quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Theo Pereira: seja bem vindo!!!

Tem sido um privilégio enorme dar boas vindas para bebês queridos neste blog, especialmente àqueles que chegam no finalzinho do ano e nos enchem de esperança de que tempos melhores virão. Afinal, quer milagre maior do que o nascimento de um bebê fofo e desejado???

Por isso, dessa vez, é com muita animação que dou a notícia por aqui de que Theo chegou!!! Que sua vida seja repleta de amor e alegria junto aos seus pais Adriana e Tiago e seu irmão Tiaguinho. Do mesmo modo desejo que a humanidade possa se inundar de afetos genuínos como o que construímos com seres tão pequeninos para superarmos nossos desafios e vivermos uma vida mais solidária e bela.

Feliz 2016 a todos e todas! 
Seja feliz Theo!


RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Chico Buarque: vai passar...

Vocês viram o vídeo que está rolando de uns caras abordando de maneira ofensiva Chico Buarque quando ele saía de um restaurante? Eu achei pavoroso. E você?

No vídeo as ofensas eram destinadas ao PT. E para você, isso interfere em sua opinião?  

Se sim, você quer dizer que um cidadão não pode mais jantar com seus amigos e sair andando tranquilamente pela rua simplesmente porque a opinião dele é diferente da sua, e que por isso ele vira um "merda" para você que se acha dono da verdade?

Se sim, preciso te dizer que você está muito equivocado - e aqui assumindo o risco de virar um merda pra você também. E está equivocado não em concordar com o que aqueles caras falaram sobre o PT. Isso você tem o direito. Todos temos. Assim como temos o dever de respeitar o diferente, de nos expressarmos mas de maneira respeitosa ainda mais quando o "grave" que essa pessoa fez foi colocar sua opinião.

Quando alguém se acha no direito de abordar de maneira agressiva alguém na rua simplesmente porque pensa diferente está minando a democracia. Em tempos que pessoas defendem a volta da ditadura - sem terem a dimensão do quanto de problemas e de corrupção, os quais temos até hoje desde essa época isso sem falar na violência toda que envolve esse tipo de governo - banalizar situações como essa é ainda mais perigoso.  Agora, se você achou aquela uma discussão normal então você precisa ampliar seu repertório, estar entre gente mais cuidadosa, porque aquilo em nada teve de embate de ideias respeitoso e saudável.

O fato de ser o Chico torna apenas a questão mais emblemática, porque se até ele - acho que dispensa falar de seu currículo, de sua postura ética na vida e de sua luta para que possamos nos expressar -  vem sofrendo esse tipo de agressão imagina uma outra pessoa? O que estamos fazendo quando banalizamos situações como essa de "tudo bem", "se não está devendo nada não tem o que esconder" ou "se ele lutou tanto pela liberdade de expressão agora aguenta"? Liberdade de expressão não tem a ver com soltar merda por aí mas de podemos nos colocar e sermos respeitados por isso desde que nossas colocações sejam pautadas na ética do coletivo e da integridade humana. E não foi o que ocorreu naquela cena.

Quando a mídia vende essa cena como "Chico bateu boca defendendo o PT" ela também revela o quanto está fomentando um cenário de polarização em que temos que nos armar uns contra os outros que pensam diferente. Chico foi abordado e tentou colocar seu ponto de vista, mas não conseguiu, foi logo insultado. Se nem no cenário do futebol uma cena dessas é aceitável quanto mais na política que não deveria funcionar assim. É verdade que muitos petistas também já abordaram gente do mesmo modo. E aqui reforço, também estão equivocados ao não preservarem o direito do outro se colocar.

Agora, se você respondeu SIM e ainda está me lendo, é porque isso faz algum sentido, não? Então continue a leitura que tem mais gente querendo falar a respeito. E vale a pena! Um outro mundo é possível desde que nos respeitemos e possamos juntos, cada um do seu lugar, contribuir para a construção de uma outra nação mais solidária. Eu também quero.


