segunda-feira, 30 de março de 2015

Compras de Páscoa

Para aqueles e aquelas, que por diferentes motivos, veem sentido em comemorar a Páscoa, domingo que vem, dia 5/3, será o grande dia. Vale pensar sobre os motivos que nos levam a participar ou não desta ação e sobre o consumo que a envolve.

Outro dia vivi uma cena com meus filhotes que quero compartilhar:

Aqui em casa, é difícil liberarmos televisão para as crianças, e quando permitimos, cuidamos muito da qualidade do que assistem. Assim, quando chega a hora do intervalo, se não é um canal comprometido, eu desligo até voltar o programa, justificando para eles que as propagandas não são apropriadas.

Outro dia, num momento de descuido, os 3 foram ao meu encontro pedindo para eu comprar danoninho, e logo entendi que tinham acabado de ver a propaganda deste produto. Olha o perigo! Em seguida desliguei a televisão alegando que quando eles assistiam aquilo ficavam querendo comprar o que não precisavam e isso era um grande problema: a propaganda mandar na gente!

Eis que Mateus, em seus primeiros exercícios de reflexão, me disse: "É... Na propaganda eles ficam falando 'compra, compra, compra. Compra carrinho, Danoninho, ovo de Páscoa com brinquedo'. Nada a ver."

Maior orgulho desse meu filho!

Nossa conversa ainda continuou sobre o quanto que ter um brinquedo dentro do ovo também é só para a gente, 'comprar, comprar, comprar'... sem pensar! E claro, sobre o que para mim, hoje (sim, já tive muitas opiniões a respeito) significa celebrar a Páscoa: ter mais uma chance de estar junto de quem a gente gosta, de demonstrar que gostamos, de sentir que somos gostados. Qual o perigo? Acharmos que é só por meio de presentes comprados que essas manifestações de afeto acontecem.

Outra cena de dar orgulho:

Luiz: "Meu aniversário está chegando Mateus, você vai me dar um presente?"
Mateus: "Vou!!! Vou te dar um beijo e um abraço!"

Isso significa que daqui para frente Mateus vai querer apenas o que precisar? Claro que não!!!

Somos todos seres de desejos, incoerentes e vivemos numa sociedade que se aproveita disso para lucrar, portanto, este é um desafio que todos nós vivemos constantemente. De todo modo, acho que para ele, ter a chance de aos 4 anos perceber que essas relações não são dadas, são construídas e que podemos nos posicionar a respeito, pois somos cidadão antes de sermos consumidores, são grandes ganhos.

Mais uma cena:

Estava grávida dele quando fui a uma loja de bebês fazer uma lista do que precisaria comprar para a sua chegada. A moça me atendeu secamente, com uma lista pronta, dizendo que aquilo era o mínimo que toda mãe deveria ter. Fui embora chorando, achando que não daria conta de ser mãe, porque não sabia o que significava a maior parte dos itens da lista que eu "deveria" comprar muito menos se teria dinheiro para adquirir tudo aquilo!

Ainda bem que passado o nervosismo do momento, com a ajuda de Luiz, consegui perceber o quanto não fazia sentido eu me sentir assim por esse motivo. Estava me preparando para ser mãe e não uma compradora de coisas de bebês. Há uma grande diferença!

No decorrer do processo, com conquistas e deslizes, fui conseguindo bancar mais minhas escolhas genuínas, principalmente quando alguém vinha me dizer que EU TINHA QUE TER determinada coisa. Quando me falavam isso, já ficava receosa e me colocava a pensar se precisava mesmo ou não daquilo, dentro da perspectiva de que somos todos tão diferentes que não é possível as coisas só funcionarem de um jeito único. Você pode compartilhar sua vivência, mas sem querer coloca-la como padrão, outra coisa que nossa sociedade de consumo faz o tempo todo. Vamos nos beneficiar de nossas diferenças, nos alargar, nos arriscar, nos posicionar.

Como já dizia Lucas, um ex aluno meu: "A gente não é TER humano, mas SER humano".

Tá bom, confesso que em minha trajetória, algumas vezes por conta da birra infantil que peguei dessa frase "TEM QUE TER" eu deixei de adquirir coisas que provavelmente teriam facilitado minha vida. Faz parte do aprendizado...

Já outras vezes vivi situações interessantes como em relação aos vídeos da Galinha Pintadinha, os quais principalmente por esse motivo optei não comprar para meus pequenos. E não fez falta não. Primeiro porque foi menos tempo de minhas crianças na frente da televisão e mais tempo brincando e segundo porque elas aprenderam todas essas músicas de domínio público nas diversas interações que mantém. Assim, para mim, foi um posicionamento claro, um dos primeiros que fiz como mãe, sobre nossa responsabilidade para com as crianças sobre o consumo infantil.

Por isso, na Páscoa e sempre, vale a reflexão: compre o que você precisa, e cuide das crianças começarem a se aproximar dessa ideia de que somos sujeitos ativos e não passivos em nossa sociedade, a qual inclusive, um dia pode vir a configurar-se de outro jeito, em cima de valores mais éticos, estéticos e democráticos.

Nesse sentido, desejo boa Páscoa para você! Que a renovação da vida celebrada em família, para mim a essência dessa comemoração, faça parte de seu dia a dia para que por meio de experiências estéticas e coletivas como essas, para que possamos ganhar mais forças de voarmos em liberdade.

