viagem em si já foi o melhor presente que poderíamos oferecer aos nossos filhos. Lá, acabaram ganhando outros dos familiares, e mais uma vez vi o quanto minhas meninas adoram brincar de se arrumar para ficarem como a Bisavó Regina, querida e linda.


Uma paradinha da Bebel para mergulhar em outro presente especial...



E o dia vai findando e chega a hora de comer a pipoca sem igual do vovô! Logo as meninas se rendem ao sono. Mateus e João Pedro ainda tinham um restinho de energia para fazerem um bolo de banana com tio Carlinhos e Sueli...



E para procurarem por sapos e aranhas com suas lanternas. Mas tão logo pararam, ouviram uma história, os dois dormiram e sonharam - como as meninas - que o mundo é mágico.

Só pode ser!


"Sonhos
escritos em versos…
São como bolhas de sabão!
Que levam consigo perfume.
E vão gotejando…
Pingo a pingo,
por onde passa!
Deixando
suavidade ao coração
de quem o lê e o vê!"

Dayse Sene



sábado, 26 de setembro de 2015

Outros relatos: Wladimir Modolo

Nessa história de meu computador quebrar essa postagem ficou atrasada... Mas ainda vale muito a pena ser compartilhada, por tamanha beleza... A beleza de ver nascer um pai.

Costuma-se falar tanto no nascimento do bebê, da mãe e pouco se fala do nascimento de um pai. E precisamos falar, falar e falar para que possamos perceber que o deixar de falar tem a ver com a imagem errônea que ainda nos rodeia de que o papel do pai, ou outra figura masculina, é secundário. E mais, como se ele também não enfrentasse os desafios da nova vida e precisasse de tempo e forças para se reconstruir. Já disse aqui outras vezes que tem que ser muito macho, no melhor sentido do termo, para vivenciar esse período lidando com as próprias questões como dos demais ao seu redor, para investir na construção de uma relação afetiva com o bebê ainda tão vinculado à mãe e para entender que não está cuidando porque ajuda a parceira, mas porque também é sua responsabilidade.

Quantas vezes escutei Luiz falando às nossas crianças quando pediam pelo meu colo: "Eu também gosto de você, também cuido de você, sou seu pai, e a gente vai descobrir um jeito de ficar bem junto!". Gestos e palavras que me acalmavam, me libertavam e me faziam ficar ainda mais apaixonada por ele.

Por isso, quando vejo um pai comemorando cada novo acontecimento como se fosse um gol me vejo na obrigação de compartilhar para que isso ressoe em nossas representações sobre famílias.  

Por Wladimir, pai da Bruna e da Valentina...

Já passei noites acordado para diversas coisas. Trabalhos, festas, beber com amigos, cuidar do cachorrinho novo que chegou, ver lutas e eventos esportivos e até para simplesmente apreciar a lua! 
Mas definitivamente essa noite foi a mais fantástica de todas!!! 
Cuidar do chorinho das minhas meninas foi demais!!! Amo vocês Bruna e Valentina. 
Obrigado mamãe Valdinéia, te amo!!!

Mais uma vez parabéns Wladimir pela chegada das meninas! Imagino que agora, tendo voltado a trabalhar (outra questão que precisa ser revista... essa licença paternidade de dias corridos... um absurdo!) talvez você não esteja conseguindo curtir sua noitada desse jeito tão prazeroso, contudo,o que vale é nossa valorização por momentos assim... Nossa busca constante por nos afetarmos por essas pessoinhas que geramos e amamos. Parabéns também Valdinéia! Sejam felizes.