sábado, 28 de fevereiro de 2015

Benício Kenzo: seja bem vindo!!!

Definição de Pai  (Luis Alves)
 
"Pai que aos olhos da criança é herói
Pai que aos olhos do jovem é vilão
Pai que aos olhos do adulto é um amigo
Pai que aos olhos do velho é saudade
 
Quando eu te via como herói
Não sabia quase nada da vida
Sentia-me seguro ao seu lado
Eu só queria ser seu filho
 
Quando eu te vi como vilão
Pensava que já sabia tudo sobre a vida
Não queria proteção
Eu só queria ser herói
 
Quando eu te vi como amigo
Pude me dar conta dos erros cometidos
Foi quando realmente te conheci
Que entendi o sentido da vida
 
Quando me dei conta de sua falta
A idade já havia me alcançado
Você já não era mais herói, nem vilão
Nem amigo e nem solidão
 
Você virou soma de tudo aquilo que foi
De tudo aquilo que eu pensei que fosse
A síntese da vida que hoje eu vivo
A minha definição da palavra PAI!"
(site Esoterikha)
 
 
Nasceu Benício Kenzo!!! Um bebê fofo que veio trazer ainda mais alegria para minha família! Não que essa turma, em especial, precise de motivos para se reunir e celebrar a vida, de todo modo, o nascimento de mais um ente é um acontecimento sem igual, e portanto, estamos todos contentes.
 
Nasceu Benício e com isso nasceu também uma linda mãe, a Thamisa e um super pai, meu querido primo Luis Seirio - um cara bacana que tem marcas reais e profundas, no corpo e na alma, sobre tudo que o amor de um bom pai possibilita e representa na vida de um filho. Assim, Seirinho certamente vai se empenhar em construir uma relação extremamente afetiva com seu pequeno, contagiando a todos ao seu redor com sua felicidade, como já aconteceu durante a gestação e agora no nascimento do filhote. Em sua página de facebook, por exemplo, o novo papai já escreveu, todo emocionado:
 
E foi no dia de hoje que vc resolveu dar mais alegria em nossas vidas! Que Deus te abençoe sempre e tentaremos ser os melhores exemplos e amigos de toda sua vida!!!! Te amamos muito!!!

Garoto sortudo esse Benício!!!

Beijos grandes, em breve vou parabeniza-los pessoalmente, e ficar ainda mais contente em ver uma nova geração de primos fazendo a maior bagunça por aí como outrora já fizemos.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Vida colorida

“O que falta nesse mundo é um pouco mais de brincadeira em tudo.”
(Primeira frase do maravilhoso documentário "tarja branca", que já foi foco de uma postagem aqui).


Ao abrir o facebook hoje tive uma grata surpresa: ver a relação que minha cunhada fez entre uma linda imagem e um pensamento ainda mais lindo com uma imagem de minhas meninas. Fiquei emocionada!



 
 
 
Concordo plenamente... Viver a vida colorida exige de nós uma postura ativa, positiva, 'colorível', o que aqui em casa, todos temos, principalmente meus filhotes!




Orgulho e gratidão por darem mais cor ao nosso mundo.
 
Cada vez mais, conheço e reconheço que existem muitos jeitos bacanas de criar filhos, sendo o mais importante, como pais, agirmos com nossas verdades. Por isso, outra coisa aqui de casa, é que pintura no corpo de Carolina, Isabel e Mateus durante MUITO tempo, só acontecerá assim... dentro do universo lúdico!

“Brincar é afirmar a vida, é alegria, é viver em plenitude e liberdade”. (Lydia Hortélio)

Pintar-se para brincar, para explorar o corpo, esse universo de possibilidades. Para celebrar, comunicar, sentir. Para se olhar no espelho e se reconhecer e se conhecer mais. Para se descobrir bonito, diferente, esquisito, engraçado, assustador... de muitos jeitos! Para se esconder, para aparecer. Para olhar o outro e se reconhecer no outro também, para se inspirar e querer se aproximar, fazer parte, ou o contrário, se distanciar, se diferenciar. Para copiar e criar. Para viver o momento, intensamente, e ao mesmo tempo se conectar ao passado, com nossas memórias de crianças e com nossos ancestrais que desde tempos remotos vivem experiências corporais. Para recuperar nosso destino e potencializar nosso futuro, reafirmando nossa essência: o que nos une e nos distingue. Para colocar nossas vidas vivas, portanto, em movimentos constantes.


"Se a humanidade tem futuro, ela vai retomar por aí: pela infância." (Lydia Hortélio)

"Brincar é o maior exercício de liberdade que podemos ter." (Lydia Hortélio)

Assim como no livro "As tranças de Bintou" as crianças terão, sabiamente, muito tempo depois para se pintarem ou se arrumarem por vaidade ou para viverem uma rotina de adulto frequentando salões de beleza, por exemplo, na lógica (perigosa) de que 'precisam' ficar arrumadas e bonitas, e só dessa forma o são. Ao meu ver, até mesmo para o mundo dos adultos tal ideia pode ser quebrada! Isso sem falar na necessidade de ampliarmos nossas referências de beleza...

De todo modo, isso não significa que mesmo nesse cenário mais cuidado algumas vaidades não apareçam nas crianças. Isabel, por exemplo, anda encantada por saias "quero saia pra ficar bonita, mamãe" e muitas vezes quer me imitar "Mamãe, quero saia igual você". Tem muita coisa envolvida nessa relação, principalmente afeto. Isabel já sabe quanto carinho tem de minha parte para com ela quando cuido dela no banho, na secagem, na hora de escolher a roupa, arrumar o cabelo, cortar a unha assim como ela vê em que estou me cuidando.

"As descobertas e aprendizados que fazem os meninos do Mundo entre eles mesmos, desde sempre, constituem o que podemos chamar de a Cultura da Infância, ou seja, o acervo das experiências em plenitude e liberdade do Ser Humano ainda novo.

