domingo, 8 de novembro de 2015

Parece que foi ontem...

Ontem, o facebook me lembrou dessa imagem...



Parece que foi ontem de tão rápido que passou... 3 anos! Por outro lado, parece que faz mais tempo, porque nem lembro direito como era essa nossa vida... Como sobrevivemos?

Guardo muita saudade de meus bebês, mas nenhuma de mim mesma nessa época... Contudo, foi graças a essa outra de mim que construí tudo que tenho hoje. E tenho muito! Temos muito. 

Uma família grande para, juntos, rirmos e chorarmos nessa vida. Amo.

E hoje, essa mesma rede social, me relembra de outro momento gostoso, há 2 anos atrás... Num dia em que choveu muito aqui em casa... chuva de bolinha!



Nesta época já me encontrava mais conectada ao mundo (rs), mais segura por ser mãe de 3. Também já havia voltado ao trabalho - e dessa vez das meninas, me fez super bem, tínhamos uma rotina construída, que tinha seus momentos de correria, mas muitos momentos como esse em que a brincadeira nas relações dava o tom como vivemos até hoje, meus 3 já estavam interagindo muito, brincando e brigando como imagino que continuarão fazendo por toda a vida, as muitas gracinhas de criança pequenina aconteciam de modo abundante e encantador, o que me mobilizava a rezar para o tempo passar... Porque dá orgulho em ver os filhos crescerem, assim como a gente! Mas que ele passe bem devagar - para que eu consiga aproveitar o máximo possível de momentos assim... simples, divertidos e intensos!  


sábado, 24 de outubro de 2015

Pedro Vitor: seja bem vindo!!!

Mais um bebê fofo chegou a esse mundo: é o Pedro Vitor, filho dos queridos Marco Aurélio e Daniela. Que notícia maravilhosa, nossos parabéns de todo mundo aqui de casa para cada um de vocês!

Hoje, num dia que passei aqui no blog para escrever outros textos em defesa pela infância, segue um poema de Ruth Rocha. Se bem que no caso de Pedro Vitor tenho certeza de que com os pais que escolheu ele certamente será muito respeitado, valorizado, amado, e feliz! Sortudo esse garoto!


O Direito das Crianças

Toda criança no mundo
Deve ser bem protegida
Contra os rigores do tempo
Contra os rigores da vida.

Criança tem que ter nome
Criança tem que ter lar
Ter saúde e não ter fome
Ter segurança e estudar.

Não é questão de querer
Nem questão de concordar
Os diretos das crianças
Todos tem de respeitar.

Tem direito à atenção
Direito de não ter medos
Direito a livros e a pão
Direito de ter brinquedos.

Mas criança também tem
O direito de sorrir.
Correr na beira do mar,
Ter lápis de colorir...

Ver uma estrela cadente,
Filme que tenha robô,
Ganhar um lindo presente,
Ouvir histórias do avô.

Descer do escorregador,
Fazer bolha de sabão,
Sorvete, se faz calor,
Brincar de adivinhação.

Morango com chantilly,
Ver mágico de cartola,
O canto do bem-te-vi,
Bola, bola,bola, bola!

Lamber fundo da panela
Ser tratada com afeição
Ser alegre e tagarela
Poder também dizer não!

Carrinho, jogos, bonecas,
Montar um jogo de armar,
Amarelinha, petecas,
E uma corda de pular.


Ruth Rocha

Sobre a cultura do estupro

Começou mais uma temporada de um reality show de culinária num canal brasileiro, dessa vez com crianças, o que não aprovo. Não acho que lugar de crianças seja nesse tipo de programa competitivo e expositivo, mas aqui quero tratar de outros mais sérios que ocorreram a seguir...

Muitos comentários de homens demonstrando desejo sexual para com uma menina de 12 anos revelaram o quanto a cultura do estupro está viva em nossa sociedade. O termo "novinha" é o mais digitado para acessar pornografia no Brasil...

Revoltante.

"Vamos deixar algo claro desde o começo: qualquer tipo de relação de natureza sexual com uma criança é estupro. Uma criança nunca pode ter uma relação sexual consensual porque ela é criança e não pode tomar esse tipo de decisão. Por lei. Vamos dar o nome certo às coisas. Aqui não estamos falando de pedofilia, que é uma doença que pode ser tratada antes que a pessoa cometa qualquer crime — seja ele consumir pornografia infantil ou o estupro. Nenhum desses homens que comentou sobre a MasterChef é doente, eles apenas acham que têm o direito de falar absurdos como esse porque olham para ela e não enxergam uma criança, mas uma mulher."  
(Carol Patrocinio. Texto maravilhoso na íntegra: https://medium.com/@carolpatrocinio/quando-uma-menina-de-12-anos-no-masterchef-jr-desperta-o-desejo-de-homens-adultos-precisamos-falar-503567b2778d#.wgbkelch7)

Mais uma vez coloco-me em defesa da infância.

Uma criança precisa ser olhada de um jeito respeitoso e ético, sendo assegurada em seu direito de se desenvolver no seu ritmo, expressando todas seus pensamentos e sentimentos acerca do mundo até vivê-lo autonomamente.

Vamos parar de tratar esses comentários como "pouca coisa", porque não o são. Eles revelam muito o modelo de sociedade que ainda vivemos: machista, anti ético e retrógrado.

Nossa sociedade vai criando, dia após dia, uma maneira de aumentar a vulnerabilidade feminina. E o sexo é a mais rápida delas. Meninas são incentivadas a ter relacionamentos com homens mais velhos porque elas são muito maduras para a idade. Mulheres engravidam, então socialmente diz-se que a responsabilidade pelo bebê é apenas delas. O aborto é proibido — mesmo acontecendo em números alarmantes em todas as classes sociais e regiões. Homens mais velhos sabem como guiar meninas a fazer o que eles querem. Mães adolescentes largam a escola, não fazem faculdade e contentam-se com subempregos porque precisam sustentar seus filhos. Além de tudo essas mulheres, que foram meninas vítimas da cultura do estupro, são tidas como vagabundas.
(Carol Patrocinio. Texto maravilhoso na íntegra: https://medium.com/@carolpatrocinio/quando-uma-menina-de-12-anos-no-masterchef-jr-desperta-o-desejo-de-homens-adultos-precisamos-falar-503567b2778d#.wgbkelch7)

Parece papo de feminista exagerada? Queria eu que fosse, mas não é.

Ainda nesta semana, outro acontecimento grave, o deputado Eduardo Cunha (sim, ele de novo!) conseguiu aprovar mais uma medida que nos faz caminhar para trás...

