segunda-feira, 14 de julho de 2014

Totalmente à deriva!!!

Com o tempo fui aprendendo a exercer a tolerância diante de  posicionamentos distintos dos meus, ainda que, cá entre nós, esse seja ainda uma meta constante. No decorrer, ficou claro que para mim, irritante mesmo é quem tem um discurso politicamente correto e na prática não o exerce. A maioria das pessoas de meu convívio, ao contrário, levam uma vida de bem, praticam a solidariedade, e são grandes modelos para mim. No entanto, muitas delas, diante de situações conflitivas, em geral, incentivadas pela grande mídia sem escrúpulos, assumem uma postura conservadora, temerosa, elitista e preconceituosa com o povão, às vezes até mesmo tendo sua origem daí. Em geral, tenho conseguido tolerar certos comentários, levando em consideração meus laços afetivos, a compreensão de que as visões de cada um são mesmo distintas e que as experiências que tive em minha trajetória são mesmo privilegiadas para fazer certas ponderações e principalmente que vivemos. Ainda assim, nesses momentos me sinto totalmente à deriva ao ouvir suas opiniões retrógadas como também ao ouvir o pessoal do outro lado extremo responder com comentários arrogantes, cegos e também preconceituosos. Vergonha alheia, não compartilho com isso. No entanto, em alguns momentos me embrulha o estômago ver tanto ódio, ouvir tantas análises errôneas, simplistas e preconceituosas, e então me manifesto.Este texto nasceu de meu exercício constante em relacionar-me com meus semelhantes. Experiência que me engrandece e por isso não a realizo apenas no plano individual como no profissional também, sempre com a seguinte questão em mente: lidar, aprender e crescer com gente para virar cada vez mais gente.


“(...) nascemos para a humanidade. Nossa humanidade biológica necessita uma confirmação posterior, algo como um segundo nascimento no qual, por meio do nosso próprio esforço e da relação com outros humanos, se confirme definitivamente o primeiro. É preciso nascer para humano, mas só chegamos a sê-lo plenamente quando outros nos contagiam com sua humanidade deliberadamente e com nossa cumplicidade."

Fernando Savater – O valor de Educar


Relacionar-se, contudo, nem sempre é fácil, por vezes fico triste, brava ou indignada. Mas ainda bem, logo em seguida acontece alguma coisa ao meu redor que novamente anima minha alma, e me faz ver as coisas belas do mundo, ainda mais que sou educadora e mãe apaixonada, e as crianças, em sua cultura, trazem a essência da vida, e nos trazem a esperança de novos tempos. Tem gente que chama esse meu movimento de alienação, outros de otimismo, e outros ainda de vocação para ser feliz - eu acho mesmo que é uma escolha. Uma forma de ver o mundo.
 
 
  de Armandinho.

  

Depois do jogo Brasil e Alemanha, em que perdemos de 7 a 1, deixando de participar da final da Copa do Mundo, uma tia, queridíssima, mandou no facebook a seguinte mensagem: "O PT se F....". Quando me manifestei dizendo que aquele comentário não tinha lógica e não era construtivo naquele momento outras pessoas, também queridíssimas, também colocaram seu ódio a esse partido dizendo que quem acredita nele fica à deriva. Fiquei com essa última expressão na cabeça, quando me dei conta de que apesar de não ser esta a razão por ter me manifestado (estar a favor do PT), sou mesmo uma pessoa que vive totalmente à deriva!!!!

Significado de Deriva (http://www.dicio.com.br/deriva/)

s.f. Desvio de navio (ou de avião) na sua rota, por efeito do vento ou de uma corrente.
À deriva, sem rumo certo, ao sabor de.
 

