terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Banho de chuva

Por falar em águas...

Aqui está meu meninão aproveitando um delicioso banho de chuva!!!

Sessão "ensinando o que realmente importa": experimentar, sentir, pensar, interagir com a natureza.


 
 
A chegada do Gael (das águas para a água), na postagem anterior, e esse meu meninão aproveitando a experiência desse banho de chuva me fez lembrar de um delicioso poema do grande Manoel de Barros... Que bem danado esses meninos fazem em nossas vidas - que sigam sempre assim... meninos que carregam água na peneira!!!
 
 
O menino que carregava água na peneira
(Manoel de Barros)
 
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
 
 
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o voo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos


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