"Hoje, 21, foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 5069/2013, de autoria do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que torna crime anunciar, induzir ao uso, ou fornecer meios ou substâncias abortivas a uma gestante, mesmo em caso de estupro. Além disso, o projeto torna obrigatório que mulheres que afirmem terem sido estupradas façam um boletim de ocorrência e exame de corpo de delito para que "comprovem" que estão falando a verdade. Por último, a proposta ainda altera o item que possibilita que a mulher receba pílulas do dia seguinte para evitar uma gravidez em caso de estupro – a chamada profilaxia da gravidez." 
(http://www.justificando.com/2015/10/21/aprovado-na-ccj-projeto-de-cunha-que-dificulta-mulheres-estupradas-realizem-aborto-/)

Já escrevi sobre o que acho do aborto na postagem (http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2015/02/a-favor-da-vida-favor-do-aborto.html).  De todo modo, o que vale aqui é dar o direito a uma mulher decidir sobre seu próprio corpo, principalmente quando o mesmo foi violentado. Essa é mais uma prova da cultura do estupro como se ele não causasse danos, fosse algo justificável, aceitável ao invés de repudiado.

O desejo é responsabilidade de quem o sente e não de quem o desperta. Quando um adulto sente desejo por uma criança é ele o culpado por ir contra uma norma social que protege a infância, a integridade e o corpo de uma incapaz (de acordo com a lei). Porém é muito simples inverter esse raciocínio ao dizer que a menina já tem em si a sexualidade de uma mulher, que ela usa roupas provocativas e que pede atenção masculina. Com essa ideia o homem torna-se a vítima de uma “destruidora de lares” que ainda brinca de boneca, apesar de ter sim sexualidade, ainda que muito diferente da de uma mulher adulta. (...) 
É importante falar sobre a cultura do estupro. Ela anda nas entrelinhas de muitos discursos. Ela caminha ao lado da ideia de que homens não conseguem conter seus instintos. Ela está totalmente ligada ao falso consenso que poderia dar uma criança. Ela é reforçada pela infantilização de mulheres adultas. A impunidade é sua melhor amiga e a culpabilização da vítima sua principal arma.
(Carol Patrocinio. Texto maravilhoso na íntegra: https://medium.com/@carolpatrocinio/quando-uma-menina-de-12-anos-no-masterchef-jr-desperta-o-desejo-de-homens-adultos-precisamos-falar-503567b2778d#.wgbkelch7)

Mulheres corajosas, a seguir, publicaram em um só dia relatos de seus primeiros assédios sexuais, a maioria vindo de familiares que continuaram a ser obrigadas a se relacionar.

30 mil relatos,num só dia! Num só país. Inspirados num único episódio. Você ainda acha que estamos falando de "pouca coisa"? Ou de papo de novela?

Triste.

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/22/politica/1445529917_555272.html?id_externo_rsoc=FB_CM

Com meu otimismo, por um tempo fiquei achando que esse acontecimento poderia ter servido para tratarmos de uma questão séria, urgente e delicada, e assim avançarmos na tomada de consciência de nossas condutas em nossas interações. Na história da humanidade são às vezes por esses caminhos tortuosos que identificamos nossos problemas e recuperamos nossa sanidade e construímos outros novos, mais justos.

Contudo, no mesmo dia as piadas continuaram a acontecer...


Desânimo.

Mas depois me dei conta que exatamente por essa questão estar emaranhada em nossa cultura um único episódio não bastaria para transformá-lo completamente. Fui ingênua demais. Para tanto será necessário muito barulho ainda. E estou nessa toada porque não compactuo com pessoas que violentam outras, principalmente de crianças. Pelo contrário, como educadora inspiro e respiro o tempo todo para ajudá-las a significarem suas relações de maneiras mais respeitosas assim como mãe e cidadã.


Novo ânimo quando li as palavras desse pai...

É muito difícil manter a alegria no coração, vendo os relatos de abusos e assédios sofridos por tantas mulheres, desde as suas infâncias.
E por mais que eu tenha empatia, eu nunca saberei como é viver uma vida inteira com esse medo. Eu mesmo, quando criança, nunca tive que me preocupar com isso, e isso é apenas um dos privilégios que eu tenho, pelo simples fato de ter nascido homem.

Conhecer essas histórias, inclusive as histórias de amigas tão queridas minhas faz eu sentir uma mistura de indignação e vergonha. Vergonha por ser homem como esses homens, e saber que tantos, mas tantos outros homens fazem isso diariamente. É contra esse machismo que corrói a nossa sociedade que devemos lutar, todos os dias, para sempre.

E aí eu olho meus dois meninos, que nasceram meninos e, dentro dessa sociedade patriarcal, já possuem um número imenso de privilégios. Meninos que se tornarão homens e precisarão continuar a luta contra o machismo, não fazendo parte dele. Renegar esse histórico podre de abusos e poder.
É uma baita responsabilidade, mas se tem uma coisa que eu tenho certeza é que todos os meus esforços estão na criação de meninos que não abusem de meninas. De maneira nenhuma.
(Paizinho, vírgula. https://www.facebook.com/paizinhovirgula/posts/748400018639830?fref=nf) 

Outra coisa que me animou hoje... A questão de gênero foi tema do ENEM!!! Sim, o tema da redação foi: "a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". Pensar que milhões de jovens pensaram a esse respeito, com seriedade, sem poder profanar bobagens e podendo reconhecer o sinal dado de que essa questão é de suma importância para o tipo de gente queremos formar, finalidade maior que deve ser desse tipo de exame nacional. Orgulho, orgulho, porque afinal, neste exame, os atrasados em todos os sentido, se deram mal... E risos e mais risos das pessoas que identificam essa questão com sendo de esquerda... Ai, ai... Mas vamos seguir caminhando e sonhando com outro mundo.

Por fim na postagem anterior compartilhei a experiência de meus filhos no "Dia das Crianças na roça" simplesmente como uma resposta a esses acontecimentos. Considero essa experiência simples e intensa e pode ser mais uma referência nesse cenário. Nossas crianças merecem ser olhadas, com toda sua potência, e como seus cuidadores devemos nos responsabilizar para que possam explorar ao máximo suas interações com esse mundão, que pode e precisa ficar muito melhor!

Eu acredito. E você?

Dia das crianças na roça


Um encontro.
Bebel e o Louva a Deus.
Um humano e um bicho.
Um ser e outro ser.
Olho no olho.
O mundo em suspenso e ao mesmo tempo fervilhando.
Vida, muita vida.

Nesse encontro diversas reações de ambos os lados...

Bebel se surpreende, chega perto, o bicho pula, tenta escapar, ela vem em minha direção com receio. Me aproximo do bicho e converso com ele e aos poucos os dois se tranquilizam. Quando ele aceita meu convite para subir na folha rapidamente Bebel quer segurá-lo. Ela toma cuidado e também lhe dirige palavras, de maneira cada vez mais espontânea, as quais seu novo amigo ouve com atenção.


Essa relação intensa chama a atenção dos irmãos que logo começam uma disputa para segurarem o bicho. Novamente o Louva a Deus tenta escapar daquela briga que não é dele, mas não consegue devido a destreza de Mateus.

