terça-feira, 28 de outubro de 2014

12 anos de amor e luta

Ontem (já passou da meia noite) fez 12 anos que eu e Luiz começamos nossa história juntos...

Foi na Av. Paulista, em meio à comemoração da primeira vitória do Lula para presidente, "a esperança venceu  medo" era o que mais falávamos, cantávamos, sonhávamos, e nesse clima de festa demos nosso primeiro beijo. O primeiro de muitos. Uma história de amor que nasceu em meio a um desejo de boa parte da população de fazer diferente, de mudar a história do país de desigualdades, de opressão... Assim, uma história de amor e luta. Hoje, se pudesse voltar no tempo faria tudo igual.

Desde então muita coisa aconteceu...

Eu e Luiz começamos um namoro de muitas histórias, risos, choros, beijos e abraços... Já não somos mais jovens, temos nossos cabelos brancos (quer dizer, Luiz já tinha alguns fios quando o conheci...rs), alguns de nossos sonhos se concretizaram, outros mataram, outros nós fizemos acontecer e ainda outros foram substituídos com a maturidade... Isso sem falar nas boas surpresas da vida: ganhamos 3 filhotes lindos, nossos maiores presentes divinos!!! Todo meu amor ao meu companheiro de vida, e à família que construímos.

Com o governo do Lula, muitas alegrias, infelizmente, na mesma proporção também decepções. Ver o partido que tanto se diferenciava da direita atuar com o mesmo tipo de política que criticávamos foi um golpe duro, mas não fatal.

Mas minha decisão é de ficar bem. Nas vezes em que ainda não estou, certamente estou em busca. Essa é a minha maior vocação: ser feliz.

Assim, em meio a um processo que já havia iniciado faz tempo (falei disso numa postagem intitulada "Totalmente à deriva", sobre minha história e convicções políticas), nessa última eleição, finalmente, me redescobri. Redescobri minhas forças e minha forte escolha pela esquerda - sem me ater ao PT, o que me foi uma libertação. Poder compartilhar com pessoas de outros partidos como o PSOL, o PV ou livres, de posicionamentos semelhantes aos meus, ponderado, mas sem ficar em cima do muro, analisando a situação como um todo e em suas partes com olhos de amor para com o outro, mesmo que diferente de realidade, para com nós mesmos, nossas história, nosso futuro, foi essencial.

Reconhecer que "ainda estamos longe da utopia, mas já estivemos muito mais" foi também importante. É verdade, o atual tem muitos problemas, sou uma crítica do mesmo, mas as coisas estão avançando. Somos uma democracia recente, temos muito o que aprender, fomos colonizados por muito tempo (tem gente que pensa com cabeça colonizada até hoje - a história das mentalidades é a mais lenta de todas). Temos uma corrupção que impera desde quando os portugueses aqui chegaram - sim, triste ver a esquerda envolvida nesses esquemas, mas mais triste é o pessoal achar que o PSDB seria a solução quando é um partido mergulhado na lama - escondida debaixo do tapete. Não interessa à grande mídia desmascará-los, ao contrário do PT, quando inclusive denunciam sem ter provas. Uma vez tendo provas sou  a primeira a exigir punição dos envolvidos seja de que lado for.

Assim, mesmo com críticas ao atual governo votei para a reeleição de Dilma Roussef, para que um projeto de esquerda continuasse dando andamento a uma política comprometida com um modelo de sociedade mais justa.

Perceber que não devo votar de corpo fechado com ninguém, mas com coração aberto para que os avanços venham, e se não vierem, cabe o meu posicionamento além da revisão de minhas ações cotidianas - preciso fazer o mesmo que cobro dos governantes, certo? Afinal, a vida em comunidade só pode mesmo dar certo com o comprometimento de todos. Até mesmo a oposição precisa estar comprometida com algo maior, um princípio, senão não pode dar certo, é apenas sede de poder.

Livrar-me dessa pequena visão de mundo entre petistas e antipetistas me fez um bem danado, me ampliou, e de certa forma também me protegeu a não entrar numa guerra, principalmente em tempos de facebook, com as pessoas ao me redor. De todo modo também fui atingida, porque impossível ficar indiferente em meio a tanta manifestação de ódio. Impossível ficar à deriva, neste caso.