Por fim, segue (mais uma vez) um vídeo essencial e sempre atual a respeito "Criança, a alma do negócio", promovido pelo Instituto Alana:


Outros relatos: Luiza Gaia


 

 
"Era uma sexta-feira qualquer, o cansaço habitual, a emanencia da pausa, o balanço de como foi a semana... Mais uma chegava ao fim, tão trivial e óbvia quanto o macarrão a bolonhesa que a celebra. Eis que uma notícia surge e muda o rumo, um feixe daquela tal " horinha de descuido" interrompe a minha previsível melancolia:
" mamãe aprendi a pular corda"
Os olhinhos brilhantes, o corpo presente, dilatado, todo imerso transbordando aquela experiência . Ela renascia. Eu também.... Quando seu horizonte amplia, o meu também se renova. Suas conquistas me deslocam.
Aquela notícia me atravessa, colore meu dia e minha vida, me presenteia e preenche de orgulho e esperança.
Talvez a felicidade seja isso, um pulo infantil que interrompe meu "modo operandis". A possibilidade de transitar entre pontos de vista.... Pluriverso.
Era para ser mais uma sexta-feira. Mas não foi. Que bom!" (Luiza Gaia)



Relato lindo da Luiza que precisei compartilhar, já que me reconheço completamente em suas palavras carregadas de emoção. Não só porque recentemente também me encantei com meus filhotes interagirem com uma corda, mas principalmente porque Luiza fala da (preciosa) oportunidade de presenciarmos as conquistas de nossos filhos ao mesmo tempo em que resgatamos nossa meninice de outrora, o nosso pulo infantil que certamente, quando aconteceu em sua plenitude, nos permitiu dar novos pulos na vida. Assim, conseguimos valorizar o dia de hoje, que como Luiza diz, não é só um dia e sim a possibilidade de ampliarmos nossos horizontes, transitarmos por outros pontos de vistas, renascermos, para então projetarmos um futuro mais colorido, cheio de esperança nessa vida que se renova.

Essas são as maiores belezas de se ter filhos e/ou conviver com outras crianças: sentir-se parte de um ciclo, conectada às pessoas, as melhores pessoas, pertencente a um grupo, a muitos grupos, à cultura, a um universo, um pluriverso, ampliar nossos horizontes, e ver assim mais sentido na vida. Uma vida feliz simplesmente por ser repleta de pulos e cambalhotas.

"As crianças não brincam de brincar.
Brincam de verdade."
Mario Quintana

Nesta mesma sexta-feira, por exemplo, também tive a oportunidade em me perceber em mais um dia especial, justamente por ser um dia como todo dia: meus 3 pequenos se organizando sozinhos para um esconde-esconde na praça, brincando e brigando como fazem cada vez mais. Ao fim do dia, Mateus trouxe para casa a lista de brincadeiras preferidas de seu grupo e qual minha surpresa ao ver ali presentes algumas que eu brincava quando criança e nem sonhava que ele já brincava ou conseguisse me explicar as regras e estratégias. Além disso, me encantei igualmente com minhas meninas... Isabel, aos giros e rodopios com suas saias, mexendo o corpo ao som de cada ritmo cantado por Carolina que cada vez mais se diverte com as cantigas que aprende.

Por falar nisso compartilho uma cena engraçadinha de trocas de aprendizagens por aqui:

Mateus ensinando a gente uma brincadeira cantada: "Bambu tira bu, Arauera, Mantegueira, tirará a (nome da pessoa escolhida para fazer parte da corrente humana que anda pelo espaço) para ser Bambu". Nesse momento ele menciona Carolina que logo reage: "Não, eu não quero ser bumbum!"

Bom dia a todos e todas, que hoje seja mais um dia se redescobrir nesse mundão e ver sentido na vida. Para alargar nossas ideias e sentimentos segue, mais uma vez, a palestra com o astrofísico Neil deGrasse Tyson. Maravilhoso... e viva as bateções de panelas das crianças, essas sim, as verdadeiras manifestações revolucionárias de panelaços!!!


  

quinta-feira, 26 de março de 2015

Prêmio Excelência Mulher... Uma homenagem a Maria Cecilia Lins

O Prêmio Excelência Mulher, criado em 2005 pela Fraternidade Aliança Aca Laurência e apoiado pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo - Diretoria Distrital Sul, é considerado o evento mais importante em homenagem à mulher no Estado de São Paulo.
Em sua 11ª edição (2015), este prêmio - com a finalidade de reconhecer mulheres que se destacam em suas atividades, em serviços sociais e filantrópicos - homenageará em solenidade em grande estilo 50 mulheres muito especiais. (www.redesemfronteiras.com.br)
 
 
É com grande alegria que compartilho com vocês que Maria Cecilia  de Almeida e Silva Estellita Lins foi uma das grandes homenageadas deste evento. Parabéns, minha querida amiga, você merece esse prêmio por todo seu compromisso com a ampliação da ONG Pró Saber para além do Rio de Janeiro, idealizando e construindo um espaço educativo transformador em Paraisópolis (SP), o porto seguro de muita gente, a 'nossa casa'.
 
Utilizando como premissa as palavras de Mário Quintana: "Democracia é dar a todos o mesmo ponto de partida", "O Pró-Saber SP sonha ser um território de paz, de solidariedade, neste país onde as diferenças de oportunidades oferecidas para cada cidadão brasileiro ainda é uma imensa injustiça." (www.prosabersp.org.br)
 
Essas e tantas outras sábias palavras preenchem o ar e inspiram todos que adentram o pequeno portão de entrada e logo se deparam com um amplo mundo de possibilidades que acontecem nesse espaço. Neste encontro, cada um demonstra reações diversas, porque ficar indiferente, é impossível. O chão pisado por muitos pés constroem o ambiente como também indicam o lugar real onde cada um está e o lugar imaginário, onde pode-se chegar, caso exista coragem para se movimentar... junto! As relações acontecem no olho a olho como única forma de  se criar respeito, solidariedade, incentivos, contornos. As histórias que constituem as subjetividades de cada parte como do coletivo dão sentido, identidade e verdade ao projeto e a cada sujeito que escolhe fazer parte da história da instituição.