Todo o universo que compõe o imaginário da criança reúne desde os aspectos históricos e sociais até as tecnologias de educação e comunicação mais atuais, e passam necessariamente pelas brincadeiras em suas diferentes formas e pela arte criada por elas e para elas." (Lydia Hortélio)

Sabemos que  criamos aqui em casa um cenário favorável, com nossos olhos e gestos cuidadosos, para que essa e outras experimentações similares sejam parte de uma brincadeira leve e gostosa, com o único compromisso da brincadeira em si.

Seguem dois momentos em que minhas pequenas deram uma solução para seus desejos de pintar a unha, ficando felizes e satisfeitas com o resultado!!!





PS: Tá bom, confesso que muitas vezes o mesmo não ocorre comigo por conta da bagunça ainda mais em época de racionamento de água em São Paulo...kkkk


Por fim, segue uma iniciativa bem interessante de que até mesmo boneca tem que ter cara de criança! Porque isso certamente repercute na infância de quem se relaciona com ela - Tree change dolls.


 
 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Bento Petreche: seja bem vindo!!!

Hoje de manhã, quando contei para Carolina e Isabel sobre o nascimento do irmão do amigão delas, o João Petreche, elas riram gostoso só de ouvir o nome do querido amigo. Em seguida, Mateus que estava ouvindo a conversa me perguntou: "Como chama o bebê?", respondi: "Bento", e ele logo comentou: "Nossa, BENTO parece VENTO!".

Fiquei com essas palavras o dia todo na cabeça... Bento, vento, menino-vento, nascimento!!! Quando então me lembrei de Fernando Pessoa:

"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."

E mais uma vez tive certeza de como o universo está conectado com nossas vivências, e vice-versa.

Gratidão e alegria preencheram meu dia, e passei a pensar nessa alegre família, sobre o quanto nesse momento todos devem estar radiantes por conta da chegada de mais um ser iluminado. Aos pais, Carol e Michel e aos irmãos Arthur e João, desejo, em nome de minha família, tudo de maravilhoso a vocês, que suas vidas sejam repletas de bons ventos.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sobre aborto

Sou meio devagar para certas coisas, então demorei para entender que algumas mulheres estavam compartilhando fotos de suas gestações no facebook como uma corrente para posicionarem-se contra ou a favor da legalização do aborto.

Não sou muito de participar de correntes, mas nesta resolvi participar, porque essa questão é mesmo muito séria.


Na gravidez de Mateus, 2010, com Luiz

Na gravidez de Carolina e Isabel, 2012, com minha amiga Silvia


Antes de marcar minha posição é importante termos clareza de que na realidade o meu posicionamento, o seu ou das outras pessoas, pouco importam. Aborto não é uma questão de opinião. E sabe por quê?

"Porque as mulheres já abortam, independentemente do que pensemos. Segundo o IAG, Instituto Alan Guttmacher, entidade americana que estuda a questão do aborto no mundo, cerca de 1 milhão de mulheres abortam no Brasil todos os anos. As católicas e as evangélicas abortam; as loiras, as morenas, as afrodescendentes, as pobres, as ricas, as adolescentes, as casadas, as que saem com vários parceiros, as que tiveram apenas uma relação sexual na vida e as que são mães, também. E vão continuar abortando, pois a decisão de interromper uma gravidez é pessoal e envolve várias questões que não podemos controlar.

Mas se as opiniões pessoais não importam, como tratar do problema?" (Dráuzio Varella)

Certamente não é da forma autoritária que o recém eleito presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha tratou recentemente ao declarar: "Aborto só vai a votação se passar pelo meu cadáver".

Caro deputado, estamos falando de uma situação real que muitas mulheres têm vivido e com isso, sido criminalizadas ou mesmo sendo mortas por conta das condições precárias em que esses procedimentos foram realizados. Por isso, trata-se de uma questão de saúde pública que merece, no mínimo, ser discutida seriamente por todos os âmbitos da sociedade, principalmente na Câmara, sem julgamentos prévio de valores (vivemos num Estado laico!), para assim avançarmos em nossos acordos sobre nossa vida em grupo.

E cá entre nós, entre o cadáver do Eduardo Cunha e o de milhares de mulheres, é claro que eu fico a favor delas! Principalmente das mais pobres, das muitas Jandira dos Santos Cruz e Elisângela Barbosa, ambas mortas no Rio de Janeiro após realização de abortos clandestinos. Isso porque enquanto uma mulher rica consegue desembolsar uma grande quantia para pagar uma clínica com condições mais razoáveis as pobres fazem uso de clínicas que são verdadeiros açougues. Depois, muitas vezes sofrem complicações sérias decorrentes dos procedimentos mal feitos e direcionam-se para o sistema público de saúde. Assim, se vivêssemos uma situação na qual elas já tivessem recebido uma intervenção legalizada desde o início, sendo tratadas de maneira segura e ética, além de evitar mais sofrimento, certamente o custo para nosso sistema público de saúde seria o mesmo ou até mais barato.

Essas complicações muitas vezes deixam marcas físicas nessas mulheres como, por exemplo, ficarem impossibilitadas de engravidar novamente. Algumas pessoas, principalmente aquelas que acreditam num Deus punitivo que se diverte com nossos inevitáveis erros (esse não é o meu Deus!), costumam dizer que trata-se de um castigo e que elas conseguiram o que queriam, não ter filhos. A questão não é tão simples assim.

Muitas dessas mulheres sonham em ter filhos, mas não naquele contexto, algumas, inclusive, já são mães. Já vi mães que abortaram e são mães amorosas com seus outros filhos e mulheres contra o aborto que não o são com os seus. São diversos os motivos que levam uma mulher a abortar e estes não devem ser o foco maior da discussão sobre legalizar ou não essa prática.

