terça-feira, 2 de setembro de 2014

Nossa responsabilidade com os mais jovens

Na semana passada estava numa rua de comércio popular quando senti alguém mexendo na minha mochila. Olhei para trás e era um moleque, menino bonito de uns 17 anos no máximo, que em seguida tentou disfarçar dizendo: "O que foi?" e logo saiu andando, com olhos fixos em mim. Eu também fiquei com olhos fixos nele, num misto de susto pelo incidente, indignação por ver um jovem prestes a cometer uma bobagem e esperança de que ele pudesse perceber o mesmo que eu. Ainda tomada pela emoção do momento, quando me dei conta estava atrás do rapaz falando, num tom ponderado e firme: "Que coisa, heim? Tá certo pegar coisa dos outros? Um rapaz como você... Vai fazer alguma coisa bacana da sua vida. Quanto desperdício de energia!" O menino continuou se afastando, em companhia de seu parceiro, contudo, sem deixar de acompanhar minha movimentação até que com uma buzinada, eu e minha mãe percebemos que estávamos no meio da rua e quase fomos atropeladas por uma moto, e cada dupla seguiu por uma direção distinta.

Foi uma cena que mexeu comigo, porque além do susto, me vi na obrigação de intervir para com as atitudes daquele menino. Se isso vai fazer diferença diretamente na vida dele eu não sei, mas fico desejosa que sim, de que ele possa vir perceber que naquele dia perdeu a oportunidade de um furto, mas ganhou a oportunidade de experimentar outro jeito de viver. Afinal, acredito na potência de todo ser humano e principalmente do que aprendemos uns com os outros em nossa vida coletiva.

É verdade que às vezes é bem irritante quando as pessoas palpitam nas suas ações, principalmente quando ultrapassam uma linha tênue do respeito ao seu jeito, tempo e possibilidades distintos. Como mãe, isso acontece com frequência, já falei sobre isso aqui algumas vezes, a tal "chuva de palpites" desde que a gravidez é anunciada. Eu mesmo, confesso, vez ou outra deixo escapar uns palpites por aí. Perdão pessoal!

Contudo, talvez porque agora seja uma mãe um pouco mais segura a ponto de saber diferenciar os palpites que me complementam daqueles que não me acrescentam como também porque, com três filhos pequenos, a vida me ensina constantemente que preciso sim de ajuda, tenho cada vez mais lidado de um jeito tranquilo diante de dicas e críticas. E recebe-las de maneira mais aberta tem me feito um bem danado, me possibilitando outro ponto de vista sobre algumas coisas e assim me vejo totalmente agradecida e comovida frente aos inúmeros gestos de solidariedade que recebemos quando, por exemplo, chego à escola com meus filhotes e logo vem um monte de gente oferecer algum tipo de ajuda seja para dar as mãos para alguma criança ou pegar algum objeto que deixei cair no chão. Em geral, tenho aceitado, mas vez ou outra recuso, simplesmente por não ver necessidade e não querer incomodar, já que o quê aos olhos dos outros é uma cena tensa, andar com os três pela calçada, por exemplo, aos meus não é; trata-se da minha realidade, a minha vida. Aliás, se eu acreditar que não dou conta dessa tarefa sozinha, aí realmente terei um grande problema nas mãos. Sei dos limites de nossa dinâmica tanto que ainda não vou a um parque sozinha com eles, por exemplo, e quando necessário peço ajuda desesperadamente.

Mas agora, o que queria mesmo frisar é que tenho ficado cada vez mais confortável e encantada com os olhinhos atentos e cuidadosos das pessoas ao nosso redor acompanhando a movimentação de minha família. Às vezes, sem mesmo haver necessidade, tenho conseguido aceitar ajuda apenas pelo gesto carinhoso. Sensação de fazer parte, de ser cuidada, querida. Além do mais, quantas coisas meus filhos podem aprender com cenas como essas? E por fim, fico muito esperançosa de que aquele menino, do começo desse relato, tenha sentido o mesmo com o meu olhar de cuidado para com ele.

Segue o texto "Brincar de faz-de-conta", de Rosely Sayão, educadora e colunista da Folha de São Paulo que fala da nossa grande responsabilidade para com todas as crianças e jovens se estamos comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/2014/08/1495842-brincar-de-faz-de-conta.shtml



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