quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Outros relatos - Mirna Busse Pereira

Uma das respostas maravilhosas que recebi sobre a história de meu irmão na postagem anterior foi a de minha sogra, Mirna. Ela tentou diversas vezes postar um comentário, mas devido ao tamanho do texto não conseguiu. Assim, resolvi colocá-lo numa postagem à parte, pois está precioso demais! Com certeza merece ser lido e relido muitas vezes.


Juju virou mamãe

Ao ler seu texto “Lembranças que servem de lição – Gabriel” fiquei pensando no quanto essa experiência foi intensa em sua vida, pois me impressionou a quantidade de detalhes que você guarda em suas lembranças, sobretudo, dos percalços passados pelo Gabriel em função de seus problemas de saúde. Mal posso imaginar o quão sofrido deve ter sido para você, seus pais e irmãos viverem essa experiência. Muita gente, ‘frente aos tombos’, permanece caída, chorando e se lamentando pela má sorte da vida! Não foi o caso de seus pais e nem o seu, minha querida Ju.

Há alguns dias eu vinha lendo vários de seus textos postados no blog Juju virou mamãe, graças à oportunidade que meus pezinhos fraturados me proporcionaram! À medida que fui lendo suas reflexões pude apreender uma jovem mulher Juliana que começa a se apropriar de um novo papel em sua vida: o de ser mãe! Transpareceu, também, um perfil de mulher exigente consigo mesma, que experimenta sentimentos contraditórios, avalia suas atitudes de erros e acertos, e experimenta o danado do sentimento de culpa da mãe... Mas, sem se render a qualquer fatalismo você continua a se indagar e a buscar novas formas para superar o que entendeu ser, senão um problema, pelo menos uma questão significativa a ser equacionada...

Suas reflexões revelam um olhar amplo e perspicaz, com um foco voltado para o seu interior e outro para o exterior. Isto é, este foco observa tudo ao seu entorno - filho, marido, família, amizades, profissão, hábitos, costumes, comportamentos das experiências de outras pessoas e amizades suas. Aquele, o foco interior, se detém em analisar, avaliar, ver ou rever posturas, solidarizar-se, sentir e dar sentidos... e por aí vai... Esse me parece ser o seu jeito de ser e estar no mundo... Afetiva e reflexiva alia emoção e razão, conflitos e conquistas, intelecto e sentimento. Parafraseando o poeta eu diria que você vai vivendo e aprendendo a viver... Não me surpreende esse seu jeito taurino de ser, gosto muito e me encanto com você.

Juju virou mamãe”, como de outro modo não poderia ser, fez-me lembrar de quando me tornei mãe: a emoção, os sonhos, a felicidade, as preocupações, as incertezas e inseguranças, a determinação de tudo equacionar e viver cada instante intensamente. Esse estado de ‘maravilhamento’ tinha uma forte razão: pela primeira vez eu tinha uma vida em meus braços, aos meus cuidados; em uma palavra tornava-me: mãe! Sentimento único que me fazia relembrar minha mãe, que há muito já não estava mais entre nós; que pena! Eu experimentava um sentimento de infinita e gratificante emoção e felicidade que se misturava ao enorme sentimento de perda pela intransponível ausência de mamãe.

Ao viver a experiência da maternidade, aprendendo a cuidar do Luiz Felipe, procurando entender seus sinais para melhor poder acolhê-lo e na ânsia de transmitir-lhe afeto, segurança e carinho, fui também descobrindo que era possível resgatar a minha mãe interiorizada que habitava em meu sentimento e memória. Com meu filho Luiz Felipe eu começava a aprender muito não só a seu respeito, quanto sobre a minha própria pessoa e o meu modo de ser e estar no mundo. Eu era a mesma pessoa, mas não mais seria igual ao que fora até então. A maternidade me remetia a lembranças e memórias do passado, ao mesmo tempo em que me fazia vislumbrar perspectivas de futuro, que eu desejava feliz e transformado (e ainda desejo). Esse resgate iniciado com meu filho Luiz Felipe foi um verdadeiro e divino presente, que muito contribuiu para que eu me reconciliasse com a própria vida.


A maternidade propiciou-me, a partir daquele momento, rever caminhos, perceber sentidos onde só havia ‘lembranças de fatos’ e, sobretudo, atribuir novos significados a experiências vividas e tantas vezes revisitadas, mas que insistiam em permanecer em minha memória tal qual um instantâneo que imobiliza um momento para conservá-lo para a eternidade. Graças a esse grande passo de resgate que a vivência da maternidade e o vínculo de amor e afeto com meu filho Luiz Felipe proporcionaram em minha vida eu pude, um ano e sete meses após o seu nascimento, dar mais outro passo nesse mesmo sentido do resgate e homenagear a memória de minha mãe dando o nome dela à minha filha Marta Elisabete, mais uma vida em meus braços, mais uma dádiva em minha vida. Hoje, minha filha é a madrinha, a ‘Dinda’, do Mateus, meu querido netinho. Agradeço a Deus por tudo que tem me proporcionado!

A felicidade que senti naquele dia das mães, do ano passado, quando você, minha querida Ju, e o Luiz, meu doce filho, anunciaram que estavam grávidos.... é indescritível e imensurável. É realmente uma dádiva ser mãe do Luiz e da Marta, sogra da Juliana e avó do Mateuzinho! Naquele dia das mães eu sabia que uma nova dimensão de experiências e vivências começaria a se realizar em nossas vidas. Penso que a experiência de ser mãe, além de ser gratificante, pode ser ainda uma experiência verdadeiramente reveladora, desafiadora, pontuada por conquistas (além das inevitáveis frustrações), mas, sobretudo, uma experiência transformadora. No caso da minha vivência tem sido exatamente assim! Penso que pode ser uma experiência transformadora para toda mulher que escolha viver essa dimensão de sua vida, isto é, a maternidade, sem, no entanto, abrir mão de ser esposa, amante, profissional, família, amiga e, por conseguinte, ser política! Em outras palavras, significa ser Mulher!


Todos esses papéis ou funções sociais que vivenciamos comportam uma dimensão que é essencialmente política, porque implica a tomada de pequenas ou grandes escolhas, a tomada de decisões que significam investirmos em certas permanências (por exemplo, querer ser mãe), mas também podem significar mudanças e transformações (no modo como vivemos a experiência da maternidade, por exemplo) que vão se expressar, também, nas relações pessoais, familiares, sociais e de trabalho, por vezes em forma de tensões, por outras em termos de cumplicidades, solidariedades e compartilhamentos.

Ser mulher e vivenciar seus diversos papéis (filha, irmã, prima, sobrinha, neta, namorada, esposa, mãe, profissional, amiga, líder, companheira de utopias e projetos políticos coletivos...) é uma construção para muito e muito tempo de vida! Obrigada, minha querida nora, pela oportunidade de compartilhar com você estas minhas reflexões, sentimentos e impressões do mundo. Agradeço a você Ju e ao Luiz por me darem tantas alegrias e também por terem me dado o mais lindo presente que eu poderia receber na vida: meu netinho Mateus. Amo muito vocês!

Vida longa a você Juliana para que junto com Luiz Felipe e Mateuzinho consigam construir no dia-a-dia os cadinhos de seus sonhos que poderão contribuir para a construção do amanhã transformado, mais justo, humano, solidário e igualitário. Parabéns jovem mãe, mulher em constante (re)construção!

Beijos, Mirna.

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