Os motivos que levam uma mulher a abortar apenas nos interessariam para analisarmos, com cuidado e sob diversos pontos de vistas, nossa sociedade. Afinal, se tivéssemos em mãos esses dados (até o momento não os temos precisamente, já que os abortos são feitos ilegalmente) poderíamos saber, por exemplo, se muitas jovens vêm fazendo, em quais contextos, se a gravidez foi gerada de forma violenta, em quais classes sociais, dentre outros. Assim, o poder público poderia planejar medidas adequadas para melhorar cada cenário seja antecipando algumas ações, seja respeitando e cuidando por quem optar em abortar.

Ficarmos preso no julgamento dessas mulheres só piora o clima para nossa vida em comum, aumentando os preconceitos entre nós e dificultando a ampliação de nossos pontos de vistas a partir de nossos encontro com os outros e a prática de ações solidárias para com quem está sofrendo. Por isso também, a justificativa contra o aborto de que este poderá virar um método contraceptivo faz pouco sentido.

Fazer um aborto é uma experiência muito traumática. Ninguém em sã consciência experimenta uma gravidez indesejada só para abortar como também ninguém sonha em fazer um, e se o fez, não conta desse episódio com animação ou leveza. Conheço mulheres, por exemplo, que abortaram e depois, mesmo tendo tido a sorte de apresentarem boas condições para gerarem filhos, não conseguem - tamanho medo possuem de sofrer de novo algo parecido. Marca no corpo, marca na alma.

Sou totalmente à favor da liberdade da mulher de julgamentos, podendo ser dona de seu corpo e seu destino, com livre arbítrio para decidir se quer ser mãe ou não, em cada momento de sua vida. E seja qual for a sua decisão, como cidadã, poder ter o direito a receber todos os cuidados necessários.

É verdade que o cuidado para evitar a gravidez começa antes do ato sexual, mas enquanto não tivermos métodos contraceptivos 100% seguros, meninas e mulheres em situação de violência ou mesmo mal orientadas essa é uma questão que vai continuar existindo: meninas e mulheres engravidando sem desejar.

Eu sou uma mãe convicta... hoje. Antes não, por isso sinceramente não sei o que teria feito caso tivesse engravidado quando ainda não me sentia preparada. Tive a sorte de decidir engravidar, o que foi maravilhoso. O contrário gera um cenário  desfavorável à mãe e também ao filho ou filha. Claro que esse caso não é determinante, pois já vi mulheres que não queriam, mas depois se apaixonaram por seus filhotes criando um laço afetivo forte, uma lindeza! Mudanças que só o amor promovem! O problema é que quando isso não acontece...

É muito triste ver uma mãe ausente do amor para com sua cria. E este cenário gera grandes marcas de violência na criança. Sou também a favor das crianças terem infâncias plenas e saudáveis, com adultos ao seu redor que a desejam. Sortudas aquelas que conseguem ser amparadas por outras mães quando a sua biológica não conseguiu assumir esse lugar afetivo em sua vida. Outra lindeza só! Conheço de perto relações como essas que são de emocionar pela verdade que guardam e pelo poder de transformação humana. Pena que a maioria não consegue e passa a vida toda à margem da sociedade, à margem de si mesmo. Triste, triste.

Acima de tudo, sou a favor da vida.

Há quem entenda que justamente por ser a favor da vida o aborto é inadmissível, pela vida do feto que deixa de existir, o que é mais um sinal de que essa questão é mesmo complexa e delicada, gerando toda essa discussão infindável, porque neste caso não há certo e errado. São opiniões diversas. O que me intriga é quando uma mesma pessoa é contra o aborto e a favor da pena de morte... não vejo sentido!

Realmente um feto deixar de existir é algo real e provoca sentimentos profundos na alma da mulher. Um 'por vir' que deixa de vir. Por isso não consigo exatamente ser a favor do aborto.

Sou a favor da mulher, que ela possa decidir seu caminho. Claro que para isso, anteriormente a essa decisão, é preciso muita reflexão e consciência da mulher, e no caso dela optar por retirá-lo, um luto. Ninguém fica feliz com essa perda, pode ficar aliviada e se convencer que foi o melhor naquele momento, mas feliz não.

Sou mãe realizada, fiz essa escolha, e desde então valorizo ainda mais os nascimentos de bebês queridos  tanto que mantenho com muito orgulho e verdade, a coluna "seja bem vindo(a)" no blog. Ser mãe foi a atitude mais revolucionária que fiz em minha vida, algo que até hoje me modifica e me abre para o mundo, para o comum e o diverso, o real e o mágico, o possível e o impossível.

Na minha história de vida, tenho um super marido e uma super família, meus três filhos são incríveis além de ter outras coisas maravilhosas na minha vida que construí no decorrer, o que torna meu cenário muito favorável. Ainda assim, vivo desafios constantes na maternidade. Não é uma experiência fácil. Digo sempre que foi a coisa mais gostosa de minha vida, mas a mais difícil também. Às vezes fico pensando nas mulheres que são mães em situações desfavoráveis, quantos desafios vivenciam... uma loucura!

Verdadeiras guerreiras são as que superam cada um, principalmente quando lidam também com o "aborto" de seus respectivos homens, pais de seus filhos.

Desde sempre os homens fazem abortos quando desejam. Desaparecem sendo às vezes até elogiados por essa atitude, ao contrário da mulher que é criminalizada quando o faz. Trata-se de mais uma injustiça entre os gêneros, dentre tantas outras explícitas e implícitas, que ainda existem em nossa sociedade tendo a mulher sem opção.

É verdade que com o avanço da ciência, o teste de DNA ajudou a reparar um pouco esse cenário, mas sabemos que não basta um juiz dizer que 'fulano' é pai de 'ciclano' e que ele deve lhe pagar uma pensão para se criar uma relação de afeto entre ambos.

