Optei por levar lanche de casa do Dudu (2 lanches por dia) para a escola. Mas, pensando na praticidade, consultei o cardápio da escola para aderir....e para minha surpresa eis que encontro às sextas-feiras bolo de chocolate e refrigerante. Como assim? Ao consultar a secretaria da escola fui informada que, se eu não quiser, eles podem trocar o lanche desse dia. Gente, só eu acho errado oferecer isso para crianças menores de 5 anos?
Não. Não sé apenas você que está preocupada com a oferta de uma alimentação saudável para as crianças. Uma pena é que pelo jeito essa escola não está.
Na escola em que trabalho há tempos a alimentação tem sido trabalhada como um conteúdo pedagógico, até mesmo antes de conseguir assumir a responsabilidade de oferecer um lanche saboroso e saudável. Quando conseguiu criar uma boa estrutura para isso, as crianças passaram a comer o mesmo lanche, o que foi positivo para que o assunto da comida passasse a ser um assunto enquanto elas comem: "você está gostando?", "Eu gosto mais dessa fruta!", "Essa está docinha", "Essa está azeda, eu não gosto.", "Eu gosto", "Minha mãe faz um sanduíche desse jeito que eu adoro", "Vou falar para a minha mãe fazer esse bolo", porque afinal, o comer junto é uma situação muito potente para a convivência - maior sentido da escola. Nessa concepção, as frutas e os sucos naturais (refrigerante nunca!) são oferecidos primeiramente como maneira de estimular o hábito de experimentarem um alimento tão importante. Depois, oferecemos os outros alimentos: pães de diversos tipos e os acompanhantes separados como maneira da criança montar seu próprio lanchinho. Vez ou outra, inclusive, um cardápio rico e variado pode contemplar (também, nunca como única opção) um gostoso bolo simples de chocolate ou outro sabor feito com receitas com menos açúcar e algumas outras substituições de ingredientes. De qualquer maneira, conversamos e estudamos sobre o quanto esse alimento não "matam a nossa fome" por muito tempo e que por isso é importante nos alimentarmos de outros anteriormente além de cuidarmos da quantidade ingerida. Por fim, constantemente acionamos os pais, nossos parceiros, quando o hábito alimentar de alguma criança nos chama a atenção para combinamos estratégias em comum em prol do desenvolvimento da criança.
Aqui em casa também procuramos fazer esses cuidados, principalmente durante a semana. Especialmente notei que desde que Elizangela passou a trabalhar aqui todos os dias, cozinhando com esmero e também quando eu e o Luiz passamos a comer junto do Mateus que já come sozinho há tempos a relação dele com a comida melhorou, porque na verdade, nossa relação fortaleceu-se com nossas conversas sobre os sabores da comida e da vida. É nesse momento que conversamos sobre o nosso dia, trocamos impressões, apontamos quando ele não está comendo, enfim, estamos juntos! Inclusive, sinto que a compulsão de minhas meninas por comida é exatamente porque querem se sentar conosco à mesa, temos cuidado devagarinho da integração de minhas meninas nesses momentos, já que costumam comer antes, às vezes as deixamos nos cadeirões bem pertinho com um biscoito de polvilho ou uma fruta de sobremesa apenas para participarem desse nosso momento. Também tenho cuidado para cozinhar para meus filhos, importante eles me verem nesse papel, porque se eu não me esforçar eu fujo completamente delegando a tarefa ao Luiz, esse sim nosso grande cozinheiro. Devagarinho chego lá! Do mesmo modo, construir essas relações de afeto com alguns pratos especiais, porque o ato de comer é bem mais amplo do que o ato em si, ele é uma grande representação de como nos relacionamos não apenas com os alimentos, mas com as pessoas, os papéis sociais, os símbolos, o mundo.
Nos finais de semana tem sido mais difícil controlar a alimentação de meus pequenos, por conta dos eventos sociais, e cada vez mais tenho lidado de maneira mais relaxada nesses momentos - talvez porque meus pequenos estejam crescendo, todos já podem comer um pouquinho de tudo: até 1 ano nenhum de meus filhos comeu doce! Mas principalmente, talvez porque também não quero ser da outra "ponta da vara", daquela que controla tudo sem dar condições da criança também fazer escolhas e pensar a respeito sobre as consequências de seus feitos. Hoje em dia, tão logo começa a ficar com dor de barriga Mateus nos diz: "Comi muito doce!", já conseguindo fazer esse tipo de relação causa e efeito. Ainda assim meus filhos não experimentaram refrigerante ou mesmo não costumam almoçar "bobagens". Se nós, adultos responsáveis por eles, não colocamos alguns limites a questão vira um perigo para a saúde!!!
Segue um documentário chocante, mas extremamente importante sobre o que tem acontecido com as crianças e jovens quando os adultos não se responsabilizam pelo cuidado com suas alimentações. É abandono, e eles ficam à mercê de uma indústria alimentícia sem escrúpulos que para vender é capaz de engoli-los vivos. O documentário chama "Muito além do peso", porque não trata-se apenas de estar ou não em forma, sendo dessa vez engolido por outra indústria, a estética, também voraz. Trata-se de uma questão de saúde física e mental. Assim, é importante nos questionarmos sobre a nossa relação com a comida, nosso corpo e tudo mais a respeito, porque tudo indica que precisamos nos cuidar primeiramente e urgentemente para então cuidarmos de nossos filhos que precisam de nós.
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