quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Pior que dor de parto!

"Pior que dor de parto". Foi com essa expressão que meu dentista me preparou para o tratamento de canal que eu deveria fazer após meu dente ter se quebrado (dureza ficar velha, viu?!). Num primeiro momento fiquei aliviada, pois a dor do parto para mim não foi algo terrível de sentir, pelo contrário: foi intenso, bonito. Tem gente que diz que a natureza é sábia e passado o nascimento do filho a mãe esquece tudo para poder desejar engravidar de novo, pode ser... Porque eu viveria tudo de novo.

Diferentemente de meu tratamento de canal - que socorro! - passar por isso novamente: ficar ali parada, sem poder fazer nada, ter seu corpo mexido e remexido, e mesmo sem sentir dor (estava anestesiada... viva o avanço das ciências nessas ocasiões necessárias), ouvia aquele barulho de dentista e sentia uma dor psicológica, muito, mas muito angustiante! E para quê? Para meu dente ficar morto! Uma experiência bem desgastante, e olha que me acho bem resistente para a dor! Contudo, como disse meu dentista ainda é melhor do que perder o dente - nessa vida sempre tem o que é pior para nos lembrar de agradecer o que temos, e assim seguimos em frente...

De todo modo fiquei intrigada com a comparação entre as duas dores, afinal, uma traz a vida de um ser ao mundo, a outra a morte de um dente, diferença maior não há! Coloquei-me então a pensar que por um lado é bom que as pessoas, principalmente os homens reconhecerem que a dor do parto pode ser uma dor bastante desconfortável, e por isso mesmo as mulheres precisam ser acolhidas e asseguradas em seus direitos de parir em boas condições. Por outro lado, essa crença de que a dor do parto é tenebrosa tem sido também uma das razões de mulheres fugirem do parto normal: medo de senti-la e de não conseguirem superá-la, e por isso a importância de desmistificá-la.

Para mim, deixar de parir por medo da dor nunca foi uma opção.

Na primeira vez, como nem sabia o que era uma contração, demorei para perceber que estava tendo. Fiquei acordada sozinha, esperando a dor vir forte como nos filmes e nada. Após um tempo, como não cessava, fomos à maternidade e apenas no caminho a dor veio com contrações intensas, dificuldade de respirar e um certo medo, mas como foi rápido acabou não sendo para mim uma experiência extenuante. Assim que cheguei, Mateus nasceu (meu médico nem chegou a tempo)! Foi quando descobri que eu era uma mulher bem mais poderosa do que imaginava. Superar desafios, dar à luz, trazer uma vida à vida fez eu me sentir ainda mais viva, na verdade, duplamente viva: com um coração a mais pulando agora fora de mim!

Sei que a rapidez de meu trabalho de parto foi uma exceção, pois em geral, demora horas como de minha amiga Mimi que ficou mais de 20, e como com todas as mulheres de antigamente desde que o mundo é mundo. Recentemente, por exemplo, fiquei sabendo que minha vó Dé pariu meu pai... sozinha! Minha vó também foi uma exceção, pois hoje sabemos de muita coisa ruim que poderia ter acontecido naquela ocasião, e por isso hoje temos que agradecer o avanço das ciências para nos amparar quando necessário, possibilitando que as mulheres tenham um bom trabalho de parto, fazendo o seu trabalho. Foi quando descobri que todas as mulheres são poderosas, por poderem gerar e parir, e serem as responsáveis pela travessia desses seres pequeninos a esse mundo grande. Quanta responsabilidade, honra, gratidão e amor! Ah... o amor!

Na chegada de minhas meninas, minha bolsa estourou, corri para a maternidade, e sem anestesia nem a presença de meu médico e do Luiz, que estava colocando a roupa, eu disse categoricamente aos médicos presentes: "Não aguento mais, eu vou fazer força". Senti uma dor orgânica, vital, essencial, porque eu estava fazendo, junto de minhas meninas, a força necessária para elas chegarem a esse mundo. Eu precisava fazer força para ver as carinhas de minhas meninas, e eu amei fazer isso, por elas, por mim, por nós. Coisa mais linda essa... parir!!! Primeiro veio Carolina, e depois de 32 minutos, vendo Luiz carregar nossa menina em seus braços Isabel chegou para completar nossa família. O amor multiplicado por três, o amor de ser mãe de três coisas lindas! Foi quando descobri que certas dores da vida fazem parte e valem à pena, são gratificantes! Nessa sociedade que vivemos tão consumista e imediatista o conceito de dar à luz foge totalmente dos parâmetros. Por isso a importância de se compartilhar experiências, para que possamos nos ajudar a resgatarmos nossas ancestralidades que fizeram nossa espécie sobreviver até hoje e projetarmos nossa potência em um futuro mais humano.



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