Pela nossa lei (antiga, de 1940), a mulher não tem a opção, tem de levar aquela gestação adiante com o risco de ir para a cadeia, mesmo sem querer, mesmo sendo seu corpo e mesmo tendo sido feito a dois, às vezes sem sua vontade. Essa ideia é perigosa e vai repercutindo em vários outros âmbitos.

Em minha relação com Luiz, muitas vezes tive que marcar para ele o quanto nossos deveres estavam desiguais em nosso cotidiano e nas práticas com nossos filhos. Minha sorte é ter um companheiro com escuta para essas questões e assim pouco a pouco fomos nos acertando, até porque outras vezes é ele quem me ajuda a me rever. Parceria verdadeira é assim.

Marquei muitas coisas para que ele reconhecesse meus feitos não como obrigação de mãe, mas como algo que me dispus a fazer, inclusive, algumas vezes sem querer como, por exemplo, quando acordo pela manhã para ficar com as crianças enquanto ele continua dormindo, e se chego em meu limite quero que ele assuma essa tarefa, pois nas vezes em que acordei não foi bem por vontade própria. Levantei em nome de um bem maior, meu amor e compromisso com meus filhos mesmo ainda tendo sono. Assim, é também pelo compromisso que tenho comigo mesma e com meu marido que discutimos coisas como essa, para que possamos viver novas dinâmicas e sermos modelos de que mudanças são possíveis e nos fazem bem.

A situação contrária é uma mulher presa a um papel que acredita que se espera dela. Mulheres sem opção quando entende-se que nossa função no mundo é meramente reprodutiva e de criação dos filhos, precisando o tempo estarmos dispostas a isso. Crime hediondo em nossa sociedade uma mãe recusar-se a fazer algo pelo filho. Viramos reféns. O que será que ensinamos aos nossos filhos reproduzindo esse modelo? Que submissão é amor? Para mim, amor tem de ser livre para amar.

Também temos que nos posicionar quando nos sentimos violentadas, nos diversos contextos, ou quando a mídia reforça uma imagem de mulher submissa, incapaz de tomar suas próprias decisões ou de ter desejos distintos do que se espera dela como, por exemplo, numa recente propaganda de cerveja para a época do carnaval: "Esqueci o NÃO em casa". Nojo!

Recentemente, também, uma pesquisa revelou que grande parte da população acha que existem mulheres que merecem ser estupradas (!). Na postagem 'mulheres livres' falei sobre isso, quando a mulher é quem sofre a violência e mesmo assim é responsabilizada pelo mesmo, e sobre o amplo apoio popular que Bolsonaro recebeu quando "ofendeu" sua colega ao dizer que ela não merecia ser estuprada. Para deixar claro mais uma vez: mulher que é estuprada é violentada e não elogiada, mulher que não é estuprada é respeitada e não ofendida!

Em muitos aspectos temos que avançar para vivermos num outro modelo de sociedade... Estamos longe, mas vamos que vamos, seguindo acreditando, porque afinal, já avançamos um monte.

Podemos assim nos libertar da ideia de que ser a favor do aborto não significa querer fazê-lo ou que todo mundo o faça. Não podemos banalizar essa questão, por isso para sua viabilização seria necessário um acompanhamento anterior ao ato em si para que a mulher esteja mesmo certa de sua decisão.

Luiz, por exemplo, quando começou a procurar por médicos para fazer vasectomia (uma decisão que foi dele, uma vez que é seu corpo, mas claro que acordada comigo, uma vez que estamos juntos e poderíamos ter desejos distintos), ele fugiu, com razão, daqueles médicos que não conversaram sobre suas razões e o que isso implicaria, mostrando-se apenas interessados em marcar a data da cirurgia. Essa é uma decisão muito séria que exige reflexão sobre tudo envolvido. Por fim, encontrou um médico que se abriu a essa conversa com seriedade e transparência. Esse cuidado que recebeu é o mínimo que as mulheres merecem também quando decidem por abortar, e que por serem feitos clandestinamente elas não recebem, uma vez que não podem falar a respeito.

Por fim, como sugeriu Dráuzio Varella, se você é contra o aborto, simplesmente não o pratique! E como eu, mesmo não sendo exatamente a favor do aborto, seja a favor da mulher decidir livremente, e com o apoio da sociedade, sobre fazê-lo ou não, caso julgue a única saída para sua situação pessoal, recebendo assim todos os cuidados necessários de nossos recursos públicos.

E vamos seguir juntos pensando sobre o modo como temos vivido nossas relações afetivas, sexuais e familiares, para possibilitarmos melhores condições a todos nós.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Isadora: seja bem vinda!!!

Nasceu mais um bebê fofo, a Isadora, filha do Fabinho e da Andrea. Parabéns e muitas felicidades!!!

Muito gostoso ver um amigo, agora pai, emocionado com o presente divino que ganhou. Olha o que ele escreveu para a filhota:

Muito prazer...Isadora!
Sensação mais emocionante da minha vida! Isadora papai te ama muito!! Sensacional!
Ainda não tenho palavras pra descrever o que sinto...obrigado meu Deus por tudo!!
Mais uma pro bando de loucos!!


E não é só ele quem está emocionado, é toda sua família querida. Olha o que o tio Lu, irmão do Fá, escreveu também:

Com certeza um dos dias mais felizes da minha vida...minha sobrinha, sangue do meu sangue...AMOR ETERNO...que vc cresça feliz e nos dê muita alegria ao longo da sua vida...TE AMO MUITO ISADORA...

Precisa escrever mais alguma coisa??? Não, né??? A não ser que a mamãe também queira fazer uma declaração por aqui. Mães têm sempre a vez neste blog!!! De todo modo, agora é hora de viver intensamente cada momento da chegada de Isadora, curtindo, dando muitos beijos e cheiros nela!!!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

É tempo de crise, é tempo de carnaval !!!

