domingo, 25 de setembro de 2011

A volta

No momento em que subimos no ônibus com as crianças para embarcarmos para o acampamento e fizemos todos os procedimentos necessários para uma viagem segura olhei para a janela e vi os pais emocionados se despedindo de seus filhotes... Pela primeira vez compreendi aquele sentimento: misto de dor pela separação e orgulho pelo crescimento do filho, algo tão forte que me fez ir para o banco da frente enxugar as lágrimas.

Durante a viagem fiquei com saudades desse contato com Mateus: cheirá-lo, apertá-lo, colocá-lo para dormir, brincar, rir das gracinhas e presenciar suas conquistas. Mas fiquei tranquila em relação ao seu bem estar, porque sei que construímos uma rotina muito bem estruturada e flexível que garante a ele (e a nós) segurança e calmaria. Além do mais, Mateus já teve contato com diferentes experiências como ficar na escola e ser cuidado pelo Luiz e avós, o que possibilitou que ele estranhasse bem pouco a minha ausência. Como disse Saramago numa postagem "Para se emocionar" os filhos são apenas empréstimos, pois são na verdade do mundo, e com todos os sentimentos misturados é desse jeito que tento criá-lo, para o bem dele.

O acampamento foi uma delícia e como não poderia ser diferente foi uma ótima oportunidade para me aproximar ainda mais dos alunos. Quando a saudade de Mateus batia forte eu falava para eles que como estava sem meu filho eu iria fazer com eles o que fazia com Mateuzinho e assim os mordia, fazia cócegas, brincava de esconde-esconde. Com isso eles davam risada e eu ficava menos carente de chamego de filho.

Como dizem por aí: "Viajar é uma delícia, mas melhor ainda é voltar para casa", e foi com esse sentimento que retornei depois de 3 dias a São Paulo. Entreguei meus alunos a seus pais com alegria e orgulho e com imensa emoção abracei meu filho querido que estava me aguardando na escola... ah, como amo ser mãe dele!!! E claro, com emoção também abracei o maridão e meus pais (preciso fazer uma 'média' com eles). rs

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Está chegando o dia...

Aguenta coração: está chegando o dia de ficar longe de meu pequeno para curtir um super acampamento com meus alunos!!!

sábado, 17 de setembro de 2011

Tristeza

Estou numa tristeza enorme, porque a mãe de uma pessoa muito especial se foi... 
Meu coração está em frangalhos, e por isso vou aproveitar o fim de semana para chorar muito e assim na segunda estar mais preparada para ajudá-la a lidar com essa perda tão grande, entendendo, aos poucos, que ganhou um anjo para lhe proteger por toda sua vida.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sofia Rizzo: seja bem vinda!!!

Mais uma flor chegou sábado a esse mundo: Sofia, filha da Flavia, querida colega de trabalho e do lindo dela. Estou sentindo uma enorme alegria e curiosidade em vê-la com sua pequena em seus braços... Que emoção!

Durante toda a gestação de Sofia, Flavia compartilhou com as pessoas ao seu redor os sentimentos que a chegada de um filho provoca em nossas vidas, não só contando das alegrias que estava sentindo, mas também dos medos, dúvidas, incômodos, e vou dizer uma coisa: no mundo em que vivemos em que todos buscam a perfeição e se permitem viver as incertezas muito menos mostrar aos outros suas fragilidades é preciso MUITA CORAGEM para uma recém-mamãe fazer o que Flavia fez. Por isso sei que Sofia é muito sortuda por tê-la como mãe, pois ela tem um coração de ouro que vai amar muito essa pequena e lhe ensinar coisas muito importantes, como por exemplo, que na vida podemos confiar nas pessoas para compartilhar risos e lágrimas, e que quando nos abrimos aos outros e a nós mesmos a gente se fortalece.

Minha querida Flavia, antes todos os sentimentos faziam parte de uma expectativa de quando Sofia nascesse e agora finalmente ela nasceu: é hora de aproveitar MUITO todos esses momentos com sua filhota sem deixar de rir e chorar quando der vontade, e claro, contando sempre com o ombro amigo de pessoas que gostam de você assim como eu. Desejo muita força e muita luz nessa nova etapa da vida de vocês três... que vocês sejam ainda mais felizes do que já são.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Para rir: O treino

Recebi esse texto da Inez (de um autor desconhecido) e dei muita risada... Muito bom!