Por 6 anos minha história esteve diretamente atrelada ao Pró Saber, e dessa relação vivenciei inúmeras experiências que marcaram profundamente minha vida. Lembro-me tanto de uma de minhas primeiras conversas com Maria quando ela me pedia para eu mergulhar no projeto. E eu mergulhei...fundo!!! O que não foi um processo fácil, uma vez que exigiu de mim despir-me de muita coisa que estava me pesando, abandonar partes de mim, descobrir-me outra, estranhar esse novo, e finalmente, gostar desse novo, experimentando alguns preciosos momentos de me maravilhar com minha potência aliada à potência de outros em direção à construção genuína de maneiras distintas de se viver e conviver.
 
Tive a oportunidade de reconhecer por meio de relações que gente, é gente igual em qualquer lugar. Gente, é gente única em todo lugar. Gente nasceu para brilhar, e gente dá saudades...     
 
Maria é a grande responsável pela concretização desse espaço e sou apenas uma dentre as muitas pessoas que mergulharam no projeto e saíram transformadas. Minha história com esse espaço não se encerrou na medida que Luiz continua firme e forte por lá e na crença de que laços verdadeiros não se rompem, se reconfiguram...

Em minha trajetória foi mesmo um privilégio ter convivido com ela que também é para mim uma super referência em outros papéis que desempenha, porque acima de tudo, Maria é gente que acredita em gente e que faz a diferença na história de muita gente, porque ela não é indiferente às histórias dos outros e aos outros que nos habitam sempre. 

Muita história bonita nasceu neste projeto graças ao seu sonho e suor. Aqui caberia um enorme memorial de depoimentos sobre o significado desse projeto na vida de cada um. Por isso, convido outros a também manifestarem a experiência no Pró saber. Um projeto que busca dar lugar a cada sujeito por meio de conhecer o lugar de cada um, a casa, os desafios, os sonhos, a construção conjunta. Na certeza de que ter lugar é ser humano e esse mundo é de todos nós!
 
Mulher porreta e sensível essa! Maria!!  Ainda mais orgulho de ti. Parabéns, parabéns, parabéns!!! Comemora muito e que venham muitas outras conquistas. Estamos sempre juntas, parceira de sonhos.
 
 

"A Equipe Pró-Saber SP, amigos e familiares compareceram ao evento para prestigiar, aplaudir e agradecer essa mulher incrível que transforma o Brasil com educação de qualidade!" (https://www.facebook.com/ProSaberSP?pnref=lhc)

domingo, 22 de março de 2015

Vitória da família brasileira

Outro dia recebi uma mensagem, via corrente, que pedia o boicote à novela Babilônia da TV Globo, em defesa da família brasileira, uma vez que a mesma irá retratar o amor de duas mulheres. Respondi que até poderia aderir ao boicote por uma série de motivos, mas por esse NÃO. Em seguida, uma pessoa por perto disse: "É que tudo bem já terem falado de homossexuais em novelas, mas agora já chega, né?".

São exemplos como esses que revelam o quanto ainda estamos longe de nos respeitarmos em nossas diferenças e o quanto os preconceitos aparecem camuflados em nossas falas e atitudes, inclusive para as próprias pessoas que o carregam, um perigo! Continuando a conversa, a pessoa ainda disse: "Não tenho problemas nenhum com homossexuais. Preferia mil vezes ter um filho gay do que mau caráter!".

Socorro, minha gente!!!

Vamos nos libertar por uma família brasileira sem rótulos e repleta de muito afeto!!!!




Uma notícia boa a esse respeito, para apaziguar meu dia, e para sinalizar que paulatinamente estamos avançando na construção de uma sociedade mais ética:

"Ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármem Lúcia, manteve decisão que autorizou a adoção de crianças por um casal homoafetivo do Paraná. Para a ministra o conceito de família não pode ser restrito por se tratar de casais homoafetivos. Leia aqui: http://goo.gl/896ZEb"

PS: Homoafetivos adotoram uma criança que heterossexuais não quiseram, porque (só para frisar) sexualidade não tem nada a ver com caráter!!!

Seguem, por fim, algumas sábias palavras do Dr. Dráuzio Varella...

sexta-feira, 13 de março de 2015

Manifestações de domingo

Tenho muitas críticas ao PSDB e ao governo de Dilma Roussef (é possível, sabiam?), e neste domingo, não vou à manifestação contra o atual governo. Explico...

O foco desse movimento tem sido o pedido de impeachment da presidente, infundado até o momento, uma vez que não existem provas de sua ligação com algum esquema irregular. Sendo este o foco, o considero antidemocrático, uma vez que iniciou-se no dia seguinte às eleições, sem respeitar as regras (conquistadas), em que a maioria ganha, e de um jeito desinformado, pois me parece que as pessoas estão achando que no caso desse acontecer, o Aécio vai assumir, o que não procede.

Aqui, uma pausa...

É comum as crianças pararem um jogo, justo no momento em que perdem, alegando, sem ter provas, que houve roubo por parte do adversário ou então reclamarem quando perdem uma votação.

Outra pausa...

Durante a resolução de uma briga entre Mateus e Carol, com minha mediação:
Mateus: "É que eu bati a cabeça dela na parede."
Eu: "E é assim que se resolve os problemas?"
"Não."
"Eu posso fazer isso com você?"
"Não."
"Então por que você pode fazer isso com ela?"
"Por que eu não sou adulto."

Essa conversa continuou, mas voltando à reflexão inicial...

Se esse movimento fosse responsável para com as regras democráticas que vivemos não agiria igual às crianças pequenas - que estão em seu tempo adequado para aprenderem a lidar de outros jeitos mais construtivos diante da complexidade de desafios que vivem em seus desejos não atendidos e nos conflitos relações, e para isso, precisam de reconhecer-se como aprendizes contando com bons modelos dos adultos ao redor (de certa maneira, também sempre aprendizes), ensinando o exercício do diálogo como via potente dessas e de outras questões, organizando, por exemplo, passeatas (legítimas, ainda bem, em nosso regime), expressando a insatisfação por meio de argumentos políticos, avançando em como reagir diante de situações adversas em busca de uma sociedade mais justa, ao contrário de agir num clima cada dia mais intolerante às divergências, sem compreender os tempos e construções históricas, e então, quem sabe assim eu participaria...

