sábado, 19 de abril de 2014

Outros relatos: Adelir Góes e Ligia Sena

Uma reflexão escrita a muitas mãos... Uma verdadeira rede de mulheres, como tem de ser...


Por falar em minha amiga Miruna, que junto de sua mãe tiveram seu primeiro encontro pós parto marcado pela violência de forças externas, foi ela mesma quem me contou sobre um acontecimento monstruoso desse tipo e que aconteceu recentemente - para refletirmos sobre como as questões com as mulheres continuam em urgência de pauta. Neste caso, é de indignar o que fizeram com uma mãe e seu bebê, abrindo um precedente jurídico perigoso em nosso país que há tempos tem optado pela cesárea como única opção de parto (um verdadeira ditadura do parto!).

Eu que tenho sido a voz neste blog sobre a importância do parto normal (fiz 3, incluindo minhas gêmeas) e da cesárea apenas quando necessário (mesmo!), escolhi também dar voz a essa mãe que não teve respeitado o seu direito legítimo de fazer sua escolha. Nesta conversa com Ligia, escritora do blog "Cientista que virou mãe" (recomendo!), Adelir fala sobre sua traumática experiência em ter sua residência invadida juntamente com seu corpo e suas escolhas, e parir sozinha, ouvindo absurdos a seu respeito num momento que deveria ser o mais lindo de sua vida: receber um ente querido, e por fim como vem lidando com esse episódio. Força para ti!

Segue a conversa... É só clicar:

http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2014/04/uma-conversa-com-adelir-e-emerson-eu.html?m=1

Outros relatos: Rioco e Miruna

Acabei de assistir a mais um programa da série "Mulheres em luta", belíssima iniciativa da GNT em dar voz àquelas que sofreram com a ditadura, e me emocionei em especial no programa de hoje, o qual mostrava a história da mãe de minha amiga, e inevitavelmente dela também: Rioco e Miruna.

Rioco falou bastante sobre o machismo na sociedade daquela época, até mesmo dentro dos movimentos revolucionários, e quando se viu mãe de menina ficou mal, muito mal mesmo, piorando ainda mais quando se deu conta de que a partir de uma dose forte de medicamentos seu leite secou. Um dia, quando estava voltando a se sentir forte, fechou-se num quarto sozinha com a filha e surpreendentemente, após tanto tempo, Miruna voltou a mamar normalmente.


"Foi um momento de reconciliação... Ela me perdoou... E eu aprendi como é bonito ser mulher, com ela, nessa relação com a Miruna". Rioco

"Não foi uma escolha, mas fico muito feliz por ter proporcionado isso para ela". Miruna


Relação bonita, genuína e forte entre mãe e filha, dessas que um governo de ditadura deixa marcas profundas na alma, mas não consegue destruir de jeito nenhum, afinal, tratam-se de relações humanas, de entes queridos, de mãe e filha, de mulheres. Mulheres em luta, com orgulho!


"Cada dia uma agonia... e um pouquinho de alegria". Rioco

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Avós mais saudáveis

Acabei de ler essa reportagem sobre uma pesquisa com avós ("Avós que tomam conta dos netos uma vez por semana são mentalmente mais ativas") e confesso que fiquei feliz... e aliviada!!! rsrsrs

Realmente abusamos dos nossos pais para nos ajudar com nossos filhos. Não é um abuso completo, pois Luiz e eu somos pais presentes e assumimos, com alegria, nossas responsabilidades, mas em meio à correria diária contamos sim com a ajuda deles para conduzirmos nossa rotina do jeito mais tranquilo possível, o que no final das contas, acaba sendo motivo de felicidade para  meus pequenos que os adoram fervorosamente, para nossos pais, que se divertem junto e também "exercitam a cabeça" e para mim, que sinto o ciclo da vida continuar a rodar com toda a força aqui em casa dando um sentido ainda maior a tudo que vivemos no miudinho do dia a dia.

Segue a reportagem na íntegra...


http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/bem-estar/noticia/2014/04/avos-que-tomam-conta-dos-netos-uma-vez-por-semana-sao-mentalmente-mais-ativas-diz-estudo-4469208.html?utm_source=Redes+Sociais&utm_medium=Hootsuite&utm_campaign=Hootsuite

Lorenzo: seja bem-vindo!!!

"Mais um corinthiano nesse mundo"

Com essa mensagem do July no facebook acabei dando um fora há um tempo atrás anunciando por aqui a chegada do Lorenzo. Foi preciso um amigo em comum me alertar que ele ainda não havia nascido esclarecendo que a mensagem tratava-se apenas da confirmação do sexo do bebê. Enfim, um mal-entendido típico das relações virtuais que sempre ocupa minhas reflexões. Mas isso é assunto para outro momento, porque agora é para valer e posso anunciar com alegria que: "Mais um corinthiano chegou a esse mundo".