Outros relatos: Pablo Villaça

Em um momento de lazer, Chico Buarque de Hollanda foi cercado no meio da rua por um grupo de jovens ligados ao PSDB e insultado por "defender o PT". Aparentemente, estes projetos de fascistas não compreendem que TODOS temos o direito de expressar nossas opiniões políticas, agradem estas ou não. Chico, que nem político é, foi agredido por se manifestar como cidadão - algo que os veículos da mídia manchetearam como (acreditem) "Chico bate boca defendendo o PT no meio da rua: cantor retrucou grupo que atacou o partido".
Não, jornalixo brasileiro, o grupo não "atacou o partido"; atacou CHICO num momento de lazer e no meio da rua. E ele não "bateu boca pelo PT"; foi cercado e insultado por estranhos e defendeu sua posição ideológica.
O cara é um patrimônio cultural do país, um senhor de mais de 70 anos de idade, é cercado e insultado por um bando de moleques fascistas e a mídia trata isto não só com normalidade, mas ainda tentando atribuir a ELE a falta de civilidade da situação à qual foi submetido.
Os veículos de comunicação brasileiros estão esperando alguém morrer graças ao clima de ódio que ajudam a criar. Aí, então, começarão a publicar matérias sobre "tolerância" pra se isentarem de culpa. (Não à toa, um colunista demitido de Veja publicou foto malhando e dizendo que se preparava para a "única forma de dialogar com petista", num estímulo irresponsável à violência e à agressão como forma de "debate".)
A verdade é que esses caras têm alma fascista. Não suportam mais a distância do poder e usam "corrupção" como um chavão que disfarça seu propósito real: o não à inclusão social. Se a questão fosse mesmo "corrupção", não abraçariam Cunha como aliado. Protestariam também contra a privataria tucana, o aecioporto e a roubalheira no metrô de São Paulo.
Mas não, o panelaço é seletivo: Alckmin pode fechar 100 escolas; Haddad não pode abrir a Paulista. São milhões de Cunha; já Chico é um "merda".
Aplaudem Macri na Argentina, que indica ministro de Supremo por decreto, mas atacam o STF brasileiro por defender a Constituição numa interpretação que ganhou apoio de praticamente todos os juristas de relevo ao barrar os abusos do presidente da Câmara.
Acham absurdo o bolsa-família que ajuda o povo mais pobre a COMER, mas aplaudem que os ricos paguem impostos ridículos, significativamente menores do que o restante da população.
Querem uma desregulamentação completa do mercado e depois vêm colocar avatarzinho triste por Mariana.
Dizem que vivemos numa "ditadura petista" enquanto cercam um músico de 71 anos na rua para insultá-lo por se expressar como cidadão.
Saem pedindo impeachment no aniversário do AI-5 e se espantam quando são chamados de golpistas.
Acusam a esquerda de "burrice", mas usam "pão com mortadela" e "chola mais" como argumento.
Abraçam a bandeira brasileira e colocam "PATRIOTA!!!" na bio, mas são os primeiros a diminuir o país num viralatismo constante diante do mundo, além de adorarem falar mal do Cinema brasileiro - que conhecem só de ouvir falar.
Amam quando um comediante chama negro de "macaco", gays de "vitimistas" e mulheres de "vadias", mas dizem que os homens brancos cis heterossexuais sofrem preconceito.
Dizem que a esquerda prega "luta de classes", mas chamam esquerdistas de "pão com mortadela" e "esquerda caviar".
Adoram se dizer éticos, mas acham natural que o líder do MBL peça doações em sua conta pessoal.
Acham certo a PM espancar manifestantes (mesmo adolescentes), que chamam de "vagabundos", mas só conhecem a PM que tira selfie na Paulista.
Por isso tenho orgulho de ser de esquerda. De fazer críticas ao governo que se afastou dos movimentos sociais, mas de defendê-lo contra o golpe - pois, mesmo com todas as suas graves falhas, AINDA enxergo nele uma preocupação com os excluídos sociais que JAMAIS serão abraçados por esta oposição.
Uma oposição que prega que quem manda é o "deus mercado". Não, me desculpem, mas prefiro bem mais quem enxerga no desenvolvimentismo a opção mais humana.
Para encerrar - e com a maquiagem borrada pelas lágrimas - digo: "LEAVE CHICO ALONE!". Emoticon wink
E viva o debate saudável.


