domingo, 19 de janeiro de 2014

Outros relatos II: Juliana Ferreira

Como escrevi na postagem anterior, de Boas vindas à Helena Ferreira, filha da Juliana e do Cristiano, segue o relato do Ju publicado no blog: http://carademae.com.br/relato-de-parto-da-beatriz-mae . Para se emocionar e refletir!


Relato de parto da Beatriz (Mãe)

Quando a pequena completou um ano, nasceu o relato de parto da mamãe Juliana, comemorando a incrível jornada da maternidade. Veja aqui como foi a linda chegada da Beatriz, aos olhos e pelo coração da mãe.

Por Juliana Ferreria Kozan (mãe)

Um pouco antes do parto…
Foto_Juliana Ferreira
Decidi começar o meu relato um pouco antes do parto em si, para descrever como me preparei para ele e as providências que tomei. Começarei por quando eu e meu marido decidimos que era o momento de aumentar a família. Era nosso aniversário de 1 ano de casamento, 08/08/2010, e fomos fazer um passeio de balão em Boituva para comemorar. Saímos para jantar na noite anterior ao passeio, conversamos e decidimos que estávamos “preparados” para ter nosso primeiro filho.

Aí surgiu minha primeira dúvida, continuo com meu plano de saúde ou contrato outro? Por conta do meu trabalho como advogada sabia bem os problemas que podemos enfrentar quando precisamos utilizar os serviços de saúde contratados através de um plano de saúde, além de saber da existência de carência de 300 dias para a cobertura do parto.

Marquei uma consulta com a ginecologista, da rede credenciada do meu então plano de saúde, que para aquelas consultas de rotina me atendia até que muito bem. Disse a ela que ia começar a tentar engravidar e ela me pediu alguns exames (ultrassom e hemograma). Antes mesmo de engravidar ou de começar a conversar com ela sobre questões relacionadas ao parto, ao tentar marcar uma consulta de retorno, descobri pela secretária que esta médica não atendia no consultório às terças-feiras pois “era dia de parto”. Heim?! Com essa informação parei e pensei: ou todas as pacientes dela têm uma ligação cósmica e entram em trabalho de parto juntas às terças-feiras, ou ela marca todas as cesárias neste dia da semana. Como achei que a segunda hipótese era mais plausível, resolvi mudar de médica, pois já sabia que pretendia ter um parto normal.

Antes mesmo de engravidar eu já tinha plena consciência de que o ideal é que o parto seja normal e que a cesária, como intervenção cirúrgica, só deve ocorrer quando for realmente necessária. Mas eu também já sabia que o nosso país, infelizmente tem uma das maiores taxas de cesárias do mundo e que não é fácil encontrar um médico que realmente esteja disposto a fazer um parto normal na rede privada.

Uma amiga muito querida já tinha uma filhinha e tinha tido um parto natural, humanizado, na água, lindo!!! Conversávamos bastante sobre o assunto e, graças a ela, eu já tinha bastante informação antes mesmo de engravidar. E foi ela quem me indicou uma médica incrível, que fez seu parto.

Marquei uma consulta com esta médica e me encantei com ela. Conversamos bastante, disse que gostaria de ter um parto natural se possível, mas que não era contra anestesia nem cesárea, desde que fossem intervenções necessárias, e ela me explicou que esta era exatamente sua forma de trabalho. Ela falou sobre o atendimento humanizado, sobre seu percentual de partos normais e de cesárias, sobre as recomendações da Organização Mundial da Saúde.

Pronto, eu já tinha escolhido a médica que ia me acompanhar na minha futura gestação e no meu parto, uma profissional em quem eu podia confiar, que não ia me enganar e me levar para uma cesárea desnecessária. Encantei-me também com o lugar onde esta médica atendia: a Casa Moara. Um lugar acolhedor, que congrega vários profissionais, todos visando o mesmo objetivo.

Passei a avaliar as maternidades que eram credenciadas do meu plano de saúde e constatei que várias haviam sido descredenciadas, dentre elas aquela em que eu gostaria que acontecesse o meu parto, a Maternidade São Luiz.

Decidi então mudar de plano de saúde e entrar como beneficiária do plano de saúde empresarial do escritório onde meu marido trabalha, que tinha uma ótima rede credenciada de maternidades e tinha a opção de ser atendida por profissionais de saúde de fora da rede credenciada e obter reembolso dos valores das consultas.

Parei de tomar anticoncepcional em setembro de 2010. Ao contrário de muitos casais que conhecemos, eu e meu marido não fizemos nenhuma “força-tarefa” para engravidar, apenas seguimos com nossa vida normalmente. E em abril de 2011 nós engravidamos!
Resolvi então conversar com meu marido sobre o tipo de parto e de atendimento que eu gostaria. Ao falar do parto natural, vi uma expressão um pouco surpresa/assustada em seu rosto. Meu marido estava acostumado a ver e acompanhar mulheres que marcam cesárias para ter seus filhos, muito diferente do que eu propunha. Sugeri que ele pensasse sobre o assunto e levasse suas dúvidas para serem tiradas com a médica que havia escolhido para nos acompanhar nessa jornada.