Desde a infância fui uma menina que viveu de um jeito singular todas as situações. Muito observadora, tive liberdade para expressar minha subjetividade e cresci "ao efeito do vento". Como minha mãe dizia: "Não sei como a Juliana consegue ir bem na escola, ela é tão desligada...". Assim, vivi cada situação, ora de um jeito profundo, ora à parte, o que pode servir para nos darmos conta de que não existe um só jeito de vivenciar e sentir as coisas. No meu caso, estar à deriva não me impediu de viver plenamente cada descoberta da infância e depois da adolescência. Pelo contrário, era como se de maneira intuitiva, eu escolhesse diferentes maneiras de me envolver, de mergulhar, de estar inteira em cada vivência. A cada nova situação eu interagia, respondia e experimentava sem a menor responsabilidade do que aquilo viraria, como acredito que deve ser vivido essas primeiras fases quando, mais do que nunca, cada ser tem o direito a experimentar-se plenamente em todas suas possibilidades, sempre com muito respeito e liberdade e com "sabor de vento"!!! Um deleite à alma.
 
Em minha juventude, potencializada por uma vivência no curso de Pedagogia numa universidade pública politizada, e naturalmente pela própria idade que traz em sua essência a necessidade de transgredir com o velho, de gritar aos quatro ventos que o novo chegou, fui mais incisiva e teimosa ao falar sobre minhas escolhas. Nesse momento, escolhi uma corrente, a que achava mais justa com os princípios democráticos  e mergulhei nessa experiência: publicações de manifestos, passeatas, vivência em C.A.s em todo o país, em Cuba, em reflexões sobre educação e os direitos das crianças e do adolescente, atuação em sala de aula com educação de jovens e adultos e em espaços educativos formais e não formais com crianças. Naquele momento, minhas ideias se aproximavam das do PT, mas mesmo assim, não quis me filiar a ele ou votar em algum candidato apenas por ser desse partido. Era como se eu tivesse escolhido acompanhar o navio do PT, mas ao tempo de meu vento e à corrente de meus pensamentos, ficando assim "à deriva, sem rumo certo", e principalmente, livre para poder criar meu próprio caminho e transgredir, inclusive, nesse ambiente.
 
Essa maneira de me relacionar é mesmo uma característica minha. Em vários outros aspectos também fico à deriva. Por exemplo, sou uma pessoa de muita fé. Fé em Deus, na energia das coisas, nas pessoas, na vida. Ainda assim nunca consegui me vincular a alguma religião, e quer saber? Sigo feliz, o que sinto na verdade, é que algumas pessoas não ficam feliz com a minha escolha. Não conseguem assim me encaixar facilmente nos padrões conhecidos e então me rotulam erroneamente. Na época da faculdade, se estava com meus amigos de infância ou de bairro era vista como a petista, a revolucionária questionadora e que metade das coisas que falava era incompreensível ou mesmo descartável uma vez que ao me rotularem não buscavam uma ampliação em seus modos de pensar. Quando estava com o povo do movimento estudantil, com minha minissaia típica da época, era vista como uma professorinha, burguesinha alienada, metida a desencanada. Assim, por muitas vezes estive à deriva, não me encaixando em nenhum lugar. Às vezes sofrendo, já que buscamos o sentimento de pertencimento a algum grupo, por vezes me sentindo satisfeita em me diferenciar, outra busca de todos nós. De todo modo, fui descobrindo que o mundo é maior, bem maior, e desde então sigo lutando pelo direito que todos temos a viver o melhor da vida, livres, nivelando as coisas por cima e não por baixo, para podermos sentir as coisas ao nosso modo e não aos dos outros.

