domingo, 21 de setembro de 2014

Lina, Carol... Tudo uma só!!!

Durante a gestação de minhas meninas Mateus, pequenino na época, aos poucos, começou a vincular-se às irmãs passando creme na minha barriga, experimentando o berço delas e, claro, chamando-as pelos nomes. Como ensinamos, logo falou Bebel para Isabel (gostamos desse apelido), e por um bom tempo só falava esse nome, afinal, sabíamos da dificuldade dele entender que tinham dois bebês dentro de mim (confesso que até hoje nem eu compreendo muito bem como isso foi possível - verdadeiro milagre!) como também da facilidade dele pronunciar esse nome. Aliás, entre os bebês Bebel sempre ficou famosa primeiro, chegando a ser a primeira palavra falada por alguns deles.

Certa vez, os pais de uma colega de sua antiga escola compartilharam (rindo) seu desejo em elaborar um curta para o Festival do minuto em que um guarda pararia o carro deles, perguntando se o motorista havia bebido e ao que ele respondesse que não a câmera iria para a filha na cadeirinha do banco de trás dizendo (a única coisa que dizia na época): "Bebel" (rsrs). Adoro esse povo com humor!

Passado um tempo, quando Mateus começou a nomear Carolina passou a chamá-la espontaneamente de Lina, deixando-me completamente encantada e rendida a esse apelido carinhoso. Na época, algumas pessoas me perguntaram se podiam continuá-la chamando de Carol.

Carolina foi o primeiro nome escolhido por mim e por Luiz, durante minha primeira gravidez, quando ainda não sabíamos o sexo de nosso bebê. Nome doce e forte ao mesmo tempo, de mulheres de todos os tipos que já conhecemos na vida, todas muito marcantes. Além disso, são protagonistas de duas músicas que adoro, de Chico e de seu Jorge. "Carol, Carol, Carol, Carol...", como este último canta é um apelido que adoro tanto que certamente também pesou nessa escolha.

De maneira geral, sempre fui conhecida como Ju assim como toda Juliana (muitas na época) e Julia (poucas, ao contrário de hoje em dia, quando as crianças ao ouvirem meu apelido logo acreditam que me chamam Julia). Mas lembro-me de algumas pessoas, todas muito saudosas, que me chamavam de um jeito único como meu vô que quando estava de bom humor logo dizia com seu jeitinho fofo e cativante:"Juju", de  meu tio Ivo que dizia: "Juzinha" e do porteiro de meu ballet, o Juarez que me chamava de "Jurinha". Certamente este último, em especial, também devia chamar outras Julianas do mesmo jeito, mas isso nunca importou, porque eu me sentia mesmo muito especial em ser recebida com essa demonstração de afeto genuíno e espontâneo. O inverso não dá certo...

Mais velha, lembro de uma viagem que fiz à Bahia, onde todos me chamavam de "Juli", jeito como eles abreviam esse nome, e assim o que era comum aos olhos dele, aos meus se tornou uma carinhosa marca - ainda por cima, fui para lá na época que uma música de axé "a Juliana não quer sambar... Samba juliana, samba..." estava no auge. Até em cima do palco me colocaram para dançar com esse grupo. Memórias de vários sabores me vêm à cabeça... De todo modo, voltei a São Paulo decidida que me chamassem dessa maneira, e claro que não deu certo. Tirando nosso primeiro nome que é uma imposição, e que mesmo assim a gente pode não gostar e mudar. Lembro uma vez que encontrei numa viagem um colega da escola antiga e, emocionada, gritei o nome dele que logo ficou constrangido, pediu para eu falar baixo, porque havia trocado de nome. E olha que ele nem era da turma dos nomes esdrúxulos, era apenas um nome pouco sonoro e convencional... O contrário também pode acontecer como, por exemplo, quando quis manter meu nome de solteira mesmo casando convictamente que não quero me separar de Luiz. Mas não fazia o menor sentido eu ter seu nome, identidade zero, e sem julgamento algum para quem muda, apenas o bacana hoje em dia é sabermos que nós, mulheres, não precisamos forçosamente fazê-lo assim como os homens devem saber que durante a união civil podem assumir o sobrenome das esposas. Todas conquistas de direitos.