Na primeira consulta pré-natal, eu tinha poucas dúvidas, mas meu marido começou a bombardear a médica de perguntas, confesso que fiquei um pouco sem graça. Mas ele tinha todo o direito de perguntar o que quisesse e precisasse para se sentir seguro quanto ao acompanhamento do crescimento e do nascimento da sua filha. Até sobre episiotomia ele perguntou! E a médica respondeu a todas os seus questionamentos de forma tranquila e fundamentada. Saímos da consulta, perguntei se ele tinha gostado e ele me disse que sim e ressaltou: “não dá pra não concordar com ela”.

E, seguindo aquela máxima de que em time que está ganhando não se mexe, eu e meu marido escolhemos exatamente a mesma equipe que acompanhou o parto daquela minha grande amiga, a mesma enfermeira obstétrica, a mesma doula e o mesmo pediatra, além de claro a mesma médica. Mas não foi só por isso, conhecemos antes todos eles, que também nos encantaram com seu profissionalismo, sua ética e sua tranquilidade.

Eu e meu marido estávamos certos e confiantes de que havíamos escolhido a melhor equipe possível para nos acompanhar na gravidez e no parto. E o parto natural nunca foi nosso objetivo. Nosso objetivo sempre foi o melhor nascimento para a nossa filha e, por isso, estávamos tranquilos se fosse necessário o uso de alguma intervenção, até mesmo uma cesárea.
Durante a gravidez, quando falávamos sobre parto humanizado e que buscávamos, se possível, ter um parto natural, vimos algumas pessoas com aquela cara de “vocês são loucos?” e “para quê isso?”, mas também nos deparamos com diversas pessoas que nos apoiaram ou se interessaram em saber mais sobre o que seria o atendimento humanizado que buscávamos, o que muito me alegrou.

Busquei me preparar, mental e fisicamente, o melhor possível para ter uma gravidez saudável. E a Casa Moara foi o local mais visitado durante a minha gravidez. Comecei a frequentar os encontros de gestantes com 9 semanas de gestação, que foram ótimos para trocar experiências e obter informações sobre a gestação, o parto e o pós parto. Lá também fiz yoga para gestantes, onde conheci minha querida professora com quem me identifiquei de cara e já decidi que ela seria nossa doula. Fiz ainda acompanhamento com a nutricionista e, mais para o final da gestação, com a fisioterapeuta para fortalecimento do períneo. A única atividade que fiz fora de lá foi a hidroginástica.

No meu primeiro Dia das Mães, com minha filha ainda na barriga, aquela minha querida amiga me presenteou com um livro delicioso: “Parto com amor”. E ainda me emprestou outros livros, que devorei durante a gestação: “Quando o corpo consente”, “Parto ativo”, “A bíblia da gravidez”. E um livro bem divertido, que recomendo para descontrair: “Onde vende o manual”.

Eu e meu marido fizemos também nosso plano de parto, para organizar nossas ideias e definir nossas preferências em relação ao nascimento da nossa filha. Colocamos no papel o que pretendíamos para o trabalho de parto, para o parto, para o pós parto, para os cuidados com nossa bebê e caso fosse necessária a cesárea.

Durante a gravidez, tive dois pequenos sustos. O primeiro foi descobrir que estava com diabetes gestacional, o que me deixou muito triste. Mas nossa médica me tranquilizou e bastou uma dieta, auxiliada pela nutricionista, mais restritiva de açúcar e carboidrato para que tudo corresse bem e eu conseguisse manter minha glicemia controladíssima.

Outro susto foi no finalzinho da gestação, que minha pressão subiu um pouquinho e tive um pouco de perda de proteína na urina, que seria um indicativo de pré-eclâmpsia. Nossa médica me tranquilizou novamente, mas pediu que medíssemos a pressão todos os dias e avisássemos se alguma estivesse alta. Compramos um medidor de pressão e passei a medi-la 3 vezes ao dia, e minha pressão voltou a normalizar sem maiores problemas.

O trabalho de parto!

No dia da minha DPP, 13/12/2011, uma 3ª feira, acordei mais tarde, descansei um pouco, almocei, fui para a aula de yoga, voltei para casa e fiz mais alguns exercícios de cócoras que a professora tinha me passado. À tarde fui caminhar com a minha amiga (aquela anja que me apresentou à minha médica) pelo bairro. Cheguei em casa e tomei um delicioso e relaxante banho de banheira. Meu marido chegou, nós jantamos, conversamos e fomos dormir lá pelas 22h. Eu dormi logo que deitamos e meu marido sorrateiramente trocou a televisão de canal e ficou assistindo a um dos filmes violentos que ele adora e que estavam proibidos durante a minha gestação.