Outro dia, ao conversar com um amigo, entramos num consenso sobre muitas coisas erradas presentes em nossa realidade brasileira, e discordamos muito sobre algumas formas de lidar com elas.

Ao seu ver, por exemplo, as ruas estão tomadas por bandidos e ficamos coagidos de nos movimentar pela cidade. Realmente há tempos São Paulo possui um alto índice de violência, o que exige de nós, moradores, certos cuidados e quando virei mãe redobrei alguns deles. No entanto, não me sinto presa nesse cenário. A cada novo acontecimento que me choca (muitos, infelizmente passam despercebidos por mim diante da banalização da grande mídia e de nossa rotina corrida), saio de casa diferente, às vezes até mais ressabiada, mas não deixo de sair, muito menos de acreditar que as coisas podem melhorar.

Acredito que junto do poder público nós também temos responsabilidades em transformar esse cenário, e uma das maneiras possíveis é justamente ocupar os espaços públicos, ressignificando-os paulatinamente bem como nossos modos de vida ao interagirmos com cada um deles.

Em outra ocasião, ao falar sobre isso com uma amiga ela concordou com essa ideia, entretanto, no meio da conversa, quando me disse que não deixava a filha adolescente fazer um curso próximo à sua casa, porque teria que ir sozinha me propus a pensar junto algumas opções para solucionar o impasse, ao que ela me respondeu prontamente: "Que façam isso com os filhos dos outros e não com os meus". Entendo seus medos, são também os meus como mãe, mas acima de tudo, até o momento, minha crença na importância de nossa busca por outros modos de viver em grupo, meu desejo em criar meus filhos sob outras perspectivas, maiores, libertadoras, sem virarem reféns de uma sociedade doente como também minha fé na vida têm possibilitado que eu me movimente, ainda que devagar, nesse longo percurso que é andar na contramão na maré ou totalmente à deriva como já escrevi outras vezes por aqui.

Em tempos de carnaval (adoro!) poder viver essa manifestação de nossa cultura, resgatando nossas memórias, celebrando com os outros, diferentes/iguais, trata-se de uma oportunidade maravilhosa para experimentarmos encontros efetivos com o outro em espaços públicos de maneira lúdica. Ocupar, brincar, transgredir! Quem disse que uma rua só serve para passagem? Por que ela não pode virar palco de uma grande folia?

"O Carnaval de Roma não é propriamente uma festa que se dá ao povo, é antes uma festa que o povo dá a si mesmo". (Goethe)

Com muita alegria tenho visto os blocos de rua voltarem a crescer em São Paulo nos dando a chance de ocuparmos e redescobrirmos um espaço que é de todos e que pode ser experimentado diariamente dessa forma viva. Pois o contrário é o abandono, caracterizando nossa escolha por vivermos em muros altos e isolados daqueles que nos ameaçam por sua diferença, na ilusão falsa e perigosa de uma segurança como sendo o elemento chave para nossa tão sonhada felicidade.

Assim, foi com muita alegria que recentemente levei meus filhos para pularem carnaval numa praça ao som de divertidas músicas, e com alegria dobrada fiquei ao encontrar gente querida, ao presenciar um clima gostoso entre gente que não se conhece, e ao ensinar meus filhos a fazer uma baguncinha - os três mal acreditaram quando viram que podiam jogar confete em qualquer pessoa: em mim, no Luiz, em estranhos, interagindo naturalmente com todos como sonho que um dia possamos viver nesse clima cotidiano.

As festas populares nos permitem reviver nossas infâncias novamente além de nos lembrarem que somos muitos, que não só é possível convivermos juntos como nossa existência faz mais sentido dessa forma. Apesar de nossas diferenças temos laços que nos unem e nos dão motivos para celebrar! Poder experimentar uma experiência coletiva que afeta minha subjetividade e vice-versa é algo transformador.

É possível, inclusive, brincarmos e protestarmos ao mesmo tempo como, por exemplo, muitas pessoas fizeram recentemente num bloco de rua em defesa da creche da USP que vem sendo ameaçada de fechar. Genial!

MANIFESTAÇÃO – corpo coletivo que acontece a partir de subjetividades. Configura-se, ali, um afeto coletivo! Os afetos individuais decorrem dos afetos coletivos... (Peter Pál Pelbart)

Contudo, é bem verdade que tem gente que abusa da bagunça (confesso que alguns episódios de minha juventude me condenam...) fazendo com que nessas formas "perdidas" e perigosas de se manifestar o sentido desta festa possa vir a se perder, fortalecendo assim discursos reacionários para acabar com essa rica festa popular.

No fundo, sempre fico intrigada com a impossibilidade que algumas pessoas usam como desculpa para não buscarem alternativas aos problemas que são de todos nós numa crença infantil de que o mundo feliz é um mundo sem conflitos, esperando por um mundo ideal que não existe. O que existem e sempre existirão são os conflitos, já que por meio das relações vamos nos descobrindo, construindo e reconstruindo, sendo que estes que muitas vezes são positivos, pois nos trazem a necessidade de nos movermos, nos relacionarmos com os outros, nos posicionarmos e ampliarmos nossos pontos de vistas. Por isso mesmo, precisam ser enfrentados com responsabilidade, sabedoria e criatividade, por nós e pelos governantes, para que diante de cada aspecto possamos avançar, decidindo coletivamente sobre quais limites desejamos em nossa convivência, e dessa maneira os mais jovens tenham a quem se espelhar.

Voltemos ao exemplo simples e intenso que meus filhos viveram num bailinho de carnaval e vamos pensar em quanta coisa importante eles não aprenderam nessa experiência... muitas! E se não for para eles que eu vou ensinar o que julgo essencial, para quem vou ensinar? Só para os filhos dos outros, no meu caso, como professora? Não vejo sentido em meus filhos perderem o que de melhor ensino aos meus alunos, que essa vida é boa demais e precisa ser aproveitada, e o que está errado nela, precisa ser consertado - por cada um de nós, ainda que nos custe muito esforço, tempo e paciência!