TREINAMENTO ANTES DE TER FILHOS OU NETOS

Para todos aqueles que já tiveram filhos (para lembrar) e para os que pretendem ter (para se prepararem bem).
O treinamento é grátis!!!!!!

Exercícios práticos para treinamento de futuros papais e mamães (o grau de dificuldade de cada exercício é equivalente a tratar uma criança de até 1 ano de idade):


VESTINDO A ROUPINHA

Compre um polvo vivo de bom tamanho e vá colocando, sem machucar a criatura, nesta ordem: fraldas, macaquinho, blusinha, calça, sapatinhos, casaquinho e toquinha. Não é permitido amarrar nenhum dos membros.

Tempo de duração da tarefa: UMA MANHÃ..


COMENDO SOPINHA

Faça um buraquinho num melão, pendure o melão de lado no teto com um barbante comprido e balance-o vigorosamente.
Agora tente enfiar a colherinha com a sopa no buraquinho.
Continue até ter enfiado pelo menos a metade da sopa pelo buraquinho.
Despeje a outra metade no seu colo. Não é permitido gritar.
Limpe o melão, o chão, as paredes, o teto e os móveis à volta.
Vá tomar um banho.

Tempo para a execução da tarefa: UMA TARDE...


PASSANDO A NOITE COM O BEBÊ PARA ACALMÁ-LO OU FAZÊ-LO DORMIR

Pegue um saco de arroz de 5 kg e passeie pela casa com ele no colo das 20 às 21 horas.
Deite o saco de arroz. Às 22:00 pegue novamente o saco e passeie até às 02:00.
Deite o saco e você. Levante às 02:15 e vá ver a Sessão Corujão porque não consegue mais pegar no sono.
Deite às 03:00. Levante às 03:30, pegue o saco de arroz e passeie com ele até às 04:15.
Deitem-se os dois (cuidado para não usar o saco de travesseiro).

Levante às 06:00 e pratique o exercício de alimentar o melão.
Não é permitido chorar perto do saco.

Tempo de duração da tarefa: UMA NOITE...


PASSEANDO COM A CRIANÇA

Vá para a pracinha mais próxima.
Agache-se e pegue uma bituca de cigarro. Atire fora a bituca, dizendo com firmeza: NÃO!
Agache-se e pegue um palito de picolé sujo. Atire fora o palito, dizendo com firmeza: NÃO!
Agache-se e pegue um papel de bala. Atire fora o papel de bala, dizendo com firmeza: NÃO!
Agache-se e pegue uma barata morta, dizendo com firmeza: NÃO!
Faça isso com todas as porcarias que encontrar no chão da pracinha.

Tempo para execução: O DIA INTEIRO.



GERAL

Repita tudo o que você disser (frases ou palavras), pelo menos cinco vezes.
Repita a palavra NÃO a cada 10 minutos, fazendo o gesto com o dedinho.
Gaste uma pequena parcela do seu orçamento (90%) com leite em pó, fraldas, brinquedos, roupinhas.
Passe semanas a fio sem transar, sem ir ao cinema, sem beber, sem sair com os amigos e adulando o saco, sorrindo e brincando com ele no colo...

Pronto...agora você já está pronto(a) para ter filhos!!!!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Outros relatos - Mirna Busse Pereira

Uma das respostas maravilhosas que recebi sobre a história de meu irmão na postagem anterior foi a de minha sogra, Mirna. Ela tentou diversas vezes postar um comentário, mas devido ao tamanho do texto não conseguiu. Assim, resolvi colocá-lo numa postagem à parte, pois está precioso demais! Com certeza merece ser lido e relido muitas vezes.


Juju virou mamãe

Ao ler seu texto “Lembranças que servem de lição – Gabriel” fiquei pensando no quanto essa experiência foi intensa em sua vida, pois me impressionou a quantidade de detalhes que você guarda em suas lembranças, sobretudo, dos percalços passados pelo Gabriel em função de seus problemas de saúde. Mal posso imaginar o quão sofrido deve ter sido para você, seus pais e irmãos viverem essa experiência. Muita gente, ‘frente aos tombos’, permanece caída, chorando e se lamentando pela má sorte da vida! Não foi o caso de seus pais e nem o seu, minha querida Ju.