Às 23:30h, acordei com uma sensação estranha… Percebi que tinha molhado um pouco a cama. Avisei meu marido e ficamos na dúvida: será que rompeu a bolsa ou fiz xixi na cama sem perceber? Levantei e saiu mais um pouco de líquido, mas como foi pouco ainda fiquei na dúvida. Tomei um banho, troquei de roupa e, como o líquido estava transparente, decidimos voltar a dormir.

Mas é claro que não conseguimos dormir, pois logo em seguida comecei a sentir as primeiras contrações, bem leves, e até às 00:30h foram umas cinco. À1h ligamos para a nossa doula, que pediu para contarmos as contrações, os intervalos e duração por aproximadamente 1 hora e ligar para ela novamente para relatar como foi.

Continuamos monitorando, e da 1h às 2h, tive 14 contrações, a primeira com duração de 46 segundos e a última com duração de 70 segundos. Ligamos para a nossa doula às 2:20h e relatamos como andava o trabalho de parto. Ela achou melhor vir pra nossa casa para acompanhar o TP mais de perto.

Por volta das 3h ela chegou. O porteiro do nosso condomínio não queria deixá-la entrar nem interfonar em casa por conta do horário e ainda disse a ela: “isso é hora de visitar os outros?” (doula tem que passar por cada uma…). Felizmente ela usou seu poder de argumentação, ele interfonou em casa e meu marido pediu “peloamordedeus” pra ela entrar.
A partir da sua chegada, as contrações passaram a ser monitoradas pelo “master-blaster”, como diria meu marido, programa do celular da nossa doula (beeem mais fácil do que ficar anotando manualmente as contrações).

Durante meu TP, fiquei a maior parte do tempo sentada na bola, controlando a respiração como eu havia aprendido nas aulas de yoga e a nossa doula massageava minha lombar durante as contrações com suas mãos mágicas. Não sentia dores na barriga, mas sim na lombar. Também fui ao banheiro diversas vezes e meu intestino ficou mais que vazio, a natureza é sábia…

A dor foi aumentando progressivamente. Mas até às 3:30h eu ainda ria das piadas contadas pelo meu marido e conversava normalmente nos intervalos das contrações. Lembro perfeitamente de nós três conversando no quarto, com a porta da varanda aberta. Mas a partir deste momento, as dores começaram a se intensificar, e meu bom humor foi diminuindo na mesma medida. Nesse momento lembrei de uma dedicatória que uma das minhas colegas de yoga escreveu no meu cartão de despedida da barriga, que dizia pra eu me lembrar, quando as dores fossem ficando piores, que era um sinal que minha filha estava chegando. Mentalizei isso até o final do meu TP.

Por volta das 4h, as contrações estavam bem doloridas e cada vez mais próximas, e nossa doula achou melhor já nos prepararmos e rumarmos para a maternidade, e já avisou toda a equipe que estávamos a caminho.

Nossa doula foi em seu carro. Meu marido foi dirigindo nosso carro, comigo no banco de trás, agachada e abraçada na bola. E essa foi a pior parte do meu TP, pois as dores estavam bem fortes, eu estava sem a santa massagem da doula na minha lombar, e as ruas esburacadas de São Paulo não ajudaram em nada. Foram os 10 minutos mais longos da minha vida.
Quando chegamos na maternidade, às 5:15h, nossa enfermeira obstétrica já estava nos aguardando na entrada, sua tranquilidade aliada à da nossa doula foram essenciais naquele momento.

A admissão até que foi rápida, eu já havia deixado todas as informações necessárias anotadas numa folha de papel junto com os meus documentos, para o meu marido não se atrapalhar.
Nesse momento tive uma contração bem dolorida, que até escureceu minha vista. Lembro de olhar para nossa doula e falar que a dor tinha sido bem forte, e mais uma vez ela me tranquilizou.

Fomos para a sala ao lado da admissão para fazer o cardiotoco e o tão temido exame de toque, que me disseram que doía bastante. O cardiotoco mostrou que nossa bebê estava bem, mas eu não tinha dúvidas disso. A Beatriz mexeu bastante durante a gravidez inteira, inclusive durante os intervalos das contrações, o que me deixava tranquila.

O exame de toque foi feito pela nossa enfermeira obstétrica, que foi tão delicada que eu juro não ter sentido dor nenhuma. Após o toque, ela nos olhou com um sorrisinho no rosto e contou que a minha dilatação já estava de 8 para 9, mas que a bebê ainda estava alta. Senti um alívio enorme, pois uma das coisas que mais temia era chegar à maternidade e ter que voltar pra casa, e também porque, apesar de a dor estar forte, eu sabia que estava chegando ao final.