Novamente faço uma intervenção pedindo para colocar o bicho na pedra até ele se acalmar enquanto peço para Bebel contar sobre o que já havia descoberto: "Ele tem que ter cuidado, ele também tem medo". Assim, com olhos investigativos meus pequenos observam o "Louca a Deus" como Carol o chama. Risos meus e de Mateus. Ela não entende nossa reação, e continua sua pesquisa: "Ele tem medo?", e Isabel continua: "Tem, ele pula assim ó, voando". Mateus pede precisão: "Ele pula ou voa?". "Ele pula", Bebel responde, sem muita convicção. "Eu quero que ele pule", fala Carolina e começa a fazer movimentos bruscos para ele se movimentar, dando gargalhadas enquanto Mateus se enfurece porque ela está espantando seu foco de observação: "Para de fazer isso que eu estou vendo ele, olha, ele tem olhos e boca". Carol continua a querer colocá-lo em ação, Bebel cai no choro pelo amigo em risco, o que ela não sabia ainda é que ele não é bobo e logo foi-se embora desse trio agito.

Busca ao bicho. Quando o achei fiquei em dúvida se mostrava ou deixava o bicho seguir seu caminho, mas eles estavam tão preocupados que resolvi mostrar, pedindo cuidado e aproveitando para conversar sobre camuflagem, pois o bichinho estava numa folha tão verde quanto ele. Mateus fez muitas perguntas a respeito, mas logo outra coisa chamou sua atenção, e lá se foi ele em suas explorações na roça. Já minhas meninas continuavam por ali inconformadas com o bicho preferir ficar na folha da árvore à folha seca que elas estavam lhe oferecendo como lar. Por fim, mais uma vez, ele demonstrou inteligência ao perceber que era melhor aceitar logo o convite para depois seguir sua vida em paz. Assim, elas puderam terminar a conversar com o amigo, mostrando para com ele bastante curiosidade e cuidado, e recebendo de volta o mesmo.

Sem dúvida, um encontro.



Um tempo depois Mateus encontrou um bicho morto, uma pequena mariposa, já seca e anunciou a todos. Carolina se mostrou indignada: "Isso não é bicho", uma vez que ela havia acabado de conhecer um, com toda sua vitalidade! Mateus lhe contou que este já havia morrido e ela continuou a negar, a dizer que tratava-se de folhas. "Quer ver?", ela perguntou e logo começou a despedaçar "geral" o pobre bicho morto.


Diante da cena forte, Mateus demorou para se reorganizar mas logo voltou a afirmar: "Era um bicho morto sim. Mas agora é um bicho em folhas".



Na cascata, esse lugar de tantas memórias minhas de infância, uma verdadeira nascente de pesquisas e interações, Carol e Bebel começaram uma brincadeira que Mateus já havia inventado da outra vez, a qual ele chamara de "vômito" - mas elas não a chamaram assim. A brincadeira consistia em colocar folhas no cano para entupi-lo por um tempo até o tal vômito acontecer, seguido de risos, comemorações e um "de novo?".

A brincadeira durou um tempo e teria durado mais, se não fosse interrompida pelo Mateus e seu brinquedo de jogar água... nelas!!! Elas até tentaram também jogar nele, mas foi uma disputa desleal como são tantas entre os irmãos...


As duas ficaram irritadas e resolveram caminhar. Sábia decisão.

Fiquei um tempão contemplando suas andanças, encantada com suas explorações. Cada animal que conheciam ou reconheciam ou elemento que encontravam desde paus, folhas, pedras, areias, estercos eram motivos para interagirem tocando, cheirando, disputando, compartilhando... E principalmente a maravilhosa oportunidade em terem um espaço e tempo à disposição, para ser experimentado de forma diferenciadas única!

Um mundo que cabe na palma da mão.
Um mundo que é maior do que o meu coração.
Um tempo que passa num segundo mais duradouro de todos.
Um tempo que dura uma eternidade mágica.
Uma brecha no tempo e espaço.
Uma brecha para vivermos nossos mundos e nossos tempos, de um outro jeito. 


Mateus foi atrás delas e o que poderia ser um problema, virou a solução, porque agora os três estavam juntos para molharem a mim e ao Luiz!

Que lindeza ver meus pequenos desenvolverem esse sentimento de irmandade. Brincar e brigar são os eixos fundamentais que regem essas relações e fazem essa construção ganhar um sentido especial, de companheiros que se formam para toda a vida.



Depois de um tempo, Mateus resolveu jogar bola (que novidade!) e as duas foram em busca dos cachorros, mas ao encontrá-los ficaram insatisfeitas: "Cadê os pequenininhos?", e levei um tempo para entender o que estavam dizendo - as crianças guardam sempre um sentido em tudo que fazem, pensam e sentem, mas nem sempre conseguimos nos sintonizar com elas. Ganhamos todos quando o fazemos! - até que me lembrei que na última vez que estivemos ali os dois eram bem filhotinhos, principalmente o Chocolate, o preferido delas.


Nesse momento me dei conta de que fazia um tempão que não viajávamos para lá "por que demoramos tanto?" me perguntei. Percebo então que isso acontece com tantas coisas em minha vida: com o tempo, deixar de fazer o que gosto... Sorte ter a oportunidade dessa conversa para tomar dimensão dos caminhos que venho trilhando, poder rever algumas de minhas escolhas.

Precisei explicar muitas vezes para Carol e Bebel que tratavam-se dos mesmos cachorros, mas que eles haviam crescido tal como elas. Demorou muito tempo para que aceitassem essa ideia e se entregassem novamente a essas relações, especialmente com Chocolate que desperta nelas afeto e medo por suas mordidas de brincadeiras.



A alegria de meus filhos ao chegar à roça foi enorme, de emocionar. Mas dessa vez estranharam muito: "Mas cadê as outras pessoas?". Bonito de ver como associam o lugar a quem faze parte dele. 

Para mim, a vivência nesta casa foi uma de minhas primeiras oportunidades de experimentar uma experiência comunitária para um pouco além da família, pois apesar de ser do âmbito familiar ela incluía outros parentes e gente diferente que circulava por ali. Esse exercício importante (e desafiante!) continua até hoje quando temos que conviver nesse espaço, compartilhar impressões e tomar decisões.

Numa horinha de descuido, minhas meninas foram até o telefone e ligaram para todos, um por um para convidá-los a participar de uma festa na roça. E realmente elas têm razão: esse espaço cheira festa! Acho que por causa do contato íntimo com a Mãe natureza a gente se sente o tempo todo inspirado a celebrar a vida.



"Enquanto as outras pessoas não chegam que tal uma passadinha no balanço?", logo elas aceitaram meu convite.  "Mais alto", "Segura na barriga e solta", "Quero ir sozinha", "Me empurra", "Olha o que eu tô fazendo!", "Quer que eu te rode? Eu rodo você fraquinho...", "Eu já cresci, já consigo ir lá no alto", "Eu tô virada", "Isso é muito divertido!", "Eu vou pegar o céu", hahahahaha.