Se esse movimento reivindicasse o fim da corrupção de maneira ampla, considerando que desde a chegada dos portugueses ao Brasil uma exploração sem fim aconteceu às populações indígenas, negras, mestiças, imigratórias, sertanejas e que os privilegiados, de maneira geral, se beneficiaram deste sistema, ao contrário de focar no ataque único, cego e cheio de ódio a um partido, como único responsável por nossas desgraças, quem sabe assim eu participaria...

Se esse movimento questionasse o muito que o governo petista se comprometeu a fazer e não fez, deixando de construir importantes reformas políticas a este sistema falido desde o princípio, para que o mesmo pudesse se reerguer em cima de bases mais justas, com uma pauta séria de reivindicações que contemplasse todos e todas brasileiras, ao contrário de se dedicar a criticar o pouco de mudanças positivas que esse governo proporcionou à nossa sociedade, propiciando maior acessibilidade das camadas mais pobres e criando uma nova realidade social em que convivemos de maneira um pouco mais misturada, com mais gente conseguindo sonhar e lutar pelo que sonha, quem sabe assim eu participaria...

Se esse movimento se posicionasse efetivamente contra todas as formas de violência, explícitas e implícitas, que as minorias da sociedade, principalmente, ainda hoje sofrem, de forma a transformar nossos símbolos e nossa realidade, ao invés de reproduzir comportamentos violentos, machistas e retrógados, xingando a presidente de vaca, vagabunda, desqualificando-a como uma mulher que pode dirigir um país e responder politicamente e seriamente pelo mesmo, em pleno Dia Internacional da Mulher ou então concordando com falas como as de Bolsonaro, quem sabe assim eu participaria...

Se esse movimento fosse inspirado no novo, apresentando alternativas políticas positivas e transformadoras, ao contrário de defender ou acreditar ingenuamente que o que é apresentado como mudança carrega na verdade, o que há de mais velho e podre na política brasileira, comprometido apenas com a manutenção deste sistema injusto, quem sabe assim eu participaria...

Se esse movimento fosse revolucionário, propondo mudanças verdadeiras em nossas paradigmas, focado sem ser modelo aos mais jovens, em busca das utopias, de avançarmos em nossa ética e moral, ao contrário de justificar suas ações conservadoras em outras ações, também conservadoras ("ah, mas a presidente mereceu ser xingada", "ele falou que ela merecia não merecia ser estuprada só para ofendê-la", "é só uma piadinha", "um detalhe", "a gente xinga também os juízes de futebol", "hoje em dia não dá mais para ser politicamente correto", "ninguém mais quer trabalhar"), fazendo pacto com o que há de melhor na sociedade e não com o que há de pior, dispondo energia e empenho para consertar o que está errado e livrar-se de nossos preconceitos que dificultam nosso diálogo, mantendo a esperança em nós, como sujeitos ativos, nos outros, que em suas diferenças nos engrandece, na política como uma via possível de possibilitar a boa convivência, no mundo, com um vasto mundo de possibilidades, algumas até mesmo que nem ousamos sonhar ainda, na vida, como aquela que temos que cuidar e preservar, a fonte vital de nossa existência, enfim, numa luta que precisa ser guiada pelo amor e não pelo ódio, quem sabe assim eu participaria...

Se esse movimento fosse comprometido com a vida, cobrando também de nosso governador Geraldo Alckmin sobre a escassez de água que estamos vivendo em São Paulo, em grande parte por falta de investimentos do governo na ampliação da captação de recursos e transparência à população das escolhas questionáveis feitas pela SABESP (uma das empresas que mais lucram no país) e na condução dessa crise como oportunidade de lidarmos de uma maneira mais sustentável com nosso bem maior, ao contrário de defender a volta da ditadura militar, criando um clima parecido como em 1964 e que deixou tantas feridas em nossas vidas, tantas mortes em nossa história, quem sabe assim eu participaria...

Se esse movimento fosse comprometido com nossa história, olhando todos os aspectos de nossa trajetória, disposto a não cometer os mesmos erros, mas outros, como inevitavelmente faz parte de todo processo de construção, ao contrário de alardear falsamente que hoje em dia nossa vida é muito pior, desconsiderando em nossos tempos o enorme bombardeio de informações vindas de uma grande mídia irresponsável e nossa maior conscientização dos atos de barbárie, buscando assim avaliar com calma e profundidade todas nossas conquistas e ainda nossos desafios, quem sabe assim eu participaria...

Bom, mas não ir a essa marcha é uma decisão minha. Acho que aqueles que veem nela uma oportunidade de manifestarem suas indignações por esses motivos ou outros, os quais inclusive são imbuídos do que coloco aqui, de compromisso, responsabilidade, esperança, transformação, ética, devem ir, sim. Essa é uma das maravilhas da democracia. E levam de mim, meu apoio e dois pedidos especiais...

Aproveitem para se banhar desse mar de cidadania que uma manifestação pode nos proporcionar, reunindo seus argumentos políticos em busca de uma sociedade mais justa, porque essa precisa ser a principal pauta de nossas reivindicações: que tipo de sociedade queremos viver, o que está bom e precisa ser mantido, o que precisa ser jogado fora para sempre e o que pode ser reaproveitado, aproveitando de uma ampla gama de pontos de vistas. Trata-se de um momento tão poderoso que no caso desse movimento, em especial, exige dos ativistas um grande cuidado para com aqueles oportunistas que se aproveitam desse clima de histeria para instaurar a necessidade da segurança (falsa) de um golpe como assim fizeram há 50 anos.

Não precisamos viver esse capítulo da história novamente. Já sabemos como termina: em muita violência e sem podermos pleitear, daqui a quatro anos, o governo com o qual sonhamos.