Claro que dessa vez, me certifiquei (rs) e vi até fotinho da família completa, com os pais com um sorriso no rosto de só quem passa por essa experiência tem e com o olhar desconfiado da irmã mais velha de só quem está diante de uma situação nova... e o mais maravilhoso é que as relações e a dinâmica se ajeitam com o tempo, sendo impossível imaginar a vida de outra maneira.

Desejo tudo de bom a essa família toda: Julio, Ana Carolina, Luri e Lorenzo... Que muita coisa boa continue acontecendo em suas vidas!!!

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Outros relatos: Carolina Bezerra II

Olha aí a Carol, minha amiga de faculdade, de novo neste blog...

Gente que pensa e sente sobre suas relações com seus filhotes e esse mundão precisa mesmo ser compartilhada - muitas e muitas vezes... Ainda mais porque no caso deste texto a reflexão foi iniciada por sua filha, certamente inspirada pelo modelo da mãe que por sua vez também foi sua porta voz, provocando assim um movimento de significados nessa trama de relações, uma lindeza só! Que venham novas reflexões como essas Carol, para nos lembrar sempre sobre o "o que realmente importa na vida!", e que ainda bem, temos em abundância. Axé!


Voltando do passeio de domingo, eu, irritada com milhares de coisas para fazer e resolver, venho dirigindo pela estrada e tendo uma daquelas "conversas sérias" com as crianças, falando sobre o comportamento deles, sobre que tudo que eu faço é pra eles, que o quê eu mais quero é que tenhamos uma vida melhor, para que possamos ter "isto, isto e aquilo", para fazermos " isso, isso e aquilo" e termos uma vida "assim e assado..." Depois que chegamos em casa, no momento que estamos almoçando, a Dandara (5 anos) olha bem fundo nos meus olhos e diz: " Mamãe! Eu não quero outra vida! Eu sou feliz com a vida que eu tenho!" Totalmente desconcertada e emocionada com essa declaração, percebi que não preciso me desdobrar para tentar dar conta de tudo, ou fazer "isso ou aquilo", que o mais importante eu já faço, é simplesmente estar ao lado deles: lavar os seus cabelos, cortar as suas unhas, segurar as suas mãos, dançar com eles que nem doida, rir muito, cantar e imitar vozes, contar histórias para eles antes de dormirem, narrar pela milionésima vez como eles nasceram e como era a vida quando moravam na minha barriga... Enfim, as vezes é preciso uma criança te lembrar que: " A riqueza todos tem, mas é preciso compreender!"


Simples assim… by Armandinho

sábado, 5 de abril de 2014

1° de abril: Ditadura

Sou ruim de data, bem esquecida mesmo, e nas poucas vezes em que me lembro de algum aniversário, por exemplo, sou dessas que só no caminho para a festa me dou conta de que não comprei uma lembrança especial (não aquela comprada correndo em cima da hora, e sim aquela realmente pensada especialmente para a pessoa) ou que não fiz um gesto carinhoso como um cartão ou uma declaração. Até mesmo nos meus aniversários acontece coisa semelhante... É somente na véspera que acabo (estimulada pela minha companheira de aniversário, minha sogra Mirna) fazendo alguma comemoração pequena, e depois, sempre me arrependo de não ter me programado melhor, chamado mais pessoas, organizado o evento com mais cuidado e carinho.

Acho que para mim, é apenas quando eu vivo ou me aproximo de uma data especial ou ainda quando outras pessoas me movimentam que tomo contato com a dimensão da coisa toda e do que cada ocasião me provoca além do sentido do tempo em nossas vidas, de estarmos junto de pessoas queridas, de celebrarmos, e a depender do propósito de cada evento, finalmente me embriagar das emoções sentidas: diversão, emoção, lembrança, reflexão, crescimento, agradecimento, oração.

Nesta semana aconteceram algumas datas especiais em minha vida...

O aniversário do Luiz, que foi comemorado de maneira simples aqui em casa, com a criançada de pijama e animada de todo jeito... Mateus querendo saber se a festa do pai seria de super-heróis e acabamos dando o nome de "festa da pizza", querendo fazer a todo custo brigadeiros e comendo com animação, junto das irmãs, comilonas de sempre. Mil gracinhas, risadas com todos nós relembrando as histórias remotas e recentes. Aquele papo de família de todo dia, toda hora que com o tempo aprendi a valorizar demais... Muito bom.