Cresci nesse balanço. Quantas vezes quando menina falei as mesmas coisas que elas, principalmente que ia segurar o céu, nesse ir e vir do meu corpo brincando com o vento?

O tempo me intriga, pois me provoca muitos tipos de pensamentos, sentimentos e reações. Essa cena, por exemplo, representa esse misto de emoções. Nela, tive a grata surpresa de perceber como minhas meninas cresceram, ao ver as coisas que já está conseguindo fazer sozinhas e suas animações por perceberem suas conquistas, medo enorme por perceber como passou tudo rápido, felicidade por ter feito parte disso tudo, de suas histórias assim como elas da minha, e nao deixei de sentir, incoerentemente, uma pontinha de desejo de que o tempo passe rápido porque fico curiosa para ver as mulheres que se tornarão.

Me veio agora a imagem da última cena do livro "O menino maluquinho" quando defendendo o gol, ele segura a bola pra cá, pra lá, de todos os jeitos possíveis e impossíveis, e a única coisa que no fim ele não consegue mesmo segurar foi o tempo. Tal como eu não segurei na minha meninice e nem vou consegui-lo fazê-lo pelos meus filhos.



E então vovô chegou! Ele que inspira e respira essas terras, que construiu história nesse lugar, que deixou suas marcas aqui assim como possibilitou que esse lugar deixassem marcas profundas em nós, em nossos modos de enxergar o mundo e vislumbrar outros. 


Quem lembra como era esse lugar antes e hoje o vê tão cheio de árvores, flores, animais, cantinhos, tão mais vivo, tão mais bonito só pode acreditar na força de nossos pensamentos, sentimentos e ações para criar outras realidades melhores! Meu pai me ensinou essa coisa mais importante na vida e que ninguém me tira: acreditar em tempos melhores.

Nesta imagem, lá está ele fazendo novas criações: escadas para suas princesas caminharem...


E assim (ainda bem) seu Parreirinha continua animando as novas gerações a apropriarem-se de tudo que esse espaço oferece com fartura, seus frutos! Pitangas, amoras, coquinhos, jabuticabas...


E João Pedro também chegou junto com mais um monte de gente querida! A aventura das crianças estava garantida com um monte de coisas a desbravar.


As aventuras entre os primos estavam apenas começando... Rolou até uma caminhada à Serra, outro lugar fundante de minhas memórias, com direito a uma parada no bambuzal, a casa do Saci para investigações e um lanche. 

Mateus conheceu Saci intimamente por meio das histórias contadas na escola. Sua professora jura que já o viu e desde então ele é um personagem que faz parte de suas reflexões sobre o mundo. Nas férias, teve a chance de ir ao Sítio do Pica pau amarelo e depois de muita dose de coragem abraçar uma estátua, o que desde então lhe conferiu maior ainda proximidade com o ser mistico. Para ele, descobrir que na roça tem bambuzais foi mais uma vez uma maravilhosa oportunidade para relacionar-se com um monte de coisas que envolvem essa questão toda. Na hora, naturalmente sentiu um misto de curiosidade e receio disse, não muito convincente: "Pena que ele não estava lá",...



Agora sim, festa completa! Todos os bisnetos e bisnetas da Bisa Regina juntos!

O encontro em si já pediria uma comemoração, mas foi ainda mais especial porque era Dia das Crianças! Detalhe: com Rebeca e Julio super fofos com a criançada!!! E pensar que parece que foi ontem que eles tinham o tamanho dos meus (quanta coisa aprendi sendo 'tia deles', principalmente que uma família fica mais animada quando tem crianças por perto)... E pensar também que quando eu tinha a idade deles eu vivi a única fase em que não gostava tanto de ir à roça (só se meus amigos viessem também para fazer festa)... Ou ainda que tenho inúmeras fotos com meus primos nessa mesma pose!!!

É mesmo muita história, muita emoção numa foto só!!! 



Para mim e para Luiz a viagem em si já foi o melhor presente que poderíamos oferecer aos nossos filhos. Lá, acabaram ganhando outros dos familiares, e mais uma vez vi o quanto minhas meninas adoram brincar de se arrumar para ficarem como a Bisavó Regina, querida e linda.


Uma paradinha da Bebel para mergulhar em outro presente especial...



E o dia vai findando e chega a hora de comer a pipoca sem igual do vovô! Logo as meninas se rendem ao sono. Mateus e João Pedro ainda tinham um restinho de energia para fazerem um bolo de banana com tio Carlinhos e Sueli...



E para procurarem por sapos e aranhas com suas lanternas. Mas tão logo pararam, ouviram uma história, os dois dormiram e sonharam - como as meninas - que o mundo é mágico.

Só pode ser!


"Sonhos
escritos em versos…
São como bolhas de sabão!
Que levam consigo perfume.
E vão gotejando…
Pingo a pingo,
por onde passa!
Deixando
suavidade ao coração
de quem o lê e o vê!"

Dayse Sene



sábado, 26 de setembro de 2015

Outros relatos: Wladimir Modolo

Nessa história de meu computador quebrar essa postagem ficou atrasada... Mas ainda vale muito a pena ser compartilhada, por tamanha beleza... A beleza de ver nascer um pai.

Costuma-se falar tanto no nascimento do bebê, da mãe e pouco se fala do nascimento de um pai. E precisamos falar, falar e falar para que possamos perceber que o deixar de falar tem a ver com a imagem errônea que ainda nos rodeia de que o papel do pai, ou outra figura masculina, é secundário. E mais, como se ele também não enfrentasse os desafios da nova vida e precisasse de tempo e forças para se reconstruir. Já disse aqui outras vezes que tem que ser muito macho, no melhor sentido do termo, para vivenciar esse período lidando com as próprias questões como dos demais ao seu redor, para investir na construção de uma relação afetiva com o bebê ainda tão vinculado à mãe e para entender que não está cuidando porque ajuda a parceira, mas porque também é sua responsabilidade.

Quantas vezes escutei Luiz falando às nossas crianças quando pediam pelo meu colo: "Eu também gosto de você, também cuido de você, sou seu pai, e a gente vai descobrir um jeito de ficar bem junto!". Gestos e palavras que me acalmavam, me libertavam e me faziam ficar ainda mais apaixonada por ele.

Por isso, quando vejo um pai comemorando cada novo acontecimento como se fosse um gol me vejo na obrigação de compartilhar para que isso ressoe em nossas representações sobre famílias.  

Por Wladimir, pai da Bruna e da Valentina...