Nesse processo, também descobri que os preconceitos rondam todos os agrupamentos humanos até mesmo naqueles que se dizem libertários, e que também tinha os meus. Afinal, nos perderíamos de nós mesmos e ficaríamos à nossa própria deriva, sem identidade se aceitássemos com facilidade tudo que nos aparece de novo, a resistência pode ser positiva nesse sentido como algo que nos protege enquanto conseguimos nos estruturar para recebermos o novo como algo que nos complementa. Por vezes me meti em discussões necessárias e outras desnecessárias, mas claro que apenas hoje posso dimensionar em qual cada uma se encaixava... Na época, todas me foram essenciais, constituintes de minha história. Aprendi inúmeras coisas nesses debates. Desde argumentar a experimentar verdadeiros encontros, mesmo soando desencontros pelos pontos de vistas diversos, mas verdadeiros, pois segundo Luiza Christov, não foram encontros com o igual, comigo mesma, mas com o diferente, possibilitando uma alteração em minha relação com o outro e alargando meu ponto de vista, que como diz Peter Pál Pelbart, nada mais é do que a vista de um ponto. O encontro com o diferente é desafiante, o que exige um esforço de todos nós se quisemos crescer juntos, numa rede sólida e solidária. Sei que ganho muito com essa troca, por isso meu empenho, e imagino o empenho das pessoas ao meu redor para também considerarem minhas opiniões como produtivas, agradeço de coração.

Lembro-me do dia em que Lula ganhou as eleições, que alegria, que festa! "A esperança venceu o medo!" era o que cantávamos. Finalmente nossa sociedade estava dando a chance de um partido diferenciado fazer algo pelo país, uma vez que as coisas não estavam boas para toda a população (é bom a gente sempre se lembrar disso).  Além do mais, nesse dia de vitória, em meio à avenida Paulista, dei meu primeiro beijo no Luiz e desde então seguimos juntos...rs. Desde então muita coisa aconteceu no país e já experimentei muitos tipos de sentimentos. Hoje, não me arrependo da escolha feita, ela tinha muito sentido naquele momento histórico, e certamente algumas ações foram importante para conquistarmos uma maior equidade social e uma estabilidade econômica, porque por mais que tenha minhas ressalvas quanto ao sistema de bolsas, por exemplo, algo precisava ser feito nessa direção para que uma boa parte da população não seguisse mais à deriva de uma vida digna que lhes é de direito.

Agora, continuo à deriva, uma vez que a oposição, de maneira geral, é muito conservadora, chegam a dizer, por exemplo, que o PT trouxe o comunismo ao Brasil - faça-me rir, vamos estudar um pouco mais os modelos econômicos e entender que estamos mergulhados no capitalismo. Certa vez, Lula pediu, quase implorou para que os brasileiros não parassem de consumir! Até para entendermos alguns pontos de discórdia entre os próprios integrantes desse partido. Tem gente que continua até hoje lá em nome de reconstruí-lo e de fazer jus à sua história como gente que anda pagando injustamente por uma estruturada toda falida. Também tem gente que inventa  e acredita em cada coisa só para manchar a imagem deste partido, a última foi sobre a seleção alemã que fez casas para o povo na Bahia, faça-me gargalhar. Tem também gente que xinga a presidenta atual, autorizando as crianças, por exemplo, a desrespeitarem outras autoridades como, por exemplo, suas professoras, faça-me chorar. A outra parte da oposição, dizendo também de maneira bem geral, infelizmente, é pouco consistente, mostrando alternativas semelhantes, pouco corajosas, transformadoras. Recentemente, contudo, tenho visto cada vez com maior expressão, graças à internet, a algumas manifestações libertárias, de quem analisa criticamente, se coloca e pensa em soluções de maneira positiva e não pessimista, de quem quer mesmo ver mudanças significativas.

Com o tempo fui aprendendo a exercer a tolerância diante de  posicionamentos distintos dos meus, ainda que, cá entre nós, esse seja ainda uma meta constante. No decorrer, ficou claro que para mim, irritante mesmo é quem tem um discurso politicamente correto e na prática não o exerce. A maioria das pessoas de meu convívio, ao contrário, levam uma vida de bem, praticam a solidariedade, e são grandes modelos para mim. No entanto, muitas delas, diante de situações conflitivas, em geral, incentivadas pela grande mídia sem escrúpulos, assumem uma postura conservadora, temerosa, elitista e preconceituosa com o povão, às vezes até mesmo tendo sua origem daí. Em geral, tenho conseguido tolerar certos comentários, levando em consideração meus laços afetivos, a compreensão de que as visões de cada um são mesmo distintas e que as experiências que tive em minha trajetória são mesmo privilegiadas para fazer certas ponderações e principalmente que vivemos. Ainda assim, nesses momentos me sinto totalmente à deriva ao ouvir suas opiniões retrógadas como também ao ouvir o pessoal do outro lado extremo responder com comentários arrogantes, cegos e também preconceituosos. Vergonha alheia, não compartilho com isso. No entanto, em alguns momentos me embrulha o estômago ver tanto ódio, ouvir tantas análises errôneas, simplistas e preconceituosas, e então me manifesto.