E outras duas datas que também inspiraram essa postagem... Segue uma reflexão a respeito:


Cheguei cedo à escola e logo fui surpreendida por duas meninas dizendo que os pais haviam morrido. Ainda sonada consegui reparar o sorrisinho discreto que havia de molecagem gostosa em suas faces e então entrei na brincadeira: "É mesmo, o que aconteceu com eles?" fazendo cara de preocupada, mas também com um sorrisinho na ponta dos lábios, bastante curiosa para saber o que sairia daquela conversa...

"1° de abril!" elas logo gritaram em meio às gargalhadas. Ri junto, porque em parte elas realmente "me pegaram" em suas brincadeiras, já que não havia me dado conta do dia específico, esquecida que sou... No restante do dia - fiquei o dia inteiro na escola e muitas outras brincadeiras aconteceram desse tipo: "sabia que vou morar em Miami?", "sabia que eu vou construir uma piscina de sorvete bem geladinha?", "Ju, eu não gosto de você!", e todas essas falas terminavam com muitas, muitas risadas, fazendo com que experimentássemos mais um dia intenso e especial.

Uma sensação de um dia gostoso que veio adoçar o sabor que estava sentindo neste 1° de abril, em especial, pelo impacto causado com um acontecimento do dia anterior, dia 31 de março de 2014.

Um acontecimento que na verdade já era sabido previamente, mas como disse, é apenas na vivência da data que tomo clareza do que realmente ela revela ou se propõe, e portanto, apenas no dia 31 tomei contato com toda a história que essa data representava, e fiquei bem sensibilizada, e até me sentindo culpada por não ter me conectado com essa dimensão anteriormente quando outros me comunicaram.

De qualquer forma, esta data marca um episódio triste da história de nosso país e que exatamente para não se repetir novamente precisa não apenas ser lembrado como falado, gritado!!!! Até porque senão algumas pessoas distraídas, como eu, correm o risco de passar batido, deixando de também serem porta-vozes de uma violência que foi vivida naquele período, inclusive para cobrarmos que o Estado reconheça sua ação violenta em milhares de pessoas e se responsabilize de alguma maneira por isso, como vem ocorrendo cada vez mais após a pressão da Comissão da verdade e da justiça e outros.

Assim, de maneira mais formal, nossa sociedade precisa reconhecer que esse episódio aconteceu (tem gente que não acredita ou não entra em contato com o tamanho da barbárie realizada na surdina), que nessa época os direitos humanos foram feridos, pessoas foram violentadas, mortas e se sobreviveram foram marcadas não apenas no corpo, mas principalmente nas almas como também famílias foram desestruturadas, mentes perdidas, manifestações e expressões reprimidas, ações do Estado deturpadas, perpetuadas, naturalizadas e por vezes, defendidas, e atualmente aclamadas novamente (pasmem!).

Em meio a esse meu 1° de abril, meu dia de brincadeiras e pensamentos sérios, me coloquei no lugar da criança que brinca com aquilo que mais deseja (uma piscina de sorvete) bem como com seu maior medo (que os pais morram) e fiquei também imaginando que a manchete de jornal: "31 de março: aniversário de 50 anos do golpe militar no Brasil" poderia ser também uma grande 'troça' do dia 1° de abril!!!

Seria bom se esse desejo infantil correspondesse à realidade...

Mas como não, vamos tratar o assunto com a seriedade que ele merece, nos povoando de outras imagens mais realistas e construtivas como, por exemplo, da cena de um aluno, nesse mesmo dia, indo embora mais cedo da escola, porque seu avô seria homenageado em Santos. Quando indagado pelas professoras sobre o motivo da homenagem ele, com seus 5 anos, disse: "Porque meu avô foi preso".

Para mim, como educadora, mãe e cidadã sinto um compromisso grande em falarmos a respeito e construirmos uma sociedade mais justa para que as crianças dessa geração cresçam com a consciência de que o foi feito naquela época (e em parte, ainda em tempos atuais) não pode acontecer mais e principalmente que se temos um pouco mais de liberdade e possibilidades maiores é porque MUITOS homens e MUITAS mulheres lutaram para isso. Isso sem mencionar que as torturas realizadas nesse período era muito piores com as mulheres.

Nessa direção, é com grande esperança que tenho visto mais espaço nas mídias para o assunto e assim ouvido cada vez mais sobreviventes dessa época falarem sobre suas experiências, dando, mais uma vez e mesmo após 50 anos, o verdadeiro sentido ao que viveram.

Ditadura: basta!