Fomos para a delivery. Nossa enfermeira obstétrica foi na frente para encher a banheira. Eu não quis ir de cadeira de roda, preferi ir andando. Fomos caminhando até o elevador eu, meu marido, nossa doula e a enfermeira da maternidade. Ao chegar em frente ao centro obstétrico, a enfermeira não deixou nossa doula ir comigo para a delivery porque ela e meu marido tinham que se paramentar para entrar (mais um dos protocolos discutíveis das maternidades…). Então eles foram se paramentar e eu fui com a enfermeira da maternidade para delivery, caminhando e fincando minhas unhas nela a cada contração (acho que ela se arrependeu um pouco de me acompanhar…).

Cheguei na delivery e fui direto pra banheira. Mas, como ela não estava cheia ainda, sentei um pouco no vaso para aguardar e logo comecei a sentir a tal “vontade de fazer força”. Vontade nada, meu corpo começou a fazer força sozinho! E eu, que já estava na partolândia essa hora, me lembro de ter um momento de lucidez e pensar: “espero que essa banheira encha logo, minha filha não vai nascer no vaso!”.

Meu marido e a doula chegaram. A banheira encheu e eu entrei rapidamente nela. Nossa médica também chegou em seguida. E veio mais vontade de fazer força. Agora eu não sentia mais aquela dor forte na lombar, era uma sensação diferente, parece que eu sentia minha filha descendo… Meu marido ia entrar na banheira comigo, mas acabou não dando tempo… Ele estava atrás de mim, segurando meus braços e nós ouvimos alguém falando: “cabeça”. Não consegui colocar a mão para senti-la, não conseguia largar meu marido.
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Lembro também de sentir meu períneo ardendo bastante, o tal círculo de fogo. Logo em seguida a cabecinha da Beatriz saiu. Mais uma força e saiu o resto do seu corpinho. Ela “deu uma braçadas”, saiu da água e foi trazida para o meu peito, linda, roxinha, tranquila, com as unhas da mão compridas! Às 6:02h nasceu nossa princesinha Beatriz!

O pediatra que escolhemos para acompanhar o parto chegou logo que a Beatriz nasceu, foi tudo tão rápido que quase ele não chega a tempo!

Ficamos lá, muito emocionados, nos namorando, eu, meu marido e nossa pequena, que logo foi ficando rosinha com a água morna sendo jogada no seu corpinho… Foi o momento mais mágico e incrível de toda a minha vida…

Logo que o cordão umbilical parou de pulsar, meu marido o cortou. Pegaram a Beatriz para que eu pudesse sair da banheira. Eu estava tão emocionada e cansada que minhas pernas tremiam e precisei de ajuda para sair da banheira e ir para a cama.

Em seguida o pediatra trouxe a Beatriz e a colocou para mamar, onde ela ficou por quase uma hora. A minha pequena assim me ajudou a expelir a placenta, por volta de 30 minutos após o parto.

A nossa médica veio então avaliar meu períneo. Eu confesso que ardeu tanto quando a cabecinha da Beatriz passou que achei que tivesse tido alguma laceração. Mas fiquei muito feliz ao saber que meu períneo estava íntegro, sem nenhuma laceração! Bendita fisioterapia perineal, bendito Epi-no!

A tranquilidade de todos da equipe que nos acompanhou no nosso parto foi essencial para que mantivéssemos nossa calma e nossa serenidade e tivéssemos a certeza de que tudo estava e terminaria bem. E isso é impagável! Ou melhor, pagável e vale cada centavo!!!

Agradeço à minha amiga Daniele Moraes, que esteve ao meu lado antes, durante e depois da gravidez e me apresentou à equipe que acompanhou nosso parto. E, coisas da vida, assim como eu estive com ela no dia do seu TP, ela também estava comigo no dia do meu!

Agradeço a toda equipe maravilhosa que nos acompanhou na gravidez e no parto da nossa filha: à nossa médica Dra. Andrea Campos, à nossa enfermeira obstétrica Marcia Koiffman, à nossa doula Katia Barga, ao nosso pediatra Dr. Douglas Gomes, à fisioterapeuta Miriam Zaneti, à nutricionista Amanda Buonavoglia.

Agradeço aos meus pais e minha irmã, pelo apoio, respeito e compreensão que me deram durante toda a gestação.

Agradeço ao meu marido Cristiano, que topou encarar esta aventura junto comigo, me apoiou e participou ativamente da gestação e do parto da nossa filha querida.

E agradeço à Beatriz, que me escolheu para ser sua mãe e me enche de alegria toda vez que me olha com seus lindos olhos azuis.

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