Nesse cenário, mais uma vez também fico à parte de alguns agrupamentos sociais de minha rede de conhecidos, já que a maior parte das pessoas ainda não percebeu que o mundo é maior, tem bem mais do que dois lados, e acham que ou você é PT ou está contra ele. Que visão mais pequena das coisas, do mundo, se si mesmos, de seus pares!!! Nesse cenário, o mais irônico é que até concordo com alguns apontamentos feitos pela oposição, mas não pela origem deles ou não com suas soluções. Eles falam, por exemplo, que querem mais escolas... Opa, eu também quero. Mas não quero qualquer escola, muito mais do que quantidade quero qualidade e isso ninguém discute, nem os políticos nem as pessoas que se iludem com números ou siglas.

Qual é a escola de nossos sonhos? Pergunta essencial. Será uma em que as professoras são tratadas como tias, recebem mal, não têm formação continuada, com uma coordenação à mercê da clientela dos pais ou ignorando-os, num espaço precário, pouco estimulante e nada estético, em que as crianças não são ouvidas, respeitadas em seu tempo e possibilidades, respeitando-se a cultura da infância, que não brincam em demasia e só assistem DVD, que não são estimuladas a conviverem de maneira harmoniosas nas diferenças e que desde a educação infantil recebem aula de educação financeira com expectativas de vestibular???? Essa, definitivamente não é a escola dos meus sonhos ao qual batalho todos os dias para fazer acontecer. Muito menos é um retrato  da escola pública, muitas são bastante comprometidas, ao contrário de algumas particulares. Mas certamente é a escola dos sonhos de alguns que reclamam que querem mais escolas enquanto outros que reclamam nem sequer pensaram nisso como se fosse coisa secundária num planejamento de governo. Contudo, é essencial pensarmos nas concepções por trás das escolhas. Será que todo mundo sabe o plano de governo de seu candidato? O que realmente ele vai fazer de diferente caso ganhe além de prometer vagamente "mais e mais" escola, hospital etc. Uma pena isso não ser prioridade... As coisas desse jeito dificilmente vão mudar independentemente do partido que estiver à frente do governo federal, ou estadual, municipal (tem sido comum nos esquecermos de que estes podem ser agentes ativos ou não nesse processo). 

Sobre a Copa, por exemplo, fui da turma que achava que não era nossa prioridade realizá-la frente a tantos problemas que enfrentamos diariamente, mas uma vez que foi decidido (há bastante tempo atrás), sou da opinião de que ela tinha que ser realizada do melhor jeito possível, inclusive, para aproveitarmos depois o legado da mesma. Aí vem o pessoal pessimista que diz que os estádios vão ficar abandonados, ora, então não deixemos, por que vamos escolher lutar contra não tê-la do que preservá-la? É uma escolha. E para cada ponto que o pessoal do contra coloca, costumo ponderar, em certa medida até concordar, mas acima de tudo, buscar soluções para que a gente reverta as coisas. Não trata-se de mascarar o que foi feito, até mesmo suas falhas, mas de analisá-las por completo, colocando-as num cenário maior. Nada do que aconteceu na Copa é distinto do que acontece cotidianamente seja no Congresso ou no Largo da Batata.

