domingo, 6 de setembro de 2015

Morremos junto com o menino...

Tentei, tentei, mas simplesmente não consegui escrever sobre o menino refugiado sírio encontrado numa praia e tudo que envolve sua morte. Luto grande. Não só pelo menino, mas pela nossa humanidade. Com ele, morre também parte de nossa civilidade ao produzirmos a aceitarmos situações como essa.

Nesses momentos que me faltam palavras, busco aquelas que me representam e me ajudam a lidar com esse episódio para que um dia consiga falar a respeito. Porque isso me toca, me convoca, me fere, me diz respeito.


Por Felipe Pena:
"O menino na areia não é sírio.
O menino na areia não é refugiado.
O menino na areia não respira.
E não respiram todos que viraram o rosto para o rosto virado na...
areia.
Ele, o menino na areia, é o arame farpado na fronteira, é o lorde de peruca no parlamento, é o trem sem janelas na estação fechada de todos os países. O menino na areia é alemão, é húngaro, é inglês. E também é argentino, brasileiro e judeu.
O menino na areia vive (e morre) na periferia de sua atenção, embaixo do tapete, no rodapé do jornal que não existe mais. O menino na areia é a especulação, a taxa de câmbio, o spread bancário e o socialista de botequim. O menino na areia é o menino deitado, de rosto virado para os cegos do outro lado da areia.
Cegos que, ontem, finalmente, viram o menino na areia.
E viram no livro dos rostos, que não estavam virados, mas ocupados, entre festas na areia, carros importados e guerrilhas ideológicas.
Ontem, todos nós vimos o menino na areia.
Mas o rosto, virado na areia, não era o do menino na areia.
- Olhe de novo, menino na areia."

 
Por Gabriel Passetti:
"Esta crise humanitária que adentra a Europa é impressionante e nada se fala dela aqui no Brasil. Dezenas (centenas??) de milhares fugindo do norte da África, do "Estado Islâmico", das guerras civis que se seguiram à "Primavera Árabe" (especialmente na Síria). Multidões tentando se salvar de guerras que tem tudo a ver com os velhos jogos geopolíticos das "grandes potências" e os interesses de suas "grandes companhias". A solução fácil proposta é criar muros ao redor da Europa! Cacilda!
Hoje a foto de capa do UOL era a de um policial turco retirando do mar o corpo de uma criança que se afogou tentando, com a família, fugir da Síria. Ele tinha a idade dos meus filhos!
O que leva as pessoas a fugirem tão desesperadamente, a se arriscar e arriscar seus filhos desta forma? Somente uma realidade infinitamente pior. O que o egoísmo cego não vê é que essas pessoas não estão fugindo porque acham bonitinho castelo, parque e comer salsicha. Elas estão tentando se salvar!
Enquanto morrem às centenas, em terra firme, no mar, ou ao chegar à Europa, os "grandes líderes" e suas massas continuam fazendo vistas grossas, respondendo com violência e repressão, sentando a porrada.
Justo vocês, europeus, arrebentados, mortos, famélicos e explodidos há 70 anos?
Também não se fala dos migrantes que estão fugindo para o sul da África, para os Emirados, para a Rússia, a Ásia toda.
Situação não muito diferente vemos no Brasil, com a chegada dos haitianos. Vindos de uma situação desesperadora, largando a família lá para tentar ganhar uns trocados. Tratados aqui, pela massa, pela mídia, pela política e pela polícia como bandidos natos.
Que desânimo disso tudo."


Mais imagens e reflexões...

http://www.contioutra.com/ilustracoes-homenageiam-garoto-encontrado-morto-na-turquia-veja-imagens/
http://www.contioutra.com/a-sinistra-poesia-do-bale-da-morte/


Por fim, notícias que me fazem começar a voltar a acreditar...

http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/195824/Brasil-concede-2077-ref%C3%BAgios-aos-s%C3%ADrios.htm
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/09/1678461-papa-abre-vaticano-para-refugiados-e-pede-que-paroquias-da-europa-facam-o-mesmo.shtml?cmpid=facefolha

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