segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

4 anos de Mateus!!!

Chronos tornou-se o senhor do tempo após destronar seu pai. Devora tudo ao mesmo tempo em que gera, mito que ele devorava todos os filhos assim que deixavam o ventre da mãe, temendo uma profecia em que seria tirado do poder por um de seus filhos.
Kairós representa o oposto: um jovem que não se preocupava com o tempo cronológico, representando o tempo da experiência, aquele que não pode ser medido nem agarrado, apenas vivido.
 
 
Esse tempo é mesmo um mistério...
 
Hoje meu pequeno grande menino completa 4 anos de nascimento... Parabéns, meu filho! Em meio a essa comemoração que tanto me enche de orgulho e alegria me sinto também confusa sobre o tempo vivido.
 
Ontem mesmo parece que Mateus nasceu, que me apaixonei perdidamente por ele, que lhe dei mamar, lhe pus a ninar, que fiquei sem dormir direito, passei dias e dias com o mesmo pijama, ri e chorei de uma hora para outra, e juntos fomos aprendendo como seriam nossas vidas... Por outro lado, parece que ele sempre fez parte de minha vida! 4 anos é pouco para tanta mudança que sua chegada gerou em mim.
 
Chronos e Kairós, forças contraditórias e complementares.
 
Nesse percurso, o mais lindo é ver Mateus também mergulhado nessa e em outras investigações com suas perguntas, pesquisas e reflexões, o que comprova como essas questões são humanas e perpassam todas as gerações desde a Grécia Antiga até hoje. Assim, tenho o tido, com grande prazer, como meu grande companheiro nessa busca que é entendermos mais sobre nós mesmos, os outros, nossas relações, nesse imenso, bonito e misterioso universo. "Sou eu nesse mundo, me entendendo nesse mundo!"
 
Suas reflexões que a cada dia ficam mais apuradas também são reflexos da presença desse tempo, implacável que não cessa nunca. Vez ou outra me pego na ilusão infantil de que ele congele, pois estamos numa fase tão boa com nossos 3 pequenos. Mas logo que vejo um bebezinho sinto saudades e me pego querendo voltar no tempo, e percebo o óbvio: as fases passadas foram todas muito especiais e importantes. Do mesmo modo, também me pego em momentos perigosos vislumbrando como meus nossas vidas serão quando meus pequenos forem grandes. Grandes contradições que fazem parte da maneira como vamos nos percebendo em meio a esse tempo. Ora devagar, ora rápido, ora intenso, ora banal, ora profundo, ora simples, ora tudo, ora nada, ora no controle, ora voando, ora, ora, ora, ou melhor, hora, hora, hora.
 
Mateus também tem feito esses exercícios de 'vai e volta', assim algumas vezes fala num futuro, seja considerando-se criança ou não, e muitas vezes em seu passado. Adora ouvir nossas histórias sobre ele bebê enquanto folheia seu álbum de fotografias. Hoje em dia, já é capaz de contar sozinho muitas delas de tanto que se envolve nesse momento. É mesmo muito emocionante, por exemplo vê-lo contando outro dia para o avô Roberto: "Aí eu nasci e tava todo encolhidinho assim, porque dentro da barriga da minha mãe era apertadinho e quentinho e eu tava com frio! Mas eu gostei de nascer e de mamar, olha aqui!".
 
A documentação do álbum de fotos nos ajudou a ativar nossas redes de relações e sensações. Para não esquecer também registro agora algumas falas valiosas que reforçam a ideia de como esses pequenos têm mesmo uma cultura própria - a cultura da infância - de sentir, pensar e se expressar, e que tanto me encanta, me ensina, me ajuda a redescobrir minha meninice e a me colocar agora num lugar de adulta que precisa primar por esse tempo da infância: único, imprescindível, estruturante de um ser.

Seguem algumas das preciosidades de Mateus neste último ano...
  
 
Eu: "Mateus, o que você fez na escola?"
Mateus: "Matei o lobo e joguei futebol com os 'caras' do G4".

Mateus: "Por que as meninas não jogam bola comigo?"
Eu: "Não sei... Você já as convidou?"
Mateus: "Claro que já."
Eu: "Pois continue convidando, e também brincando com elas de outras coisas".
Mateus: "Mas claro que eu também brinco, sou sempre o cachorro delas!"
 
Mateus: "Mãe, por que todo dia tem escola?"
Eu: "Por que você acha?"
Mateus: "Porque o Jorge abre o portão".
Eu: "E por que será ele abre todos os dias?
Mateus: "Pra gente brincar e crescer".

