domingo, 6 de novembro de 2016

Aprendizados com outras culturas

Sou muito questionadora ao estilo de vida de outras culturas que as pessoas insistem em importar, sem reflexão e subestimando nossa cultura. Mas nessa vida tenho aprendido a não ser tão feroz nessas críticas quando se trata de ludicidade e de alargamento de nossos parâmetros culturais. Desses aprendizados que pelo menos no meu caso, vem da experiência materna.

Ser mãe me convoca a responsabilidade de fazer escolhas pelas minhas crianças até que elas possam fazê-las plenamente, responsabilizando-se por ela. Isso é autonomia, ter o poder de auto governar-se. Trata-se de uma construção, por isso desde pequenas algumas escolhas feitas diretamente rpecisam ser respeitadas e/ou colocadas para reflexão. E justamente nesse jogo sobre o que escolho e o que meus filhos me provocam de movimento, com suas questões diferentes das minhas, preciso fazer um exercício de ponderar. refletir sobre o que não abro mão e o que posso (e devo) felxibilizar, aprendendo com eles. Me dispondo a conhecer o mundo de outro jeito. A beleza de partilhar o mundo com alguém, que só reforça nosso vínculo uns com os outros e com a vida. Vida viva. E a cultura promove esses encontros: com o passado e o presente, entre diferentes regiões, para nos lembrar de nossa diversidade que precisa ser respeitada, ainda mais quando se trata de festas populares.

Assim, neste ano, frisando muito para as crianças que brincaríamos de algo de outra cultura (sem esperar que entendam isso nesse momento de suas vidas...) fomos a uma "Fiesta de los muertos" em homenagem à cultura mexicana que tem uma relação muito interessante com a vida e morte. Aqui, sugiro o filme "Festa no céu", é lindo e muito inspirador. Com um enredo muito bonito, ele conta dessa relação dos mexicanos com a morte. Enquanto os mortos são lembrados eles permanecem vivos, numa grande festa! Por isso a importância de festejarmos em suas homenagens. E que maravilha de festa! São Paulo é mesmo incrível pela sua diversidade.Imaginar que num evento você encontrará pessoas completamente mergulhadas na brincadeira, fantasiadas, animadas e desejosas de ousar viver de outra forma. Além dos sabores da comida, da música, da dança, a arte, sensacional!

Também topei entrar no convite das crianças de chegar em casa e enfeitar nossa casa de Halloween: fizeram desenhos incríveis, colocaram pela sala, na porta do lado de fora para assustar quem entrasse, resgatei uns tules e penduramos em tudo. Já fui questionada em fazer festa de pirata para meu filho e ter caveira nela, como um símbolo do mal, das trevas. respeito quem acredito nisso, mas lido com essas questões pelo lado lúdico, que ao meu ver, traz muita luz. Me encantei tanto pelo envolvimento deles que dei a ideia de passarmos pelos apartamentos para pedirmos doces. "Mas sem nem combinar com os moradores?", dirão alguns, "Que falta de educação", dirão outros, "Ninguém vai entender, porque não é da nossa cultura", ainda outros... Pois é, resolvi fazer tudo improvisado, mesmo sabendo que não era o melhor cenário, mas combinando muito com eles que alguns não teriam doce, alguns teriam mas não vão querer compartilhar, mas de verdade achei bacana eles se colocarem em interação. "mas no nosso prédio só tem pessoa mais velha, a gente nem tem contato", disse Luiz. Pois mais um motivo para fazermos movimento. Esse é o prédio deles, e a verdade é que eu e Luiz pouco temos investido nessa construção de relação com nossos vizinhos. senti ali uma possibilidade de avançarmos nesse sentido.

Chamamos a única criança que meus filhos conhecem no prédio e lá fomos animados, de porta em porta. E foi incrível! Me surpreendi com caras desconhecidas e muito simpáticas, que desde então viraram rostos conhecidos, com nomes e uma pequena história que começou a ser tramada. Eles ainda participaram da festa do prédio da tia, que por meio desse evento pela primeira vez conseguiu conhecer os vizinhos e todos estavam surpresos ao descobrir que naquele prédio havia tanta criança. Temos que pensar nisso, estamos num tempo vivendo em bolhas, com medo da violência, na correria, com pouca disposição a criar e manter relações, porque dão trabalho, ainda mais quando escancaram diferenças de pensamentos, e assim vamos ficando intolerantes, preguiçosos, com certeza em nossas certezas, superficiais, conformados com todo esse cenário, e tudo isso, não deixa de ser uma violência ao modo como vivemos. Tenho achado que em algumas situações, mesmo o pretexto sendo bobo para um evento, vale a pena para a possibilidade do encontro acontecer. E quando ele ocorre, ele nos transforma. Eu saí mexida dessas vivências, tanto que meus pequenos foram amais uma festa de Halloween organizada pelos amigos, e assim vamos aproveitando dessa grande oportunidade que é viver com o outro. Não é fácil. Mas ao meu ver, a vida só tem sentido assim. Junto.

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