Outros relatos: Irajá Menezes

ESTORVO NAS RAÍZES DO BRASIL
Ontem à noite, pros lados do Leblon, Chico Buarque avistou-se com o brasileiro cordial.
Chico manteve a calma, não perdeu a elegância. Na verdade, não houve surpresa. É que Chico conhece como ninguém o brasileiro cordial.
Não apenas porque foi seu pai quem explicou que bicho é esse. Isso, por certo, ajudou.
O fato é que o poeta de olhos cor de ardósia não é de contar vantagem, mas todo mundo sabe que percebe de longe a cordialidade. Afinal foi ele quem descreveu com mais detalhes o brasileiro cordial.
O brasileiro cordial é aquele que fotografa com a câmera cujo foco toda lírica solapa.
Aquele que amassou as rosas, queimou as fotos e beijou Lily Brown no altar.
O brasileiro cordial é a voz do dono. É o dono do bosque onde todo balão caía, toda maçã nascia (e o dono do bosque nem via). Aquele que deve a Deus seu éden tropical, mas pode vender. Quanto você dá?
Foi o brasileiro cordial que inventou de inventar toda a escuridão. Que inventou o pecado.
Foi ele que obrigou Angélica arrumar o quarto do filho que já morreu.
E esqueceu-se de inventar o perdão.
O brasileiro cordial é um dos pagantes, bêbados e febris, exigindo bis quando Beatriz despenca do céu. É um dos homens tristes, à frente de uma mulher feliz, enrustido, com cara de marido. O bruto da brasa na coxa de Ana de Amsterdam. O japonês trás de mim. É ele quem bate, cospe, joga bosta na Geni.
Ele é o noivo correto, o empregado discreto, o macho irrequieto, o funcionário completo, fala de cianureto, tem um caso secreto, um velho projeto, às vezes cede um afeto, quase que fez fortuna. Até que a morte os una, os brasileiros cordiais armaram tocaia lá na curva do rio. Puseram no tronco, talharam o corpo, furaram os olhos do escravo que no engenho enfeitiçou Sinhá.
Para ele vivem as mulheres de Atenas. É ele que faz mil perguntas que em vidas que andam juntas ninguém faz. Que conta as horas nas demoras por aí.
Tatuagem no braço e dourado no dente, assim como veio partiu não se sabe pra onde. É o aborígene do lodo, o homem que vem aí. O malandro regular, profissional, com aparato de malandro oficial, candidato a malandro federal, com retrato na coluna social, com contrato, com gravata e capital.
O brasileiro cordial.
O brasileiro cordial reclama se alguém agoniza no meio do passeio público, porque atrapalha o tráfego. Serve a bebida amarga do cálice de vinho tinto de sangue.
É a ele que agradecemos: "Deus lhe pague" por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir, a certidão pra nascer e a concessão pra sorrir, por me deixar respirar, por me deixar existir. Deus lhe pague, brasileiro cordial.
Obriga o jumento a levar o pão, a farinha, feijão, carne seca, limão, mexerica, mamão, melancia, areia, cimento, tijolo, a pedreira até quando a carcaça ameaça rachar.
É o da pesada, responsável pela omissão um tanto forçada. Largou o guri no mato, rindo, lindo de papo pro ar. Estampou na manchete, retrato com venda nos olhos, legenda e as iniciais.
Fez alvoroço demais, o brasileiro cordial.
Fez o faz-de-conta terminar numa noite que não tem mais fim.
Subtraiu a pátria em tenebrosas transações.
Acendeu a fogueira que queimou o samba, a viola, a roseira. O brasileiro cordial é a roda-viva que carrega o destino pra lá.
O brasileiro cordial não gosta do Chico. Mas a filha gosta.
Mesmo que não se alimente o seu gênio ruim, encontra motivo pra injuriar.
É um eterno devedor. Deve favores ao compadrio. Deve honras ao padrinho. Por isso sai na rua, sedento para saldar as dívidas.
Chico escreveu um livro sobre ele. E mostrou que o brasileiro cordial está no asilo, nos últimos dias de vida. Sua memória já se embaralhou. Perdeu a conta.
O brasileiro cordial chora o leite derramado. Tem medo que aquele trem de candango, formando um bando de orangotango, não seja apenas parte de um sonho medonho e queira mesmo lhe pegar.
Será que é por isso que ataca?
Se há alguém que sabe quem é o brasileiro cordial, esse alguém é Chico Buarque de Holanda.
Os playboys fascistas que o aborreceram, ao contrário, não fazem a menor ideia de quem seja Chico Buarque de Holanda. Se soubessem não pagariam mico em rede nacional.
O brasileiro cordial cansa. É tanta mutreta pra levar a situação, que a gente vai levando de teimoso e de pirraça.
Mas... vai passar.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