Desse jeito, mais uma vez, dou potência aos meus alunos e filhos por confiar que eles conseguirão enfrentar as adversidades da vida, podendo contar com meu apoio - de pertinho ou de longe, dependo do caso, e desfrutar de suas próprias conquistas - que também sempre serão um pouquinho minhas.

Em tempos de crises, a mais urgente em São Paulo, a crise hídrica, também pode ser vista como outro exemplo de que nosso modelo de sociedade não deu certo e precisa ser reelaborado. A questão é maior que economizar água por um período apenas. Temos que repensar nossos valores e escolhas, e sermos muito competentes e solidários em busca de outras soluções para que possamos criar outro compromisso com a natureza, com o mundo, com nossa espécie e as demais.

Até o momento estamos perdidos por ausência de comprometimento das autoridades públicas em terem transparência sobre essa situação, contudo, me anima perceber que ao meu redor tenho visto muita mais gente disposta a buscar outros modos de usar a água do que gente presa à ideia de que apenas os outros devem se mobilizar.

Espero sinceramente que possamos aprender com essa crise (e as outras também) para que elas possam ser encaradas como boas oportunidades de avançarmos como sociedade neste planeta que tem pedido (e merece) nossos cuidados. Quem sabe essa, em especial, marque uma nova etapa de nossa civilidade em São Paulo. Sejamos cada vez mais humanos, só desse jeito nos salvaremos!


Segue um texto precioso de Antonio Nobrega, mestre da cultura popular, que me representa e me ilumina nesses tempos de crise.


"Abri a porta do box para tomar banho e me pus de pé dentro de uma bacia colocada bem embaixo do chuveiro. Abri a torneira e à medida que a água começou a me molhar fui logo xampuando os cabelos. Fechei o chuveiro e ensaboei-me todo. Abri novamente a torneira e enquanto a água escorria pelo corpo e cabeleira (…) retirando a espuma, aproveitei ainda para sabonetar o rosto…
Quando terminei toda a operação vi que a água acumulada na bacia já dava pelo começo da canela e que supriria por duas ou três vezes a demanda de água para usar na privada.
E fui me enxugando pensando-perguntando: se fôssemos educados dentro dessa atitude desde o dia em que tomamos banho pela primeira vez, se aprendêssemos desde muito cedo que os “dons” da natureza não são infinitos e que nascemos para viver gregariamente, não nos pouparíamos, nós a nós mesmos, do vexame que passaremos em breve, ainda nós, os moradores da cafeinada cidade de São Paulo?
Tenho para mim que o caso da água é só mais um sinal de alerta sobre quão perdulária é a nossa maneira de conviver com natureza. Não creio que estejamos usando da melhor maneira possível os recursos de nossa inteligência, pois, ao que parece, inflacionamos desmesuradamente a nossa porção cerebral impulsionadora de atitudes e atos inconsequentes, excessivamente individualistas, estúpidos. No caso da água, é bem verdade que o nosso governador não deveria ter sido tão omisso e incivil. Desmereceu a sua função de guardião do estado e da sua gente. Mas não creio que seja unicamente pela via política que a questão pode ser resolvida.
A questão em jogo é muito maior. É um problema de natureza também conjuntural. Um problema do sistema-mundo em que vivemos. Estamos nos educando muito insatisfatoriamente para o exercício da vida em comum! A educação tal como é modernamente concebida não parece querer levar em conta certos aspectos. Falta-nos dar um sentido maior e integral à palavra educação. Caminhamos bem no quesito educação formal. De uma forma ou de outra – aqui, acolá – ela tem prosperado: aprendemos matemática, geografia, tocar um instrumento musical, a nadar, a passar no vestibular, etc. Mas…
Estou pensando numa educação que, embora converse com essa, a ultrapasse, a transcenda. Estou pensando numa educação cultural, humanística mesmo, aquela que leve em conta valores, visão de mundo, sentimento gregário, planetização, etc., aquela que nos ajude a ampliar, abrir as nossas consciências face aos problemas que, não nos iludamos, se não soubermos tratar, nos levarão à ruína… Estou pensando numa educação que nos faça compreender que somos todos parceiros de uma mesma jornada planetária e que se não nos irmanarmos nessa jornada única – tão bela quanto árdua – estaremos fadados a sermos puxados, irremediavelmente sem retorno e remissão, para dentro da boca do vulcão…Pois estamos ao seu redor…
O mundo tal como o conhecemos está desmoronando. Que mundo queremos e podemos (re)construir? Que outra escala de valores teremos de assentar nessa diferente Escola-mundo que almejamos? Que novos exercícios de humanidade teremos de nos impor?
Eram essas as questões que me invadiam enquanto tomava meu banho matinal com menos de um quinto da água que habitualmente utilizava…"

(Também no blog: http://antonionobrega.com.br/a-agua-e-a-boca-do-vulcao/)


E vamos que vamos, enfrentar as crises, com bom humor...

http://sensacionalista.uol.com.br/2015/01/25/cientistas-descobrem-que-marte-ficou-sem-agua-depois-da-gestao-alckmin/

 

 

O sentido da escola, o sentido da vida

Na história do Brasil construímos poucas instituições escolares sérias e comprometidas. Por isso mesmo, na maioria das vezes não vivemos 'na pele' boas experiências escolares, o que certamente interferiu em nossas visões a respeito, e consequentemente, em nossas visões sobre o outro, nós mesmos e o mundo. Uma pena. Ainda bem que ela não é a única porta de entrada a experiências transformadoras!

De todo modo vira e mexe alguns de meus amigos me procuram pedindo orientação sobre escolas. Então resolvi contar um pouco a respeito, expondo de maneira breve meu ponto de vista. Sou suspeita para falar sobre escola, afinal, como pedagoga sou uma defensora dela. Escolhi, não como uma missão como dizem 'Alexandres Garcias' por aí, mas como opção de trabalho que no meu modo de encará-lo também tem a ver com minha opção de vida.