Há alguns dias eu vinha lendo vários de seus textos postados no blog Juju virou mamãe, graças à oportunidade que meus pezinhos fraturados me proporcionaram! À medida que fui lendo suas reflexões pude apreender uma jovem mulher Juliana que começa a se apropriar de um novo papel em sua vida: o de ser mãe! Transpareceu, também, um perfil de mulher exigente consigo mesma, que experimenta sentimentos contraditórios, avalia suas atitudes de erros e acertos, e experimenta o danado do sentimento de culpa da mãe... Mas, sem se render a qualquer fatalismo você continua a se indagar e a buscar novas formas para superar o que entendeu ser, senão um problema, pelo menos uma questão significativa a ser equacionada...

Suas reflexões revelam um olhar amplo e perspicaz, com um foco voltado para o seu interior e outro para o exterior. Isto é, este foco observa tudo ao seu entorno - filho, marido, família, amizades, profissão, hábitos, costumes, comportamentos das experiências de outras pessoas e amizades suas. Aquele, o foco interior, se detém em analisar, avaliar, ver ou rever posturas, solidarizar-se, sentir e dar sentidos... e por aí vai... Esse me parece ser o seu jeito de ser e estar no mundo... Afetiva e reflexiva alia emoção e razão, conflitos e conquistas, intelecto e sentimento. Parafraseando o poeta eu diria que você vai vivendo e aprendendo a viver... Não me surpreende esse seu jeito taurino de ser, gosto muito e me encanto com você.

Juju virou mamãe”, como de outro modo não poderia ser, fez-me lembrar de quando me tornei mãe: a emoção, os sonhos, a felicidade, as preocupações, as incertezas e inseguranças, a determinação de tudo equacionar e viver cada instante intensamente. Esse estado de ‘maravilhamento’ tinha uma forte razão: pela primeira vez eu tinha uma vida em meus braços, aos meus cuidados; em uma palavra tornava-me: mãe! Sentimento único que me fazia relembrar minha mãe, que há muito já não estava mais entre nós; que pena! Eu experimentava um sentimento de infinita e gratificante emoção e felicidade que se misturava ao enorme sentimento de perda pela intransponível ausência de mamãe.

Ao viver a experiência da maternidade, aprendendo a cuidar do Luiz Felipe, procurando entender seus sinais para melhor poder acolhê-lo e na ânsia de transmitir-lhe afeto, segurança e carinho, fui também descobrindo que era possível resgatar a minha mãe interiorizada que habitava em meu sentimento e memória. Com meu filho Luiz Felipe eu começava a aprender muito não só a seu respeito, quanto sobre a minha própria pessoa e o meu modo de ser e estar no mundo. Eu era a mesma pessoa, mas não mais seria igual ao que fora até então. A maternidade me remetia a lembranças e memórias do passado, ao mesmo tempo em que me fazia vislumbrar perspectivas de futuro, que eu desejava feliz e transformado (e ainda desejo). Esse resgate iniciado com meu filho Luiz Felipe foi um verdadeiro e divino presente, que muito contribuiu para que eu me reconciliasse com a própria vida.


A maternidade propiciou-me, a partir daquele momento, rever caminhos, perceber sentidos onde só havia ‘lembranças de fatos’ e, sobretudo, atribuir novos significados a experiências vividas e tantas vezes revisitadas, mas que insistiam em permanecer em minha memória tal qual um instantâneo que imobiliza um momento para conservá-lo para a eternidade. Graças a esse grande passo de resgate que a vivência da maternidade e o vínculo de amor e afeto com meu filho Luiz Felipe proporcionaram em minha vida eu pude, um ano e sete meses após o seu nascimento, dar mais outro passo nesse mesmo sentido do resgate e homenagear a memória de minha mãe dando o nome dela à minha filha Marta Elisabete, mais uma vida em meus braços, mais uma dádiva em minha vida. Hoje, minha filha é a madrinha, a ‘Dinda’, do Mateus, meu querido netinho. Agradeço a Deus por tudo que tem me proporcionado!