Muita gente se esqueceu o quão sacrificante nos foi poder viver numa democracia em que cada um vota em quem quiser sem precisar atacar o diferente. Não sabem que a diferença nos engrandece e nos qualifica como uma espécie diferenciada. Grande exercício esse de tolerância. Como cidadã, educadora e mãe não prego e não vivo o discurso do ódio.

Muitas pessoas falaram abertamente sobre uso de porradas para lidar com o diferente, não conseguindo dialogar ideias sem entrar em rotulações que nos afastam ao invés de nos agregar. Debate que não amplia, só paralisa. Outras, defenderam a divisão do país entendendo alguns povos como superiores a outros, como se tivesse um "voto certo" ou como já não houvesse muros invisíveis entre nós, os quais justamente tanta gente luta para acabar. Pena que tem gente que quer concretizá-lo, com ofensas preconceituosas aos nordestinos, justo eles que construíram cidades como São Paulo e que de uns tempos para cá vem conseguindo voltar (porque desejam e prosperaram) a suas cidades natais. Diga-se de passagem, o sul e o sudeste tiveram mais votos a Dilma do que eles (claro que em São Paulo não, uma cidade que prefere ficar sem água a ficar sem carro, como aponta a reeleição para governador em primeiro turno de Geraldo Alckmin e alto índice de rejeição a Haddad, meu prefeito com orgulho).

Isso sem falar em ofensas às camadas mais pobres, chamando-os de vagabundos, como se fosse uma questão de desejo não querer progredir. Tem gente preguiçosa tem, como em todo lugar, mas a imensa maioria não consegue viver de outra forma - é uma miséria terrível. E tem gente que não quer se misturar, que fica inconformado com "aeroporto que ficou com cara de rodoviária". Herança de nossa colonização. Gente que ataca pobre mesmo tendo vindo da mesma origem na lógica de que "eu ralei, ninguém me ajudou, o mundo não foi justo comigo agora não quero que seja com ninguém". Isso se chama ranço, e precisa ser trabalhado... em terapia. Em política pública, séria e comprometida, a lógica tem de ser o contrário "não quero que passem o que eu passei, ou imagina como teria sido a minha vida se tivessem me aberto portas com gentileza". Certamente seríamos todos mais tolerantes, mais amados, com certeza. De todo modo, a discussão sobre as bolsas e tudo mais, é válida, eu mesma tenho muitas ressalvas, gostaria que estivessem associadas a programas de capacitação, por exemplo, contudo, o mais importante para mim por hora é que tomar a posição de ficar indiferente a uma boa parcela da população marginalizada, como se ela merecesse, ou mesmo deixar de reconhecer as revoluções que aconteceram nas vidas de muita gente graças a essa abertura, é inaceitável. Infelizmente as coisas demoram a se transformar verdadeiramente nas estruturas, quiçá chegue um dia em que essa prática não será mais necessária...

"Democracia é dar a todos o mesmo ponto de partida". Mario Quintana

Também me chama a atenção a reação de muitas pessoas com uma postura de inconformismo em relação à votação pedindo sua anulação, como se fossem torcidas organizadas de times que não podem conversar, trocar de jeito nenhum, isso porque até mesmo dentro de um campeonato esportivo existem limites, ou pelo menos deveriam existir, e querem assim fazer uma "quebra, quebra geral" para anular o campeonato só porque não sabem perder. Veja bem, não votei no Alckmin e mesmo assim não torço para não chover, pelo contrário (ainda que eu saiba que mesmo que chover a crise hídrica em SP continuará, é uma questão de política). Do mesmo modo fiquei inconformada quando pessoas torceram para o Brasil perder a Copa só para o PT se prejudicar... Valeu à pena, minha gente deixar de torcer com emoção pela seleção?