Em meio a esse cenário, meu otimismo continua intacto...

Ao contrário das críticas de muitos, com suas análises preconceituosas sobre a elite envolvida nesse panelaço, reproduzindo um preconceito às avessas (ora, se lutamos por políticas públicas para todos e todas, porque a elite seria excluída a priori? Uma elite que agrega muitos trabalhadores e que sob alguns aspectos, nesta nossa realidade social, também me incluo), acho bastante interessante essas e outras mais pessoas ocuparem as ruas das cidades, com suas reivindicações, para experimentarem o poder de uma experiência coletiva, se misturando em meio à massa num grito comum ou em muitos gritos - me parece que tem gente que não está nessa onda histérica, e apenas está vendo ali um meio de mostrar a insatisfação geral.

Exercício constante de tolerância para todos nós, porque nos afundamos em ataques uns aos outros não vai ajudar. Vamos todos nos encher de argumentos, dialogar e nos tombarmos diante de outro, não no sentido de passividade, mas de consideração a um outro ponto de vista que pode alargar o meu, de sairmos dessa polarização. Que visão pequena de mundo onde só existem petistas e anti-petistas! O mundo é maior, minha gente, nós somos maiores. Nós podemos e queremos muito mais.

Assim, como ser contra alguém se manifestar? Não posso ser a favor de uma prática da ditadura, da repressão ou marginalização do diferente. O diferente me alarga, me possibilita ver o mundo amplo, ainda que seja desafiador, somos seres humanos, cheios de desejos, paixões, amores e desamores, incoerências. E temos de seguir em busca de movimento. Nesse sentido, ir às ruas para manifestar-se é realmente muito transformador ao podermos nos juntar a um grupo, num espaço público, e clamar por maior qualidade de vida A TODOS E A TODAS.

Quanto mais todos experimentarmos experiências de sentido como essa, mais ganhamos, mais nos abrimos ao invés de nos fecharmos, porque aí sim temos uma abertura para um encontro. Um verdadeiro encontro de olho no olho, de cheiro, memórias e sentimentos. Não do outro que pensa igual a mim, nem do outro que luto para que seja também igual a mim, mas do diferente que me comove, suscita em mim sentimentos e pensamentos de todos os tipos. É preciso coragem!

Guardo marcas profundas em minha trajetória de vivências desse tipo... Lembro, por exemplo, de uma vez em que a Polícia Militar, de maneira violenta, nos tirou o direito de reivindicarmos em defesa de uma Educação de qualidade. Num próximo ato, nos juntamos novamente no Palácio do Governo e levamos flores a cada policial presente. Lindo demais! Afinal, "gentileza gera gentileza".

Quem sabe assim, por exemplo, com a vivência da manifestação de domingo, muitos não passarão a olhar para nossos espaços públicos de outra maneira revendo seus conceitos sobre as ciclovias, as faixas de ônibus e de pedestres, as praças, o carnaval de rua, nossos modos de viver e conviver e as manifestações de outros grupos, afinal, a cidade é de todos nós. Tanto é de todos que as questões a serem melhoradas em cada um desses pontos, precisam ser palpitadas e revistas por todos nós juntos, pensando em prol da comunidade.

Estamos num momento em que esta pode ser uma ótima oportunidade para avançamos em nosso maior desafio humano: ser cada um, num todo. Superarmos o desafio de não ver no outro, diferente, um inimigo. Tarefa nada fácil, e cada vez mais urgente, principalmente quando vejo meus alunos e alunas vivenciando conflitos, para além daqueles que fazem parte de seus processos e são saudáveis, vivenciando também outros que não são deles, mas dos adultos. Vamos ser modelos, inclusive, sendo modelos de que somos aprendizes nesse difícil, mas necessário exercício do diálogo político.

Por isso, no domingo, dia 15, eu vou a uma manifestação, mas outra... e aproveito para fazer o convite, para todos e para todas!

"Numa democracia, todo dia é dia de se manifestar, de cobrar, de se fazer ouvir. Alguns dias, porém, oferecem possibilidades maiores do que outros. Dia 15 é um deles: é para 15 de março que está marcado um evento inédito, fundamental para a consolidação e aprofundamento da nossa democracia. Dia 15, faremos história. Dia 15, seremos ouvidos. Dia 15, não iremos calar…
Dia 15 é dia de votar nos conselheiros do Conselho Municipal de Política Urbana de São Paulo \o/ (http://goo.gl/UmGB82)
Pela primeira vez na história, nós paulistanos poderemos eleger pelo voto direto 34 dos 60 membros do CMPU! Antes, todos os membros eram indicados pelo prefeito. Entendem a enormidade disso?
Nesta eleição, estão concorrendo representantes da sociedade civil em 5 segmentos: movimentos de moradia; associações de bairro; entidades acadêmicas e de pesquisa; ONG; entidade religiosa. Cada eleitor pode votar em apenas um candidato dentre esses vários segmentos. Lista com todos os candidatos: http://goo.gl/cw5xYk
Para votar, basta comparecer ao seu local de votação munido de documento com foto e título de eleitor (ou número do título). Para descobrir qual é seu local de votação, acesse: http://goo.gl/R12NBy". (Camila Pavanelli de Lorenzi)


Por fim, segue um artigo que acho bem pertinente para resgatar nossa responsabilidade para com os mais jovens e com os rumos de outra sociedade que queremos criar. "Ontem ensinamos aos nossos filhos uma grande lição", de Roberto Tardelli.

http://jornalggn.com.br/noticia/ontem-ensinamos-aos-nossos-filhos-uma-grande-licao-por-roberto-tardelli#.VP9a1_Sy0qQ.email


terça-feira, 10 de março de 2015

Em defesa da família

Morreu o jovem Peterson Ricardo de Oliveira, de 14 anos, que estava em coma desde a semana passada após ser agredido em Ferraz de Vasconcelos, Grande São Paulo, por ser filho de um casal de homossexuais.