A felicidade que senti naquele dia das mães, do ano passado, quando você, minha querida Ju, e o Luiz, meu doce filho, anunciaram que estavam grávidos.... é indescritível e imensurável. É realmente uma dádiva ser mãe do Luiz e da Marta, sogra da Juliana e avó do Mateuzinho! Naquele dia das mães eu sabia que uma nova dimensão de experiências e vivências começaria a se realizar em nossas vidas. Penso que a experiência de ser mãe, além de ser gratificante, pode ser ainda uma experiência verdadeiramente reveladora, desafiadora, pontuada por conquistas (além das inevitáveis frustrações), mas, sobretudo, uma experiência transformadora. No caso da minha vivência tem sido exatamente assim! Penso que pode ser uma experiência transformadora para toda mulher que escolha viver essa dimensão de sua vida, isto é, a maternidade, sem, no entanto, abrir mão de ser esposa, amante, profissional, família, amiga e, por conseguinte, ser política! Em outras palavras, significa ser Mulher!


Todos esses papéis ou funções sociais que vivenciamos comportam uma dimensão que é essencialmente política, porque implica a tomada de pequenas ou grandes escolhas, a tomada de decisões que significam investirmos em certas permanências (por exemplo, querer ser mãe), mas também podem significar mudanças e transformações (no modo como vivemos a experiência da maternidade, por exemplo) que vão se expressar, também, nas relações pessoais, familiares, sociais e de trabalho, por vezes em forma de tensões, por outras em termos de cumplicidades, solidariedades e compartilhamentos.

Ser mulher e vivenciar seus diversos papéis (filha, irmã, prima, sobrinha, neta, namorada, esposa, mãe, profissional, amiga, líder, companheira de utopias e projetos políticos coletivos...) é uma construção para muito e muito tempo de vida! Obrigada, minha querida nora, pela oportunidade de compartilhar com você estas minhas reflexões, sentimentos e impressões do mundo. Agradeço a você Ju e ao Luiz por me darem tantas alegrias e também por terem me dado o mais lindo presente que eu poderia receber na vida: meu netinho Mateus. Amo muito vocês!

Vida longa a você Juliana para que junto com Luiz Felipe e Mateuzinho consigam construir no dia-a-dia os cadinhos de seus sonhos que poderão contribuir para a construção do amanhã transformado, mais justo, humano, solidário e igualitário. Parabéns jovem mãe, mulher em constante (re)construção!

Beijos, Mirna.

domingo, 4 de setembro de 2011

Lembranças que servem de lição - Gabriel

Algumas pessoas que leram a postagem anterior me falaram: "Nossa, como você lida bem com os tombos das crianças, como consegue?". Quero novamente frisar que morro de aflição ao ver certos machucados e que fico muito mexida quando alguém cai (principalmente quando é um aluno ou o Mateus), entretanto, tenho muita clareza de que alguns tombos fazem parte da vida, e por isso quando estes ocorrem me esforço para lidar bem com eles. Agora, certamente os acontecimentos de minha vida me influenciaram a desenvolver essa atitude frente aos tombos, e nessa postagem quero resgatar rapidinho um deles em especial: a história de meu irmão Gabriel.

Gabriel é meu irmão caçula, nascido depois do Raphael. Veio por acidente, mas com certeza nessa vida nada é por acaso. Gabriel chegou ao mundo para aproveitar a vida intensamente e nos ensinar a aproveitar a nossa. Nem sei o que seria de minha família se ele não existisse; provavelmente teríamos que inventá-lo, pois caso contrário seríamos muito chatos. Foi ele quem nos deu leveza apesar de ter sido justamente ele quem passou por situações muito pesadas em sua vida.

Logo que nasceu detectaram um cisto embaixo da língua e ele foi submetido a uma cirurgia que deu super certo. Em seguida, descobriram que ele tinha "atresia das vias biliares", isto é, havia uma obstrução nessas vias. Fizeram mais uma cirurgia, a qual os médicos chamaram de "tapa buraco", pois a solução definitiva seria um transplante de fígado - procedimento raro na época e arriscado para crianças. Assim, a única coisa a ser feita era rezar, já que os médicos não davam um dia de vida para ele... E rezar muito para a cirurgia "tapa buraco" durar o mais tempo possível até Gabriel ter mais idade para realizar o transplante que que anos depois provavelmente já seria uma prática corriqueira. Contudo, até esse dia chegar Gabriel teria um acompanhamento próximo de exames e hospitais e por isso seria mais prudente, segundo alguns médicos que ele levasse uma vida reclusa, pois um pequeno tombo poderia danificar o baço (que no seu caso trabalhava dobrado) e tudo iria por água abaixo. Outros médicos, por causa desse quadro, insistiam que ele nem precisaria frequentar escola, e era melhor deixá-lo aproveitar o pouco tempo de vida que ele tinha.