Mas vamos lá...

Vejo alguns amigos não colocando os filhos bebês em escolas porque o pediatra não deixou alegando que a criança não vai sair do hospital por conta do grande contato social. Acho mesmo verdade que pelo intenso contato as chances são maiores de ficarem doentes, mas se estiverem num lugar cuidado isso não é determinante. Meus filhos frequentaram meio período desde os 4 meses e nunca foram parar em hospital por conta disso, agora, nesse processo é importante avaliar o lugar e acompanhar como a criança está reagindo.

Outros amigos não colocam em escola, porque querem que alguém da família acompanhe as primeiras conquistas do bebê. Nesse sentido, cada vez mais tenho tido amigas que tem saído do trabalho por conta da maternidade. Ao meu ver, quando essa é uma opção genuína da mulher trata-se de uma atitude louvável e até mesmo revolucionária em nossa sociedade contemporânea. Já no caso da mãe precisar/querer voltar a trabalhar, cá entre nós, ela pode tanto ouvir de algum familiar ou da professora sobre a conquista que de todo modo ela vai sentir uma alegria imensa como também uma culpa danada - seu desafio será lidar com essa condição da melhor forma possível, porque em geral, acredito que quando estamos bem, nossos filhos ficam também.

Há os que colocam, mas com pena. Sinceramente não acho que um bebê precisa frequentar a escola desde bebê, mas no caso de ser necessário para a família, encontre uma escola bacana e comemore, porque ele vai ter muito mais a ganhar do que perder.

Vejo também amigos 'ralando' um monte para pagar escola para os filhos quando algumas escolas públicas são muito mais grandiosas que algumas particulares.  Minha gente, fujam de 'escolinhas', elas cobram caro e prestam um serviço aquém do que uma criança merece, a pública faz parte de uma rede, tem estrutura, equipe formada com capacitação frequente e tem fiscalização. Qual é o verdadeiro problema que alguns dos meus amigos apontaram nesse caso? Se misturar! Ora, mas a mistura deve ser um princípio de toda escola: lugar de gente, de raças, crenças, classes sociais diferentes. Este é um dos únicos pontos que sinto falta na escola em que trabalho, por ela ser particular. Mas justamente por isso, procuramos cuidar para promover outros encontros nesse sentido. Viva a diversidade, e melhor lugar para se aprender isso é na escola, o primeiro espaço público que a criança frequenta na vida. Um espaço público que é transitório, de preparação, mas também de vida em si, cuidada e potencializada. Um espaço da criança.

Amigos que acham normal e fofo chamar a professora de tia e não pelo seu nome... TIA não! Somos professoras, pedagogas e/ou educadoras. Não somos missionárias, temos formação e somos trabalhadoras, queremos e merecemos esse reconhecimento que também precisa vir via uma melhor remuneração. Ser chamada de tia desvaloriza nosso trabalho, por isso, se infelizmente a escola de seu filho ou sua filha ainda chama as professoras de tias e ela tem outras qualidades que compensam, por favor, mesmo assim chame a professora pelo nome dela e aproveite para parar de colocar diminutivo em tudo que faz parte do universo infantil (escolinha, amiguinho, trabalhinho...).

Outros acham que as crianças tomarem banho de sol por 15 minutos é suficiente (como diz o Luiz até presidiário tem direito a mais tempo ao ar livre) - o normal é que as crianças tenham muito tempo para brincadeiras e pesquisas exploratórias e quanto mais em contato com a natureza melhor.

Amigos que não sabem (absolutamente normal não saber disso, eu só sei porque estudei essa questão!) que na educação infantil, principalmente, não é necessário investir em lições e formalizações da alfabetização muito menos em outros aspectos (outro dia vi uma escola de educação infantil fazendo propaganda de 'educação robótica e financeira'!!!). Importante mesmo, nesse momento, é uma vivência intensa das crianças nas diversas situações reais de uso da língua além delas poderem expressar-se em linguagens diversas sendo acompanhadas por um professor que lê suas pesquisas para alimenta-las. No primeiro ano do ensino fundamental as crianças já presenciaram muitas ações sobre as práticas de escrita e leitura e elaboraram suas hipóteses, sendo que na escola deve-se potencializar essas situações ao planejar e criar propostas formais do uso da língua, construindo um repertório comum de nomes e refletindo sobre nosso sistema alfabético para paulatinamente cada criança avançar com seus recursos e seu tempo.

Escola em período integral exige uma grande reflexão e maior comprometimento com a escola que não precisa oferecer mil e uma atividades, e sim um tempo a mais para a criança ampliar suas possibilidades. Outro dia uma amiga me contou orgulhosa que paga cursos extras para a filha fazer durante o próprio horário de aula e achei esse esquema sem sentido, afinal, ela paga por dois cursos no mesmo horário além de me parecer que nesse caso a criança não aproveita intensamente nem um nem outro, e cá entre nós, viva o tempo livre, o tempo da experiência, o tempo com tempo, o tempo de ser criança!!! As crianças atualmente andam com a agenda lotada, cansadas, estressadas.

Preocupações com vestibular quando bebês, socorro! Tudo ao seu tempo. Por isso escolhi a concepção construtivista, porque procura respeitar o tempo de aprendizagem de cada criança. O cuidado é que tem escola que se diz construtivista e não é, na verdade abandona a criança com suas hipóteses sem propiciar vivências de referências e ampliações. Por outro lado, tem algumas escolas tradicionais, sérias, que por serem tão cheias de referências algumas vezes ajudam bastante seus alunos. O mais importante é buscar escolas comprometidas com as histórias de seus alunos e alunas que não mate o que está por vir de cada um deles. Há tanta boniteza em cada criança, ela precisa ser vivida, sentida, e no seu devido tempo será aflorada.