Já passei noites acordado para diversas coisas. Trabalhos, festas, beber com amigos, cuidar do cachorrinho novo que chegou, ver lutas e eventos esportivos e até para simplesmente apreciar a lua! 
Mas definitivamente essa noite foi a mais fantástica de todas!!! 
Cuidar do chorinho das minhas meninas foi demais!!! Amo vocês Bruna e Valentina. 
Obrigado mamãe Valdinéia, te amo!!!

Mais uma vez parabéns Wladimir pela chegada das meninas! Imagino que agora, tendo voltado a trabalhar (outra questão que precisa ser revista... essa licença paternidade de dias corridos... um absurdo!) talvez você não esteja conseguindo curtir sua noitada desse jeito tão prazeroso, contudo,o que vale é nossa valorização por momentos assim... Nossa busca constante por nos afetarmos por essas pessoinhas que geramos e amamos. Parabéns também Valdinéia! Sejam felizes. 

Caetano Barbosa: seja bem vindo!!!

Mais um meninão chegou a esse mundo: o Caetano, filho da Deise e do Augusto e irmão do Uirá.

Deise foi minha colega da faculdade e tempos depois nos reencontramos como colegas de trabalho e ela como professora de meu Mateus. Sorte danada minha e de meu filho por a termos em nossa rede de relações! Ela é muito querida, e imagino o quão afetuosa é como mãe.

Toda felicidade do mundo para vocês!!!

Segue mensagem de meu pequeno para vocês, depois de ver a foto da família toda.

"Oi Caetano. Tô feliz que você nasceu. 
Oi Deise, eu gostei de ver o seu filho pequeno e o seu filho grande.
Caetano, você tem que aprender a ir pra escola e não ter vergonha pra fazer os amigos. O seu irmão pode te ajudar nisso.
Beijo, queijo do Mateus." 

Marcelo: seja bem vindo!!!

O Marcelo nasceu!!!! Muito, muito feliz com sua chegada!!!

Marcelo é filho da Fernanda e do Anderson e irmão da Rachel. Desejo toda a felicidade do mundo a todos vocês!!!

A Fe é uma grande fã desse blog, ela até já protagonizou uma postagem ("Outros relatos; Fernanda Hauers") ao compartilhar comigo o quanto gostava de acompanhar minhas histórias e como isso a ajudava a resgatar as suas, com sua família, e a sonhar com novos horizontes como, por exemplo, quando escreveu:

"Juuuu, gosto tanto do seu blog que to com vontade de antecipar minha vida como mãe só pra ter o nome do meu filhinho (inha) no seu " Seja bem vindo" !!! Kkk!! Acho que a primeira coisa que vou fazer no computador quando nascer meu filho vai ser escrever pra vc contando que nasceu!

Por uma ironia do destino justo quando ela me deu essa notícia maravilhosa, em primeira mão como prometeu, meu computador estava quebrado. Não via a hora dele voltar à ativa e poder reservar um espaço especial para esse menino. E hoje é o grande dia de dizer parabéns (por aqui) à minha amiga por colocar um ser amado nesse mundo.

Minha querida, gerar um bebê e tê-lo em nossos braços é uma benção enorme e você sabe disso. Imagino que grande parte do que sonhou tenha se realizado a partir da chegada do Marcelo e que esteja conseguindo aproveitar bastante de sua companhia. Já as inevitáveis surpresas do processo, ora boas, ora não, mas que fazem parte, nos colocam em movimento para aprendermos mais a lidar com as diversas situações. Nem tudo são flores. Ser mãe nos convoca o tempo todo a lidarmos com o real. Nos tornamos super-mães não por sermos perfeitas, isentas de erros, medos e culpas, mas por nos empenharmos em fazermos o melhor possível para o momento. Um processo intenso e constante que exige a reconstrução de nossa identidade. Morre uma mulher para renascer outra, agora mãe, o que explica porque nem sempre nos sentimos felizes o tempo todo. Tem um luto envolvido, que também precisa ser vivido plenamente. Mas tem a beleza da transformação, de por meio de uma relação repleta de afeto nos movimentarmos, ao nosso tempo, jeito e possibilidades para nos alargarmos e nos sentirmos pertencentes ao outro, ao mundo, à vida.

Você sabe disso né, Fe? O que não sei se você sabe é que em alguns momentos em que pensei em parar com esse blog, por diferentes razões, ouvir os seus relatos do quanto minhas palavras mexiam contigo foi super importante para que eu novamente visse sentido em continuar elaborando e dividindo minhas questões, principalmente porque me sentia conectada a outros numa rede ativa de ajuda mútua e boas energias. E por isso que do lado de cá do computador envio as melhores energias a vocês todos, que merecem muito! Beijo grande com carinho.

Em defesa das famílias brasileiras

Armandinho

Mães que criam seus filhos sozinhas... Não constituem uma família...
Avós quem criam seus netos sozinhas... Também não...
Casal sem filho... Não...
Casal de homoafetivos que recebem com amor crianças que heterossexuais não quiseram... Não, não e não.
Triste... 
Com a aprovação desse Decreto andamos para trás em nome de um Deus que não é o meu. Meu Deus espalha o amor e respeita todas as diversas famílias amorosas que existem.



Por Jean Wyllys 

Foi aprovado hoje na Comissão Especial destinada a proferir parecer ao PL 6.583/13 – nome dado à comissão responsável por deliberar sobre o famigerado Estatuto da Família - o referido projeto, apresentado por um deputado evangélico fundamentalista, relatado por um deputado evangélico fundamentalista e avaliado por uma comissão composta majoritariamente de deputados evangélicos fundamentalistas.
Com 17 votos a favor e 5 contrários, o projeto, de caráter conclusivo - ou seja, uma vez aprovado na Comissão não tem de passar por votação em Plenário - reconhece apenas como família aquelas formadas por homem, mulher e filhas e filhos biológicos, desconsiderando os diferentes arranjos familiares que constituem a sociedade brasileira.
(Curiosamente, hoje também foi o dia em que a presidenta Dilma abdicou da criação do que poderia ser um significativo Ministério dos Direitos Humanos para juntar três pastas - Mulheres, DH e Igualdade Racial - e fazer surgir um pálido Ministério da Cidadania.)
Foram quatro horas de uma maratona de obstruções durante as quais os nossos cinco aguerridos parlamentares representantes das famílias – de TODAS as famílias - tentaram adiar a votação apresentando uma série de requerimentos. Enquanto isso, numa clara articulação da bancada fundamentalista para aprovar o projeto e redirecionar o foco das discussões para abafar o esquema de corrupção pelo qual Cunha está formalmente denunciado, o presidente da Casa atrasava o início da sessão no Plenário para que a votação do Estatuto da Família acontecesse ainda hoje na comissão.
A decisão põe em insegurança jurídica não só as famílias homoafetivas (principal alvo da bancada fundamentalista), mas todas as outras que não se enquadram no modelo tido como “tradicional” que, hoje em dia, segundo o último Censo Demográfico do IBGE, representam 50,1% dos domicílios; além de ferir os princípios do não preconceito e da dignidade humana que estão na Constituição.
Semana que vem ainda serão votados quatro destaques, mas faremos o que for do alcance regimental para levar essa pauta para o Plenário e, na hipótese absurda de a maioria dos deputados e deputadas - muitos deles em seus segundos ou terceiros casamentos e/ou com filh@s com diferentes parceiros e parceiras – lá votarem a favor desse lixo homofóbico e inconstitucional - segundo decisões do Superior Tribunal Federal, que desde 2011 reconhece as famílias homoafetivas - entraremos com recurso no STF contra o projeto.
Não deixaremos que esses hipócritas demagogos destruam as famílias brasileiras!