Sem palavras para exprimir o que senti ao receber tal notícia. Por isso, peguei trechos de várias pessoas (sim, existem muitas pessoas que não aceitam esse tipo de violência!) para fazer dessas palavras as minhas também, quem sabe assim criando uma rede de defesa pela família brasileira.

Afinal, família pode ser constituída de muitos jeitos - o que vale são os laços afetivos e de responsabilidade uns pelos outros.




"Mais uma morte de um jovem vítima da homofobia que tantos insistem em dizer que não existe... em nosso país.
Justo hoje, no dia em que, pela primeira vez num discurso oficial, a presidenta Dilma Roussef pontuou claramente o que é homofobia - a violência contra LGBTs que se manifesta em humilhação, agressão e assassinato. Quantos mais jovens, LGBTs ou não, vamos ter que perder antes de admitir que o discurso de punir tal violência em lei não é exagero?
Quantos ainda terão que pagar com suas vidas antes de acabarmos com os descalabros que são projetos como o estatuto da família, desarquivado recentemente pelo presidente da Câmara e que viola princípios constitucionais, ao institucionalizar a discriminação?!" (Jean Wyllis)


"Abriu-se uma fenda enorme em mim, ao escutar sobre a morte do filho do casal gay assassinado como fruto da intolerância e da homofobia, já endêmicas em nosso país. Esta morte nos retrata, nos desvela. Há uma sombra funesta sobre nós, brasileiros. Todos somos parte desta tragédia, todos somos responsáveis pelo sofrimento e pelo fim da vida deste jovem garoto.
Precisamos tomar como nossas estas mortes. Sentir em nós o peso de séculos de uma cultura que normaliza a exclusão, transformando o diferente em alguém que merece a invisibilidade e a solidão. Enquanto formos pessoas que sobrevivem simplesmente dizendo “que horror” a barbáries como estas, sem contextualizá-las com a franqueza que costumamos fazer com aquilo que nos é caro, perpetuaremos a sociedade que oferta como destino a estes diferentes o silêncio das covas rasas. Saiamos, então, do “que horror” acéfalo. Estas mortes acontecem porque nós aceitamos que eles não são uma família, e porque desta rejeição decorrem todas as suas psicopatologias graves, incluída esta ação psicopática de aniquilação da diferença. Esta morte aconteceu porque, como tantas outras, representa um país que faz do recalque da sua sexualidade a justificativa de cada violência que pratica.
Não conseguimos ver, incólumes, pessoas que conseguem assumir o que sentem, o que são e o que querem.
Não somos capazes de admitir que, em tantos momentos, quereríamos sair de nossos armários, não somente os sexuais.

Quando uma família gay se constitui, sentimos muito mais do que um estranhamento a este tipo de arranjo familiar. Podemos sentir inveja, porque ocultamos muitos dos nossos desejos durante a vida, temendo o rechaço social e familiar. E ver alguém que não se dobra ao status quo é no mínimo incômodo. Podemos acessar nossas vergonhas, lamentando com nossos travesseiros o que não conseguimos ser daquilo que sonhávamos poder realizar com o tempo e com a energia de que dispúnhamos. Precisamos encontrar nossos reflexos no espelho e desculparmo-nos de quem conseguimos ser, quando a intolerância aparece como máscara deste despeito.
Ao enfrentarmos as dívidas que contraímos com nossas próprias promessas de futuro, estamos libertando nossas emoções para se transmutarem em ações honradas de resgate da coerência perdida. E, sobretudo, promovemos saúde social para um país que ainda se orgulha de fomentar a crença machista e heterossexista que oprime, segrega e mata.
Tudo o que eu mais queria, hoje, era ofertar meu abraço, minhas lágrimas, minha ação profissional a estes pais, dilacerados pela barbárie, protagonistas do pesadelo do qual o amor que os uniu tentou fugir, mas tão somente se deparou com a impotência diante de uma cultura covarde e assassina. Pelo filho deles eu choro. Com vergonha desta face de nós, que maquiamos por trás do ufanismo verde e amarelo a violência que é o avesso do amor que deveria ser nossa ordem e nosso progresso." (Alexandre Coimbra Amaral)


Por fim, outras duas indicações...

O filme "As melhores coisas do mundo" dirigido ao público adolescente, que aborda questões importantes como essa se maneira séria e leve ao mesmo tempo. Bem interessante e pertinente...



Minha "religião" é a fé na vida, mas reconheço a importância de figuras espirituais e políticas como o Papa em nossa sociedade. Esse, em especial, tem me proporcionado gratas surpresas com suas palavras e gestos... de amor! Como na reportagem abaixo em que o Papa Francisco recebe, no Vaticano, um transexual dizendo-lhe: "Deus aceita-te como és!"

http://www.geledes.org.br/papa-recebe-transsexual-no-vaticano-deus-aceita-te-como-es/#axzz3QmVZKF5u

É nesse Deus que acredito! Nesse Deus que me dá forças para caminhar mesmo diante de tantas injustiças... Que o menino Peterson seja recebido por Ele e consiga emanar boas energias aos seus pais.

Moda de viola no céu... Homenagem a Inezita Barroso

No Dia Internacional da Mulher tivemos uma perda de uma grande mulher, Inezita Barroso!

Céu em festa numa grande moda de viola!!!

Descanse em paz, minha querida, e se não for pedir demais, continue nos iluminando com seu sorrisão, ousadia feminina e sabedoria da cultura popular.

Segue uma das músicas que para mim retrata como Inezita era mesmo uma mulher porreta!!!



domingo, 8 de março de 2015

Dia das mulheres 2015

Dia das mulheres... Parabéns a todas nós!

