sábado, 25 de maio de 2013

Vida de gêmeas: desafios e delícias

Minhas pequenas já têm 8 meses de nascimento e logo, logo vão fazer 9!!!

Ainda meio em choque a esse tempo que passa tão rápido acho que agora consigo registrar mais algumas curiosidades sobre ser mãe de gêmeas e sobre algumas impressões sobre esses seres que carregam uma outra perspectiva sobre estar nesse mundo.


Viver só?
Outro dia ouvi alguém desiludido com o amor comentar: "Não tem jeito, a gente nasce só e morre só." Se essa afirmação pode não fazer sentido para muitas pessoas para as minhas meninas então que estão juntas desde que chegaram a esse mundo realmente ela não faz o menor sentido. Carolina e Isabel brincam e brigam como todos os irmãos desde que estavam em minha barriga. Agora que engatinham elas andam para todos os lados em busca de objetos de seus interesses, mas depois de um tempo se procuram, se encontram, se cheiram, tocam, conversam, disputam brinquedos, resolvem os conflitos e depois voltam a circular livremente pelo espaço construindo assim uma verdadeira ciranda da vida.

Gêmeas siamesas
Acredito que o maior desafio que minhas pequenas enfrentarão em suas vidas será o de se diferenciarem - para os outros e para si mesmas, afinal, até mesmo gêmeas siamesas, ou melhor, gêmeas congenitamente ligadas, têm suas diferenças. Minhas meninas são univitelinas, isto é, originaram-se da fecundação de um óvulo e um espermatozóide que sofreu uma divisão celular, assim têm a mesma carga genética. Os exames da fase prénatal já mostravam isso e quando nasceram, um de meus medos era exatamente o de confundi-las. Por isso, elas sempre se vestiram diferentes (usando no máximo o mesmo modelo com cores diferentes), ganharam brincos distintos e quando saímos da maternidade não tirei suas pulseirinhas. Após 1 semana, quando fiquei completamente segura de que elas tinham muitas diferenças físicas e nas maneiras de se expressarem retirei as pulseirinhas,  pois tive certeza de que daria conta de perceber e respeitar suas singularidades.

Espelho, espelho meu
Todos nós nos desenvolvemos numa relação com o outro buscando semelhanças para nos sentirmos pertencentes a um grupo - e com a mesma intensidade - buscando diferenças para nos sentirmos únicos dentro desse grupo. Movimentos distintos, antagônicos, porém complementares e essencialmente humanos. Nascemos humanos, mas nos tornamos humanos apenas com a convivência com nossos pares. E nessa vida em grupo todos nós já sentimos - cada um à sua maneira - com as comparações que comumente as pessoas costumam fazer como, por exemplo: "esse andou primeiro", "esse falou antes", "esse vai melhor na escola", "esse joga futebol melhor", ou seja, falando-se sobre nós não pelo que demonstramos ser ou fazer, mas a partir da referência com outra. Nessa relação de comparação aprendemos bastante, ainda que algumas vezes de maneira doída, porque, como já disse, precisamos de modelos para avançarmos em nossos processos, e desde bebê já somos capazes de perceber de diferentes maneiras quando correspondemos ou não às expectativas dos que nos cercam, se lhes agradamos ou desagradamos, e principalmente se somos amados ou não. No entanto, acredito que os adultos têm papel fundamental para não fomentar essa comparação como forma de ver quem é melhor, e com toda sensibilidade do mundo, respeitar o jeito de cada um, suas preferências e ritmos de desenvolvimento. Com gêmeos o cuidado precisa ser redobrado, pois às vezes achamos que precisam crescer de maneira semelhante. Em compensação, quando conseguimos enxergar seus verdadeiros processos singulares nos maravilhamos com a vida humana, pois é realmente sensacional constatar que somos sujeitos de nossas histórias. Sujeito únicos, sujeitos maiores.