Sinceramente, eu não queria que Aécio fosse meu presidente, por uma série de razões como, por exemplo, o fato dele já ter agredido uma namorada e ser a favor da redução da maioria penal, mas se fosse a vontade da maioria teria que engolir e fazer uma oposição construtiva, porque faz parte da democracia ter esses dois lados, é saudável, desde que se jogue limpo e com respeito. Seria voz em defesa das mulheres e da infância como vou ser sempre. O próprio Aécio, dignamente, cumprimentou a presidente e se comprometeu a fazer uma oposição construtiva. Esse é o jogo, e ele sabe disso. Já fui muito tempo oposição, já cometi meus erros e fiz minhas aprendizagens, espero que as pessoas façam as delas, pois esse clima de "vamos lá fazer valer a posição ou a oposição pelo bem comum" não estou vendo entre as pessoas no facebook ou mesmo entre as crianças, contaminadas, quando chegaram à escola na segunda-feira em clima de final de Copa do Mundo. O que estamos ensinando a elas? Que podemos chamar nossa autoridade máxima de diaba, vagabunda, é isso mesmo? Depois querer que as crianças respeitem as mulheres, os adultos, os pais, os professores fica difícil... Que não vale à pena votar e respeitar a decisão da maioria? Pois o sistema contrário é bem sabido, é a ditadura, e uma basta na história desse país, não é mesmo? Que o diferente está errado a priori, que posso fazer generalizações grosseiras e desrespeitosas??? É tudo isso mesmo que queremos ensinar, pois é o que as crianças estão entendendo... Eu não quero formar outra geração do medo, da intolerância, do machismo, homofobia e preconceituosa. Chega, né gente? Somos prova viva de que esse não é o caminho. A gente já sofreu muito nessa vida por as coisas funcionarem desse jeito... Queremos vivências mais plenas para nossos pequenos e pequenas... Eles merecem, nós merecemos, e o mundo agradece!

Algumas pessoas da esquerda entraram nas provocações e destruíram uma editora de revista (vergonha alheia), e fizeram generalizações, de um jeito preconceituoso também. Dessa forma, me envergonham, afinal, conheço muita gente bacana, com seus motivos justos, que votaram no Aécio ou votaram nulo. E respeito. Hoje, mais do que nunca. Além disso, foi a votação mais acirrada da história, será preciso considerar isso. A mensagem de insatisfação foi dada e por isso o novo governo tem essa missão pela frente, de agregar ao invés de separar, o que não significa uma homogeneidade de pensamento, de posições, de crenças, uma vez que não estamos numa ditadura - vide tudo que falamos abertamente nesse processo. Mas justamente na diferença podemos vir a nos encontrar de um jeito mais potente. Encontro entre diferentes. É possível? Sim, eu acredito que sim. Essa é minha utopia.

Ao final desta eleição, essa maré de ódio, um ódio desmedido, manipulado por uma mídia com notícias manipuladas por seus opressores me deixou em sinal de alerta, de que temos de nos cuidar para o risco que corremos quando nos tratamos dessa maneira. Segue uma coluna primorosa de ontem, de alguém que sofreu na pele essa maré do ódio, de Gregorio Duvivier, "Perdemos", na qual ele fala das perdas que tivemos nesse processo ao interagirmos por meio desse ódio. Vale de aprendizado! Caso contrário, vamos perder ainda muito mais...

 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/192719-perdemos.shtml

Também uma eleição marcada, para mim,  de minha libertação. E que venha a reforma política prometida pela presidente para nos libertar ainda mais de amarras em nossas estruturas falidas. E se não vier vou cobrar, porque me sinto realmente livre para apoiar e criticar, às vezes até uma mesma pessoa, um mesmo partido, um mesmo projeto, por que não? Acima de tudo me sigo por um projeto de amor, de bem comum, de respeito e tolerância. Essa é a minha escolha, sempre.

Na hora do resultado fui tomada por uma emoção que há tempos não sentia na política. Votar numa mulher que lutou contra a ditadura, foi torturada, mas se manteve em pé, e que agora tem essa missão de construir novos paradigmas numa sociedade que quer mudanças foi emocionante. Poder comemorar essa vitória junto do Lu foi também especial. 12 anos juntos. Somos tão diferentes hoje em dia, mas também tão iguais. Um novo ciclo recomeça. Algo morto em mim, em nós, renasce, do mesmo e de um outro jeito. É muito amor.

Por falar em amor, um beijo grande para o meu. Que a gente continue sempre junto nessa luta. Amo. E que fique nosso exemplo: é possível amar em tempo de eleição!!!



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