Diante dessa situação o que a maioria dos pais faria pelo bem de seus filhos? Limitariam a vida do filho, claro. "Não pode isso, não pode aquilo", "Não sobe aí, desce daí", "Não vai sair, não vai brincar", "Pára com isso que é perigoso. Vai cair, vai cair, vai cair", "Faz o que quiser, você manda". Mas meus pais não fizeram nada disso. Com o coração na mão e muita fé de que tudo daria certo eles proporcionaram ao filho uma infância normal e tranquila... Quer dizer, não tão tranquila, já que Gabrielzinho era da "pá virada", aprontava tudo e mais um pouco: surfava no lago sendo puxado pelos rabos dos cavalos, esvaziava extintor de incêndio do prédio, estourava bombinha, escalava as árvores mais altas, caía dos cavalos, mergulhava nas cachoeiras, soltava gato pela janela com pára-quedas, levava advertências no colégio por soltar gases... um danado de moleque que teve uma infância muito, muito FELIZ!!! E que por consequência fez a minha infância, a do Rapha e a de nossos primos e amigos também muito feliz.

Com certeza esse é um grande ensinamento para mim como filha, irmã, mulher, educadora. Agora, como mãe, fico pensando o quanto deve ter sido difícil para meu pai e minha mãe manterem essa decisão apesar de todos os riscos envolvidos, mas ao fechar os olhos me lembro deles nos falando com clareza e segurança de que risco existe para todo mundo e que por isso não tirariam o direito do Gabriel de usufruir plenamente de sua vida. E foi isso essa lição importante que aprendi com eles: para viver, é preciso coragem para se arriscar! Afinal, nem mesmo quem leva a vida mais pacata do mundo está livre de se envolver num acidente e sofrer danos sérios ou até morrer. Por isso, é melhor desfrutarmos da saúde que temos e aproveitarmos a vida - com segurança, claro (outra coisa que eles sempre nos alertaram - e ainda alertam).

Também fico pensando que mesmo com toda a clareza que meus pais tinham da escolha que fizeram, nos momentos em que Gabriel levava uns tombos deve ter lhes batido uma dúvida se o que estavam fazendo estava certo. A esse respeito só posso chegar à conclusão mais óbvia do mundo: nesses momentos, o sorriso do filho durante cada brincadeira deve ter sido totalmente reconfortante aos seus corações de pais aflitos, amorosos e corajosos, e então eles voltavam a ficar em paz - até o próximo tombo, claro. (rs)


Ah, importante: aos 12 anos Gabriel fez o transplante de fígado que foi um sucesso, contrariando os prognósticos dados por alguns médicos (ainda bem que existiram os médicos que lutaram por ele). E apesar de até hoje roer minhas unhas por causa deste episódio Biel está ótimo. Tornou-se advogado e sonha em trabalhar na área de Direito Ambiental, e claro, continua o mesmo comediante de sempre. Amo!     

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Cai, cai balão

Cai, cai balão
Cai, cai balão
Aqui na minha mão
Não cai não, não cai não, não cai não
Cai na rua do Sabão

Outro dia, durante uma festa, uma criança de uns dois anos ficou por um bom tempo debaixo da saia da avó, sem brincar e sem aceitar aproximações de outras pessoas. Num determinado momento da festa ela finalmente aceitou a aproximação do primo que em seguida a convidou para um divertido pega-pega. Com animação a menina correu em disparada atrás do primo com um largo sorriso no rosto. Uma cena linda de morrer... Porém, logo interrompida pelos gritos da avó: "Vai cair, vai cair, vai cair". Dois minutos depois lá estava a menina de novo debaixo de sua saia e com o sorriso de outrora substituído por uma chupeta. Uma cena triste de morrer...

Fiquei com vontade de lembrar essa avó da coisa mais óbvia do mundo: criança cai, não tem jeito! Esperar que elas não caiam as cercando de cuidados exagerados é não só lutar inutilmentente contra a lei da gravidade, mas principalmente contra o curso natural de nossas vidas: caímos para aprendermos a nos levantar, e para ficarmos em pé, temos que cair. Além disso, aprendemos que se não podemos evitar alguns tombos podemos ao menos suavizar o impacto das quedas. Assim, desestimular as crianças a correr, brincar, se pendurar, balançar, girar, pular apenas pelo receio que temos delas caírem ou para evitarmos que elas se frustrem em suas experiências é tirá-las o direito de viver suas próprias vidas plenamente. E isso é muito sério.