Qual é a mais?
Exatamente por nos desenvolvermos com base nesse espelhamento com o outro, irmãos gêmeos, principalmente sendo estes do mesmo sexo e mesma aparência possuem um desafio ainda maior, já que a relação de semelhança num primeiro momento aos olhos de todos é muito marcante e, portanto, a diferenciação se faz ainda mais necessária. Alguns estudos apontam dois movimentos comuns entre esses irmãos: a relação construída majoritariamente em cima das semelhanças e assim acabam tendo os mesmos gostos, preferências, carreiras, estilos e percurso de vida ou o contrário, em cima das diferenças. Mas de qualquer maneira, ambos movimentos apontam que as possibilidades mais perceptíveis são me igualar inteiramente ou me diferenciar. Assim, acredito que como mãe de gêmeas preciso ajudá-las a perceberem de que apesar de muito desafiante é possível criar outras perspectivas para suas experiências únicas. Caminho longo que começa até mesmo quando tenho que responder às perguntas mais frequentes: "Qual é a mais boazinha? Qual é a mais sapeca?", pois desse jeito faço o exercício de tentar falar de uma sem necessariamente precisar falar do outra. A escola delas me ajuda nesse processo, pois todos os dias preciso contar sobre cada uma em especial assim como recebo um relato único de cada uma, na semana que vem, por exemplo, teremos uma reunião para compartilharmos nossos olhares sobre Carolina e depois outra para falarmos de Isabel. Será interessante, mas com certeza não conseguiremos falar o tempo todo apenas de uma, afinal, suas histórias estão intrinsecamente ligadas, mas o importante é focarmos a maior parte do tempo em cada uma, refletirmos sobre seus percursos, preferências e expressões, desafios e claro, nos orgulharmos ainda mais de nossas flores.

Rótulos
Outro exercício que faço quando me perguntam "qual é a mais dorminhoca?" ou "qual é a mais espertinha?" é o de não rotular minhas pequenas. Toda criança tem direito a experimentar um milhão de formas de expressão antes de decidir quais suas preferências, quais percursos querem trilhar, podendo mudar a qualquer momento da vida. Além do mais, podemos ser várias coisas ao mesmo tempo. Um exemplo bem "bobo" nesse sentido é que tenho uma tendência a colocar roupas rosas na Carolina e roxas na Isabel, mas me controlo para que usem todas as cores, elas têm direito. Com o tempo e a convivência percebemos o jeitinho de cada uma, como cada uma gosta de dormir, o que faz rir ou chorar, como nos olha, o que encanta, desagrada e daqui a pouco elas mesmas vão escolher as roupas que querem vestir. Portanto, podemos contar sobre esse caminho de cada uma para as demais pessoas, com o cuidado de as deixarmos livres para experimentarem, se inovarem e surpreenderem-nos, afinal, essa é a parte mais gostosa das relações com as pessoas: conhecer, se encantar e se apaixonar pelo outro, ainda mais sendo estes os nossos filhotes. Admiração que cresce a cada dia.

Todo bebê, cada bebê
Ainda um outro exercício que faço para respeitar o desenvolvimento de cada único de minhas filhas é o de vê-las num plano maior de bebês quando quero refletir sobre seus desenvolvimentos. Por exemplo, se quero ampliar meu olhar sobre o que bebês costumam fazer em cada faixa etária para me dar parâmetros de seus momentos eu procuro livros, conversas e vídeos, pois se apenas comparasse as duas ficaria preocupada com Carolina que ainda não bate palmas enquanto Isabel já bate como também com Isabel que não pega os objetos tão fortemente como Carolina segura, uma preocupação que não faz o menor sentido. Como já disse, claro que existe uma comparação que pode ser saudável entre irmãos, amigos, colegas etc., mas sempre respeitando as diferentes movimentações até para não sermos injustos quando uma outra criança age de maneira excepcional. Mateus, por exemplo, sempre fez conquistas motoras precocemente então não posso achar que as meninas precisam fazê-las no mesmo tempo em que ele fez. Se bem que elas andam bem sapecas, engatinham de um lado para o outro, escalam todos os móveis, já aprontam um monte, toda hora tem alguém entrando no banheiro, com algodão na boca, voltei para aquela fase que tudo é um perigo e a atenção precisa ser redobrada. Tempo para ir ao banheiro? Não tenho. Isso sem falar  nos tombos, Isabel até tem um calo na cabeça de tanto que bateu no mesmo lugar - haja coração para aguentar tanta emoção!

Babies
Tem um documentário, lindo e sensível, que mostra algumas imagens de crianças de 4 lugares distintos do mundo desde o nascimento até completarem um ano chamado "Babies" que nos mostra justamente o que temos do nosso desenvolvimento em comum por sermos da mesma espécie humana, mas o que temos de diferenciações por fazermos parte de culturas diversas e seres únicos dentro de cada um desses espaços. Recomendo!