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

3 anos de minhas meninas, parabéns!!!


Isabel: "Mãe, a gente tá pronta!"
Eu: "Não acredito, vocês pegaram o lápis de novo, suas danadas!!!"
Carol: "É que a gente já tá pronta... Pra festa, a Festa Junina!"
Eu: "Mas a gente vai pra festa de aniversário de vocês e não pra Festa Junina!"




Minhas meninas,

A vida com vocês é assim o tempo todo... cheia de bagunça e festa!!! E tirando uma bagunça ou outra em que vocês realmente me tiram do sério (rs) no restante do tempo eu me divirto muito ao lado de vocês. Sou mesmo muito grata por ser mãe de vocês duas, minha Carolina, minha Isabel.

Vocês são um presente em minha vida, de tanta alegria e aprendizado me proporcionam diariamente. 

A chegada de vocês me deu mais flexibilidade para lidar com os desafios da vida, que passaram a ser vistos como grandes oportunidades de transformações, a começar pela gestação de vocês. Enquanto algumas pessoas diziam que eu era louca eu passei a me divertir com essas reações e a me achar cada vez mais louca mesmo, aliás, a louca mais serena e sortuda do pedaço!

Vocês embelezaram meu mundo, não de cor-de-rosa, mas de todas as cores! Meu mundo ficou mais colorido, porque novamente pari e dessa vez, duas meninas! Em nosso cotidiano cada vez mais descubro que não trata-se de ser mãe de menina ou de menino como fossem mundos distintos, opostos, ao contrário, se consideramos a multiplicidade de subjetividades de cada sujeito. De todo modo, pela história das mulheres, a qual sou ativista, colocar um menino sensível e duas mulheres porretas no mundo, me enche de orgulho.




Hoje minha alegria é ainda maior, porque hoje é mais um dia de festa. Hoje vocês completam três anos de nascimento... Nem acredito como tudo passou tão rápido...


"Carol, você quis nascer primeiro ou a Bebel te empurrou?"
"A Bebel me empurrou na sua barriga".

"Bebel, você quis nascer ou a Carol que te puxou?"
"A Carol me puxou".


Guardo saudades de vocês em minha barriga, das duas pequenininhas em meus braços, mamando juntas em meus peitos, fazendo as primeiras descobertas, iniciando nossas relações. Como vocês foram anjinhos nesse período que tinha tudo para ser caótico, mas que foi vivido de modo sereno e profundo. Nossa família se completou e se deleitou com suas presenças. Logo descobri o prazer de ficarmos nós 3 juntas (tinha medo de vocês me excluírem, confesso), e com muita satisfação acompanho a relação entre vocês duas e com Mateus, a qual me emociona profundamente. Ao mesmo tempo carrego grande orgulho por vê-los crescer juntos e pela maneira como cada um vem aproveitando a vida. Vocês são animados, confiantes, amorosos. Brincam, beijam, abraçam a todos, a tudo, a vida. Uma maravilha.




Carolina, Carol, Carolinda, Lina, Linoca,

Você é uma menina muito querida. Divertida, despojada e cativante. Adoro quando você diz que "quando virar bebê de novo" vai voltar para minha barriga. Nossa ligação é forte demais, estarei sempre ao seu lado seja para dar risada de suas gracinhas - que são muitas!, para te dar umas broncas quando você aprontar ou ficar bravinha demais ou para aplaudi-la por suas conquistas e destrezas. Ultimamente, por exemplo, ando impressionada como vem se expressando por meio da dança com seu corpo, uma verdadeira bailarina contemporânea que se entrega por inteira à experiência. Aliás, você se entrega a tudo o tempo todo. Intensidade é uma palavra que te define bem. Tu és intensa assim como meu amor por ti é também. Minha menina curiosa, cheia de facetas, e um pouco maluquinha - a começar pelos pulos que dá em mim, não sei como nunca se quebrou...rs. E vive me surpreendendo, principalmente quando de uma hora para outra cisma em crescer... Mãe coruja como eu fica orgulhosa da cria quando se mete a ficar independente, mas também fica mexida, com receio de perder algo nesse valioso processo que passa tão rápido. Carol, a vida ao seu lado é mais animada, me sinto muito mais corajosa para enfrentar meus medos ao seu lado. Talvez porque você consiga colocar seus sentimentos de maneira tão verdadeira e transparente que me inspiro em ti. Continue crescendo sim, mas devagar, minha querida fofucha! Para que eu possa aproveitar bem aproveitadinho da sua companhia. Como você mesma diz, você não é mais um bebê, é uma menina. A minha menina que me faz acreditar nesse mundo mais colorido, respeitoso e divertido! Feliz aniversário de 3 anos! Que a vida continue te agraciando com momentos divertidos e que você retribua com sua gargalhada, a melhor do mundo. Aproveite muito, minha filha. Te amo.




Isabel, Bebel, Belzinha, Isabel la,

Minha pequerrucha, caçulinha. Minha menina danada, determinada, que sabe o que quer, e a qualquer custo faz as coisas ao seu tempo, ao seu modo. Minha menina que me deixa confusa... Ora me encho de braveza por tanta teimosia, a gente se enfrenta, fico preocupada em como vai ser quando adolescente (estou lascada! rs), ora me encho de orgulho por ser tão decidida, por desde pequena ser uma menina empoderada. Afinal, o que mais um ser humano precisa aprender na vida além disso? Sinceramente, mais nada, já que pessoas como você sabem do poder que têm e vão em busca de seus sonhos, só (só?) lhes restando viver, desfrutar da vida de acordo com suas próprias escolhas e, claro, contagiar a todos a sua volta. Belzinha, você me inspira! Um serzinho que tem esse poder, é porque é mesmo muito especial, muito potente. Por isso, minha pequena, só posso lhe desejar que continue fazendo as melhores escolhas para você, as outras pessoas e o planeta, e a partir dessas, aproveite dessa vida, ainda mais no dia de hoje que é seu aniversário! Sou muito feliz por poder estar ao lado de você desde sempre e para todo sempre. Minha Bebel que é meu denguinho, minha menina que adora um chamego, um carinho especial, e dançar como uma maravilhosa bailarina clássica. Desconfiada num primeiro momento, assim que estabelece relações com as pessoas (e ela busca isso o tempo todo, porque adora gente!), ela se rende, se encanta, se diverte. Ah! E como boa virginiana, também controla um pouquinho. Adora, por exemplo, brincar de ser minha mãe....rs. Outro dia disse que eu não podia mexer no batom porque estava escrito "não mexer". Mas assim como ela tem me ajudado a me organizar cada vez mais eu também tenho a ajudado a relaxar... e Bebel adora! Muito esperta e observadora Bebel consegue o que quer, e quando não, aceita um colo como aconchego antes de tentar novamente até conseguir. E Bebel brinca muito, fabula o tempo todo, o que deixa meu coração tranquilo. Para você, feliz aniversário de 3 anos! Que a vida continue sendo generosa contigo e que você retribua com sua típica doçura. Aproveite, minha filha. Te amo.