Também vejo meus amigos em busca de uma escola perfeita, pois sinto informar, não existe. Também não existe um modelo único como excelência, até porque somos diferentes então a escola também precisa ser em parte ajustável aos seus alunos. Aliás é importante considerar o quanto a escola tem escuta para os pais que contribuem de maneira positiva para a formação das crianças e da comunidade,  e o quanto busca o encontro com cada um e com todos.  Assim, em cima dos critérios que julgamos importantes buscamos aquelas que nos satisfazem, que nos deixam tranquilos e seguros, e no decorrer dessa parceria positiva vamos nos colocando para promover avanços em nossas relações e nas estruturas da escola. Quer exemplo melhor para nossos filhos aprenderem nos vendo construindo juntos com a equipe escolar um modelo de espaço educativo? Ressaltando que como toda relação trata-se de uma construção constante. Se está aflita, insegura, insatisfeita, busque os canais apropriados e de um jeito positivo coloque suas questões para tentar em parceria encontrar algumas soluções.

Nesse tempo de início das aulas, sugiro aos meus amigos e amigas que mesmo já tendo escolhido há tempos a escola de seus respectivos filhos repensem a relação que vem mantendo com esse espaço e se esforcem para aproveitar ao máximo dessa vida coletiva. Por exemplo, não façam visitas surpresas à escola para conferir se as crianças estão bem - a confiança do adulto por aquele espaço precisa ser construída em cima de outras maneiras como com conversas com equipe, porque disso depende que a criança se sinta segura. Se necessário, para que a criança fique bem nesse espaço, fique por um tempo de adaptação e, aos poucos, sinta-se segura para enfrentar os novos desafios.

Nesses momentos, não tire fotos da criança quando ela estiver envolvida numa atividade na escola, pois no caso de ser necessário o adulto ficar ali lembre-se que está lá apenas para ajudar a criança a ficar bem naquele ambiente; tirar fotos, conversar, se oferecer para ajudar ao invés de encaminha-la para um adulto da escola tira a potência da criança de que ela é capaz de lidar com uma nova situação. Hoje em dia a maioria das escolas tem disponibilizado fotos em seu site - tomando os cuidados em expor demasiadamente as crianças. Se na escola de seu filho ou sua filha não tem, vale esse pedido. Não de relatório completo prestando conta, mas a escola tendo a responsabilidade de ampliar olhares de todos sobre o que de essencial se vive naquele espaço. Por exemplo, no primeiro dia de aula da minha escola o mural estava repleto de fotos e dizeres sobre o cuidado de toda equipe com essa chegada dos alunos e alunas, assim tinha funcionário varrendo, organizando as salas, professores fazendo reuniões, estudando, planejando, organizando o espaço. Na semana seguinte trocamos as imagens por outras que contassem dessa chegada efetiva, os abraços de crianças em seus pais, os primeiros olhares para a nova professora, as primeiras brincadeiras. Dessa forma, instaura-se no ambiente um clima acolhedor e todos, mesmo os que não aparecem nas fotos, sentem-se representados, porque é isso que a escola está declarando.

No caso de um sofrimento grande de nossa parte, é mais produtivo mantermos a pose para a criança e depois, com calma, nos espaços devidos, elaborarmos esse nosso sofrimento seja de não confiar seja de se sentir preterido na vida do filho que está crescido e não precisa mais tanto da gente e se envolve tão facilmente com outros adultos. Essa é mais uma maravilha que esse espaço proporciona às crianças: um espaço dela no qual as relações e tudo mais será construído a partir de seu próprio investimento, e consequentemente a maravilha para a gente - que também aprende nesse processo, é comemorar as conquistas de nossos filhotes, cada vez mais capazes, potentes e felizes.

Nesse tempo de adaptação que ano a ano é de um jeito, porque vamos nos transformando, é bom lembrar que é um tempo de chegada que é de todos nós e que vale ser cuidado... e aproveitado! Para que seja um processo de alteração quando a partir da minha relação com o outro nós nos alteramos.


"Processo de adaptação, nunca termina, está reiniciando-se sempre. sempre envolvido pelo medo do novo, que mexe com um pedaço meu que começa a nascer. Esconder-me, lamuriando-me ou vangloriando-me de tudo que já sei, fugir..., não levará ao enfrentamento das dores das contrações que o parto provoca.

Às vezes, faz-se necessária a intervenção de um bisturi afiado de educador, uma cesárea... para a vida, um novo conhecimento nascer.

Toda essa dor, toda essa ansiedade, esse medo traz a alegria, a emoção e o prazer de ver a cara da criança. Ter o recém-nascido, o novo conhecimento nas mãos." (Madalena Freire)


Esse trecho é maravilhoso por um monte de motivos, mas um deles, em especial, quero chamar a atenção: precisamos ajudar as crianças a aprender que para algumas aprendizagens, é necessário esforço! Estamos vivendo um tempo, em que tudo parece acontecer de forma instantânea, quase mágica, e na maioria das vezes sem esforço perceptível. Com isso, a ideia de processo, de conquista, de empenho está enfraquecida. Precisamos ajudar as crianças a construir essa noção e temos, no processo de aprendizagem e na construção das relações criança/criança, entre o grupo, criança/professor, família/escola, ótimas oportunidades para isso.

Por fim, compartilho um vídeo sensacional de um astrofísico renomado Neil de Grasse Tyson que responde a um garoto de 6 anos uma das maiores questões da humanidade de um jeito simples, profundo e maravilhoso: "Qual o sentido da vida?". Para a gente pensar que tipo de escola queremos e qual educação faz a diferença na vida de nossas crianças (seja na escola ou em casa).

Eu já escolhi, e a cada dia que me encontro na escola seja como pedagoga seja como mãe me delicio com os sorrisos, perguntas, ideias, gestos e afetos de meus alunos e filhos.