O ideal X O possível
Não quero passar a imagem de mãe perfeita, pois como já disse, estou em constante reflexão e por meio de tentativas constantes me exercito na busca de ser um bom modelo para meus 3 filhos. Por vezes até sofro quando sinto que falho com eles, comigo, com meu marido, com meu trabalho, com minha família e amigos, mas logo em seguida me lembro que uma coisa é o ideal (que não existe, mas vale à pena ser mirado) e outra coisa é o possível que é justamente o que tentamos fazer todos os dias, com muito esforço e muito, muito amor, e então consigo me perdoar. Nesse sentido, lembro-me de um artigo que li quando estava grávida que dizia para respeitarmos as necessidades de cada irmão gêmeo se um, por exemplo, acordasse para mamar e o outro continuasse dormindo não devíamos acordá-lo para mamar em seguida. No plano das ideias concordei plenamente, mas na vida real - ainda mais  se pretendo continuar tendo uma rede de outras relações sociais sem babá e empregada, então o esquema precisa ser uma rotina comum e flexível entre os irmãos. E hoje, posso garantir que por mais sofrido que tenha sido acordar um serzinho que estava dormindo gostoso só porque a irmã acordou antes garanto que valeu à pena. As meninas sempre foram muito tranquilas, porque aprenderam com a situação possível, sempre falava para elas "vocês são duas, mamãe é uma", e muitas vezes eu estava com uma e quando finalmente conseguia acudir o choro da outra ela já tinha dormido sozinha. Sentia maior dó e maior orgulho dessas minhas meninas. Com o tempo, seus horários de sono puderam ser mais respeitados, pois construímos horários comuns que nos norteiam até para conseguirmos cumprir nossa rotina, para eu conseguir perceber o que está diferente em seus jeitos de agirem, para eu falar delas para as professoras ou avós quando não estou presente e assim conseguir ficar tranquila. E realmente mãe tranquila tem bebês tranquilos!

Segundo (e terceiro) filhos
Muita coisa que me apavorava na época em que estava grávida das meninas foi se desmitificando conforme elas nasceram e foram crescendo. É verdade que já havia feito um bom estágio com a vinda de Mateus, o que fez toda a diferença para vivenciar a chegada de duas filhas ao mesmo tempo de um jeito mais tranquilo. A insegurança, por exemplo, dessa vez não tomava conta de mim e pude vivenciar de um jeito diferente um novo amor, agora de um jeito mais tranquilo, mais completo. Minhas grandes questões eram na verdade de ordem prática: será que conseguiria tomar conta dos 3 sozinha? Será que precisaria contratar alguém para me ajudar? Teríamos que comprar um apartamento e um carro maior? Elas iriam para uma escola também enquanto eu trabalhasse por meio período? Se chegássemos em casa com os 3 dormindo como os seguraríamos? Enfim, questões que fomos resolvendo cada uma a seu tempo, do nosso jeito e dentro do possível. Quando vimos tudo foi se encaixando e fiquei feliz em perceber que consigo ficar sozinha com os 3 ainda que precise de muita ajuda de nossa família, inclusive porque tem as questões de "bastidores", a quantidade de roupa para ser lavada e passada, por exemplo, é assombrosa.

Irmãos
Outro grande desafio com a chegada das meninas foi conciliar o tempo e atenção com Mateus que além do mais também era um bebê na época de seus nascimentos com 1 ano e 8 meses. Continuamos mantendo sua rotina, seus passeios de fim de semana com Luiz, comigo ou com os avós e tios que ajudaram muito nesse processo, principalmente quando estávamos esgotados. Assim, meu pequeno grande filho continuou sendo prestigiado pela família e pudemos também construir nosso vínculo com as duas e entre nós todos como família.  No início Mateus ficou empolgado com suas duas novas bonecas, depois bravo que elas não respondiam às suas conversas, depois tranquilo com nossa nova configuração, e agora já divide-se em dois movimentos: ora empolgado com as risadas que provoca nas irmãs que o adoram, ora bravo por elas invadirem seu espaço em todos os sentidos. Enfim, está experimentando todos desafios e delícias de ter irmão. Quem tem, entende e sabe que trata-se de um aprendizado eterno e maravilhoso, porque é mesmo lindo ver os 3 juntos seja brincando ou mesmo brigando, afinal, no final tudo termina com um abraço e beijinho de desculpa.