5 anos de Mateus! 5 anos sendo mãe!














Como pode esse serzinho ser o mesmo nas duas imagens? Ou não é?

Em boa parte do tempo, ainda vejo Mateus como meu pequenino. Sinto necessidade de cheirá-lo, carregá-lo; meu instinto animal de lamber a cria. Contudo, é justamente quando o seguro em meus braços que consigo me dar conta do quanto cresceu! Nessas situações busco compreender as mudanças (às vezes gigantes, às vezes sutis) entre meu pequeno e meu grande menino, e aos poucos vou acessando um novo ser que ao mesmo tempo conheço e desconheço.

"Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata." (Carlos Drummond de Andrade)

Os 5 primeiros anos são uma eternidade de descobertas, aprendizagens e transformações na vida de uma criança como dos adultos ao seu redor. Somos todos 'outros' a partir dessas intensas experiências. Por isso, muitas vezes o vejo como um moleque enorme quando cobro dele atitudes que correspondam ao seu tamanho, me encho de orgulho ao presenciar suas conquistas e aproveito muito a sua companhia para programas e atividades que antes não eram possíveis. Ao mesmo tempo (vai entender...), esses primeiros 5 anos passam num piscar de olhos - tanto para as crianças que não mais se reconhecem como para os adultos que precisam fazer movimento para acompanhá-las.

"A celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festa de aniversário. Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte." (Rubem Alves)

Quando há ausência de movimento dos adultos ao seu redor, as crianças ficam sem referências de quem foram e de como vêm se constituindo em seus percursos, morrem suas histórias sem poderem renascer de outro jeito, em outro contexto. Suas narrativas não ganham sentido. Por ora, somos uma importante fonte de suas memórias. E que missão maravilhosa e importante recebemos!

Para mim, tem sido emocionante poder contar ao Mateus e às minhas meninas como foram desejados, gestados, paridos, amados. Como brincaram com as pessoas, com os animais, o mundo e como se lançaram aos desafios, pediram ajuda e fizeram conquistas! As marcas que foram deixando em tudo e em todos como as marcas que foram ganhando em seus corpos e escolhas. Contar também sobre nossa família que se constituiu em nosso jeito único de funcionar. A criança nasceu como nasceu junto também a mãe, o pai, o vô, a avó e ogo o próprio bebê vira o irmão mais velho.

Nesse processo vamos nos dando conta de que a maioria de nossas memórias mais significativas são formadas por momentos singelos, perceptíveis apenas aos olhos de quem está disponível. Por outro lado, tanta coisa a gente acaba esquecendo. Fotografar, filmar (sem grandes paranoias a ponto de deixar de estar presente), escrever (tenho este espaço precioso, mas gostaria de registrar ainda mais), dentre outros, são recursos importantes para nos lembrarmos do valor da experiência.