Eu: "Mateus, sabia que hoje você tem que me dar parabéns? E também para a Bebel e a Carol?"
Mateus: "Por que? O Corinthians ganhou?"
Eu (respirando fundo): "Não Mateus, não é por causa do Corinthians. É porque hoje é dia das mulheres!"
Mateus me deu um abraço e logo perguntou: "E quando é o dia dos meninos?"
"Não tem."
"Ah, fiquei triste..."
"Não tem, porque não precisa. Já dia das mulheres ainda precisa existir, para nos lembrar que antigamente as meninas não podiam fazer as mesmas coisas que os meninos, e que mesmo hoje em dia tem gente que acha que as meninas são mais fracas que os meninos."
"Por que? Será que essas meninas não comem direito?"
 (risos):  "Elas comem sim, quem acha isso é quem não comeu direito quando era criança..."


Na postagem "Dia das mulheres 2011" (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2011/03/viva-todas-as-mulheres-do-mundo-por.html) escrevi sobre o quanto acho esse dia importante para nossa civilização e o quanto é importante, para mim, criar um filho bacana que valoriza as mulheres. Na época dessa reflexão minhas meninas ainda não haviam nascido. Hoje, minha convicção continua a mesma, e no dia a dia frequentemente me encontro diante dos desafios reais quando, por exemplo, durante conflitos de Mateus com as duas me vejo num primeiro momento tomando partido delas, mostrando o quanto todos nós temos a avançar...

Na conversa acima, senti enorme alívio por verificar que Mateus não construiu essa imagem de meninas mais fracas a priori, pois em sua visão (bem interessante), fracos são aqueles que não se cuidam (do corpo, da mente, da alma, do outro, do mundo, da vida).

Em outra conversa, já mais antiga, Mateus também revelou o quanto percebe a força das mulheres:

Mateus: "Por que as meninas não jogam bola (na escola) comigo?"
Eu: "Não sei... Você já as convidou?"
Mateus: "Claro que já."
Eu: "Pois continue convidando, e também brincando com elas de outras coisas".
Mateus: "Mas claro que eu também brinco de jogo, de correr e de casinha... sou sempre o cachorro delas!"

Certamente também por isso, as muitas sociedades que anulam a figura feminina estão destinadas ao fracasso, pois perdem o outro lado igualmente importante de energia de vida. Por outro lado, o desafio de criar um filho que não seja passivo a essa força, mas que saiba dialogar com ela. Para isso, contar com bons modelos masculinos é importante como marquei na postagem "7 anos de casório" ( http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2014/07/7-anos-de-casorio.html) numa homenagem ao Luiz.

Importante frisar que em minha conversa com Mateus, não marquei que existem brincadeiras de meninas e de meninos - a linguagem cria realidade! Afinal, como questiona essa menina essas regras foram criadas pelas pessoas, e por isso mesmo podem ser deixadas de lado em nome de uma geração mais livre para brincar e se expressar.



Na postagem "Mulheres livres" (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2014/12/mulheres-livres.html) faço críticas a alguns pensamentos machistas ainda presentes em nossa sociedade. "À isso Pierre Bourdieu chama de "violência simbólica", pois para se pensarem, as mulheres dispõe do mesmo conjunto de significados androcêntricos e machistas baseados em relações de poder e hierarquia que toda a sociedade e acabam reproduzindo, mesmo sem perceber, algo que as fere." (Edna de Oliveira Telles)

Agora mesmo ouvi uma série de xingamentos, inclusive de mulheres, à presidente do país. Nada contra manifestações com sentido e pró democracia, a questão é que "Chamar de “vaca'' não é fazer uma análise da honestidade e competência de alguém que ocupa um cargo público e sim uma forma machista de depreciar uma mulher simplesmente por ser mulher. De colocá-la no seu “devido lugar'', que é fora da política institucional." (Leonardo Sakamoto).

Na postagem "A curpa é das muié!"  (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2011/03/mardita-culpa_09.html) fiz reflexões sobre o quanto todas as conquistas das mulheres no decorrer dos anos possibilitaram vivermos situações grandiosas atualmente, e por outro lado, também desafiantes. De maneira geral, não eliminamos ou trocamos tarefas e sim as acumulamos, o que fez com que nos tornássemos ainda mais exigentes em nossos diferentes papéis sem conseguirmos aproveitar nossas conquistas. É tempo de nos libertarmos!

Um desses papéis é o de mãe. Um papel maravilhoso e ao mesmo tempo desafiante por vários motivos, dentre os quais, de nos lembrarmos que mesmo mães continuamos sendo mulheres. A ideia parece óbvia, mais não o é, principalmente para mulheres que acabaram de parir. Foi sobre isso que escrevi na postagem "Voltar a ser eu???", na época em que estava acabando minha licença-maternidade e levando Mateus em seus primeiros dias de escola (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2011/05/voltar-ser-eu.html).

Por isso mesmo tornar-se mãe precisa ser uma escolha... da mulher. É o que defendo na postagem "Sobre aborto", um assunto polêmico, complexo e que por isso mesmo precisa ser discutido seriamente (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2015/02/a-favor-da-vida-favor-do-aborto.html).

Porque, afinal, a mulher é dona de seu corpo. Como esse pai (Pedrinho Fonseca) fala por meio de uma carta à sua filha - muito emocionante ver homens posicionando-se a respeito!(http://www.pedrinhofonseca.com/doseupai/2015/2/20/irene).

Quando é uma escolha, ser mãe é engrandecedor... "Parir não é apenas gerar bebês... Parir é gerar mães - fortes, competentes, capazes. Mães que confiam em si mesmas e conhecem a sua força interior." (Barbara Katz Rothman). Uma ideia que reforço quando compartilho as vivências de meus partos na postagem homônima (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2014/02/meus-partos.html).

Na postagem "Outros relatos: Carolina Bezerra"  (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2013/08/outros-relatos-carolina-bezerra.html)
conto como tomei consciência de meu desejo enorme de colocar uma mulher no mundo, e para minha sorte, ganhei duas de uma vez só!

