quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Dia dos professores 2014!!!

"Mãe, por que o dia dos professores é pertinho do dia das crianças?" Mateus


Nunca conheci alguém que escolheu ser professor para ficar rico. Ainda que seja importante seguirmos em busca por melhores condições de trabalho, quero focar agora na seguinte questão: o que nos move então?

Certamente as razões são diversas, sendo que para muitos nem foi uma escolha (foi o possível ou um 'bico'), mas acredito que existem algumas que são comuns a todos os bons professores, mesmo que inconscientemente. Dentre elas, destaco duas: o desejo do encontro com o outro e a esperança de que a partir desse encontro muita coisa boa pode vir a acontecer...

Encontro com o outro é o encontro com a criança que está na sua frente ou com a que ela já foi um dia, no caso de aprendizes adolescentes ou adultos. Nesse encontro de olho no olho, de gestos afetuosos, e palavras que acolhem, orientam e dão limites sem limitar. É um encontro que vai além do físico, quando nos encontramos, por exemplo, com a criança que fomos. Afinal, nossas memórias nos permeiam, refletem em nossas ações, são nossas marcas, crenças primárias. Tomar consciência de nossa trajetória individual e coletiva possibilita encontros potentes entre sujeitos ativos e assim, podemos nos sentir pertencentes um ao outro, a um grupo maior, à humanidade, e principalmente, com a nossa própria humanidade - em construção.

Nesse processo, sentimos que cuidamos e somos cuidados, somos iguais em direitos e diferentes em maneiras de nos expressarmos, em nossas subjetividades. Do mesmo modo também somos semelhantes e únicos em como aprendemos, vivemos e sonhamos, e exatamente por isso, precisamos aprender a nos respeitar em nossas diferenças, porque elas nos engrandecem e nos qualificam como uma espécie diferenciada.

Esse tipo de encontro, quando acontece, é uma explosão de potência, porque nos faz perceber como podemos revisitar nossas memórias para ressignificá-las e algumas vezes até mesmo nos libertarmos - de amarras que fizeram conosco ou que nós mesmos nos prendemos. Uma vez alargados, os sujeitos envolvidos conseguem ampliar suas possibilidades, vivem outro tempo, outro espaço, outra relação.

Isso é educação. Só para isso e para tudo isso.

Com muito orgulho sou professora!!!! No momento orientadora educacional, mas sempre professora. Parabéns para mim e para meus colegas. "Viva eu, viva tu, viva o Chico Barrigudo!!!" (postagem homônima que escrevi no ano passado). Realmente essa escolha que reafirmo todos os dias foi um divisor de águas em minha trajetória. Nessa data especial, minha colega Glaucia Affonso escreveu um agradecimento especial que também compartilho aos meus alunos e alunas: "Hoje, como é dia dos professores, quero agradecer aos alunos pela possibilidade que eles me dão de reinventar a mim mesma".

Um privilégio.

Voltando à questão do Mateus, as origens dessas duas datas não têm ligação, mas como acredito no famoso "nada é por acaso", e principalmente, que a todo momento ressignificamos nossas vivências e escolhas, agora, mais do que nunca, para mim, o fato do dia das crianças e do dia dos professores serem tão pertinho um do outro é para nos lembrar de que um não vive sem o outro (não os dias, mas os sujeitos em questão!).

"Nascemos humanos, mas isso não basta: temos também de chegar a sê-lo". Fernando Savater

Lembrando que nosso processo de humanização apenas acontece em interação.

"Os homens se educam em comunhão". Paulo Freire

Assim, encontro entre professor(a) e criança é encontro entre gerações, entre o passado e o futuro, entre o que já foi e o que virá a ser, entre quem ensina e quem aprende, nem sempre numa direção única, entre quem fala e quem escuta (também não numa direção única), entre quem sabe mais sobre algumas coisas, mas não sobre tudo e quem sabe menos sobre tudo, mas tem seu olhar único sobre o que sabe. Encontro do velho com o novo, do que foi bacana e precisa ser preservado e do que foi ruim e precisa ser melhorado. Encontros que só acontecem entre quem está disponível para se enxergar, enxergar o outro, a relação, o ambiente, e todo um contexto, e assim se reconstruir, enfrentando todas as delícias e desafios que esse processo nos suscita.

Em cada um desses encontros na escola, que são diários e constantes, vamos nos lembrando também que precisamos nos cuidar, nos ajudar, nos respeitar e, claro, comemorar a vida em movimento. A nossa vida viva, com suas delícias e desafios.

“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais”. Rubem Alves

Lembrei-me de um dia em que Mateus chegou muito feliz da escola me contando que ensinou uma mariposa a voar. "Ah é?", lhe perguntei. "Mãe, ela saiu do casulo, ficou lá parada, sem se mexer e eu disse para ela: "Abre as asas e voa... Voa assim mariposa" (e fez gestos correspondentes com seus braços). Já completamente encantada com aquele relato, em meu pequeno ter experimentado um encontro com o outro (a natureza, no caso), em seguida ele me questionou: "Mãe, por que as professoras não ensinam a gente a voar?"

Ainda emocionada com tanta lindeza, respondi a ele: "Meu querido, você já voa... E voa longe". E depois pensei (e sigo com esse pensamento): "desejo que você, suas irmãs e todas as crianças, em suas trajetórias escolares, consigam sempre encontrar professores e professoras que reconheçam esse enorme poder que todos vocês têm". Professore(as) assim são porretas, fazem a diferença na nossa vida, e merecem hoje celebrar o dia de seu ofício. Parabéns a todos nós!!!

"Pois ser mestre é isso: ensinar a felicidade."
"Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido."
"Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas."
"Os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam serem especialistas em amor: Intérpretes de sonhos." Rubem Alves

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