segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Conexões

Quero relatar duas situações que vivi num mesmo dia.

Pela manhã, fui conhecer um terreiro de umbanda que uma amiga frequenta. Foi uma experiência muito especial: o lugar, o dia lindo, o canto, a dança, a energia, o acolhimento, as palavras, a história. Me senti muito bem, precisava mesmo desse momento para recarregar a energia, para cuidar de minha espiritualidade, de minha fé. Minha fé que é minha religião, minha libertação, minha guia e que por isso a vivencio por meio de muitas religiões ou mesmo na ausência de alguma.

Me senti viva e muito conectada comigo, com as pessoas que estavam lá e até mesmo com as que não estavam, com a natureza, o universo, Deus. Alegria por existir, por experimentar momentos intensos e poder compartilhar com muitas pessoas numa verdadeira rede.

À tarde, entrei em contato com uma amiga querida para parabeniza-la por seu aniversário. Confesso que estava animada em vê-la pessoalmente, mas eis que descubro que por eu estar temporariamente desconectada da rede de whatsapp não fiquei sabendo que a comemoração havia sido no dia anterior. Fiquei arrasada.

Me senti morta, sem exagero algum. É como se eu não existisse por não fazer parte dessa rede virtual, e cheguei a ter um momento fúnebre ao imaginar que poderia mesmo ter morrido sem ninguém ter notado até que alguém finalmente postasse minha morte quando esta receberia algumas curtidas e um ou outro comentário lastimando minha ausência. Triste por não existir, por deixar de aproveitar momentos especiais com pessoas queridas.

Dois momentos que falam muito da nossa realidade contemporânea, e principalmente, de nossas escolhas. Eu, por exemplo, escolho viver situações reais com gente real numa vida real. Claro que já passei da fase da rebeldia (rs) e hoje, sei que a vida real também engloba a virtual, e desta relação, podemos tirar proveito quando tomamos alguns cuidados importantes. O maior deles é que seja num encontro pessoal ou num virtual é essencial estarmos PRESENTES para nos CONECTARMOS de fato, uns com os outros.

Conectar-se aos demais não é tarefa fácil. Mas quem está falando de vida fácil? Eu não. Estou de vida vivida, que só faz sentido em comunhão com os outros. Gosto dos momentos de solidão, mas gosto ainda mais quando experimento momentos de conexão com meus pares. Justamente por todos os desafios envolvidos, quando isso ocorre, sinto que me encontro não apenas à pessoa, ou pessoas em questão, mas à minha história, minha ancestralidade, minha/nossa humanidade, e com o universo. Afinal, é uma alegria sem igual poder compartilhar experiências, lembrar e ser lembrado, viver junto, em comunhão na diversidade, e claro, ensinar à nova geração que tudo isso é possível sim, basta disposição.


“A beleza é aquilo que você não dá conta de ver sozinho. Ao ver algo bonito demais você logo quer dividir com o outro. A beleza é o que não cabe só em você, é aquela coisa que quando você sente, precisa dar pro outro. Você vê um pôr do sol bonito da janela, vê um quadro no museu, lê um livro e pensa: fulano precisava estar aqui, ou, eu tenho que ler isso pro meu filho. É extremamente triste estar sozinho quando se encontra a beleza.”  (Bartolomeu Campos de Queirós, conferência durante o Simpósio do Livro Infantil e Juvenil, Colômbia-Brasil, Bogotá, 7-9/10/2007)

Nenhum comentário:

Postar um comentário