Desde que nasce, o bebê está em movimento para explorar o mundo por meio de seu corpo, já que encontra-se no estádio sensório motor. "Antes de poder pensar o mundo ele o sente. Utiliza-se de uma área no cérebro chamada límbico, responsável pelas emoções, pela memória e por funções vitais como respiração, digestão, circulação etc. Utiliza-se também de todo seu sistema sensorial - tato, visão, audição, olfato -, das sensações de seu corpo no espaço, para conceber a si e ao mundo que o rodeia." (1). O movimento tem então um papel essecial na construção de toda potencialidade humana. "O homem constrói-se ao mesmo tempo que seus gestos e, à medida que age, se expressa toma consciência de si" (2). Por tudo isso, a exploração do corpo com o espaço e as pessoas é extremamente importante para o desenvolvimento humano e deve ser por nós, adultos cuidadores observada, estimulada e respeitada. "São as atividades e interações propostas a ela que permitem o reconhecimento e expansão de suas qualidades" (3).

Se uma criança deixa de correr pelo espaço (sendo que este é propício e seguro a essa atividade) ela está perdendo a chance de relacionar-se com seu corpo e o mundo, e dessa maneira também perde a chance de desfrutar da coragem que tem desde que nasceu ao buscar por suas conquistas além de aprender a lidar com a frustração de não conseguir ter êxito no que pretendia fazer, descobrindo que assim mesmo, ganhará um acalento da pessoas queridas ao seu redor. "Serão as experiências vividas por esse pequeno ser humano que imprimirão em seu cérebro caminhos, atalhos e trilhas que ele utilizará pelo resto da vida para relacionar-se com outros humanos, 'amar, desamar, amar' (Carlos Drummond da Andrade), sonhar, imaginar, construir filosofias, as matemáticas, as ciências, as artes" (4).

Claro que não estou dizendo para deixá-las à mercê da vida, até porque acredito que todas crianças merecem e precisam de cuidadores que zelam por suas vidas e por isso as protegem, respeitam seus processos e as estimulam a levantarem-se quando caem. Também não estou dizendo para inventarmos situações para elas caírem forçosamente e assim "aprenderem" uma lição, já que a própria vida se encarrega de ensiná-las lições - tudo no seu devido tempo e à sua sábia e misteriosa maneira. Muito menos quero dizer que devemos satisfazer todas as suas vontades. Colocar limites claros e firmes também é essencial nesse processo de formação das crianças para que tenham referências, por exemplo, sobre o que pode e o que não pode, o que é perigoso e o que não é e o que é ou não adequado. Apenas estou dizendo que os tombos da vida são inevitáveis e por isso mesmo é melhor as ajudarmos a evitar os possíveis, e quando alguns ocorrerem em suas trajetórias ajudá-las a lidar com eles.

Sei que não é fácil ver alguém cair, pelo contrário: é muito difícil. Agora como mãe meu coração chega a doer a cada tombo que Mateus leva, isso quando a culpa não me domina. Mas nesses momentos tento me conter, pois sei que esses sentimentos são meus e não dele, e caso ele caia ele precisará de mim inteira para acolhê-lo e incentivá-lo a seguir adiante... por conta própria! Sim, pois por mais que eu seja companheira dele por toda a vida, nas suas conquistas e desafios, os tombos, as dores e os aprendizados serão sempre dele. Como li outro dia, os pais devem estar ao lado dos filhos e, com o coração apertado, dizer: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”.


Todas as citações em destaque são de ANDRÉ TRINDADE, psicólogo e picomotricista. In "GESTOS DE CUIDADO, GESTOS DE AMOR" (páginas 24, 37, 30, 27 respectivamente). Recomendo muito!
Texto mencionado no final de minha postagem é: "MEU FILHO, VOCÊ NÃO MERECE NADA", de ELIANE BRUM, joarnalista, escritora e documentarista. In: http://www.stellabortoni.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3297:te-vira-meu-filhoessa-briga-e-tua&catid=45:blog&Itemid=1 Recomendo também!