Justiça entre irmãos
Será possível? Acho que não. O amor é do mesmo tamanho, mas as relações vão sendo construídas de maneiras distintas até pelo jeito de cada um. Percebi, por exemplo, que como Isabel chorava de um jeito mais estridente eu acabava escolhendo ela para mamar primeiro, por exemplo. Carolina tranquila ficava em segundo plano. Nesses momentos eu ficava com o coração apertado, e toda vez que elas estavam mais tranquilas privilegiava Carolina assim como quando chorava brava, me mostrando que tinha mesmo chegado ao seu limite. Mas tentava evitar chegar a esse limite antecipando algumas ações, por isso a construção da rotina que não acontece de uma hora para outra (anotar ajuda no começo!) e assim sendo mais justa privilegiando quem mamou primeiro da vez anterior, á que a princípio estaria com mais fome. Da mesma maneira com Mateus, no início sofreu quando também precisava de cuidados e estávamos cuidando das duas, assim, por exemplo, dava banho nelas durante a tarde em que ele estava na escola ou então contava para ele que as colocaria para dormir, mas depois assegurava que ficaria só com ele. Sinceridade sempre. Com o tempo ele compreendeu nossa nova rotina e passou até a antecipar algumas ações, um fofo! O ciúme rola solto sim, e não vejo esse sentimento apenas pelo viés negativo, no fundo ele é uma luta por espaço que todos nós buscamos. Precisamos fazer com que essa luta seja justa e positiva. Como quando as meninas recém nascidas choravam e Mateus me chamava: "peito, mamãe" e depois de um tempo voltava e me dizia:"chega, mamãe". Ainda assim esse sentimento de estar sendo injusta sempre prevalece na gente quando temos 3 filhos, mas logo desaparece quando cada um nos presenteia com um sorriso justo nos momentos em que estamos inseguros com alguma escolha.

Caos
A harmonia reina na maior parte do tempo em nossa casa se desconsiderarmos a bagunça, os tombos, os conflitos, a correria, o cansaço... rs. Pois é, o caos convive junto também, como isso é possível? Não sei, só sei que é assim.

Sucesso
Irmãos gêmeos fazem um sucesso danado entre as pessoas por uma série de razões desde tempos remotos (existem algumas lendas, mitos que os envolvem). Mas acho que o que mais mexe no imaginário das pessoas é realmente a ideia de não estarem só no mundo. A alma gêmea que passamos a vida procurando de alguma maneira já vem bem resolvida para esses seres. Percebo que as pessoas se divertem quando uma tosse e a outra também tosse em seguida, quando uma imita a outra, quando disputam tranquilamente um brinquedo, se divertem olhando uma a outra como também quando sentem ciúme se uma está no meu colo e a outra não, quando choram juntas, mas como se acalmam quando se tocam - motivo pelo qual deixamos as duas dormirem juntas até os 5 meses. Como disse uma amiga minha que tem uma irmã gêmea: "Nasci com minha melhor amiga". E claro que até os melhores amigos se desentendem, mas nem por isso suas relações perdem a beleza.

Aprender a viver junto
Em meio à nossa vida corrida também temos tentado criar momentos únicos com cada menina para que experimentem essa sensação de ficarem sozinhas conosco. Nos únicos dias em que ficaram doentes e primeiro Carolina não foi à escola e depois foi Isabel quem não foi tanto em casa como na escola notamos que elas ficaram mais sensíveis, sentiram falta uma da outra, sendo assim, essa experiência se faz ainda mais necessária para que possam ampliar suas maneiras de se relacionarem consigo mesmas e com o mundo. Contudo, esse processo precisa ser cuidado, pois a ideia não é que aprendam a viverem sozinhas por si só, mas que aprendam a viver melhor junto delas mesmas e com outras pessoas desse mundão, e principalmente que podem construir vínculos únicos com cada pessoa e assim coisinhas especiais com cada uma. Carolina, por exemplo, é minha Linoca Tibiriroca e Isabel, Bebel Saracutel. Com certeza essa é a maior lição que podemos ensinar às nossas crianças, e sem dúvida alguma a mais desafiante de todas. Mas como cidadã, mãe e educadora aposto nesse convívio, afinal, se ter irmãos já nos proporciona um vínculo forte e aprendizados únicos, ter um irmão gêmeo deve ser uma experiência inexplicável, bem, pelo menos ser mãe desses 3 dentre eles duas gêmeas tem sido. Amo demais!



Lembrando que na época em que elas nasceram respondi as perguntas mais comuns que me faziam na época na postagem: "As 10 mais":  http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2012/11/as-10-mais.html e também na "Outras 10": http://jujuviroumamae.blogspot.com.br/2012/11/outras-10.html



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