domingo, 13 de outubro de 2013

Lembranças que servem de lição: coisa de macho

Uma lembrança marcante de minha infância eram os domingos em que meu pai cozinhava. Cheirinho bom de cozinha mineira, panelas com legumes de todos os tipos, temperos e molhos únicos, tudo muito simples e gostoso. Até hoje quando fecho os olhos sinto o cheiro de sua comida.

Assim cresci com um modelo de pai atuante, e nas raras vezes em que não o era como, por exemplo, quando não conseguia reclamar diretamente sobre minhas saídas durante a adolescência acabava sendo cobrado pela minha mãe para que o fosse. Como ela mesma conta, ele só não trocava a fralda e limpava vômito dos filhos, porque passava mal, e mesmo assim agora sendo avô algumas vezes já precisou fazer essas tarefas e se virou muito bem. Ele também passa roupa, varre, lava louça. Hoje, quando vem à minha casa é comum fazê-las, dessa vez, já colocando Mateus para ajudá-lo; ações simples que demonstram o quanto é cuidadoso, amoroso e macho.

Sim, cada vez mais tenho certeza de que para conseguir entrar na relação (intensa e louca) entre mãe e filho(a) o pai precisa ser macho, muito macho. Homem bundão não entra nessa relação de jeito nenhum e fica sendo um pai à parte, de enfeite, ausente.

Já publiquei um texto de minha amiga Miruna Genoino, no qual contava sobre uma viagem de seu marido à sua terra natal com os dois filhos do casal e a reação de surpresa, quando não de reprovação das pessoas pelo fato dela "permitir" tal façanha. Mal sabem do paizão que o Miguel é e do total direito que ele faz questão de exercer de curtir e cuidar dos filhotes. Há algumas semanas atrás, passei por situação semelhante quando viajei por 3 dias com meus alunos.

O espanto foi geral. Por um lado, compreendo a curiosidade sobre como foi a rotina vivida por Luiz e nossos filhos na minha ausência, já que as crianças são pequenas e ficam comigo durante o período da manhã. Confesso que até eu fiquei um pouquinho curiosa, com vontade de ser uma mosquinha para, uma vez de fora, me divertir com a correria e loucura de nossas vidas. Mas a verdade é que meu marido, pai de nossos 3 filhos também é muito macho - ainda que de vez em quando precise de meus empurrões (risos), e por isso, em nenhum momento me senti insegura das crianças esses dias ficarem apenas aos seus cuidados. Preciso confessar que apesar da saudade gigante que senti dos meus fofuchos e da responsabilidade em levar 22 outros fofuchos para essa viagem, ainda assim de certa maneira, ela soou quase como um spa para mim (mais risos).

Ao final, como não poderia ser diferente, Luiz, contando com a ajuda de nossa super família, deu super conta do recado, e me deixou mais uma vez orgulhosa por tê-lo como companheiro. Claro que a combinação de roupas das crianças nesse período não foi das melhores, mas acima de tudo esses homens machos que se assumem pais e se aventuram nessa experiência com intensidade nos ensinam a levar as questões do dia a dia com leveza e nos deixar menos controladoras.

Em geral, passada a fase de insegurança de receber um recém-nascido nós, mães, adquirimos uma mania de acharmos que apenas nós cuidamos bem de nossos pequenos. Uma mania que foi uma conquista e por isso merece ser comemorada, mas é importante tomarmos consciência do quanto esta ideia nos limita. É muito pesado pensarmos que somos suas únicas referências e que apenas nós podemos ajudá-los. Compartilhar tarefas, desafios e sentimentos é sempre melhor para todos até para retomarmos nossas vidas, agora de um jeito diferente, mas ainda assim as só nossas vidas e de mais ninguém. Da mesma maneira ela limita os outros ao nosso redor (parceiros, avôs, tios, amigos e professores) a se envolverem com nossos filhos e assim responsabilizarem-se por eles, criando relações únicas e especiais tal qual deixamos de aprender ao vermos outros interagindo com nossas crias.

Mas certamente o pior de tudo é que essa ideia também limita nossos filhos. Eles crescem sem outros parâmetros, sem saberem que existem muitas pessoas ao seu redor que podem ajudá-los e amá-los. Certamente não vão amá-lo tanto quanto nós (muitos risos), mas o importante vão amá-los, e afinal, é isso que queremos, não? Que nossos filhos amem e sejam amados!!! Bem, é o que eu quero, e por isso desejo de coração que suas lembranças tais como as minhas sejam povoadas de muitas referências afetivas.



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