quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Eles também nos buscam...

Me sentindo extremamente emocionada pela notícia de hoje vinculada na imprensa internacional:

"A presidente da entidade de direitos humanos Avós da Praça de Maio (Abuelas de Plaza de Mayo), Estela de Carlotto, anunciou nesta terça-feira que seu neto Guido, que ela buscava há 36 anos, foi localizado". 

Esta organização surgiu da necessidade dos sobreviventes buscarem recuperar o que mais de essencial se foi perdido durante a ditadura: os seres humanos e suas histórias de liberdades.
Também na Argentina existe um movimento similar chamado Mães da Praça de Maio. Todas mulheres guerreiras que por anos e anos estão na luta em busca de seus filhos e netos, no sonho de reencontrá-los ou de pelo menos fazer manter viva e com dignidade a memória de quem precocemente e duramente já se foi. Fazendo e refazendo histórias é o que essas mulheres têm feito. Para muita gente a ditadura já passou faz tempo e não causa mais nenhum mal, e o que pessoas como elas nos ensinam com suas trajetórias marcadas por perdas desse período é que os efeitos em nossa sociedade ainda são sentidos e precisamos continuar nos lembrando o quanto um regime desse tipo provoca de dor, para continuarmos nos esforçando na construção de sistemas mais democráticos.

No caso das avós, elas buscam resgatar os netos roubados nesse período que na maioria das vezes tiveram seus pais (e filhos delas) brutalmente mortos. Como Estela disse na reportagem (segue o link abaixo):  "O que todas as avós queremos é que estas histórias nunca mais se repitam. Aqui comigo estão avós com muitos anos que continuam buscando seus netos. Que assim como os buscamos, eles também nos buscam".

"Eles também nos buscam...." Achei de uma lindeza só essa fala, pois revela nosso desejo de irmos ao encontro do outro. E o que mais importa nessa vida senão isso? Os encontros genuínos. O neto de Estela foi encontrado justamente desse desejo, por um lado todas elas fizeram uma grande e eficiente campanha e por outro, ele, com coragem, foi procurar pistas sobre sua história verdadeira. Emocionante mesmo.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140803_neto_avo_maio_mdb_mc.shtml


Afinal, o que todos nós, seres humanos, buscamos por toda a vida são as verdades, as nossas verdades, ainda que provisórias e parciais, mas verdades que nos acalentem, nos constituam, sustentem e falem de nós aos outros de um jeito que podemos verdadeiramente nos reconhecer e nos encontrar com nós mesmos. Sendo assim, as verdades relacionadas às nossas histórias são das mais essenciais à nossa constituição. Neste contexto, as palavras da argentina Laura Gutman ganham uma importância grande por ela tratar a verdade como reparadora, e que portanto, também nos acalenta, cura e liberta.

"No hay nada más reparador que la verdad.
El nieto de Estela de Carlotto decidió tomar en cuenta el llamado de su propia alma infantil que sabía desde tiempos remotos que era hijo de una madre y un padre desaparecidos. Al menos sabía que sus padres de crianza le habían ocultado algo esencial de su sí mismo.
Si todos nosotros con nuestros sufrimientos a cuestas pudiéramos seguir el llamado de nuestro niño interno que nos envía señales claras, y si nos otorgáramos la posibilidad de constatar que el acceso a la verdad no puede lastimar a nadie, por más que el “yo engañado” de nuestros padres o de nuestros seres queridos supongan que hay algo que no debe decirse; entonces sabríamos que la verdad siempre cura, siempre sana, siempre genera amor y compasión por el prójimo.
No hay nada más reparador que la verdad. Y nada más depredador que la mentira, el ocultamiento o la tergiversación de la realidad.
En la medida en que seamos más los individuos que buscamos nuestra verdad y que miramos con ojos abiertos las realidades de las que provenimos – por fuera de las interpretaciones, las convenciones o lo correcto – se hará presente una fuerza verdadera que contagiará a los demás. Así serán tocados por una varita mágica los más de cuatrocientos nietos argentinos que saben que son hijos de desaparecidos – porque todo su ser lo grita y el alma del niño que han sido se los recuerda.
Sin embargo ellos necesitan la habilitación de todos nosotros, hombres y mujeres viviendo en el seno de nuestra verdad, para saber que nada peor les puede pasar. La verdad nos cuida a unos y a otros. Nos organiza. Nos alivia. Y nos abre las puertas de nuestro propio paraíso terrenal."
Laura Gutman


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