segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Lembranças que servem de lição: UTI neonatal

Há uma semana atrás abri meu facebook e me deparei com essa mensagem da Aloyne, uma amiga de infância:

Não sei nem por onde começar !!!! 09/12/2012, esse dia nunca mais será o mesmo na minha vida. Minha princesa Beatriz chegou ao mundo, bem adiantada mas chegou. Existem coisas nessa vida que não podemos escolher e outras sim, e ela escolheu hoje, o dia q ela teria q vir ao mundo. Que Deus olhe por você, te proteja, te abençoe e te de muita saúde. A mamãe tem certeza que vc é forte e vai tirar de letra essa prematuridade, eu sinto isso bem dentro do meu coração. Vc já mudou meu mundo !!!! TE AMO BEATRIZ !!!!!

Li e reli a mensagem algumas vezes tentando captar o que ela dizia e ao mesmo tempo fazendo as contas de quantos meses de gestação ela estava quando da última vez que nos falamos. Depois de uns minutos caiu minha ficha de que Bia havia nascido bem prematuramente e claro, me emocionei.

Primeiramente porque a chegada de um ser a esse mundo ainda mais quando faz parte de seu ciclo de amizades é algo que deve ser sempre comemorado. É o anúncio de novos tempos e de uma nova geração; é a continuação de nossa espécie, de nossos valores e da promessa de que o que é certo se manterá e o que é errado poderá ser modificado. Certamente toda minha clareza a esse respeito só veio após o nascimento de meu primeiro filho e desde então tenho feito questão de marcar a alegria desse acontecimento aqui no blog com a sessão "seja bem vindo!". Bia daqui a pouco fará a dela.  

Em segundo lugar me emocionei com a notícia, pois agora como mãe sei bem como o nosso coração fica apertado quando nosso filho precisa de cuidados especiais de saúde. Pensei então na Lô, recém mamãe, com toda aquela idealização na cabeça de receber a filha no colo, depois cheirá-la, amamentá-la, e claro sair logo com ela nos braços da maternidade e fiquei muito mexida por ela ter que esperar um tempo para fazer tudo isso. Na verdade, acho que só estou conseguindo escrever esse texto hoje, pois ao abrir o facebook me deparei com outra notícia emocionante, e dessa vez animadora:

GENTE...PRECISO CONTAR !!!
Hj, dia 15/12/2012 às 16 horas tive e alegria que pegar minha filha no colo pela primeira vez. Fizemos o método "canguro", esse método foi comprovado cientificamente que trás enormes benefícios para os bebês prematuros.
A alegria foi imensa e o prazer inexplicável. Sentir seu coraçãozinho batendo no meu peito, sua respiração tranquila e ver que ela dormir tranquila e profundamente foi delicioso. A maior alegria de todas é saber que esse foi apenas o primeiro de muitos e muitos colos que darei a ela.


Lô querida, a evolução de Bia está indo muito rápido, sinal de que ela é mesmo uma guerreira como constantemente e que suas orações em breve serão atendidas. Ainda assim esse momento é mesmo muito difícil, pois lidar com a fragilidade da vida humana requer uma sabedoria e equilíbrio muito grandes, mas que certamente você e Dani estão tendo. Sei que no momento é tudo muito confuso, mas tente tirar proveito dessa situação. Vou contar brevemente da minha experiência...

Mateus também nos deu um susto. No seu segundo dia de nascimento um exame veio alterado e por prevenção o internaram na UTI para tomar a medicação necessária. Quase tive um "troço" quando o vi dentro da incubadora todo peladinho, tão frágil, sozinho, sem receber nosso aconchego. Uma triste imagem, você bem sabe... Mas então olhei para os lados e vi outros bebês, também peladinhos, muitos deles bem pequenininhos e dentre esses vi um que tinha uma placa comemorativa do lado de fora da incubadora com os dizeres: "Viva... ganhei meu primeiro quilo!". Nesse momento, olhei para seus pais felizes com os dizeres da placa e me emocionei muito com aquela imagem. Quem diria, 10 minutos depois de me deparar com a imagem mais aterrorizante do mundo para uma mãe lá estava eu chorando, não mais de angústia, mas de esperança diante daquela cena tão linda daqueles pais orgulhosos por seu pequeno que lutava - também como um guerreiro - por sua vida.

Naquele momento, fui me dando conta de ser mãe/pai é mesmo entregar nosso coração para um outro ser carregar e ficar sempre dependendo do sorriso deste para sorrirmos também assim como passei a entender o porquê sempre desejamos saúde para as pessoas queridas.

No dia seguinte, Mateus foi transferido para a semi uti, onde permaneceu por mais três dias. Nesse espaço as coisas são menos tensas, a começar que você sabe que seu bebê está mais forte para estar ali e que eles ficam em bercinhos, com roupa e os pais têm um pouco mais e acesso livre. Ainda assim é uma Unidade de Tratamento Intensivo e está longe de ter o aconchego, tranquilidade e liberdade de nossa casa. Fiquei um dia a mais na maternidade para acompanhar meu pequeno, sendo que esse dia foi na data de Natal e no dia seguinte não mais podendo ficar fui embora sem meus pequenos assim como você. Dureza! Nos dias posteriores passávamos o dia na maternidade, aproveitando o máximo de tempinho que podíamos com ele. No restante do tempo aproveitava para ir ao banco de leite "ordenhar", é importante para que o bebê beba seu leite e depois você consiga amamentá-lo, conversar com outras mães em situações semelhantes. Sim, existem um monte delas na maternidade, comece a reparar: muitas vezes passam o dia inteiro sozinhas e vão adorar bater um papo para aliviar o peso do que estão passando com seus filhotes. Também me forçava a comer, beber água e descansar da maneira que desse, afinal, se queremos dar força aos nossos pequenos precisamos estar fortes, orar, chorar, sorrir e sonhar com o fim desse episódio e aceitar todo tipo de ajuda (você verá que agora como mãe entendemos que fazemos parte de uma teia da vida na qual temos que cuidar uns dos outros) e como já disse, tirar proveito dessa experiência.

No caso nosso caso aproveitamos para fazer um estágio com as enfermeiras: elas nos deixavam trocar fraldas e dar banho. Assim, quando depois da suspeita da bactéria não ter se confirmado em Mateus fomos para a casa muito seguros em relação a como cuidar dele, já que havíamos recebido um monte de dicas das enfermeiras e claro, muito, muito contentes, pois mais do que nunca aprendemos a dar valor para a vitória de nosso filho. Longe de desejar que todos os pais passem por isso, mas a verdade é que aqueles que passam por situações delicadas como essas valorizam mais rapidamente os pequenos gestos: respirar sozinho, ganhar peso, sorrir, chorar, olhar nos nossos olhos, adormecer em nosso colo, amar e ser amado. E minha querida Lô, ao ler suas mensagens é muito visível o quanto você já sabe disso ao comemorar as pequenas grandes conquistas de sua filha. Parabéns pela maternidade, continue curtindo muito cada vitória de sua guerreira, a gente fica daqui na torcida, sempre!


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