Mateus chegou muito feliz da escola me contando que ensinou uma mariposa a voar. E continuou: "Mãe, ela saiu do casulo, ficou lá parada, sem se mexer e eu disse para ela: 'Abre as asas e voa... Voa assim mariposa', (e fez gestos correspondentes com seus braços). Mãe, por que as professoras não ensinam a gente a voar?"
Emocionada, respondi: "Meu querido, você já voa... E voa longe".
 
Durante uma briga de irmãos no carro, o vô Parreira disse: "Se vocês não pararem de brigar eu vou contar para as professoras".
Mateus: "Conta não vovô".
 
Mateus: "Está chegando as férias?"
Eu: "Sim".
Mateus: "Eba!"
No segundo dia de férias ele pergunta: "Mãe, hoje tem aula?"
Eu: "Não".
Mateus: "Mas eu quero escola, tô com saudades".
 
Mateus: "Mãe, por que você vai trabalhar?"
Eu: "Porque precisa e eu gosto".
Mateus: "Mas por que você gosta?"
Eu: (risos) "Porque me faz bem, mas eu vou e volta logo para ficar com vocês que eu adoro!"

Eu: "Mateus para de mexer aqui".
Mateus: "Tá bom", e segue para o quarto quando ouço falar para a irmã: "Carol, vai mexer lá".
Bronca de novo.
Mateus: Mamãe, é bonita!"
Eu: "Não adianta, mocinho".

Mateus: "Não quero mais comer".
Eu: "Ah vai, faltam só 5 colheradas..."
Mateus: "3"
Eu: "6"
Mateus: "Então 4!"
Eu: "Valeu a tentativa, mas são 5". (risos)

Depois de eu ganhar um jogo dele, Mateus inconformado em perder disse: "Mas eu ganhei. 8 é menor que 6, olha 1,2,3,4,5,8,7,6!"
Eu: (risos) "Valeu a tentativa, mocinho, mas eu ganhei e você sabe disso, Podemos jogar outra partida..."

Mateus mostrando as leras de seu nome, me mostrou o N.
Eu: "Essa letra não tem, tem uma parecida que é o M"
Mateus: "Tem sim", e insistiu por um tempo até que me dei conta: "Ah! Na escola você é chamado pelo sobrenome também por causa do outro Mateus... Então tem mesmo, e tem dois!"

Lendo um livro científico, ele me perguntou: "Aqui está escrito 'Pinguim'?"
Eu: "Sim".
Mateus: "Não está não, tem 'O' pinguim". Depois começa a contar com os dedos 'O', 'PIN', 'GUIM', sucessivamente e me pergunta inconformado: "Mas tem 3 e aqui tem escrito um monte?"
Eu: "Ai moleque, esse não é problema pra você agora..."

Mateus: "Mãe, lê pra mim esse livro?"
Eu: "Esse não é de ler, tem só imagem, é de imaginar".
Mateus: "Então imagina pra mim?"
  
Luiz mostrou para ele um abacateiro e lhe perguntou que árvore era. Ele não sabia e Luiz deu a dica de que começava com A.
Mateus: "Abacaxi".
Luiz: "Não, mas começa parecido ABA".
Mateus: "ABANANA" (risos)

Mateus: "Eu vou tomar esse leite pra ficar com bastante alergia!"
Eu: "O quê? Ah, é energia!" (risos)

Mateus: "Mãe, o ____ falou que quem come uva morre".
Eu: (risos) "Não, nada a ver".
Mateus: "Mas eu posso falar isso?"
Eu: "Sim, essa criança deu a opinião dela, você dá a sua, e seguem conversando".
Nesse momento, buzinaram para eu andar com o carro, já que me distraí com a conversa e digo rapidamente: "Calma, meu filho!"
Mateus: "Por que você disse 'meu filho'?"
Eu: "Não sei Mateus, falei rápido, é só um jeito de falar"
Mateus: "Nada a ver, mãe".
 
Ao ver uma cobra cipó no Instituto Butantan, Luiz pergunta ao Mateus porquê ela tem esse nome: Mateus: "Porque ela come pó!"

Ao ganhar uma bola do time Bayer de Munique, ele comemorou: "Eba, é do Bahia de Munique!"
 
Mateus: "Vó Mirna, eu quero uma banana".
Ao ver a banana falou: "Essa está estragada".
Mirna: (risos) "Esse 'estragado' é bom, coloquei um pouco de chocolate em pó".
Depois de comer e se deliciar, ele disse: "Vó, você quer que eu fale ou não pra minha mãe que você me deu chocolate na hora da frutinha?"
Mirna: (risos) "Se você lembrar você conta".
 