"Muita coisa que ontem parecia importante ou significativa amanhã virará pó no filtro da memória. Mas o sorriso (...) ah, esse resistirá a todas as ciladas do tempo." (Caio Fernando Abreu)

Igualmente emocionante vê-los contar a própria história, ao seu modo, mostrando-se apropriados de suas vivências. Mateus, outro dia, folheava seu álbum de fotografias como se fosse um de seus livros memorizados "Eu nasci muito rapidinho, porque eu queria ver logo o mundo. Mamãe disse que eu tinha a pele mais macia do mundo. Eu de Corinthians com o papai, porque eu já nasci corinthiano". Com isso, nosso desejo de fazer parte de suas histórias continua enorme bem como nossa responsabilidade em ajudá-los a ressignificar suas vivências e escolhas, ainda mais porque certamente em suas trajetórias, vez ou outra, eles precisarão ser lembrados por nós de suas essências para não se perderem de si mesmos - ainda que a graça da vida seja exatamente virarmos outros de nós mesmos.

"Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira." (Cecília Meireles)

A pergunta que Mateus me fez há um tempo atrás ainda ressoa em mim. Quando lhe contei que a partir de sua chegada eu havia me tornado mãe ele me indagou: "E antes, você era o quê?".  Pergunta simples e complexa como todas as que as crianças fazem. Puxa vida, antes eu era tanta coisa! Algumas que ainda preservo, outras que já não reconheço mais, mas definitivamente ser mãe foi um marco em meu percurso.

Para me nascer mãe tive que morrer um tanto, foi difícil, ainda é. No entanto, me reconectar com outras mulheres numa rede de apoio e com minhas ancestrais foi essencial para conseguir não só renascer como fazer viver em mim muitas mulheres diferentes. Hoje, sou muitas e todas convivem em mim numa harmonia e desarmonia constante me dando a certeza da vida que escolhi. E esta nova vida eu devo a ele como sua vida ele deve a mim: este é o nosso laço! Impensável nos imaginarmos um sem o outro. Mãe e filho, filho e mãe. Laço eterno que precisa ser alargado para fazer caber outros tantos em nós, entre nós e ao nosso lado e quando necessário, também rompido. Como outro dia um aluno me disse: "Se ninguém cortasse o nosso cordão umbilical a gente continuaria para sempre lá na barriga da mãe". Lugar que melhor representa aconchego. Mas como outro aluno disse: "mas se a gente não sai a gente não toma sorvete, não joga futebol e fica sozinho". Essas crianças entrando em contato com a complexidade da vida, do que está e do que não está em nosso controle, do que não vale à pena controlar e sim aproveitar e das escolhas que fazemos diante de tudo.

Outro dia, Mateus também me disse quando quis empurrá-lo na boia para pegar um "jacaré" na onda do mar: "Mãe, deixa que eu vou comigo mesmo". E do mesmo modo que eu dou limites a ele de suas ações, para se situar melhor em cada contexto, ele também vai me colocando limites para que eu o deixe seguir seu caminho... Livre, como tem de ser. Liberdade que requer coragem.

Hoje meu menino - às vezes pequeno, às vezes grande - completa 5 anos! "Vou encher a mão" como ele disse, e neste percurso sinto que ele preencheu muito mais, pois preencheu a própria vida!

"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, 
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

(Guimarães Rosa)


Mateus, meu filho querido,

Você é um moleque doce e sapeca que tem na vida seu maior presente e isso me alegra demais. É muito gratificante tê-lo ao meu lado e vê-lo crescer com tanta potência, generosidade e alegria. Só tenho a agradecer por ter me escolhido para ser sua mãe. Este foi meu maior presente depois completado com a chegada de suas irmãs. Vocês três são meus tesouros, dos quais não abro mão em minha vida. Amo vocês de um jeito que não cabe no peito nem nos apertos, por isso que os agarro tanto... É um amor que precisa extrapolar, sair pelos meus poros até chegar a vocês.

