domingo, 11 de agosto de 2013

Lembranças que servem de lição: mãe de 3 filhos

Um dia quando Mateus tinha 1 ano estávamos na praia quando uma mulher se aproximou e disse: "Olha, sem querer me intrometer, mas me intrometendo, é que sou mãe de 3 filhos então preciso te dizer que o sol está forte e é melhor você colocar uma blusa no seu filho porque ele tem a pele muito branquinha". Disse isso e foi-se embora.


Virar mãe gera uma série de mudanças profundas em nossas vidas e como não poderia ser diferente, para cada uma de nós os "sabores" são diferentes, já que as experiências são distintas. Para mim, o encantamento pela construção da relação com meus filhotes sempre foi enorme, mas junto também vieram alguns medos, angústias e incômodos. E é sobre um incômodo em especial que quero escrever agora...

Sempre fui tranquila. Na mocidade até tive alguns momentos de invadir o espaço das pessoas em relação a ideais quando julgava que estes estavam equivocados ou manipulados. Mas "dando murro em faca" fui aprendendo a importância da diversidade e comecei a me esforçar para respeitar as opiniões diversas às minhas, mas também sem deixar de expressar minhas convicções. Eterno aprendizado.

Mas nem sempre vejo o mesmo esforço e cuidado das demais pessoas em nome da boa convivência. Desde que engravidei pela primeira vez tenho visto justamente o contrário, e preciso dizer essa chuva de palpites sobre os cuidados que devo ter com meus filhos me incomoda muito. O início da maternidade já é um momento delicado e ainda por cima as pessoas ficam em cima desconsiderando você e o bebê e a relação que ambos vêem construindo: "segura assim, não, segura assado, acho que está com fome, não é sono...".

Durante uma conversa entre conhecidos esses palpites são muito bem vindos e sempre fico grata pelo cuidado das pessoas em quererem me ajudar por meio de suas vivências. Até porque desde que mãe tenho me sentido mais conectada a todas as pessoas, somos mesmo um grande grupo e devemos agir como tal. As pessoas sensíveis que te orientam de maneira respeitosa. Essas sim, umas queridas, que fazem a diferença para o bem.

No caso da mulher da praia que mencionei, de certa forma entendo seu estranhamento, pois uma vez que existe uma diversidade entre todos nós essa também se refletirá na educação de nossos filhos. Mas acredito que temos que pensar bastante se vale à pena tomarmos a iniciativa para intervir, principalmente com desconhecidos, e se não existe uma violência à criança ou uma urgência. Essa mulher, por exemplo, foi até bem educada na maneira de iniciar a conversa, o que é essencial para o desenrolar da mesma. De qualquer maneira teria sido, ao meu ver, muito mais delicado se ela tivesse se aproximado para contar de sua experiência como mãe de 3 filhos e não para me questionar como mãe do meu filho. Talvez assim tivéssemos dado algumas risadas com a conversa e ela teria me dado a chance de contar que meu filho estava com protetor solar, não havendo motivos para sua preocupação.

Mas outra coisa interessante é que por muito tempo fiquei com aquela frase em minha cabeça: "sou mãe de 3 filhos" para justificar sua autoridade de mãe. É verdade que ser mãe de 3 filhos lhe conferia mais experiência, mas ao mesmo tempo não lhe é garantia de mais sabedoria nem de merecedora do título de "mais mãe" do que as outras.

Essa lembrança me voltou à cabeça dia desses quando dia vivi uma situação difícil em que uma mulher, dessa vez de maneira nada delicada, veio questionar minhas atitudes com minhas filhas. Estava tirando uma delas do carro pelo lado da rua e ela queria que eu a tirasse pelo lado da calçada. Mesmo achando esquisito o jeito dela falar comigo, tentei lhe explicar que era impossível, já que o carro estava lotado com 3 cadeirinhas. Ainda assim ela insistiu e pior, me chamou de louca e irresponsável.

É muito abuso sair falando isso de uma mãe com suas filhas no colo, sem conhecê-las, vendo apenas um recorte de uma cena e não conseguindo ouvir o outro lado. No caso, também me sinto angustiada com a situação, mas ela e outras situações similares têm sido inevitáveis, justamente por eu ser mãe de 3 filhos. Foi então que me lembrei da autoridade com que a mulher da praia falou ser mãe de 3 filhos para justificar sua intervenção, e apesar de cá entre nós saber da falsidade dessa ideia, tomei a decisão de que na próxima vez que me questionarem como mãe a ponto de eu me sentir desrespeitada em público e pior, na frente de meus filhos eu vou dizer, em alto e bom som: "Ei, você está falando com uma mãe de 3 filhos! Mais respeito, por favor."


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