Para vocês, minhas amadas filhas, desejo toda felicidade do mundo. Feliz aniversário!

A vida não é fácil, vocês já sentiram isso...





Mas ela pode ser bem divertida - ainda mais se estamos junto a outras pessoas queridas! E minha alegria maior é que me parece que vocês não só já perceberam isso, como diariamente renovam essa escolha!

Continuem assim... juntas e felizes...









domingo, 6 de setembro de 2015

Morremos junto com o menino...

Tentei, tentei, mas simplesmente não consegui escrever sobre o menino refugiado sírio encontrado numa praia e tudo que envolve sua morte. Luto grande. Não só pelo menino, mas pela nossa humanidade. Com ele, morre também parte de nossa civilidade ao produzirmos a aceitarmos situações como essa.

Nesses momentos que me faltam palavras, busco aquelas que me representam e me ajudam a lidar com esse episódio para que um dia consiga falar a respeito. Porque isso me toca, me convoca, me fere, me diz respeito.


Por Felipe Pena:
"O menino na areia não é sírio.
O menino na areia não é refugiado.
O menino na areia não respira.
E não respiram todos que viraram o rosto para o rosto virado na...
areia.
Ele, o menino na areia, é o arame farpado na fronteira, é o lorde de peruca no parlamento, é o trem sem janelas na estação fechada de todos os países. O menino na areia é alemão, é húngaro, é inglês. E também é argentino, brasileiro e judeu.
O menino na areia vive (e morre) na periferia de sua atenção, embaixo do tapete, no rodapé do jornal que não existe mais. O menino na areia é a especulação, a taxa de câmbio, o spread bancário e o socialista de botequim. O menino na areia é o menino deitado, de rosto virado para os cegos do outro lado da areia.
Cegos que, ontem, finalmente, viram o menino na areia.
E viram no livro dos rostos, que não estavam virados, mas ocupados, entre festas na areia, carros importados e guerrilhas ideológicas.
Ontem, todos nós vimos o menino na areia.
Mas o rosto, virado na areia, não era o do menino na areia.
- Olhe de novo, menino na areia."

 
Por Gabriel Passetti:
"Esta crise humanitária que adentra a Europa é impressionante e nada se fala dela aqui no Brasil. Dezenas (centenas??) de milhares fugindo do norte da África, do "Estado Islâmico", das guerras civis que se seguiram à "Primavera Árabe" (especialmente na Síria). Multidões tentando se salvar de guerras que tem tudo a ver com os velhos jogos geopolíticos das "grandes potências" e os interesses de suas "grandes companhias". A solução fácil proposta é criar muros ao redor da Europa! Cacilda!
Hoje a foto de capa do UOL era a de um policial turco retirando do mar o corpo de uma criança que se afogou tentando, com a família, fugir da Síria. Ele tinha a idade dos meus filhos!
O que leva as pessoas a fugirem tão desesperadamente, a se arriscar e arriscar seus filhos desta forma? Somente uma realidade infinitamente pior. O que o egoísmo cego não vê é que essas pessoas não estão fugindo porque acham bonitinho castelo, parque e comer salsicha. Elas estão tentando se salvar!
Enquanto morrem às centenas, em terra firme, no mar, ou ao chegar à Europa, os "grandes líderes" e suas massas continuam fazendo vistas grossas, respondendo com violência e repressão, sentando a porrada.
Justo vocês, europeus, arrebentados, mortos, famélicos e explodidos há 70 anos?
Também não se fala dos migrantes que estão fugindo para o sul da África, para os Emirados, para a Rússia, a Ásia toda.
Situação não muito diferente vemos no Brasil, com a chegada dos haitianos. Vindos de uma situação desesperadora, largando a família lá para tentar ganhar uns trocados. Tratados aqui, pela massa, pela mídia, pela política e pela polícia como bandidos natos.
Que desânimo disso tudo."


Mais imagens e reflexões...

http://www.contioutra.com/ilustracoes-homenageiam-garoto-encontrado-morto-na-turquia-veja-imagens/
http://www.contioutra.com/a-sinistra-poesia-do-bale-da-morte/


Por fim, notícias que me fazem começar a voltar a acreditar...

http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/195824/Brasil-concede-2077-ref%C3%BAgios-aos-s%C3%ADrios.htm
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/09/1678461-papa-abre-vaticano-para-refugiados-e-pede-que-paroquias-da-europa-facam-o-mesmo.shtml?cmpid=facefolha

Outros relatos: Flavia e Andrea Perdigão - A luta

A chegada de tantos pequenos e pequenas, e a luta e coragem de cada um para viver, me fez lembrar de outra luta digna de ser compartilhada, para nos inspirar: a de Daniel, um jovem de 18 anos, filho da amiga Flavia que recentemente passou por um período na U.T.I. Dani nasceu com má formação cerebral e como a própria Fla disse sobre a sua chegada: "Foram anos inquietantes. Mas o amor profundo que toda mãe sente por seu filho sempre estava lá para devolver a calma e a plenitude que costumam ou, pelo menos, deveriam acompanhar a maternidade."

Flavia também é educadora e escritora tal como ela, profunda, sensível e apaixonante. Aqui, vou compartilhar alguns trechos de relatos dessa super mãe durante essa última saga que foi vencida... Um verdadeiro privilégio poder acompanhar essa história e aprender com essa relação como com a maneira como ela lida com o processo das coisas, com as pequenas grandes vitórias e com tudo e todos que estão ao seu redor, mostrando que há muita vida entre as paredes e cortinas do hospital e para além delas...
 

8 de julho
Hoje o Dan será internado para nova troca de remédios. Foram dois anos tentando ajustar a dose dos remédios, sem muito sucesso.
A esperança é que esta nova troca deixe o Dan menos embotado e com as crises mais controladas.
Vamos em frente! E vamos torcer para que a troca aconteça de forma tranquila e meu bonitão fique mais presente na vida!
Vou dando notícias!