Te amei nos meus sonhos, na minha barriga, no meu colo, em seus primeiros passos e vou continuar te amando por suas andanças mundo afora.

Neste seu aniversário de 5 anos quero continuar desejando que sua vida continue iluminada pelo bem para que possa continuar me ensinando a todos ao seu redor com suas perguntas, ideias, carinhos e brincadeiras. Aliás, continue brincando muito e muito, é a melhor coisa que pode aprender por ora. E cresce, meu filho, cresce que você me enche de orgulho (suas conquistas também são um pouquinho minhas), mas cresce devagar, sem pressa, as coisas têm o seu tempo certo, meu apressadinho.

5 anos de Mateus! 5 anos sendo sua mãe! Por isso, hoje é seu aniversário, mas eu comemoro junto. Obrigada por tudo, meu filho, por dividir esse momento comigo, por fazer minha vida mais viva. E obrigada, principalmente, por ser esse menino tão especial que vem trilhando um caminho muito lindo, todo seu e das pessoas e acontecimentos que lhe importam e você tão bem sabe valorizar.


Com amor,
Da sua mãe.




segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Jovens estudantes de luta

Esses jovens estudantes que ocuparam (e não invadiram) suas escolas para defendê-las me encheram de orgulho e me deram mais ânimo para continuar acreditando que mudanças boas virão!

Neste caso, o problema não se trata da "reorganização" que o governo estadual de São Paulo insiste em dizer, mas da arbitrariedade em fazê-la. Esse tipo de medida precisa ser dialogada com todos os envolvidos e consideradas as especificidades de cada escola para encaminhamentos ajustados e não massificados a toque de redução de custos e camuflagem de outras intenções como a terceirização do ensino público.

A notícia em si não é exatamente uma surpresa para quem acompanha o desmonte que vem sendo feito na rede púbica de ensino estadual, contudo, ainda assim saber que o governo tucano no Paraná começou o ano batendo em professores que reivindicavam pacificamente seus direitos e termina o ano em São Paulo batendo em estudantes que não querem que suas escolas sejam fechadas é um absurdo. Tão absurdo é a população não se solidarizar com tais lutas que por mais que tenham alguns movimentos envolvidos manipuladores a maior parte refere-se a gente idônea que defende a melhoria do ensino público e não merece apanhar por isso. "Uma sociedade que bate em seus jovens que pedem por mais escolas só pode estar seriamente doente" como circulou no facebook. E pensar que muitos não os apoiaram justamente porque continuam polarizados PT ou anti PT, como se fazer política fosse igual torcer para time de futebol. Não é. Do mesmo modo que vejo problemas nos programas do PSDB vejo  no programa federal Pátria educadora, e todos merecem ser seriamente discutidos por todos, para que tenhamos um programa de qualidade.

Os estudantes deram um show de organização em seus protestos pela melhoria da educação - em todos os âmbitos. Organizaram-se nas respectivas escolas arrecadando alimentos com a comunidade, com a benfeitoria dos espaços e com atividades culturais. Frente à tentativa do governo de fechar cerca de 100 escolas, 200 foram ocupadas em solidariedade. Vitória deles quando conseguiram movimentar medidas judiciais que adiaram essa reorganização colocando essa questão na pauta das urgências e dando tempo para a busca por soluções mais efetivas. Vitória da educação, do empoderamento desses jovens.

Na torcida para que cheguem logo ao poder. Meu voto é deles.

Esses jovens aprenderam muito nesse tempo de luta em defesa da melhoria da educação ao exigirem um diálogo com o governo. Nesse período cuidaram de suas escolas - limparam jardins, banheiros, pintaram paredes e isso certamente vai fazer diferença na relação deles com esse espaço. Do mesmo modo aprenderam muito como conversar e refletir e isso certamente vai fazer deles estudantes mais críticos das aulas. Os professores que se preparem porque a molecada está mais exigente - no melhor dos sentidos!