Mateus: "Você trouxe balinha pra mim, vó Cleo?"
Cleo: "Trouxe, chegando na sua casa eu te dou".
Mateus: "Dá agora que se minha mãe ver ela não deixa eu comer".
 
Eu: "Mateus, você sabia que eu já morei na casa da vovó Cleo e do vovô?" 
Mateus: "É mesmo, onde você dormia?"
Papo vai, papo vem e ele me pergunta: "Então você comia balinha todo dia?"
Eu: (risos) "Não... Porque a sua vó era a minha mãe!"
 
Eu: "Mateus, você sabia que graças a você eu virei mãe?"
Mateus: "E antes você era o quê?"
Eu, depois de um bom tempo sem fala: "Eu era muita coisa, algumas até que ainda sou. Mas não tinha filhos, e isso na vida de uma mulher isso faz toda diferença!"

Luiz: "Mateus, vamos votar comigo?"
Mateus: "O que é votar?"
Luiz: "A gente vota para escolher quem vai governar o Brasil".
Mateus: "Mas eu governo".
Luiz: (risos) "Você está ainda aprendendo a governar a sua vida".
Mateus: "Então eu voto em você!"

Mateus: "O Arthur Tavares ganhou uma irmã. Só uma!"
Eu: "Por que será que você ganhou duas irmãs de uma vez só?"
Mateus: "Porque eu quis duas e ele quis uma".
 
Mateus: "Mãe!"
Eu: "Que foi?"
Mateus: "O seu amor tá te chamando" (referindo-se ao Luiz)
 
Mateus: "Então você é pai do meu pai? (referindo-se ao vô Roberto.
Vô: "Sim".
Eu: "E você sabe o que a mamãe é da sua tia Marta?"
Mateus: "Não".
Eu: "Eu sou cunhada dela, porque eu sou casada com o irmão dela".
Mateus pergunta para a tia: "E quem é o seu amor?"
Marta: "Eu não tenho namorado".
Mateus: "Você ainda não escolheu?"
Eu: (risos) "É isso mesmo Mateus, é a mulher quem escolhe..."
 
Ao carregar Mateus no colo por conta de seu pé quebrado, eu disse a ele: "Você está muito pesado, como era possível você caber na minha barriga???"
Mateus: "É que eu era pequenininho, tinha 1 ano, daí eu nasci fiz 2, 3 e vou fazer 4. Depois 5, seis, até ficar adulto com 30".
Eu: (risos) "Você vai fazer muito mais!"
Mateus: "40".
Eu: "Mais".
Mateus: "50".
Eu: "Mais".
Mateus: "16?"
Eu: (risos) "Você quer falar um número bem maior que 50?"
Mateus: "Sim, como é que é?"
Eu: "Tem 6, mas é 60".
Mateus: "E qual mais?"
Eu: "70"
Mateus: Ah, já entendi... OITOTENTA!"
Eu: (risos) "A ideia é essa mesmo..."

Fomos visitar Davi na maternidade, e contei a ele: "Sabia que você nasceu nesse mesmo lugar? E eu também?"
Mateus: "Você nasceu bebê?"
Eu: "Sim".
Mateus: "E eu estava na barriga de quem quando você era bebê?"
Eu: (risos) "Esse é o mistério, meu filho, onde nós ficamos até nascermos".
Mateus: "Deve ser num lugar longe, né?""
Eu: "É".
Mateus: "Então acho que fiquei esperando na casa do vô Roberto!", referindo-se ao vô que mora em Goiânia e vê uma vez por ano.
 
Eu para ele: "Eu te amo tanto".
Mateus: "Eu te amo mais, mais de 'mils'... 'mils mais um'!"

E claro, não podia faltar falar sobre sua paixão pelo futebol... Mas agora as imagens falam por ele junto de um trecho do livro "O menino maluquinho" do Ziraldo. Um livro lindo, divertido, um clássico que por tratar da infância genuína acaba também considerando esse tempo que passa...


 


"E o menino maluquinho
voava na bola
e caía de lado
e caía de frente

e caía de
pernas pro ar

e caía de bunda no chão

E a torcida ria
e gostava de ver
a alegria daquele goleiro.

E todos diziam:
'Que goleiro maluquinho!'

E aí,
o tempo passou!

E, como todo mundo,
o menino maluquinho
cresceu.

E virou um cara
legal!

Aliás,
virou o cara mais legal
do mundo!

Mas um cara legal mesmo!

E foi aí que
todo mundo descobriu
que ele não
tinha sido
um
menino
maluquinho

ele tinha sido era
um menino feliz!"


Parabéns, meu amado filho que preenche minha vida com luz e alegria. Espero sempre lhe retribuir em dobro!!! Te amo.

 
 


 

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