27 de julho

Completamos uma semana com o remédio novo e vinte dias de internação. Dan esteve alguns dias mais sonolento, mas parece ter assimilado bem a dosagem inicial (...). O equilíbrio químico é muito difícil! E não tem receita pronta, é tentativa e erro até acertar! Vamos em frente!
Beijos com carinho!

6 agosto
Pessoal, muitas orações! Provavelmente o Dan engasgou com comida, broncoaspirou e está internado na UTI em estado grave. Está entubado e sedado.

12 agosto

Eu acho que eu nunca passei por uma situação tão difícil. Sei que tem um lado bom (que é o da melhora do Dan), mas é muito difícil vê-lo mais acordado e, portanto, mais incomodado com a intubação. Sei que é uma fase passageira e necessária, mas é muito difícil!
Apesar disso, as notícias são muito boas! (...) A fisio até acenou com a possibilidade de extubação amanhã!
Eita menino valente!

18 de agosto
Mais outra conquista! Alta da UTI! Dan já está em um quarto da semi-intensiva! Viva.

22 de agosto
As portas do segundo andar do hospital têm uma pequena janela que permite a rápida visualização do interior do quarto, impede que uma trombada entre pessoas que entram e saem ocorra e possibilita a observação do fluxo do corredor e movimentação do quarto da frente. E assim foi.
Observava o entra e sai. E me indignava com as luzes acesas durante a madrugada e os atendimentos médicos sem hora, nem respeito ao descanso do paciente. Afinal era um senhor que convalescia dentro daquele quarto! Via-lhe somente as pernas, finas e compridas e, pela aparência da pele, era possível supor que se tratava de um idoso.
Passava o dia cercado de familiares. Por vezes, um rapaz que não pertencia à família, pois não era oriental. Muitas vezes o filho, filhas, esposa, netos... Todos orbitavam em torno do patriarca. Era bonito de acompanhar! Ele não ficava um dia sequer sem pessoas que o amavam por perto.
Raramente eu deixava a porta do quarto do Dan aberta, mas qua ndo saía para o corredor (a porta do quarto da frente estava quase sempre aberta), podia ver suas pernas, os familiares no sofá, a entrada dos fisioterapeutas, enfermeiros e médicos e via, na frente da grande janela do quarto, inúmeras dobraduras de papéis coloridos. Imaginei que se tratassem de tsurus, a ave sagrada dos japoneses e que significa muitas vezes, saúde. Era bonito ver a alegria discreta que saia do quarto da frente.
Certa manhã, deixei a porta do quarto do Dan aberta. Meu olhar cruzou com o das duas mulheres que via com maior frequência e que, naquela hora, estavam no corredor. Elas, educadamente, me cumprimentaram. Devolvi o bom dia e facilmente começamos a conversa. Eram as filhas do senhor que se recuperava de vários dias de internação na UTI, depois de um derrame cerebral. Ele estava recebendo alta hospitalar naquele dia. Convidei-as para entrarem em nosso quarto e conhecerem o Dan com seu rádio e sua escultura de fita crepe. Trocamos breves histórias sobre nossas vidas e internações dos nossos queridos.
Através da pequena janela da porta, acompanhei a movimentação no quarto da frente. Não queria perder a saída de meus vizinhos de quarto, pois queria desejar-lhes felicidade e dizer o quanto havia sido tocante ver aquele senhor sempre tão rodeado de afetos e filhos, que ele deveria ser um grande homem.
Vi as despedidas com a equipe de enfermagem e abri a porta para falar com eles. Pela primeira vez vi o rosto do senhor magro e ainda abatido. Uma de suas filhas veio em minha direção, desejei-lhe felicidade e quando ia falar sobre o grande homem que deveria ser seu pai por todo o carinho que o rodeou naqueles dias de internação, ela me surpreendeu com um chocolate para o Dan e a conversa tomou outro rumo diante da gentileza.
Foram embora. Alegres com as conquistas do velho pai. Fiquei com minhas palavras presas na garganta e diante da impossibilidade de dizê-las às filhas do senhor, digo aqui para que nova chance não seja perdida, para que as boas palavras e os gestos de afeto permeiem os nossos dias.

24 de agosto

Alta.

Vitória nessa luta diária pela vida.. Uma luta que é do Dani, da Flavia, de todos. Uma luta que todos nós travamos diariamente, até porque não queremos qualquer vida, mas vida com qualidade. Um vida difícil, mas que vale à pena - ainda mais quando a aproveitamos intensamente e em boa companhia.

Ao fim desse ciclo, a irmã de Flavia, a Andrea, também compartilhou palavras que me tocaram e só reforçam o quanto essa família é repleta de amor, sabedoria e valentia. Dan é mesmo muito sortudo.  

Foi o meu sobrinho Dani e minha irmã Flávia, mãe dele, que me ensinaram o que é o amor em seu estado mais puro. O amor que temos pelos nossos filhos é lindo, forte, selvagem, enraizado no que há de mais legítimo nessa vida, mas também é contaminado por infinitas vaidades. Um filho especial, com os mais variados graus de comprometimentos, costuma ser um golpe em nosso narcisismo, um golpe que só os pais grandes de alma superam. Os acasos microscópicos que acontecem durante uma... gestação, que roubam a absoluta perfeição de cada dobra embrionária que se forma, impedem a necessária precisão temporal para que cada coisa aconteça em seu devido tempo, que altera uma minúscula migração celular ou combinação genética, geram as mais variadas síndromes, parindo bebês diferentes, crianças diferentes, jovens e adultos diferentes num planeta que não acolhe diferenças. No mundo imunológico em que vivemos, na sociedade do desempenho que nos aprisiona, parece sem sentido nascer um ser que provavelmente não produzirá nada no mercado de trabalho. Não se poderá ver o filho ganhando medalhas no campeonato de futebol, não se verá a filha na apresentação de dança em qualquer situação de destaque, o filho não terá dez na sua dissertação de mestrado, não nos dará o orgulho de desfilar com sua vida bem sucedida, não nos dará netos. Esses filhos serão filhos eternos, como escreveu Cristovão Tezza, darão custos altos, trabalho interminável. E ainda sim, nós os queremos e os amamos loucamente. Nós os queremos com saúde e com a sua alegria absolutamente alheia às crises financeiras, às guerras, alheia às angústias que nos tomam tantas vezes - e quantas delas por tão pouco. Livres de nossas projeções paternas, nunca os usaremos para exibirmos a nossa eficiência de pais, nem tão pouco nossa pretensa sapiência. Não há vaidade. Eles só precisam de nossa presença e se alimentam de nosso afeto. Amor sem vestimentas, sem maquiagem; amor sem jogos de poder ou chantagem. Amor em estado puro. E por falar nisso, Dani deve ter alta do hospital nos próximos dias. Sem sequelas. Vivo e dançante como sempre, para nossa imensa e louca alegria. Eu fico feliz que meus filhos tenham o Dani como primo e tenham crescido ao lado dele. Tenho certeza de que o Dani alargou as sua.