Quando minhas meninas nasceram tive a oportunidade de mergulhar nessa experiência de criar duas meninas, duas lindas meninas que me enchem de orgulho por serem cada vez mais porretas! Como trato em "Melhor presente para o dia das mulheres não há!"  (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2014/03/melhor-presente-no-dia-da-mulheres-nao.html).

Assim, constantemente nesse processo de criação de meus filhos me vejo diante de dilemas éticos, sendo convocada a dar o melhor de mim mesma, de avançar em meu processo de humanização como também me vejo maravilhada com a potência desses pequenos em movimentar a vida, numa abundância de vida!

"A vida não é colorida, é colorível!" (autor desconhecido) como trato na postagem "Vida colorida" (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2015/02/ao-abrir-o-facebook-hoje-uma-grata.html). Por isso tratemos de nos colocar em movimento junto dessa criançada, para que novos e melhores tempos possam ser construídos e experimentados!

terça-feira, 3 de março de 2015

Casa da bagunça

Hoje é dia de passar a manhã com meus 3 filhotes... adoro!!!

Uma manhã onde acontece de tudo: risos, choros, elogios, broncas, surpresas, repetições, acordos, testes, brigas, abraços, competições, ajudas. Empurrões, em todos os sentidos. Brincadeira com todo mundo junto, só as crianças, uma dupla, sozinho ou sozinha. Fazer igual, fazer diferente. Falatório, olhares, barulho, silêncio, movimento, concentração. Admiração, preocupação, ajustes e mais ajustes nas relações. Fantasias, roupas, sapatos, colares e saias (muitas saias) da mamãe. Livros, carrinhos, aviões, bonecas, super-heróis e super-heroínas, príncipes e princesas, lobo mau, bruxas, monstros. Panelas, comidinhas, canetinhas nos papéis, nos corpos.  Negociações sobre televisão e cineminha. Esconde-esconde, susto, pega-pega, pulos, cambalhotas. Construções, invenções. Música, dança, ciranda... tudo numa grande ciranda da vida!

Uma manhã ao mesmo tempo intensa e corriqueira, especial e normal, e talvez exatamente por isso tão repleta de verdade, movimento, inteireza, descobertas e potência.

As manhãs que passamos juntos durante a semana são para mim ainda mais especiais, já que são só algumas. Contudo, para eles, a essência das manhãs que passamos juntos não restringem-se às manhãs que passam comigo.

Para eles, trata-se de uma manhã que não é só uma manhã. É o dia todo, é todo o dia, todos os dias.

Ter a certeza disso, acalma meu coração e permite que tanto eu como eles nos dediquemos a outros mergulhos em nossas vidas.

“Brincar é afirmar a vida, é alegria, é viver em plenitude e liberdade.”  (Lydia Hortélio)

Assim, todos os dias a vida passa por aqui, em nossa casa. Casa pequena, casa do aconchego, recheada de amor, brincadeiras e, claro, de bagunça, muita bagunça!!!

"É importante ter paciência com esses momentos de explorações das crianças." Esse pensamento tem sido um mantra para mim, nos momentos que quero acabar com a brincadeira por causa da bagunça. Grande desafio!

Ainda mais porque o oposto: liberar tudo, não criar cenários favoráveis, não ensinar algumas regras, não fazer acordos significa abandonar as crianças, nos ausentando de nosso papel de sermos modelos, apoios e promotores de seus processos de desenvolvimento e até mesmo sendo injustos para com elas, quando cobramos comportamentos que não podem vir a construir sozinhas.

Desafio ainda maior quando refletimos sobre os dois extremos dessa questão, porque a resposta está no meio, no equilíbrio; um equilíbrio que não é o mesmo para cada um. Cada um de nós, como em tudo na vida, vai precisar se empenhar para criar o próprio funcionamento, do jeito que mais faça sentido e seja respeitoso com a história de todos os envolvidos. Num exercício constante de construção e reconstrução na medida que as crianças crescem e nossas relações com elas mudam, e o que é de essencial precisa ser preservado.

"Brincar é o último reduto de espontaneidade que a humanidade tem." (Lydia Hortélio)

Muitas vezes, meus filhos, por exemplo, querem nos encher de presentes e num piscar de olhos estamos segurando livros, carrinhos, ursinho de pelúcia, roupas, colheres, espremedores de batatas etc. O gesto em si é uma lindeza só, mas precisamos nesses momentos apontar, dar contorno, agradecendo os presentes e avaliando o momento: se estamos com pressa, se temos tempo para depois arrumarmos (junto com as crianças), se temos que destinar um espaço específico para essa brincadeira e restringir outro, se existe um jeito de fazê-la que permita que a brincadeira aconteça sem ser tão desorganizada (aqui em casa funcionou combinar o uso das barracas para colocar todos esses presentes), se elas têm outra ideia para essa questão (que nem sempre aparece por meio da fala em uma conversa, mas na nossa observação e interpretação de seus gestos e escolhas).

Assim construímos junto com as crianças o que naquele momento é viável ou não, com flexibilidade,  como também avaliamos e fazemos ajustes e tomamos cuidado para que nós, adultos, não coloquemos nosso espírito nelas. A maravilha é quando o contrário ocorre, e nessa construção e reconstrução permanente das relações afetivas somos resgatados em nossa meninice por meio dessa infância potente e vibrante e construímos outros modelos de como viver junto, nos reinventamos.

"Eu tô pela revolução que falta que falta que é a revolução das crianças." (Lydia Hortélio)

Nossos filhos vieram para bagunçar nossas vidas, e o mais surpreendente de tudo é que quanto mais eles bagunçam mais nos movimentam e dão sentido às nossas existências.

"Nós não paramos de brincar porque envelhecemos, mas envelhecemos porque paramos de brincar." (Oliver Wendell Holmes)

Por fim, segue um vídeo que encontrei na internet, achei que de um jeito fofo ilustra bem essas explorações e porquê as mães (pais, avôs etc) chegam ao final do dia com a sensação que não fizeram nada...rs