De todo modo, não adiantou naquela época assim como não adiantaria hoje pedir para meus conhecidos me chamarem de um jeito que não veio como um movimento espontâneo. Aos poucos, me dei conta que entre tantas "Jus", eu era conhecida como a Ju Parreira, e isso me acalmou tanto. No fundo, trata-se sempre de nossa busca eterna de identidade em processos que se encontram e se desencontram de similaridades e diferenças.

Lembro-me da primeira vez que tive que escolher oficialmente uma assinatura para a emissão do RG, e como nunca consegui fazer umas diferentes com padrão de regularidade (aqueles traços malucos), escrevi meu nome por extenso como minha mãe. Tempos depois, quando abri minha conta bancária aos 16 anos, omiti o sobrenome do meio, por já me dar conta de que este último havia tomado uma força maior na minha história (meu pai é chamado pelo sobrenome até mesmo em casa, e este último me diferenciava das outras "Jus"). Mas percebi que minha mãe ficou mexida dizendo que se meu vô soubesse ficaria triste. Entendi sua dor, de mulher, na hora. Mas assim como não conseguia forçar as pessoas a me chamarem de Juli naquela altura não conseguiria que me chamassem de Ju de Mattos. Tempos depois, vi a mesma dor nos olhos de minha sogra ao se dar conta de que seu nome, uma vez divorciada, não iria para seus netos. Eu e Luiz combinamos de cada um escolher apenas um de nossos sobrenomes para colocar nos nomes dos filhos para evitar nomes demasiadamente extensos. Não sabíamos se era o ideal, mas foi o critério que usamos. E claro, que não muito tempo depois entendi o que essas mulheres sentiram quando Mateus passou a ter xará na sala e passou a ser chamado de Mateus Penna. Sensação de exclusão que passou no instante em que me lembrei dessa história toda. Sei que certamente estou deixando marcas fortes em meu filho que vão além de formalidades, por um tempo, por exemplo ele chamava o avô de "vô Parreira Penna" como é para ele: duas coisas indissociáveis.

Como mãe, sei que posso escolher os nomes de meus filhos, mas não como vão chamá-los, porque trata-se de algo diretamente relacionado aos seus jeitos (falando aqui dos apelidos que nascem dessa forma como meu irmão que chama de Chefia - como não se render?) e às construções de suas relações, constituindo-se como parte essencial de suas histórias. Assim, chamo Carolina de Lina, porque além da sonoridade deliciosa, foi como meu menino nomeou pela primeira vez a irmã, bem ao seu jeito e com todo seu afeto. Já Luiz, por exemplo, a chama de Carol.

Quando ela entrou na escola a professora perguntou como queria que a chamassem, fiquei em dúvida até porque também a chamo de muitos outros jeitos (Carolinda, Linoca Tibiriroca, Fofucha). Acabamos combinando Lina. "Caoina" foi uma das primeiras palavras de Bebel para chamar a irmã. Lina levou um tempo para nomear a si própria, desafios de todos bebês potencializados por ter uma irmã gêmea. No início, falava de si como Bebel, depois Menina, EU - todas conquistas ao seu tempo! - e ontem falou assim para me contar que estava colocando suco para mim: "A Caol põe uco, tá bom mamãe?". Silêncio de espanto e reelaboração das ideias.

Depois pensei e disse baixinho a ela: "Tá bom, minha filha!". E ainda pensei: "Você tá mesmo danada, cada dia mais se afirmando nesse mundo, se colocando como sujeito ativo de todas as construções que permeiam nossas relações de afeto. Orgulho da mãe, minha pequena Lina, minha pequena Carol, minha pequena tudo isso e muito mais! Pelo jeito você também terá muitas narrativas para contar sobre como construiu seu lugar no mundo, e eu sempre vou querer te ouvir".


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