Com o foco grande na Copa, algumas coisas ficaram mais visíveis nas manchetes ou continuaram obscuras quando interessou à grande mídia ou aos donos do poder que não são apenas do PT. Muitas vezes fiquei indignada com alguns acontecimentos, mas acima de tudo vi nesse evento a oportunidade de fazermos diferente, de sermos tocados por um espírito coletivo comum, e batalharmos por questões que nos são pertinentes. Afinal não trata-se de se ter hospital ou Copa. Nós precisamos de tudo. "A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte", como cantou Arnaldo Antunes e Marisa Monte. Eu quero tudo, do bom e do melhor, porque temos esse direito.

Vejamos a campeã da Copa, a Alemanha, mesmo com sua história de exclusão e superação e seus problemas, ela tem planejamento que possibilita todas essas concretizações. Enfim, somos povos distintos, ainda bem, mas podemos também ter tudo. Basta que pensemos juntos como queremos vivenciar a próxima Copa do Mundo, por exemplo, e todos os outros assuntos também. Felipão saiu da seleção como técnico, isso basta??? Claro que não, vamos parar de achar culpados de maneiras simplistas para deixarmos de ver que o desafio é grande, temos muitos buracos em nossa história, mas somos capazes de superá-los desde que tenhamos disposição e coragem para construirmos bases sólidas. Não trata-se de termos as mesmas opiniões, mas de somarmos esforços para na nossa diversidade construímos projetos comuns na construção de uma sociedade mais justa e potente. Os momentos difíceis e caóticos, inclusive, podem ser ótimos momentos para exigirem de nós uma parada coletiva e a busca pelas melhores soluções possíveis. Nessa corrente seu sigo seja no futebol, aqui em casa, no trabalho, na vida, nos sonhos. É uma postura, é uma escolha de viver.

Aproveitei bastante a Copa para torcer pela seleção de meu país junto de meus amigos, familiares e dessa vez, de meus filhos. Foi emocionante completar o álbum de figurinhas com Mateus, vê-lo encantado com o hino, pedindo-me para cantar várias vezes, como pendurar nossa bandeira no carro, colocar o uniforme e vibrar com cada gol - até mesmo com aquele nosso único gol contra a Alemanha, o que de certa forma me ajudou naquele momento, pois a partir de seu gesto vi que consegui o mais importante com ele e com minhas meninas que agora veem uma bola e já saem gritando: "Gol do Brasil!!!": contagiá-los com a alegria de um esporte, no caso o futebol, mas podendo ser qualquer outro, e principalmente, com a experiência de uma vivência coletiva para celebrarmos algo em comum, nunca vou esquecer a carinha de meus filhos no primeiro gol do Brasil na Copa vendo todos nós enlouquecidos ou mesmo do espanto do Mateus ao sair pela rua, e ao ver todo mundo uniformizado, comentar: "Todo mundo é Brasil?", uma vez que ele está acostumado a sair com a do Corinthians e ver que agrada alguns e outros não, mas naquele dia ele pôde ver todos na mesma sintonia, um aprendizado bem importante, e com alegria ele passou a cumprimentar todos com um simpático: "oi brasileiro!". Ontem mesmo quando foi ao supermercado e ainda tinha bandeirinhas penduradas lá estava ele pulando e gritando: "Vai Brasil!". Meu menino, totalmente à deriva e totalmente livre e feliz. Maior orgulho da mamãe aqui, que continue assim...

A maternidade me trouxe um amor ainda maior à humanidade, ela me reconectou aos meus ancestrais e me encheu de responsabilidade para com a nova geração e para com o mundo, o lugar onde moramos. Assim, vou continuar cultivando em meus filhotes o amor ao país, seja na vitória ou na derrota... E se este for o caso, vamos pensar em soluções a favor dele e não contra nós.

