segunda-feira, 30 de março de 2015

Compras de Páscoa

Para aqueles e aquelas, que por diferentes motivos, veem sentido em comemorar a Páscoa, domingo que vem, dia 5/3, será o grande dia. Vale pensar sobre os motivos que nos levam a participar ou não desta ação e sobre o consumo que a envolve.

Outro dia vivi uma cena com meus filhotes que quero compartilhar:

Aqui em casa, é difícil liberarmos televisão para as crianças, e quando permitimos, cuidamos muito da qualidade do que assistem. Assim, quando chega a hora do intervalo, se não é um canal comprometido, eu desligo até voltar o programa, justificando para eles que as propagandas não são apropriadas.

Outro dia, num momento de descuido, os 3 foram ao meu encontro pedindo para eu comprar danoninho, e logo entendi que tinham acabado de ver a propaganda deste produto. Olha o perigo! Em seguida desliguei a televisão alegando que quando eles assistiam aquilo ficavam querendo comprar o que não precisavam e isso era um grande problema: a propaganda mandar na gente!

Eis que Mateus, em seus primeiros exercícios de reflexão, me disse: "É... Na propaganda eles ficam falando 'compra, compra, compra. Compra carrinho, Danoninho, ovo de Páscoa com brinquedo'. Nada a ver."

Maior orgulho desse meu filho!

Nossa conversa ainda continuou sobre o quanto que ter um brinquedo dentro do ovo também é só para a gente, 'comprar, comprar, comprar'... sem pensar! E claro, sobre o que para mim, hoje (sim, já tive muitas opiniões a respeito) significa celebrar a Páscoa: ter mais uma chance de estar junto de quem a gente gosta, de demonstrar que gostamos, de sentir que somos gostados. Qual o perigo? Acharmos que é só por meio de presentes comprados que essas manifestações de afeto acontecem.

Outra cena de dar orgulho:

Luiz: "Meu aniversário está chegando Mateus, você vai me dar um presente?"
Mateus: "Vou!!! Vou te dar um beijo e um abraço!"

Isso significa que daqui para frente Mateus vai querer apenas o que precisar? Claro que não!!!

Somos todos seres de desejos, incoerentes e vivemos numa sociedade que se aproveita disso para lucrar, portanto, este é um desafio que todos nós vivemos constantemente. De todo modo, acho que para ele, ter a chance de aos 4 anos perceber que essas relações não são dadas, são construídas e que podemos nos posicionar a respeito, pois somos cidadão antes de sermos consumidores, são grandes ganhos.

Mais uma cena:

Estava grávida dele quando fui a uma loja de bebês fazer uma lista do que precisaria comprar para a sua chegada. A moça me atendeu secamente, com uma lista pronta, dizendo que aquilo era o mínimo que toda mãe deveria ter. Fui embora chorando, achando que não daria conta de ser mãe, porque não sabia o que significava a maior parte dos itens da lista que eu "deveria" comprar muito menos se teria dinheiro para adquirir tudo aquilo!

Ainda bem que passado o nervosismo do momento, com a ajuda de Luiz, consegui perceber o quanto não fazia sentido eu me sentir assim por esse motivo. Estava me preparando para ser mãe e não uma compradora de coisas de bebês. Há uma grande diferença!

No decorrer do processo, com conquistas e deslizes, fui conseguindo bancar mais minhas escolhas genuínas, principalmente quando alguém vinha me dizer que EU TINHA QUE TER determinada coisa. Quando me falavam isso, já ficava receosa e me colocava a pensar se precisava mesmo ou não daquilo, dentro da perspectiva de que somos todos tão diferentes que não é possível as coisas só funcionarem de um jeito único. Você pode compartilhar sua vivência, mas sem querer coloca-la como padrão, outra coisa que nossa sociedade de consumo faz o tempo todo. Vamos nos beneficiar de nossas diferenças, nos alargar, nos arriscar, nos posicionar.

Como já dizia Lucas, um ex aluno meu: "A gente não é TER humano, mas SER humano".

Tá bom, confesso que em minha trajetória, algumas vezes por conta da birra infantil que peguei dessa frase "TEM QUE TER" eu deixei de adquirir coisas que provavelmente teriam facilitado minha vida. Faz parte do aprendizado...

Já outras vezes vivi situações interessantes como em relação aos vídeos da Galinha Pintadinha, os quais principalmente por esse motivo optei não comprar para meus pequenos. E não fez falta não. Primeiro porque foi menos tempo de minhas crianças na frente da televisão e mais tempo brincando e segundo porque elas aprenderam todas essas músicas de domínio público nas diversas interações que mantém. Assim, para mim, foi um posicionamento claro, um dos primeiros que fiz como mãe, sobre nossa responsabilidade para com as crianças sobre o consumo infantil.

Por isso, na Páscoa e sempre, vale a reflexão: compre o que você precisa, e cuide das crianças começarem a se aproximar dessa ideia de que somos sujeitos ativos e não passivos em nossa sociedade, a qual inclusive, um dia pode vir a configurar-se de outro jeito, em cima de valores mais éticos, estéticos e democráticos.

Nesse sentido, desejo boa Páscoa para você! Que a renovação da vida celebrada em família, para mim a essência dessa comemoração, faça parte de seu dia a dia para que por meio de experiências estéticas e coletivas como essas, para que possamos ganhar mais forças de voarmos em liberdade.

Por fim, segue (mais uma vez) um vídeo essencial e sempre atual a respeito "Criança, a alma do negócio", promovido pelo Instituto Alana:


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