No decorrer da Copa fui me animando, como se saboreando o gosto daquela corrente positiva, cheia de emoção, principalmente ao ver as nações latino-americanas também se destacarem na competição. Nossa casa se encheu de diferentes torcidas e também foi importante para Mateus ver que podemos torcer por outros, nos identificarmos com outros povos. Além disso, também vivi uma situação bem especial ao torcer pelo Brasil em terras argentinas e na comemoração da vitória perceber que o povo derrotado, a Colômbia estava fazendo uma festa muito mais animada do que o gueto brasileiro e de um jeito muito hospitaleiro eles nos receberam em sua casa, onde dançamos salsa animadamente, apenas reforçando meu sentimento de irmandade com os povos de terras latino americanas. Fomos todos explorados, nossos povos nativos massacrados, os exploradores vitoriosos, nosso desenvolvimento precário aos interesses da pequena população detentora de poder, povo formado pela mestiçagem, mas muito guerreira que cada uma ao seu modo foi resistindo e se reconstruindo. Mas sabe que outros povos também me encantam e nessa Copa me conquistaram de vez, ver por exemplo, os alemães comemorarem o título com uma dança indígena que aprenderam uma tribo pataxó que tiveram contato na Bahia, foi lindo de morrer... Nunca vi nossos brasileiros fazerem coisa semelhante... E se algum já fez, me pergunto por quê não demos tanta visibilidade a tal feito. Agora é capaz de vermos mais, pois temos a mania irritante de só valorizarmos nossa cultura quando um estrangeiro o faz.

Realmente esse espírito coletivo tem um poder tremendo, ele tanto pode despertar o melhor de nós, ou o pior... No dia de nossa derrota à Alemanha voltei duramente à realidade como se tivesse passado por um vendaval ou maremoto:  nossa seleção sem chance de vencer a Copa e novamente os dois lados emergindo das trevas no facebook!!! Nesse momento de dor (sim, eu sei que é apenas futebol e que é a coisa mais importante das coisas menos importantes, mas ainda assim dor), ouvir comentários  de pessoas que até então estavam se divertindo com o clima de festa, cheios de ódio, não só ao partido, mas a todos nós que estávamos desolados, me causou indignação.

Diferentemente das boas mães que avisam dos perigos da vida e quando seus filhos cometem os erros previstos, elas soltam o famoso: "eu avisei",  que podem até estar impregnados de raiva, mas acima de tudo de amor por quem está sofrendo e por isso mesmo sofre junto num misto de proteção e culpa por não ter conseguido evitar o erro do filho. Mas naquele momento, comentários como "o PT se f..." em nada de parecem com o de minha mãe amorosa. São carregados de ódio de quem torce para as coisas darem errado para poder cutucar o ferido, espezinhar em cima, mesmo que fosse em quem não estivesse em campo, mas em quem estivesse assistindo pasmado ao desfecho do jogo como era meu caso, como  não percebendo que muitas vezes esse sentimento demonstra que quem ataca também está ferido. Não é preciso ser psicóloga para saber que algo a mais há por trás de todo esse sentimento. Cabe a cada um ter coragem de se perguntar o que de fato me incomoda no outro, se ao se olhar pelo reflexo do outro vemos nossa própria dificuldade, nossas limitações, nossos medos e o que temos feito de construtivo na transformação da realidade que tanto nos incomoda.

Assumo assim minha própria corrente, ainda que à deriva desses dois lados, porque para mim o mundo físico e abstrato tem muito mais do que dois lados. E "simbora" passar adiante esse conceito porque senão voltamos para os tempos das trevas antes de Copérnico. Socorro!!! E de tanta, mas tanta coisa que poderia ter dado errado (importante reconhecê-las e analisá-las com cuidado também), o mais importante de dizer, porque não é o que a grande mídia está focada, é que MUITA coisa deu certo. Fizemos uma Copa do C....!!!! E eu, com muita alegria, aproveitei demais! Que passe rápido os próximos 2 anos para eu torcer de novo pelo meu país nas Olímpiadas!!! E até lá, sigo à deriva...



Fernando Anitelli  -  Síntaxe aberta - O Teatro Mágico
http://www.vagalume.com.br/o-teatro-magico/sintaxe-a-vontade.html

Ah! E pra dar risada, sugiro o link abaixo com as 100 coisas mais incríveis dessa Copa:
http://www.buzzfeed.com/manuelabarem/100-coisas-incriveis-que-aconteceram-na-copa-do-mundo-2014

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